• Nenhum resultado encontrado

Aprendizagem incidental de vocabulário versus aprendizagem intencional de

1.3 AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO EM LE

1.3.3 Aprendizagem incidental de vocabulário versus aprendizagem intencional de

A aprendizagem incidental de vocabulário ocorre por meio de atividades nas quais as palavras a serem aprendidas não estão em evidência, isto é, não há um foco sobre a forma, o significado ou o uso das palavras, mas, sim, sobre o contexto no qual elas aparecem. Por outro

lado, a aprendizagem intencional de vocabulário se dá através de atividades que destacam os termos a serem assimilados pelos alunos. Existe, nessa abordagem, um foco sobre a forma, o significado e o uso das palavras. Os pesquisadores dessa área se dividem na defesa de uma ou outra abordagem.

Krashen (1982) é um dos principais defensores da aprendizagem implícita de vocabulário ao sugerir que o insumo compreensível é a condição essencial para a aprendizagem. De acordo com sua teoria, o aluno só adquirirá um aspecto linguístico específico quando for exposto ao insumo compreensível de nível i+1, no qual i é conhecimento que o aluno já possui e 1 aquele que precisa ser aprendido. Ainda em defesa desse tipo de aprendizagem, Nagy e Anderson (1984) argumentam que

(...) nem mesmo o ensino de vocabulário mais direto e implacavelmente sistemático pode explicar uma proporção significativa de todas as palavras que as crianças realmente aprendem, nem cobrem mais do que uma modesta proporção das palavras que elas encontrarão nos materiais de leitura escolares. (p.320)

Para esses pesquisadores o contexto exerce influência fundamental no processo de aquisição de novas palavras pelos aprendizes. Baseados nisso, eles consideram a leitura de textos autênticos como uma atividade fundamental para o aprendizado inconsciente de vocabulário na medida em que permite o encontro de palavras em diferentes contextos fazendo com que o aluno memorize a palavra de maneira eficiente de acordo com seus diversos usos.

Huckin e Coady (1999) listam algumas vantagens do ensino implícito de vocabulário: primeiro, ele é contextualizado, dando ao aprendiz um sentido mais rico do uso; segundo, é pedagogicamente eficiente, permitindo ao mesmo tempo atividades de aquisição de vocabulário e leitura; e, por último, é individualizado e centrado no aluno, pois o vocabulário a ser adquirido depende da seleção de materiais pelo próprio aprendiz.

Sökmen (1997) enumera as desvantagens do ensino indireto de vocabulário. Para a autora, ele se configura como um processo lento, sujeito a erros, no qual mesmo aprendizes treinados em estratégias de inferência podem não ser bem-sucedidos devido à insuficiência de conhecimento lexical. Cardoso e Mota (2011), por sua vez, julgam ser uma tarefa difícil o aprendizado de palavras de forma incidental. Para eles, o vocabulário é melhor aprendido quando abordado de forma explícita:

Com relação ao aprendizado de novos vocábulos incidentalmente, pode-se dizer que isto não é uma tarefa fácil. Há mais aprendizagem quando esta ocorre deliberada e intencionalmente. O professor deve planejar cuidadosamente atividades orais e escritas de modo que haja muitas oportunidades para o aprendizado de vocabulário. (CARDOSO; MOTA, 2011, p. 18)

Lewis (1993) também enfatiza a importância do ensino explícito ao propor uma abordagem lexical para o ensino de línguas. Para o autor, o ensino deve ocorrer não só de forma explícita, mas também organizada dentro de uma abordagem léxica, a qual ele desenvolve ao longo de suas obras: The Lexical Approach (1993) e Implementing the Lexical Approach (1997):

O ensino de vocabulário raramente é sistemático. É frequentemente assumido, implícita ou explicitamente, que os aprendizes irão ‘captar’ o vocabulário necessário através de leitura e enquanto se concentram na tarefa séria e difícil de compreenderem o sistema gramatical. O ensino formal de vocabulário tende a ser ou aleatório, em resposta a uma pergunta específica de um aluno em relação a uma palavra específica, ou baseado em uma apresentação formal de palavras associadas com um tópico ou campo particular. Uma abordagem lexical requer um sistema muito mais organizado de introduzir e explorar o léxico, e mesmo palavras simples, na sala de aula. (p. 117)

Durão et al (2011) são a favor de um equilíbrio entre as duas abordagens de modo que uma complete as deficiências da outra. Segundo os pesquisadores “se o ensino explícito, por si só, como se tem comprovado, raramente consuma aprendizagens efetivas, se bem planejado e articulado com a abordagem incidental, pode levar a excelentes resultados” (DURÃO et al, 2011). Paribakht e Wesche (1997), por exemplo, embora reconhecendo que a leitura extensiva conduz à aquisição de vocabulário, oferecem boas razões para esta combinação:

O tema de aquisição de vocabulário, há tanto tempo negligenciado, tem atualmente recebido atenção na pesquisa e pedagogia de segunda língua – refletindo a importância que sempre teve por parte dos aprendizes. Mas ainda não está claro como os aprendizes adquirem o vocabulário ou como ele pode ser ensinado da melhor maneira possível. Os processos de compreensão de leitura podem oferecer algumas pistas. Existe uma evidência considerável em estudos de primeira língua de que a leitura extensiva com o objetivo de captar o sentido leva à aquisição de vocabulário com o passar do tempo, e de fato a leitura provavelmente é responsável pela maior parte da expansão do vocabulário de L1 após as primeiras 1000 ou 2000 palavras em uso na fala cotidiana. A pesquisa em segunda língua sobre esse tópico é escassa, mas há indicadores de que programas de leitura extensiva são geralmente mais específicos do que a instrução sistemática de vocabulário utilizando exercícios descontextualizados. O processo pelo qual a aquisição incidental ocorre é, entretanto, demorado, e não há maneiras de prever quais palavras serão aprendidas, e em que grau de aprendizado. A questão que permanece é se a intervenção instrucional pode auxiliar no processo e torná-lo mais direto e eficiente. (p.175)

Em um estudo desenvolvido pelos pesquisadores supracitados, eles avaliaram até que ponto a leitura, somada a atividades de instrução de vocabulário, poderia resultar em maior retenção de vocabulário pelo leitor. Com esse objetivo, os participantes foram separados em dois grupos e submetidos a tratamentos diferenciados. O grupo “Leitura Mais” lia textos selecionados, respondia questões de compreensão e fazia uma série de exercícios de vocabulário baseados nas palavras-chave das leituras. Já o grupo “Leitura Apenas” lia textos selecionados, respondia questões de compreensão e lia um texto complementar que continha as palavras-chave do texto principal. Ao final do estudo, os autores verificaram que ambos os grupos apresentaram ganhos significativos de vocabulário, porém o grupo “Leitura Mais” obteve um ganho maior.

Logo, percebe-se que há vantagens e desvantagens no ensino e aprendizagem incidental e explícita de novo vocabulário em LE. Porém, ambas podem ser combinadas no intuito de potencializar seus benefícios. Em nosso estudo, reunimos tanto a abordagem implícita, através da leitura e compreensão de diferentes exemplares do gênero meme, quanto explícita, via utilização da tradução enquanto estratégia de aquisição lexical. Além das formas de abordagem de vocabulário tratadas, existem condições que favorecem a retenção de novos vocábulos, como mostraremos na subseção seguinte.