• Nenhum resultado encontrado

Pesquisas sobre Aprendizagem Móvel

No documento Tecnologias móveis na educação (páginas 45-51)

3. MOBILE LEARNING – APRENDIZAGEM MÓVEL

3.4. Pesquisas sobre Aprendizagem Móvel

Os dispositivos móveis vêm sendo utilizados em diferentes segmentos da sociedade, tanto para auxiliar na parte administrativa como na pedagógica. De acordo com Marçal; Andrade; Rios (2005), as pesquisas sobre aprendizagem móvel têm priorizado dois grupos de usuários: crianças e profissionais que exercem suas atividades em ambientes externos.

Para as crianças as tecnologias móveis fornecem uma nova e motivadora forma de interação e para os profissionais externos, cuja rotina é bastante dinâmica e desenvolvida em diferentes lugares, a preocupação é fornecer um ambiente de aprendizagem que disponibilize a informação o mais atualizada possível.

Desta forma, apresentamos abaixo algumas iniciativas de pesquisa que foram desenvolvidas com o uso de dispositivos móveis, principalmente com o aparelho celular, para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem, em ambientes formais ou informais de educação.

Segundo o artigo apresentado por Schlemmer et.al (2007), ―m-Learning ou aprendizagem com mobilidade: casos no contexto brasileiro‖, em que foi pesquisado as práticas de m-

learning, no contexto brasileiro, especialmente no ambiente acadêmico, revela que o m- learning está sendo adotado de forma experimental no ambiente acadêmico, especialmente no

ensino superior. Segundo o artigo, os desafiospara o seu desenvolvimento são tanto de ordem social/cultural – resistências à adoção de novas tecnologias e desenvolvimento de uma cultura para o uso destes dispositivos, como de ordem didático-pedagógica – da necessidade de inovação nas práticas didático-pedagógicas, além é claro, da questão econômica. Como foi apresentado no artigo, foram levantados 25 casos no Brasil em que se usava o termo mobile

learning para definir iniciativas de projetos, pesquisas, trabalhos, etc. Segundo os resultados

da pesquisa, a maioria dos casos indicam que o m-Learning não foi adotado como uma prática rotineira, ou seja, incorporado de fato aos processos de ensino-aprendizagem. Além disto, segundo a pesquisa, os casos apresentados geralmente tem um enfoque mais tecnológico – poucos são os que tratam da questão didático-pedagógica ou dos aspectos sociais envolvidos na adoção da aprendizagem móvel.

Um outro trabalho de pesquisa desenvolvido foi o realizado pelo professor Kumaras Pillay, da escola da província de KwaZulu Natal, no leste da África do Sul. Este trabalho15 foi

desenvolvido com a utilização do aparelho celular no ambiente escolar. O professor transformou arquivos com informações complementares às aulas para acesso por meio do celular, onde era possível aos alunos assistarem a aulas, discutirem temas com os colegas e até fazer provas. Além disto, o professor formou grupos entre os estudantes e pediu a eles que fizessem pesquisas e interagissem pelo celular. Este trabalho ganhou o prêmio mundial da mais inovadora iniciativa no uso da tecnologia no contexto educacional, oferecido pela Microsoft em um evento em Helsinque, na Finlândia, em 200716. O professor Kumaras Pillay afirma que o interesse nas aulas aumentou e aponta que em seu país, só 20% da população tem energia elétrica e menos ainda tem computador. No entanto, mais de 80% têm aparelho celular, principalmente os jovens.

Adelina Moura, pesquisadora de aprendizagem móvel, Universidade de Ninho/Portugal, também apresenta em seu artigo: ―Geração Móvel: um ambiente de aprendizagem suportado por tecnologias móveis para a ‗geração polegar‘‖, de 2009, uma outra iniciativa realizada com tecnologias móveis desenvolvida também na África, onde o acesso a computadores é limitado mas, os dispositivos móveis são mais baratos e acessíveis à população. Segundo o conselho nacional nigeriano, a tecnologia móvel começou a ser adotada nos planos de estudo do ensino básico e os relatórios preliminares indicam maior alfabetização das povoações abrangidas. Neste projeto os estudantes podem usar a câmara fotográfica, reproduzir áudio, calendário, calculadora, e acessar programas informáticos educativos.

15 Renata CAFARDO. Uso do celular na educação ganha prêmio internacional. Jornal O Estado de São Paulo. 2 de novembro de 2007. Disponível em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20071102/not_imp74434,0.php. Acessado em 12/04/2011.

16 Renata CAFARDO. Uso do celular na educação ganha prêmio internacional. Jornal O Estado de São Paulo. 2 de novembro de 2007. Disponível em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20071102/not_imp74434,0.php. Acessado em 12/04/2011.

Outros trabalhos apresentados na Conferência Internacional sobre Mobile Learning, organizada pela IADIS – Internacional Association for Development of the Information

Society, em março/11, realizada em Ávila/Espanha, também mostraram diversas iniciativas de

pesquisas utilizando-se dispositivos móveis. Esta conferência, que acontece anualmente em diferentes países, visa proporcionar um fórum para a discussão e apresentação de pesquisas sobre aprendizagem móvel.

Destacamos abaixo, algumas pesquisas apresentadas em que o uso do dispositivo móvel teve um papel relevante para a aprendizagem:

O projeto M-Ubuntu desenvolvido em 2009, na África do Sul, apresentado pela pesquisadora Lucy Haagen, da Universidade de Duke University Program in Education – EUA, com o título M-Ubuntu a case study of mobile phones & literacy instruction in two south african primary

schools, utilizou aparelhos celulares reciclados, doados pela Samsung, como ferramenta para auxiliar a alfabetização em duas escolas primárias do sul africano. A pesquisa partiu da hipótese de que em escolas com poucos recursos, os aparelhos celulares poderiam ser uma alternativa, acessível e sustentável para a alfabetização de crianças. O projeto equipou as duas escolas, que tem alto índice de pobreza, com aparelhos celulares, projetor e um notebook. A pesquisadora aponta que de modo geral os professores envolvidos neste projeto apresentavam entusiasmo e que houve melhora tanto na leitura, na escrita, na interação e no comportamento dos alunos. A maioria das crianças envolvidas neste projeto eram de baixa renda, sendo algumas soropositivo. Em uma das atividades desenvolvidas, a pesquisadora relata que o celular foi utilizado para fotografar e gravar entrevistas de mulheres que se destacam na África em comemoração ao Dia Nacional da Mulher (09 de agosto). As imagens e os vídeos capturados foram posteriormente utilizados na sala de aula, por meio do laptop. Para a pesquisadora os dados obtidos foram positivos, pois os professores manifestaram que o uso do celular pode ajudar a motivar e a desenvolver a leitura, a escrita e a criatividade dos alunos e professores.

O artigo Listening to an educational podcast while walking or jogging. Can students really

multitask?, apresentado por Joke Coens, Ellen Degryse, Marie-Paul Senecaut e Geraldine

Clarebout, da Universidade de Katholieke Universiteit Leuven Campus Kortrijk – Bélgica, mostra os resultados obtidos a partir de dois experimentos que visa analisar o efeito de executar duas tarefas ao mesmo tempo. A pesquisa foi realizada a partir da comparação de dois grupos para verificar o nível de aprendizagem quando se está realizando somente uma tarefa (estudar) e quando se está realizando duas tarefas ao mesmo tempo, como estudar e

correr/andar. O estudo foi realizado a partir de dois grupos, sendo um grupo formado por pessoas que teriam de apenas executar a tarefa de aprender algo e outro grupo formado por pessoas que teriam de aprender algo por meio de um dispositivo móvel e ao mesmo tempo executar uma tarefa secundária, como caminhar ou correr. O artigo indica que não houve diferenças significativas entre o desempenho de aprendizagem dos dois grupos, porém os alunos que estudaram sem realizar outra tarefa se saíram melhor no teste do que os alunos que estudaram e correram ao mesmo tempo.

Uma outra pesquisa And the development of self-regulated learning skills, apresentada pelos pesquisadores Mutsumi Kondo, Yasushige Ishikawa, Craig Smith, Kishio Sakamoto, Hidenori Shimomura e Norihisa Wada Tezukayamagakuin, da universidade Imakuma Osakasayama-shi, do Japão, Osaka, mostrou os resultados da pesquisa que buscou criar um software denominado de MALL – Mobile Assisted Language Learning (MALL), para ajudar os alunos a se prepararem para o teste de proficiência em inglês TOEIC, nas habilidades específicas de escuta e leitura. Participaram desta pesquisa estudantes que estavam cursando o primeiro ano da universidade. O software foi desenvolvido para o dispositivo móvel -

Nintendo DS, com o propósito de avaliar se o uso deste dispositivo beneficiava aprendizagem

dos alunos. O estudo demonstrou que os alunos que participaram deste projeto obtiveram um aumento significativo em sua nota e declaram que gostariam de continuar estudando com o

Nintendo DS17.

Os pesquisadores Gerald C. Gannod and Kristen M. Bachman, da University Miami, Oxford, Ohio, apresentaram os resultados obtidos em sua pesquisa Integrating m-learning in a broad

context: issues and recommendations, que tinha como propósito levantar dados, por meio de

observação e reflexão em consultas a especialistas e na literatura atual, com o objetivo de elaborar um conjunto de recomendações de como a computação móvel pode facilitar a aprendizagem. A partir da análise dos dados levantados, os pesquisadores apresentaram seis principais recomendações: 1) os aparelhos celulares não devem ser vistos como um substituto para as atuais técnicas de aprendizagem, mas sim como um complemento; 2) a aprendizagem móvel deve ser utilizada para facilitar as diferentes dimensões da aprendizagem, pois oferece uma experiência personalizada, autêntica e situada (Traxler, 2007); 3) os dispositivos móveis proporcionam um ambiente favorável a colaboração, tendo em vista seus inúmeros aplicativos, como twitter e MSN que facilitam a comunicação e a troca de informação; 4) a aprendizagem móvel deve envolver todos os participantes de um mesmo grupo, evitando-se a

exclusão ou o constrangimento de membros que não possuam o dispositivo móvel. 5) desenvolver políticas para a adoção da aprendizagem móvel, evitando-se o abuso na sua utilização, como o acesso a conteúdos inapropriados, cyber-bullying, roubo ou perda de aparelhos etc.; 6) A adoção da aprendizagem móvel deve ser acompanhada de uma preparação/formação dos componentes principais que envolve este processo, ou seja: os estudantes, os educadores, o pessoal de apoio e os pais.

Destacamos também a pesquisa High school teachers face the challenge of integrating the

mobile phone in the classroom, apresentada por Francisco Brazuelo Grund, da UNED –

Universidade Nacional de Ensino a Distância, Madri, Espanha, com o objetivo de identificar quais são as crenças e atitudes dos professores sobre o telefone celular como uma tecnologia educacional. A pesquisa partiu do pressuposto de que o celular é um recurso com um grande potencial educativo, tanto no ensino em sala de aula como na gestão de escolas, e oferece múltiplos benefícios para a comunicação. Porém, como o pesquisador ressalta, o uso do celular é praticamente insignificante para o processo educacional. Esta pesquisa foi realizada na Espanha, envolvendo um total de 53 professores, com idade entre 30 e 60 anos. A partir dos dados apurados por meio de questionário, a pesquisa concluiu que: as atitudes dos professores são geralmente pró-integração do aparelho celular como um recurso educativo, no entanto há incertezas ou ignorância em relação à sua aplicação. Para o pesquisador seria desejável divulgar experiências de aprendizagem móvel para os professores, promover projetos de inovação educacional em sala de aula com o apoio do celular e oferecer treinamento para professores sobre a sua utilização como ensino, educação e gestão de recursos nas escolas. Em relação à receptividade dos professores para a telefonia móvel como um recurso educacional, foram identificados três grupos: uma maioria de professores, representada por 67%, demonstraram altamente receptivos e dispostos a incorporar o telefone celular como um recurso educacional. Um segundo grupo, 26%, manifestou que ainda não sabia o que pensar e que precisam "ver para crer", ficando em uma polaridade neutra. Um terceiro grupo, ou seja, 7% dos professores, apresentaram-se céticos e convencidos de que o aparelho celular é apenas um mero brinquedo e não mostraram interesse em incluir o telefone móvel como uma tecnologia educacional. Além disto, o estudo apresentou que dos 53 professores entrevistados, 94,3% disseram que nunca tinham usado o aparelho celular na sala de aula e, 92,5% não tinham conhecimento de qualquer experiência semelhante. Para o autor este dado revela que um dos motivos da barreira do uso do aparelho celular na escola pode ser pelo fato do desconhecimento desta aplicação. O autor acrescenta ainda que os dados obtidos,

por meio de questionários, mostraram que 28,3% dos docentes discordam da proibição do aparelho celular na sala de aula e que 40,9% não temem a possibilidade de serem fotografados ou filmados durante a aula.

Desta forma, podemos perceber que há várias iniciativas de pesquisas que buscam entender como as tecnologias móveis podem auxiliar efetivamente o processo de ensino-aprendizagem, tanto no ambiente ―formal‖ ou ―não-formal‖ de educação. Os dados apresentados acima indicam que as pesquisas têm sido mais concentradas na questão de como a tecnologia está sendo incorporada no processo educacional e também na tentativa de se encontrar formas eficazes para sua incorporação. A pesquisa de Schlemmer et al. (2007), revela um dado importante, pois identifica que a aprendizagem móvel no Brasil tem sido voltada mais para questões técnicas do que para os aspectos sociais e didático-pedagógicos, e isto equivale a dizer que pouco se tem avançado no Brasil em tornar a tecnologia, tanto ―móvel‖ como ―fixa‖, como um dispositivo que faz parte da prática rotineira da sala de aula. Percebe-se, portanto que apesar dos avanços e das iniciativas, ainda não conseguimos que a tecnologia realmente faça parte do dia a dia do ambiente escolar.

Percebe-se, ainda, que a maioria das pesquisas realizadas fora do Brasil e apresentadas na conferência internacional IADIS/2011 sobre mobile learning, buscam compreender como os dispositivos móveis podem auxiliar a aprendizagem, seja ao disponibilizar vídeos para acesso aos alunos, seja incentivando a interação/troca de informação, ou ainda ao usar o aparelho celular para auxiliar o processo de alfabetização, entre outras iniciativas.

Destacamos, por fim, as iniciativas que buscam utilizar a tecnologia móvel para minimizar a desigualdade social e buscar alternativas para diminuir o problema ambiental, como no projeto M-Ubuntu na África do Sul, que utilizou aparelhos celulares reciclados e doados por uma empresa de telecomunicações. Este projeto envolveu um trabalho de reciclagem de aparelhos celulares que são geralmente jogados no lixo e tratou também dos aspectos sociais que envolvem, tanto o acesso à informação como à tecnologia.

4.PESQUISA REALIZADA – ESTUDO EXPLORATÓRIO

No documento Tecnologias móveis na educação (páginas 45-51)

Documentos relacionados