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APRENDIZAGEM DOS 18 AOS 24 ANOS

No documento A aprendizagem profissional na lei Pelé (páginas 54-59)

Já vimos que o artigo 428, caput, da CLT define o contrato de aprendizagem como sendo:

Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao

maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa

de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação. (grifos nossos)

Também já concluímos que aprendiz é o jovem com idade entre 14 e 24 anos, matriculado em curso de aprendizagem profissional e admitido por estabelecimentos de

qualquer natureza que possuam empregados regidos pela CLT. Contudo, nem sempre tais disposições foram assim. A limitação etária que hoje encontramos no texto da CLT foi alterada recentemente, em 2005, e merece ser melhor compreendida.

Tudo começou quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, no dia 14 de junho de 2005, uma Medida Provisória que estendia a aprendizagem até 24 anos (MP nº 251/2005 – DOU de 15.06.2005), que fora posteriormente disciplinada pela Lei nº 11.180/2005, dando com isso nova redação ao artigo 428 da Consolidação das Leis do Trabalho, que previa uma limitação máxima de 18 anos para ser aprendiz.

O argumento para tal mudança foi que a majoração desse limite de idade incentivaria a contratação de aprendizes maiores de 18 anos atualmente fora do mercado de trabalho, afinal, nessa faixa etária o desemprego e a exclusão possuem números alarmantes.

A medida, pois, teve como finalidade maior a de ampliar as possibilidades de formação profissional básica, favorecendo o ingresso de estudantes de baixa renda no mercado de trabalho, mas também visou o alinhamento do sistema de aprendizagem com as demais políticas públicas de emprego para a juventude, como por exemplo, os Consórcios Sociais que atendem a faixa etária de 16 a 24 anos. Assim, com a mudança legal, os contratos de aprendizagem que se encerravam quando o jovem completava 18 anos, puderam ser prorrogados – observado o limite de duração do contrato do aprendiz que continuou a ser de dois anos.

Na época, o secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Emprego, Alencar Ferreira, considerou a medida relacionada à aprendizagem como mais uma iniciativa do Governo Federal voltada para unificar as ações voltadas para a juventude, e o secretário de Políticas Públicas de Emprego, Remígio Todeschini, acreditava que o potencial de vagas a ser criado com a mudança por meio da MP poderia ultrapassar 300 mil44.

Com a Lei nº 11.180/2005, para o aprendiz "maior de idade" deixaram de existir áreas restritas, como, por exemplo, os setores químico, petroquímico, hospitalar e outros segmentos, antigamente delimitados a essa faixa etária. A mudança fez com que o MTE avaliasse que a eliminação dessas restrições aumentaria o potencial das vagas de aprendizagem de 800.000 para 1.000.000 e esperasse para o mesmo semestre da alteração um

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Outros comentários no site do Ministério do Trabalho e Emprego, mais especificamente em <http://www.mte.gov.br/Noticias/Conteudo/8667.asp>. Acesso em: 17 de outubro de 2009.

aumento significativo de matrículas nos cursos de aprendizagem, principalmente nos Serviços Nacionais de Aprendizagem.

Mas ao lado dos benefícios que a elevação do limite etário indubitavelmente trouxe, alguns aspectos preocupantes pairaram sobre a mente de certos doutrinadores juslaboristas quando da promulgação da lei em debate. Muitos apontavam que o fato da experiência mundial indicar que as empresas, quando lhes é dada a opção de escolher entre contratar um aprendiz adolescente ou um aprendiz "maior de idade", optavam pelo último porque este não estaria sujeito às restrições do aprendiz adolescente, passaram a acreditar que tal alteração no sistema de aprendizagem, já considerado falho, não fora benéfica aos jovens do país.

Diziam que sem uma regulamentação precisa seria inevitável que as vagas da aprendizagem, ora ocupadas por aprendizes menores de idade, em breve passariam todas a serem ocupadas por maiores de idade. Outro aspecto que reteve a atenção desses doutrinadores era a tendência natural das empresas de buscar oportunidades de menor custo. Ter um funcionário adulto pagando apenas o salário mínimo/hora é muito atrativo e interessante visto que muitas categorias têm pisos salariais em torno de dois salários mínimos, ou seja, quase o dobro. Vislumbravam que o programa de aprendizagem para maiores de idade poderia desvirtuar para "mão de obra barata", um "jeitinho" para escapar dos pisos salariais sindicais.

Mas podemos assegurar-lhes que a alteração da idade máxima do aprendiz de 18 para 24 anos foi sim uma boa notícia. Com uma boa regulamentação que realmente acabou existindo através das normas expedidas pelo MTE, houve um aumento consideravelmente no impacto social dos programas de aprendizagem. A legislação atual sobre programas de aprendizagem passou a oferecer enormes possibilidades para a juventude do país, mas, infelizmente, ainda é preciso lutar pela sua implantação.

Resta-nos esclarecer, entretanto, que o limite etário de 24 anos não se aplica aos aprendizes com deficiência e que, para os fins do contrato de aprendizagem, a comprovação da escolaridade do aprendiz portador de deficiência mental deve considerar, sobretudo, as habilidades e as competências relacionadas com a profissionalização.

Indagação comum no que tange a aprendizagem é a realizada em torno da possibilidade ou impossibilidade de se utilizar aprendizes em atividades consideradas insalubres e perigosas, frente aos princípios da proteção integral e da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento referentes aos adolescentes.

O artigo 429, caput, do texto consolidado prescreve que:

Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.

O Decreto nº 5.598/2005 que regulamenta o contrato de aprendizagem esclarece, sem deixar dúvidas, quanto à possibilidade da aprendizagem desenvolver-se no âmbito das atividades insalubres e perigosas, senão vejamos:

Art. 10. Para a definição das funções que demandem formação profissional, deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

(...)

§ 2o Deverão ser incluídas na base de cálculo todas as funções que demandem

formação profissional, independentemente de serem proibidas para menores de dezoito anos.

Art. 11. A contratação de aprendizes deverá atender, prioritariamente, aos adolescentes entre quatorze e dezoito anos, exceto quando:

I - as atividades práticas da aprendizagem ocorrerem no interior do estabelecimento, sujeitando os aprendizes à insalubridade ou à periculosidade, sem que se possa elidir o risco ou realizá-las integralmente em ambiente simulado;

II - a lei exigir, para o desempenho das atividades práticas, licença ou autorização vedada para pessoa com idade inferior a dezoito anos; e

III - a natureza das atividades práticas for incompatível com o desenvolvimento físico, psicológico e moral dos adolescentes aprendizes.

Parágrafo único. A aprendizagem para as atividades relacionadas nos incisos

deste artigo deverá ser ministrada para jovens de dezoito a vinte e quatro anos.

(grifos nossos)

Dos dispositivos legais citados, pois, extraem-se as seguintes conclusões: a) a obrigatoriedade da contratação de trabalhadores aprendizes pelos estabelecimentos de qualquer natureza, em número equivalente a 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, dos empregados existentes em cada estabelecimento; b) a inclusão de trabalhadores maiores no sistema da aprendizagem permite que os próprios desempenhem atividades consideradas insalubres e perigosas como aprendizes.

Referida norma regulamentadora somente exclui da contratação de aprendizes as microempresas e as empresas de pequeno porte e as entidades sem fins lucrativos que tenham por objetivo a educação profissional. Assim, o legislador ordinário ao elevar o limite etário máximo para 24 anos ampliou o campo de atividades em que o contrato de aprendizagem poderá se desenvolver, já que atividades insalubres e perigosas poderão ser incluídas no âmbito da aprendizagem, desde que desenvolvidas jovens de 18 a 24 anos, vez que a vedação legal do trabalho do menor em condições insalubres e perigosas não atinge o aprendiz maior.

Porém antes de tal inovação legal, alguns tribunais já entendiam que o empregador poderia contratar aprendizes em atividades assim consideradas, observados certos cuidados. Prova disto está na apreciação de algumas Ações Civis Públicas propostas pelo Ministério Público do Trabalho, onde o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 4ª Região foi unânime em suas decisões no sentido de que todas as empresas têm obrigação de contratar, não existindo na lei qualquer exceção. A obrigação persistia mesmo para as empresas que mantinham ambiente insalubre ou perigoso, já que nestes casos os aprendizes realizariam a parte prática do curso na entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica. Transcreve-se a ementa de um dos julgados:

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. CONTRATAÇÃO DE MENOR APRENDIZ. Espécie em que deve ser mantida a sentença que, julgando

procedente em parte a Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho, determinou a contratação e a manutenção de menores aprendizes nas Unidades Operacionais do SENAI, na forma do art. 429 da CLT. O empregador não ofende disposição constitucional ao contratar menores aprendizes se a atividade que desenvolve é perigosa ou insalubre, na medida em que não há óbice legal que o impeça de desenvolver tais atividades fora da sede da empresa. Entretanto, a determinação de contratação dos dois menores com previsão de multa pelo descumprimento da obrigação de fazer, só é possível ser implementada após a ciência do trânsito em julgado da decisão. Recurso ordinário da reclamada parcialmente provido45.

Com isso, fica mais que evidente que o argumento muito utilizado por empresas em não contratar aprendizes por entender que não estão obrigadas a tanto por desenvolverem atividade considerada insalubre e/ou perigosa, é totalmente descabido. Afinal, embora a atividade da empresa seja classificada com uma dessas características, não a isenta de contratar aprendizes, eis que, hoje, a lei da aprendizagem permite a contratação de aprendizes

45 Acórdão do processo nº 00376-2003-761-04-00-0 (RO), Juiz-Relator Carlos Alberto Robinson, decisão

unânime da 8ª Turma do TRT da 4ª Região, Porto Alegre, 07 de julho de 2005. Disponível em <http://www.trt4. jus.br/portal/portal/trt4/consultas/consultaProcessual> Acesso em: 27 de setembro de 2009.

até a idade de 24 anos, de modo que a empresa poderá cumprir a reportada lei contratando aprendizes maiores de idade (de 18 a 24 anos).

No documento A aprendizagem profissional na lei Pelé (páginas 54-59)