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Aprendizagem móvel – Tecnologia ―transparente‖, ―ubíqua‖ e ―pós-massiva‖

No documento Tecnologias móveis na educação (páginas 39-44)

3. MOBILE LEARNING – APRENDIZAGEM MÓVEL

3.2. Aprendizagem móvel – Tecnologia ―transparente‖, ―ubíqua‖ e ―pós-massiva‖

Os dispositivos móveis aliados à TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) abrem um leque de possibilidades para sua utilização. Surgem diferentes aplicações, tanto no mundo coorporativo como no acadêmico, em que a tecnologia móvel é utilizada para criar ambientes e situações de aprendizagem. Abre-se assim, um novo cenário em que a relação de tempo e espaço; emissor e receptor; virtual e real; público e privado; se modificam.

10 Bruno FERRARI. É como brinquedo de criança. Os tablets prometem uma computação tão fácil e divertida que você pode acabar aposentando o notebook. Revista Época. A nova infância do computador. 25/04/2011. Edição 675. Editora Globo. p. 56-67

11 PC - Personal Computer - computador pessoal, que se destina ao uso pessoal ou por um pequeno grupo de pessoas.

12 Mainframe: computador de grande porte, dedicado normalmente ao processamento de um volume grande de informações e para milhares de usuários por meio de milhares de terminais conectados.

Para alguns autores como Valentim (2009), Schlemmer et.al. (2007), Lemos (2005, 2007), Scanlon et al. (2005), Reinhard et.al. (2005), Graziola Junior (2009), Saccol; Reinhard (2007), estamos vivendo um momento histórico em que surgem novos valores e novos desafios se apresentam. As possibilidades que as tecnologias móveis proporcionam como mobilidade (tempo/espaço/contexto), portabilidade, acesso rápido as informações, flexibilidade, troca, entre outras, nos remete a questionamentos, como por exemplo, de como a sociedade se apropria destes novos recursos e como isto afetará as relações sócio-político- econômico, principalmente a questão da aprendizagem.

Os professores Amarolinda Zanela Saccol e Nicolau Reinhard (2007, p. 179-180), no artigo: ―Tecnologias de informação móveis, sem fio e ubíquas: definições, estado-da-arte e oportunidade de pesquisa‖, apresentam que um novo ―espaço‖ é criado e o mundo ―virtual‖ e ―real‖ se misturam, ou seja, é possível estar ao mesmo tempo conectado e em movimento, presente tanto no espaço ―virtual‖ como no ―real‖, que os autores denominam como ―ubiquidade13‖. A grande questão a respeito do "real" e do "virtual" não será aqui levada adiante, pois seria exaustivo e não apresentaria muitos ganhos a esta pesquisa. Portanto o real e virtual estão sendo citados apenas em seu sentido mais direto: o real como "concreto" e o "virtual" como informação abstrata e digitalizada. A questão de ―ubiquidade‖ presente nos dispositivos móveis, também é apontada por Lemos (2005, p. 05) em seu artigo: ―Cibercultura e mobilidade. A era da conexão‖, de 2005. Para o autor, a tecnologia móvel pode proporcionar ao usuário a sensação de estar em vários lugares ao mesmo tempo, ou seja, mesmo estando presente fisicamente em um determinado local ele pode interagir com uma ou mais pessoas ao mesmo tempo, que podem estar presentes no mesmo local ou em locais diferentes. Além disto, o usuário pode navegar entre os dois mundos - ―real‖ e ―virtual‖, em movimento, de forma quase simultânea, podendo mesclar as informações do mundo real com as informações acessadas virtualmente. Ressalta-se que tanto o usuário como a informação estão em pleno movimento.

Além disto, Lemos (2005, p. 06) também observa que os dispositivos digitais, principalmente os aparelhos celulares, estão tão incorporados à nossa vida, que praticamente os utilizamos sem nos darmos conta da existência deles. O autor denomina isto como ―tecnologia transparente‖, ou seja, os dispositivos que usamos praticamente como se fossem uma extensão do próprio corpo. Há outros exemplos de tecnologias consideradas ―transparentes‖, como é o

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O termo ubiquidade, conforme aponta VALENTIM (2009), foi utilizado pela primeira vez por Orígenes no contexto teológico como sinônimo da onipresença de Deus.

caso do automóvel. Quando estamos dirigindo, é algo tão automático que nem percebemos que estamos alterando a marcha, apertando os pedais do freio/embreagem/acelerador, girando o volante, ou seja, a tecnologia praticamente ―desaparece‖. Outro exemplo, é a escrita, como observa o filósofo Régis Debray (1999 in: MARTINS; SILVA, 2000, p.152-153), a escrita é uma extensão do próprio cérebro e isto permite que o sujeito se supere, se multiplique, se intensifique e se prolongue.

Vilém Flusser (2011) também aborda esta questão do prologamento do corpo, quando em seu livro ―Filosofia da caixa preta‖, observa que ―instrumentos são prolongações de órgãos do corpo: dentes, dedos, braços, mãos prolongados.‖ (FLUSSER, 2011, p. 39). Para o autor, os instrumentos ―simulam o órgão que prolongam‖, o que pode resultar em uma maior eficiente ao ser utilizada.

Assim, a tecnologia móvel está se tornando crescentemente ―onipresente‖, ―despercebida‖ e praticamente ―invisível‖ (LEMOS, 2005, p. 124). Está presente, simultaneamente, em diferentes lugares e permite integrar por meio da internet, o particular ao todo e acessar informações dos lugares mais remotos possíveis. Busca-se, portanto, refletir como estas características podem contribuir para o processo de ensino-aprendizagem dentro da sala de aula. Como observa Lemos (2007, p. 123), estamos vivendo uma fase em que entra em jogo a relação entre sujeito, espaço geográfico, cultura, política, economia etc.

Sabe-se que isto não é exclusividade da era digital. Em todas as fases da história houve mudanças nos meios de comunicação e linguagem, na relação tempo, espaço e meios de transporte, de tecnologias disponíveis, entre outas. Mas para o autor estamos vivendo uma fase que ele define como ―cibercidade‖. Estamos imersos em uma nova relação com o tempo, com o espaço e os diversos territórios, e as cidades estão se tornando cada vez mais desplugadas (sem fio), conectadas (interligando máquinas) e envolvendo pessoas em plena mobilidade. As cidades contemporâneas, segundo Lemos (2007), estão se transformando em lugares totalmente interligados e permanentemente conectados.

Desta forma, Lemos (2007, p. 125) aponta que estamos diante de uma nova cultura, que

denomina como ―pós-massiva‖. Para o autor, a cultura pós-massiva refere-se as novas formas de comunicação e interação proporcionada, principalmente, pela internet (blogs, wikis, podcasts, redes sociais etc.) e pelas tecnologias móveis. Lemos (2007, p. 126) observa que a grande diferença entre a cultura ―massiva‖ (da era industrial - da impressa, da televisão, do rádio etc.), para a cultura ―pós-massiva‖ (internet e demais aplicativos), está em como a informação é transmitida. Na cultura massiva as informações são dirigidas por um pólo

centralizador para uma massa, o chamado formato estrela, ou seja, ―de um para muitos‖, para pessoas que não se conhecem, que não estão juntas espacialmente e que têm pouca possibilidade de interagir. Já na cultura pós-massiva, a informação pode ser produzida por qualquer pessoa, liberando o pólo da emissão e ampliando a interação - a informação assume um carater bidirecional, ―de muitos para muitos‖. Diferentemente do meios de comunicação de massa, a cultura pós-massiva permite a personalização, a publicação e disseminação da informação não controlada por empresas.

Portanto, a atual configuração comunicacional aliada à tecnologia móvel, permite emitir/transmitir, acessar/trocar e se mover ao mesmo tempo. Enfim, os atuais dispositivos móveis, principalmente o aparelho celular, tem sido caracterizado como uma tecnologia ―transparente‖, ―ubíqua‖ e ―pós-massiva‖ (SACCOL; REINHARD, 2007; LEMOS, 2005, 2007; VALENTIM, 2009; SCHLEMMER et.al., 2007). Porém, ainda com todas estas caracterísitcas, não podemos deixar de considerar outros pontos de vista, em busca de uma reflexão sem demagogias sobre este ambiente informacional. Como sugere Perrenoud (2000, p. 126),

―Entre adeptos incondicionais e céticos de má-fé, talvez haja espaço para uma reflexão crítica sobre as novas tecnologias, que, de saída, não seja suspeita de se pôr a serviço, seja, da modernidade triunfante, seja da nostalgia dos bons e velhos tempos em que se podia ainda viver no universo do papel e lápis.‖

A análise crítica apontada por Paul Virilio, em seu livro: ―A bomba informática‖, de 1999, nos faz refletir sobre o perigo dos extremos entre o otimismo e o pessismo. Virilio (1999), apresenta nesta obra seus ensaios e reflexões sobre o desenvolvimento tecnológico e seus reflexos na sociedade. O autor lança luz sobre a questão da relação entre público e privado, colocada à prova com as possibilidades do mundo digital constantemente conectado – ―alguns usuários da internet chegam a viver em transmissão direta. Por meio dos circuitos fechados da

WEB eles exibem sua intimidade a todos‖ (VIRILIO, 1999, p. 23). Isto nos faz refletir sobre a

questão da superexposição da imagem, pois é comum jovens exporem a intimidade (sexual, relacionamentos, conflitos, angústias, dramas etc.) na internet, sem pensar nas consequências e nos riscos que isto pode acarretar. Percebe-se que a educação tem um papel importante nesta questão, pois os jovens devem ser orientados sobre as implicações que uma publicação indevida, como de racismo, atentado ao pudor, bullying, entre outras, podem resultar.

Para Virilio (1999, p. 30-31) a tecnologia é o nosso ―destino‖ e a única ―liberdade‖ que os aparelhos de tecnologia nos dão é de poder dizer ―sim‖ a seu ―potencial‖. Porém para o autor (1999, p. 37), ―a questão agora é justamente saber se temos a liberdade de dizer NÃO a este século (...).‖ Para ele, vivemos em um mundo de ―cada um por si, o salve-se quem puder (...)‖, pois estamos diante de um bombardeio de imagens, uma superficialidade de informação e de substituição das palavras. Assim, o autor (1999, p. 68) recomenda que a crítica da técnica não pode nunca desaparecer e aponta que o slogan ―mais rápido, menor, mais barato da NASA”, ao invés de permitir conquistar outros espaços, na verdade resulta somente na compressão do tempo. Além disto, o autor questiona a ideia de otimismo ―cego‖ das pessoas que põem todas as esperanças no progresso técnico. Para Virilio (1999, p. 106), a internet é a ―melhor‖ e a ―pior‖ coisa do mundo, ou seja, representa o progresso de uma comunicação sem limites e o desastre e a colisão dos saberes individuais e coletivos, pois resulta não em informação, mas sim em ―desinformação virtual‖. Para ele, o analógico cede lugar ao digital, e isto permite a compressão dos dados e acelera a troca de informações, porém o preço pago para isto, de acordo com o autor, é o empobrecimento das informações. Esta era anunciada por dispositvos que permitem ―interatividade‖, ―imediatez‖ e ―ubiquidade‖, para o autor, pode apenas reduzir a importância dos conteúdos e supervalorizar a velocidade da transmissão.

―(...) utilizar como prioridade os engodos de redes que lançam mão da rapidez absoluta de impulsos eletrônicos, supostamente capazes de dar instantaneamente o que o tempo só concede pouco a pouca, signfica não apenas reduzir a quase nada as dimensões geográficas do mundo real como o faz a aceleração dos veículos rápidos já há mais de um século, mas principalmente dissimular o futuro na duração ultracurta de uma transmissão direta telemática – fazer com que o futuro, chegando agora, pareça não mais existir (...)‖ (VIRILIO, 1999, p. 94)

O filósofo Giorgio Agamben (2005), em seu artigo: ―O que é um dispositivo?‖, também questiona a constante exposição dos indivíduos aos dispositivos14. Para o autor, ―não haveria

um só instante na vida dos indivíduos que não seja modelado, contaminado ou controlado por algum dispositivo‖. Quanto aos aparelhos celulares, Agamben (2005) acredita que eles deixam ―abstratas‖ as relações entre as pessoas e é ingênuo quem acredita no discurso que o problema dos dispositivos pode ser facilmente resolvido ―pelo seu uso correto‖. Para o autor, estes discursos ignoram que o uso do dispositivo corresponde a um determinado processo de subjetivação, o que torna quase impossível que o sujeito use o dispositivo de modo correto ou justo, ou seja, a questão que se apresenta é: como se define o modo correto ou justo para sua

14 O autor chama de dispositivo qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, assegurar as opiniões e os discursos dos indivíduos, e também a caneta, o computador, os telefones, a literatura, a filosofia, o cigarro, e até mesmo a linguagem (AGAMBEN , 2005, p. 11).

utilização? Ele também questiona a dimensão que estes dispositivos tomam na vida dos indivíduos, pois muitas vezes as pessoas deixam que eles controlem e executem tarefas do seu cotidiano, como saúde, divertimento, ocupações, alimentação, desejos etc. Além disto, segundo Agamben (2005), é preciso se preocupar com a super vigilância que estes dispositivos proporcionam, pois para ele as ―video-câmara transformam os espaços públicos das cidades em áreas internas de uma imensa prisão. Aos olhos da autoridade - e talvez esta tenha razão - nada se assemelha melhor ao terrorista do que o homem comum.‖ (AGAMBEN, 2005, p. 11).

Assim, como apresentam Virilio (1999) e Agamben (2005), a crítica da técnica não pode desaparecer. É preciso estar sempre atento para olhar e analisar os dispositivos de todos os lugares, de todos os ângulos, buscando uma reflexão crítica e sem fanatismo.

No documento Tecnologias móveis na educação (páginas 39-44)

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