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4.2 Análise das questões dissertativas dos questionários

4.2.2 Aprendizagem compartilhada

O núcleo de significação “Aprendizagem compartilhada” foi inferido a partir da análise

da importância que cada docente concede à dimensão caracterizada pela aprendizagem em um nível no qual esta acontece coletivamente, permeada de momentos que propiciam, segundo os relatos das participantes da pesquisa, trocas e reflexões sobre a prática cotidiana em sala de aula. É possível evidenciar esse núcleo de significação e a necessidade desses momentos nas falas docentes, apresentadas a seguir, que apresentam repetições da palavra “troca” e de seus derivados como “trocas”.

Sim, pois durante as formações havia trocas de experiências e momentos de estudos que propiciavam a reflexão da prática. (D1)

Novas práticas, trocas de experiências e ideias para as atividades e ministrar as aulas. (D8)

A troca das práticas utilizadas. (D10)

Troca de atividades e experiências com outros Professores. (D11)

Trocas entre parceiros mais experientes. (D17)

Troca de informações e experiências. (D18)

Momentos para discussão sobre o assunto estudado e troca de experiências entre as colegas de trabalho. (D23)

Acredita-se que as trocas de saberes da experiência podem acontecer tanto na formação continuada como também na rotina escolar, quando os professores compartilham material didático, sugestões e aplicações de atividades, jogos e formas de estruturar a turma. Porém, é certo que a formação continuada é o ambiente ideal para a aprendizagem docente e, como destaca Santos (2015, p.43):

Assim, é na formação continuada que os professores têm espaço para refletir sobre a prática e trabalhar conforme suas necessidades. No debate com os saberes experienciais de outros, os professores têm oportunidade de rever seus saberes. Nessa reflexão coletiva de experiências, o professor pode mobilizar o que melhor se adapta à sua prática pedagógica.

A respeito dessa modalidade de formação, as docentes, nos questionários, afirmaram a importância dos encontros proporcionados pelos PNAIC, não apenas como um tempo que os professores têm para atualizar e construir novos conhecimentos em relação à prática da docência, mas, sobretudo, como um momento de formação significativa, pois representou um tempo de trocas dos saberes que as próprios professoras constroem ao longo de sua carreira.

Como foi possível perceber pelas respostas dadas, essas trocas de experiências são vistas como uma contribuição significativa que o programa de formação oferece. Essa percepção coincide com afirmação de Santos (2015) de que esses momentos nos encontros de formação possibilitam a partilha dos saberes experienciais:

Os encontros de formação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa se constituem num potencial espaço de explicitação dos saberes experienciais das professoras alfabetizadoras. Nessas reuniões os saberes da experiência docente são trazidos para a discussão e confrontados com os saberes e com a ação de outros professores. Isso pode ser visto como uma oportunidade de adequação dos aprendidos durante a formação inicial e no percurso da profissão. (SANTOS, 2015, p. 121)

Entre as falas destacadas para análise deste núcleo de significação, cabe salientar a resposta dada pela Docente 7: “Na realidade não me recordo de novidades, mas de momentos

de reflexão e trocas com os colegas alfabetizadores.” Essa ênfase tem o intuito de demonstrar que os momentos de formação atuam, para as docentes, como um impulso para o constante aperfeiçoamento pessoal e profissional.

Desse modo, o processo de formação docente impacta nos dois âmbitos, no âmbito pessoal de formação, ainda que as formações ocorram coletivamente, e no âmbito do desenvolvimento profissional docente, a partir de uma readequação crítica e inovadora da prática já vivida.

Em sua caminhada, a docente reaprende experiências e práticas, reelabora e as coloca em exercício para validação juntos aos seus alunos. É nesse processo de interiorização do significado das experiências que ela se constitui como sujeito.

Assim, segundo Nóvoa (1997, p.26), “a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando”. Dessa forma, essas formações pautadas nas trocas de experiências e saberes entre os docentes podem gerar momentos para o redirecionamento de muitas ideias, concepções e, como decorrência, a própria reorganização de novos saberes.

Percebemos, então, que as docentes participantes deste estudo têm validado as trocas de experiências como momentos importantes de formação, durante as atividades do PNAIC, o que pode comprovar a eficácia e até mesmo a necessidade de oportunidades de interação, comunicação e cooperação.

Para Guimarães (2005, p. 5), “[...] as discussões ou trocas de experiência podem favorecer a releitura da experiência. As perguntas dos colegas, os pedidos de esclarecimentos, as explicações de o porquê se agiu desta ou daquela maneira são ótimas possibilidades para a reflexão”. Por essa razão, é válido considerar que os momentos coletivos de reflexão proporcionam a análise da prática educativa e da sua organização. Além disso, contribuem para o desenvolvimento de procedimentos pedagógicos próprios, por meio de reflexões e trocas de saberes específicos em relação ao próprio trabalho e às relações definidas na prática educativa. Por tudo isso, as trocas de experiência e o conhecimento profissional se configuram como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes.

Percebemos, portanto, nas respostas das docentes, a importância que depositaram nas trocas de vivências, as quais aparentavam estar vinculadas às suas práticas pedagógicas.

Conforme aponta Tardif (2002, p. 11), “o saber dos professores é o saber que está relacionado com a pessoas deles, com sua experiência de vida e com sua história profissional, com suas relações com os alunos em sala de aula”. Isso revela a prática do professor como

ponto-chave para o aprimoramento do seu desempenho profissional. E ainda, de acordo com Aguiar (2006), devemos:

[...] entender o sujeito como aquele que é ao mesmo tempo único e singular, mas também social e histórico, como aquele que transforma o social em psicológico, como aquele que vive a unidade contraditória do simbólico e do emocional e como aquele que produz sentidos subjetivos. (AGUIAR, 2006, p. 12)

De acordo com Aguiar (2006), o ser humano se desenvolve historicamente na sua relação com o outro, portanto, socialmente. Esse processo, segundo a autora (2006), enfatiza os contrastes humanos, visto ser o homem, ao mesmo tempo, individual e social, o que significa que o seu mundo é significado a partir das suas vivências. É ele quem fornece significados individualmente, mas essa produção apenas se efetiva na coletividade.

Assim, compreendendo a importância que os docentes revelaram em suas respostas de que os momentos de “trocas de práticas e experiências” se mostram também como possibilidades de formação/aprendizagem, a análise aqui empreendida prosseguirá para o próximo núcleo de significação “Práticas: reflexão, análise e orientação”.