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Entidades que realizam a formação profissional

No documento A aprendizagem profissional na lei Pelé (páginas 42-45)

2.2 CONTRATO DE APRENDIZAGEM

2.2.2 Entidades que realizam a formação profissional

Dentro do sistema jurídico brasileiro, todas as empresas de médio e grande porte, de todos os ramos de atividade econômica, são obrigadas a empregar e matricular aprendizes nos cursos dos Sistemas Nacionais de Aprendizagem. Isto significa que a aprendizagem, em regra, é realizada pelo chamado sistema "S" da formação profissional, constituído atualmente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP).

28 SANTOS, Caio Franco. Contrato de emprego do adolescente aprendiz: A aprendizagem de acordo com a

A grande inovação trazida pela Lei nº 10.097/00 foi, sem dúvidas, possibilitar a realização de aprendizagem por entidades outras que não as vinculadas ao sistema "S", nos casos em que estas não ofereçam cursos ou vagas suficientes para atender à demanda dos estabelecimentos. Criou-se, portanto, uma espécie de aprendizagem “supletiva", a ser realizada pelas Escolas Técnicas de Educação e pelas entidades sem fins lucrativos. É a própria legislação que regulamenta a contratação de aprendizes quem arrola todas essas entidades, definindo-as como entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica.

Sobre tal modificação legal, alguns autores já vinham alertando as autoridades para insuficiência até então existente no sistema “S”. A Prof.ª Dulce Martini, por exemplo, que atualmente consolidou seu pensamento de forma excepcional em sua tese de máster, analisa a situação da seguinte forma:

Dentro do que propomos, há que ser repensada a formação profissional hoje realizada pelo chamado “Sistema “S”, um sistema que nasceu – e até hoje se mantém – como um sistema elitista e opressor, que objetiva a satisfação dos interesses econômicos das empresas. Por isso, a importância de que a formação profissional também seja realizada por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica, como as Escolas Técnicas de Educação e as entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional29.

Mas o grande dilema quando tratamos da aprendizagem “supletiva” é, sem dúvida, a questão dos recursos financeiros. Afinal, o custeio dos Serviços Nacionais de Aprendizagem é feito por contribuições denominadas parafiscais, pois são exigidas em decorrência de lei e arrecadadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Para as Escolas Técnicas de Educação e as entidades sem fins lucrativos (ONGs), não há previsão de nenhum recurso para realizarem os programas de aprendizagem. Ficam na dependência da realização de algum convênio com o Sistema “S” para o ingresso de recursos, restando evidenciada sua fragilidade por serem a parte mais fraca nessa relação. Considerando que essas entidades são as que, em regra, acolhem os adolescentes oriundos da classe baixa, entendemos que parte dos recursos arrecadados pelas empresas deve ser destinada às entidades que preencham as normas editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego para realizarem curso de aprendizagem.

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TORZECKI, Dulce Martini. O adolescente e a formação profissional sob uma ótica dos direitos humanos:

Proposta legislativa deverá ser realizada nesse sentido, cuja elaboração poderá partir de um trabalho conjunto entre as instituições envolvidas e os órgãos de fiscalização, como o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego.

Conforme o Manual sobre Aprendizagem Profissional30, de criação do MPT através da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância), as entidades ofertantes de cursos de aprendizagem deverão observar, na elaboração dos programas e cursos de aprendizagem, os princípios relacionados no Decreto no 5.154, de 23 de julho de 2004, e outras normas federais relativas à Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores, bem como, dentre outras, as seguintes diretrizes:

I – diretrizes gerais:

a) a qualificação social e profissional adequada às demandas e diversidades: dos adolescentes, em sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (art. 7º, Parágrafo Único do Decreto nº 5598 de 1º de dezembro de 2005) dos jovens, do mundo de trabalho e da sociedade quanto às dimensões ética, cognitiva, social e cultural do aprendiz;

b) o início de um itinerário formativo, tendo como referência curso técnico correspondente;

c) a promoção da mobilidade no mundo de trabalho pela aquisição de formação técnica geral e de conhecimentos e habilidades específicas como parte de um itinerário formativo a ser desenvolvido ao longo da vida;

d) a contribuição para a elevação do nível de escolaridade do aprendiz;

e) garantir as condições de acessibilidade próprias para a aprendizagem dos portadores de deficiência;

f) o atendimento às necessidades dos adolescentes e jovens do campo e dos centros urbanos, que por suas especificidades ou exposição a situações de maior vulnerabilidade social, particularmente no que se refere às dimensões de gênero, raça, etnia, orientação sexual e deficiência, exijam um tratamento diferenciado no mercado de trabalho;

(...)

II – diretrizes curriculares: (...)

d) as potencialidades do mercado local e regional de trabalho e as necessidades dos empregadores dos ramos econômicos para os quais se destina a formação profissional.

Relevante dizer que o Ministério Público do Trabalho vem, há longa data, atuando no sentido de ampliar os cursos de aprendizagem dos Serviços Nacionais, que devem ser realizados sem qualquer custo ao adolescente. A atuação do Órgão ocorre, por exemplo, com a assinatura de Termos de Cooperação com os Serviços Nacionais de Aprendizagem, como o que foi firmado com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, em 20 de dezembro de

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BRASIL. Ministério Público do Trabalho. Manual sobre a aprendizagem profissional. Brasília, 2009, p. 31- 32.

2002. O objetivo é proporcionar aos adolescentes cursos que possam lhes permitir o acesso futuro ao mercado de trabalho, como forma de garantia do direito fundamental à profissionalização.

No documento A aprendizagem profissional na lei Pelé (páginas 42-45)