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4 AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ERA DIGITAL: CONCEITOS

4.2 COMPREENDENDO O LETRAMENTO DIGITAL

4.2.1 Letramento Digital dos Alunos: Autoletramento?

É inegável que os alunos, ainda que oriundos de escolas públicas da periferia, de baixa renda, estão em contato com tecnologias digitais, e estão adquirindo, de forma independente e autônoma, níveis de letramento digital. Cotidianamente, os educandos fazem uso de tecnologias digitais, interagindo por meio da Língua Portuguesa, principalmente em sua

forma escrita, em redes sociais, como Facebook, WhatsApp, Instagram; participam de chats, pesquisam em Sites, Blogs, produzem vídeos, manipulam imagens; enfim, estão se “autoletrando” (XAVIER, 2008, p. 02). Nesse contexto, a língua é usada de forma concreta, para atender às necessidades de comunicação e de interação e isso tudo pode ser articulado pelo professor nas aulas de Língua Portuguesa.

Desse modo, a geração atual precisa de um novo olhar da escola e principalmente do professor, pois os alunos estão, cada vez mais, indo em busca de informações, de conhecimentos em variadas fontes, independente de orientação formal. O acesso é cada vez mais amplo, mais próximo deles e estes estão, por sua vez, cada vez mais distantes da figura do professor, do que a escola lhes tem oferecido, seguindo a velha fórmula de transmissão conteudística, que encaram os alunos como pessoas que pouco ou nada sabem, que estão ali na sala de aula apenas para “aprender‟ de forma quase que mecânica. Desse modo,

Ainda que não questionem diretamente as bases da pedagogia bancária de ensino/aprendizagem, as crianças e adolescentes que estão se auto letrando pela Internet desafiam os sistemas educacionais tradicionais e propõem, pelo uso constante da rede mundial de computadores, um “jeito novo de aprender”. Esta nova forma de aprendizagem se caracterizaria por ser mais dinâmica, participativa, descentralizada (da figura do professor) e pautada na independência, na autonomia, nas necessidades e nos interesses imediatos de cada um dos aprendizes que são usuários freqüentes das tecnologias de comunicação digital (XAVIER, 2008, p. 03).

É visível, assim, que os alunos não ficam mais adstritos ao que seu professor ensina (ou tenta ensinar) em sala de aula. Eles estão cada vez mais informados e exigentes, e esperam um aprendizado escolar diferente, que possa usar a linguagem digital, que tanto pode facilitar e propiciar o acesso ao conhecimento, de maneira mais significativa, real. Desse modo,

Em um certo sentido, o Letramento digital luta contra a idéia de ensino/aprendizagem como preenchimento das “mentes vazias do aluno, como bem frisou o pernambucano Paulo Freire quando criou a metáfora da “educação bancária” para ilustrar essa pedagogia. Segundo esse educador, muitas escolas ainda vêem o aluno como um depósito de informações a ser preenchido, uma espécie de banco de dados a ser alimentado por um “mestre-provedor” de conhecimento (FREIRE apud XAVIER, 2008, p. 2).

Os alunos da atualidade possuem um vasto repertório/conhecimento, oriundo de seus próprios meios de aprendizado, de busca e curiosidade por assuntos de seu interesse, não são desprovidos de conteúdo, cabendo, portanto, ao professor aproveitar tudo isso em seu

trabalho em sala de aula. Tal repertório abrange não só o uso da linguagem verbal da Língua Portuguesa, como também se amplia para diversas outras habilidades que combinam interpretação de textos, sons, imagens, que os levam a criar, a imaginar, a interpretar, a construir pensamentos.

Após realizar pesquisa sobre o acesso dos pré-adolescentes e jovens à internet, Tapscott (1999) publicou em seu livro Geração Digital, seus resultados, constatando que os jovens usam e aprendem bastante com o uso da internet e dos meios digitais diversos e que os professores precisam transformar sua metodologia de ensino para atender aos anseios e necessidades das novas gerações. Para este autor, a geração que tem crescido na rede de computadores tende a desenvolver habilidades como: independência e autonomia na aprendizagem; abertura emocional e intelectual; preocupação pelos acontecimentos globais; liberdade de expressão e convicções firmes; curiosidade e faro investigativo; imediatismo e instantaneidade na busca de soluções; responsabilidade social; senso de contestação; tolerância ao diferente. Sendo assim, o uso dos meios digitais possibilita que o indivíduo se desenvolva enquanto ser aberto ao conhecimento, a partir do contato constante com informações das mais diversas, que podem levá-lo a uma formação cidadã mais completa (TAPSCOTT, 1999, apud XAVIER, 2008). É necessário, pois, novas formas de ensinar, vez que as gerações mais atuais necessitam de novas formas de aprender, novos meios de buscar e encontrar o conhecimento, seja-o sistemático ou não. Tal conhecimento, sem dúvida, perpassa pelo aprendizado da Língua Portuguesa, principalmente em sua variedade padrão, tão almejada nos ambientes educacionais, enquanto meio eficaz de alcançá-lo.

Nesse caminho, em decorrência da própria necessidade da cultura contemporânea e da cibercultura, as pessoas se veem obrigadas a buscar o conhecimento, ainda que de forma autônoma, sem apoio formal, para não serem excluídas sociodigitalmente. Nesse sentido,

Da geração digital surgem as comunidades virtuais, verdadeiros nichos para onde convergem aprendizes insatisfeitos e pessoas comuns convertidas em autodidatas pela urgente necessidade de aprender imposta pelas exigências contemporâneas. Tais pessoas realizam intensas trocas de informações na rede, ensinam e aprendem mutuamente uns com os outros, pondo em funcionamento um processo ininterrupto de geração de novos saberes resultantes dessa efervescente confluência de conhecimentos e experiências derivadas de gente comum e/ou instituições de orientação não tradicional. Tudo isso vem acontecendo à revelia das organizações burocráticas de ensino (XAVIER, 2008, p. 54-55).

Obviamente que o professor continua sendo imprescindível ao desenvolvimento escolar dos jovens. Porém, este professor precisa estar consciente do que os alunos

vivenciam no seu cotidiano acerca do uso das tecnologias digitais que lhes proporcionam o aludido (auto)letramento digital que, por sua vez, os levam a ter contato cada vez mais cedo, e de forma independente, com diversas fontes de conhecimento e que lhes abrem um grande leque de opções no contato com a língua. Agindo desse modo, o professor, principalmente o de Língua Portuguesa, poderá se aproximar da realidade dos alunos, pois estes se identificarão com aquele que se mostra atualizado e interessado em partilhar e compartilhar conhecimentos e não em impor e expor conteúdos vazios, de maneira insípida, distantes da concretude de suas vidas. Em outras palavras, o professor deve mostrar-se também enquanto indivíduo letrado digitalmente, o que o aproximará da linguagem e das múltiplas possibilidades de interagir e se articular na relação ensino e aprendizagem.

Após concluir este capítulo sobre conceitos pertinentes à compreensão do tema deste estudo, o qual busca trazer contribuições para se discutir como o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa estão acontecendo na era digital e suas possíveis articulações e interações, passo então para o capítulo seguinte, que traz os principais resultados da pesquisa de campo, bem como suas análises e discussão das informações encontradas.