Aprendizagem de ciências: definições e perspectivas

Neste subitem, são enfocados os comentários feitos pelos entrevistados ao entrarem em contato, durante a entrevista, com suas respostas dadas à questão “como as pessoas aprendem ciências da natureza?”. Conforme já explicitado, esta pergunta constituía parte de um conjunto de questões proposto pela professora da disciplina no início do semestre. Nos momentos finais de cada entrevista, o licenciando era solicitado a comentar e explicar sua resposta fornecida a esta pergunta.

A resposta de Nina a esta questão havia sido:

Através de diversas vivências; escolares ou não. No ambiente escolar é possível aprender através de aulas expositivas e, principalmente, através de atividades que estimulem a criatividade e que permita aos alunos construir os conceitos teóricos a partir de algo que eles vivenciaram. No ambiente não escolar, as pessoas podem aprender a partir da observação da natureza e de outros eventos ou de atividades lúdicas em ambientes não-formais.

Quando comentou sua resposta no momento da entrevista, Nina reafirmou que o aluno aprende ciências não só dentro da sala de aula, mas também em ambientes não formais de ensino. Em outras palavras, a entrevistada declarou que considerava importante o aluno freqüentar espaços diversos para aprender ciências, construindo conexões entre conceitos já aprendidos e adquirindo outros:

Acho que tá [...] bem relacionado com o que a gente tava falando antes, porque a questão de aprender por diversas vivências tá relacionada à resposta de como ensinar, né, de no ambiente escolar ter vários métodos diferentes, que vão te ajudar nesse processo de aprendizado, né, porque o processo de aprender e ensinar envolve construção, [...] e aqui eu coloquei essa questão de ser escolar ou não, porque eu acho que em ambientes não formais você pode aprender também, visitar fundação [...] além dessas coisas, a própria convivência assim, dentro da comunidade que você vive, e tal, vão ter coisas que vão ser construídas ali, e que vão fazer parte desse conhecimento do que seja ciência [...] (Nina)

Já a resposta de Beto à questão havia sido:

Além da educação formal com as aulas de biologia, física e química. Os meios de comunicação tão difundidos hoje, como TV e internet, são uma importante fonte pela qual as pessoas aprendem ciências da natureza. Mas creio que também a simples observação dos fatos do cotidiano nos ensinam sobre as ciências da natureza. Como faziam e ainda fazem as populações indígenas e do meio rural.

Quando comentou sua resposta, Beto reforçou que a aprendizagem de ciências pode ocorrer tanto num contexto formal, como informal. No primeiro caso, o aluno aprende seja dentro de sala de aula, ou dentro de um museu, por exemplo. Já o segundo caso pode ser ilustrado pela cozinheira que, enquanto lava uma panela, percebe, por meio de testes, a necessidade de se usar o sabão para retirar a gordura:

[...] Mas eu acho que [...] às vezes tem uma cozinheira [...] lavando a panela, aí ela vê que, só passar água não funciona [...] pra tirar gordura, ela precisa usar o sabão pra poder ajudar a tirar aquele negócio, eu acho que isso é uma forma de tá aprendendo alguma coisa [...] agora, num contexto formal, não consigo pensar em outra coisa a não ser aula, ou tipo, excursão, chegar num museu [...] (Beto)

Léo havia respondido à questão sobre a aprendizagem de ciências da seguinte maneira:

Como algo muitas vezes desvinculado da sua realidade. Como se a pessoas não fizessem parte daquela natureza.

Ao comentar sua resposta, Léo destacou que, normalmente, o aluno entra para a sala de aula acreditando que o mundo ali dentro é um outro mundo, como se ele mesmo não fizesse parte da natureza. O ensino de ciências, para o entrevistado, é

geralmente conduzido de forma desvinculada da realidade das pessoas. Por esse motivo, o aluno pode ter dificuldades de relacionar o conteúdo abordado pelo professor, ao ambiente do qual faz parte:

É porque, por exemplo, eu falei que o ensino das ciências é desvinculado da natureza, da realidade da pessoa, é porque às vezes as ciências [...] tá muito no nosso dia-a-dia, né, por exemplo, se a gente for parar pra pensar, o dia-a-dia tá cheio de ciências praticamente, seja computador, o ar, seja a água, é ciência, e às vezes a pessoa entra dentro da sala de aula, aí é como se aquele mundo fosse outro mundo, à parte do que a pessoa vive lá fora [...] o professor começa a ensinar aquilo e parece que é coisa de livro, tipo assim, fica só naquele ambiente assim, falta aquela coisa de puxar pra exemplos da realidade [...] (Léo)

Ao responder à mesma questão, Pedro havia escrito:

Pela prática, observação e coleta e análise de fatos acerca de um determinado processo natural. Também através do partilhamento e discussão desses resultados com outros observadores, de modo que possam haver pontos de vista diferentes sobre uma mesma observação, chegando a um certo consenso sobre o assunto.

No momento em que comentou sua resposta, o entrevistado ressaltou que, quem aprende ciências não é necessariamente a pessoa com acesso ao livro didático, à escola, à universidade, mas aquela capaz de observar e analisar os fenômenos da natureza:

Bom, eu queria dizer que a pessoa aprende ciências da natureza não necessariamente na escola, ou numa universidade [...] eu acho que o aprendizado passa mais por aquele aprendizado primitivo que a gente tinha, de observar os fenômenos [...] um agricultor que viu que ele plantar numa determinada época é melhor, ele tá aprendendo sobre a fisiologia da planta [...] tá aprendendo sobre clima, tá aprendendo sobre terra, tá aprendendo várias coisas que não são restritas a um livro didático ou a um ambiente acadêmico [...] e também acho que através dessa interação com outras pessoas, ele também vai aprender [...] (Pedro)

Bia havia respondido à pergunta do seguinte modo:

Relacionando o seu cotidiano com a teoria e prática aplicadas nas aulas de Ciências, na medida do possível, pois não são todos os conceitos que são objetivos, apalpáveis. Entretanto, é difícil entender esse processo, pois existem várias outras maneiras pessoais de se aprender, não só Ciências. Por ex., não há como ter uma vivência para se estudar Astronomia! e também através da leitura-crítica, observação, discussão.

Ao comentar sua resposta, Bia lembrou que o aluno precisa reformular aquilo que já sabe, com o conteúdo oferecido pela ciência e apresentado pelo professor.

Quem aprende ciências é o sujeito, por meio de suas próprias experiências, ou por meio dos relatos de outras pessoas:

Eu coloquei aqui relacionando com seu cotidiano, porque é aquilo que eu falei [...] a gente trabalha com corpo humano, com animal, planta; em casa já tem aqueles tabus, [...] eu acho que quando o professor chega na sala e ele comenta sobre essas coisas, a gente começa a fazer referência ao que a gente já sabe [...] mas de qualquer forma acho que o ponto principal pra aprender ciências é [...] que o aluno [...] reformule, né, o que ele já sabe, sendo verdadeiro ou não, com o que a ciência tem pra oferecer [...] mas uma coisa forte que eu acho é essa questão do convívio [...] não só a gente aprende, mas a gente aprende o que a outra pessoa aprendeu assim [...] (Bia)

Seguem-se, finalmente, as respostas dos licenciandos correspondentes às suas compreensões do ensino de ciências.