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Apresentação e discussão de resultados

De forma a organizarmos os dados, construímos uma grelha (vide anexo 11) para cada dia. Nessa tabela estão agrupados os trinta e dois dias de Telejornal, divididos por editorias, espaço, duração, tema e total de minutos e de peças. Achámos necessário fazer a contabilização de forma a possuirmos uma análise geral.

Este capítulo baseia-se na aplicação da metodologia, acima mencionada, de forma a concluir qual efetivamente é o tratamento jornalístico dedicado à Cultura no Telejornal. Para tal, analisámos os trinta e dois dias do Telejornal consoante o Género Jornalístico, o Espaço, as Fontes de Informação, o Local, o Tema, os Valores-Notícia, a Duração e o Tipo de Discurso. Primeiramente considerámos necessário fazer uma contabilização para todas as áreas e não só para a Cultura, de forma a entender qual das editorias é a mais trabalhada e porquê13.

4.1- O lugar da Cultura no Telejornal

Durante um mês de Telejornal, do dia 6 de outubro a 6 de novembro, foram apresentadas um total de 676 peças. A Cultura, tal como podemos ver no gráfico 1, foi a área menos aprofundada e tratada. Mário Rui Cardoso, editor de Artes para Rádio e para Televisão (cargo exercido durante o estágio realizado), afirmava que a Cultura não existe no Telejornal:

“A Cultura simplesmente não existe no Telejornal da RTP1. Existem peças sobre entretenimento, de preferência entretenimento de massas, fait divers para fechar o jornal. De preferência peças "giras", como os directores e coordenadores gostam de dizer. A Cultura na RTP tem existido apenas nos discursos das novas administrações e direcções que vão chegando à RTP e que enchem a boca de "Cultura" para o serviço público. Mas depois não há recursos humanos para trabalhar a área de Cultura e os espaços para transmitir os trabalhos têm de ser "mendigados". “ (Mário Rui Cardoso, editor de artes para rádio e para televisão).

Do lado dos artistas, por exemplo, Graça Santa-Bárbara, museóloga do Museu dos Coches, possui a mesma opinião que Mário Rui Cardoso:

“Considero que a Cultura não está representada no Telejornal da RTP1. Apenas aparecem notícias sobre alguma área da Cultura quando acontece algo de extraordinário, quando as notícias deviam ser regulares e fazer parte das agendas diárias, tal como o desporto e em particular o futebol.” (Graça Santa Bárbara, museólogo do Museu dos Coches).

Para Vítor Oliveira, coordenador da agenda, o jornalismo cultural em Portugal não existe e dá o exemplo das publicações especializadas em Cultura que já encerraram. É importante salientar

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Três Telejornais não possuem 2ª parte. Infelizmente tentamos entrar em contacto com a RTP Play de modo a obter as segundas partes para o estudo. Não obtivemos resposta e avançamos na nossa investigação.

55 205 156 77 106 76 16 40 Sociedade Internacional Política Economia Desporto Cultura Outros

que, segundo o mesmo, na Agenda da RTP1 existem de facto opções culturais, “ (…) Sem consultar as agendas poderei acrescentar que por dia deverão estar cerca de 15 propostas culturais” (Vítor Oliveira, coordenador da agenda). O problema aqui exposto é que as peças que estão em agenda não passam para o alinhamento do Telejornal. Mário Rui Cardoso, editor de Cultura, explica este facto, afirmando que a RTP1 não valoriza a Cultura:

“Dedica pouquíssimo tempo aos assuntos culturais, “chuta-os” para um canto da programação de outros canais – “Jornal 2”, na RTP2; “In&Out”, na RTP Informação –, e mesmo o pouco tempo que dedica à “cultura” é preenchido com temas que têm sobretudo a ver com entretenimento. Tirando isso, e salvo raríssimas excepções, há cultura na RTP1 quando alguém morre ou ganha prémios.” (Mário Rui Cardoso, editor de Artes para a Rádio e para a Televisão).

Se compararmos com a área “Outros”, que tal como foi dito anteriormente diz respeito a todo o tipo de promoção da RTP, bem como prémios recebidos, as peças culturais são quase inexistentes. Através deste gráfico podemos chegar a várias conclusões: a Sociedade é, sem dúvida, a área mãe da RTP e a Cultura a área minoritária. O tópico “Outros”, que nem faz parte de uma editoria, também passa à frente da Cultura.

Achámos importante fazer uma comparação geral em termos de minutos. Apesar da Cultura no mês analisado só ter tido dezasseis peças, estas tenderam a ser mais longas que as algumas das peças nas restantes editorias. A partir da análise verificámos que existem peças mais longas, mas que não compensa a falta de peças culturais.

56 08:44:32 04:53:10 02:23:09 03:41:00 02:35:06 00:39:43 01:06:16 00:00:00 01:12:00 02:24:00 03:36:00 04:48:00 06:00:00 07:12:00 08:24:00 09:36:00

Observando o gráfico 2, podemos concluir que a Cultura possui menos peças no Telejornal que as outras áreas e que o tempo das mesmas também é muito inferior. O caso que mais marcou a agenda da Sociedade foi, sem dúvida, a colocação dos professores nas escolas no novo ano letivo, bem como todos os contratempos na colocação e o facto de passado um mês ainda existirem alunos sem aulas. Estes temas abriram várias vezes o Telejornal e estiveram em voga durante todo o mês. No caso do Internacional, o Ébola foi o assunto mais noticiado. Mais tarde, a bebé prematura do Dubai também foi bastante noticiada. Tratou-se de um bebé de pais portugueses que nasceu prematuramente no Dubai. Devido às dificuldades económicas passadas pelo casal, recorreram à comunicação social para expor o caso. Na Política, não conseguimos destacar nenhum evento em particular. Existiram vários assuntos, nomeadamente a demissão do Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário. Na Economia, destacamos a aprovação do Orçamento do Estado, bem como todas as novas medidas e tudo o que mudou com a aprovação do mesmo. No Desporto, a estreia de Fernando Santos na Seleção Nacional de Futebol marcou grande parte das peças desportivas. A peça mais longa que destacamos na Cultura foi a atribuição do Prémio Nobel da Paz.

No que diz respeito à abertura dos Telejornais denota-se uma grande discrepância entre a Cultura e as restantes áreas, como podemos visualizar no gráfico que se segue:

57 Sociedade Internacional Economia Política Desporto Cultura 0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 6 8 10 12

Notícia Reportagem Entrevista

A Sociedade e a Economia possuem ambas dez aberturas. Segue-se o Internacional com sete, o Desporto três e a Cultura e a Política com apenas uma. No caso da Cultura verificou-se apenas uma vez com cinco minutos e quarenta e quatro segundos, relatando o Prémio Nobel da Paz, ganho pela ativista Malala e pelo Professor Kailash.

4.2- As peças da Cultura

4.2.1- Género Jornalístico

Das dezasseis notícias culturais, concluímos que o género jornalístico mais utilizado é a reportagem, com onze peças, a notícia com três e a entrevista com duas. É importante salientar que dentro do género reportagem também se encontram entrevistas, não sendo um ato isolado, mas sim uma forma de enriquecer a matéria. Quando nos referimos à entrevista, é apenas e só a entrevista e algumas imagens a colorir a mesma, como foi o caso do livro sobre Fidel Castro, onde se entrevistou Juan Reinaldo Sanchéz. São peças onde o conteúdo é transmitido através da entrevista e onde o desenrolar das peças acompanha as perguntas e respostas.

Gráfico 3- Abertura do Telejornal

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8

8 1ºparte

2º parte

A notícia está presente nas peças mais curtas, por exemplo em alguns dos Prémios Nobel, onde apenas foi realizado um off lido pelo pivô. É vista como um registo mais corrente da informação. A reportagem é um registo mais longo que a notícia e que abarca a maioria das peças culturais tratadas pela RTP1. Isso demonstra que existe um cuidado com as peças relacionadas com a Cultura, ou seja, há uma preocupação em contar uma história sempre a partir do ponto de vista do jornalista, obedecendo a todas as regras. A entrevista está menos presente, talvez por ser um registo um pouco mais longo e requerer uma grande preparação por parte do jornalista.

4.2.2- Espaço

Segundo o gráfico seguinte é possível constatar que a Cultura ocupa o mesmo espaço na primeira e segunda parte do Telejornal.

Este gráfico faz-nos concluir que a Cultura não é deixada para o final do alinhamento e que possuiu o mesmo tratamento na primeira e na segunda parte do Telejornal. Este resultado pode explicar que existe um cuidado por parte da RTP1 em não colocar a Cultura sempre em último. Pode também querer dizer que metade das peças culturais funcionam bem na primeira parte, pois chamam a atenção do público e prendem-no para ver a segunda parte. Com uma amostra maior seria possível aferir outras conclusões.

4.2.3- Fontes de Informação

As fontes de informação são essenciais para a realização das peças, não só em televisão, como em todos os meios de comunicação. Como podemos visualizar na tabela 1, os cantores (fontes identificadas humanas profissionais com cargo) e os artistas (fontes identificadas humanas não profissionais com cargo) são as fontes mais utilizadas nos 32 Telejornais analisados.

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Em primeiro lugar, é importante verificar a existência ou não de fontes. Das dezasseis peças, três não possuem fontes. Destacamos a atribuição do Prémio Nobel da Medicina, da Física e a eleição de David Carreira como o melhor artista português do MTV EMA 2014. São as mais curtas, as que não excedem um minuto, são off’s. Estas três peças não foram contabilizadas na tabela 1, pois esta apenas abarca a existência de fontes. Relativamente ao número de fontes por peças, este é muito variável. Existem peças com cinco fontes (Banda Figo Maduro e o novo livro do escritor e jornalista José Rodrigues dos Santos), como há a existência apenas de uma fonte (Nobel da Literatura e a exposição do cantor Bryan Adams).

Podemos, também, concluir que as fontes de informação utilizadas são, na sua maioria, relacionadas com o mundo da Cultura (artistas, escritores, atrizes, professores, leitores, estilistas). Podemos inferir que todas as fontes de informação dizem respeito à peça em si. A presença dos políticos como fonte é também minoritária. Nota-se uma preocupação da RTP1 em dar aos artistas a possibilidade de falarem acerca dos seus trabalhos. No total das 33 fontes existem 5 fontes que são anónimas. Por exemplo, na peça do escritor José Rodrigues dos Santos, a jornalista entrevista 5 pessoas, o escritor, um jovem, uma jovem, um adulto e um investigador. Três pessoas são leitores e um investigador. Não temos a certeza, pois é ocultado o

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seu nome e o seu cargo. Esta conclusão parte da nossa perceção. Entrevistar pessoas de todos os géneros é uma forma de dar mais força à peça.

Das 16 peças de Cultura analisadas, chegámos a um total de 33 fontes de informação, o que nos leva a deduzir que existe mais que uma fonte por peça. Não há ocorrência da mesma fonte utilizada em mais que uma peça. Ou seja, o jornalista utiliza sempre fontes diferentes, pelo menos a partir da nossa análise, nas peças de Cultura.

Relativamente ao sexo das fontes, o gráfico que se segue ilustra a predominância do sexo masculino nas fontes de informação utilizadas nas peças culturais, do Telejornal da RTP1. Pode- se constatar que o perfil feminino como fonte está presente na televisão de serviço público, mas, ao comparar com o sexo masculino, a discrepância é enorme (quase metade). São utilizados 21 fontes masculinas e apenas 12 fontes femininas. Não conseguimos apurar o porquê desta diferença acontecer, pois seria necessário entrevistar todos os jornalistas que elaboraram as respetivas peças de Cultura.

4.2.4- Local

Com a variável Local pretendíamos entender se existiam disparidades em relação às regiões no que diz respeito à reprodução dos eventos culturais. Existem diferenças, mas ao nível nacional e internacional. Neste caso, o “Internacional” foi o Local mais usado nas peças culturais. Lisboa segue-se como Local mais usado, com cinco peças. “Sem Local” é o Local com quatro peças e Cascais com uma peça Cultural. O tópico “Sem Local” abarca todas as peças onde não são enumerados locais, por exemplo, aquando da peça do cantor Mickael Carreira sobre lançar dois álbuns. A peça não tem local nem hora, apenas sabemos que o cantor vai lançar dois álbuns. Não sabemos onde a peça foi gravada. No “Internacional” consideramos, por exemplo, a

21 12

Masculino Feminino

61 4 6 5 1 Sem local Internacional Lisboa Cascais 0 1 2 3 4 5 6 Música Literatura Fotografia Moda Outros

digressão pela Europa do cantor Tony Carreira. A peça foi gravada em Paris, pelo correspondente da RTP1 na altura, Paulo Dentinho.

Como podemos visualizar no gráfico, o Telejornal dá mais importância aos eventos fora de Portugal do que à Cultura que se vive e pratica no nosso país. É uma diferença mínima, mas que é notória. Isto poderá explicar-se devido, essencialmente, às indústrias culturais e ao facto de a Cultura ser entendida como um objeto de mercadoria e de distribuição. E também poderá demonstrar a falta de interesse da RTP1 na Cultura que se pratica em Portugal.

4.2.5- Tema

Com o tema pretendemos verificar qual o assunto mais retratado. A música é o tema mais destacado no Telejornal, com cinco peças culturais. Dessas cinco, três dizem respeito à família Carreira, uma reportagem sobre o cantor Mickael Carreira, outra sobre o cantor Tony Carreira e um off sobre o cantor David Carreira.

Gráfico 7- Local

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Depois da Música, o tema mais retratado foi a Literatura, onde destacamos o volume de vendas do livro “Os Maias”. Segue-se a categoria “Outros” com a mesma pontuação que Literatura, que, neste caso, e como definimos anteriormente, diz respeito aos Prémios Nobel. A Moda também esteve representada no Telejornal com duas peças. Por último, destacamos a Fotografia com apenas uma peça.

De fora ficaram temas como: Artesanato, Teatro, Cinema, Escultura, Eventos e Pintura. De realçar a inexistência de peças sobre o cinema. Quando na metodologia pensávamos na Cultura no Telejornal, pensávamos na Música e no Cinema como temas dominantes, o que não se verificou como podemos concluir com o gráfico anterior.

Os Museus, a Escultura e o Teatro não possuem espaço algum no Telejornal. Artur Coimbra, programador do Teatro Cinema de Fafe vê este facto como algo que não acontece apenas na Televisão, mas em todos os meios de comunicação:

“O que vejo é a redução da Cultura à marginalidade mediática, que é um facto, e não é exclusivo das televisões, embora os jornais, por exemplo, concedam espaços maiores e mais regulares aos diversos componentes da vida cultural. É lamentável que tal suceda, mas a cultura, ao que se vê, não “vende”!... Por isso, não passa no Telejornal.” (Artur Coimbra, programador do Teatro Cinema de Fafe).

Maria Figueiredo, conservadora de museus do Museu Calouste Gulbenkian não consegue explicar o porquê dos museus não estarem representados na nossa análise, mas conclui que, em geral, se podemos responsabilizar alguém devemos culpabilizar o governo e as políticas de direita “Está provado que a cultura é uma prioridade da esquerda. É tudo uma questão de políticas. Já dizia Salazar que era bom manter o povo iletrado.” (Maria Figueiredo, conservadora museu Calouste Gulbenkian).

4.2.6- Valores-Notícia

A identificação dos valores-notícia é a parte mais complexa nesta análise. A interpretação dos valores de noticiabilidade depende sempre de quem os seleciona. Cabe ao jornalista seguir os critérios de noticiabilidade na escolha de um acontecimento. A partir dos valores-notícia é que o jornalista decide se o acontecimento é ou não suscetível de ser notícia (Traquina, 2002). O editor de Cultura por nós entrevistado refere-se aos valores-notícia como aquilo que “vende” e está sempre relacionado com as audiências:

“(…) como algo que poderá dar um bom fecho jornal... “se for uma coisa gira”, como se costuma dizer nas redacções. A ”coisa gira” é o

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entretenimento: é o videoclip novo da Shakira; é a Madonna que cai do palco; é a entrega dos Oscares; é a “fauna” do festival de rock...(…)”. (Mário Rui Cardoso, editor de artes para a rádio e televisão).

Para a análise deste tópico iremos tomar por referência a definição de valores-notícia de Traquina, anteriormente referida. Como podemos visualizar no gráfico descrito, a atualidade e a notoriedade são os valores-notícia mais utilizados nas peças culturais.

A atualidade refere-se aos acontecimentos retratados que possuem um tempo e um lugar, algo que está a acontecer ou que tem data para se realizar. A notoriedade diz respeito à importância do evento ou a celebridade envolvida no acontecimento (Traquina, 2002). Por exemplo, como notoriedade e atualidade escolhemos as peças que retratavam a atribuição dos Prémios Nobel, o lançamento do livro do jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos ou a digressão do cantor Tony Carreira. São ambos muitos conhecidos do público, o que faz com que as peças sobre eles adquiram uma audiência maior. A relevância e a proximidade são os valores-notícia que se seguem, com quatro peças. Exemplificando, para o valor-notícia relevância escolhemos também os Prémios Nobel, e para a proximidade selecionámos o livro do escritor José Rodrigues dos Santos, devido à sua proximidade com o público. A novidade e o inesperado refletem acontecimentos que não fazem parte das expetativas dos telespetadores e que os surpreende. Nestes dois tópicos selecionámos a exposição de fotografia do cantor Bryan Adams. Era espectável mais um cd, mas a peça surpreendeu com o novo conteúdo, uma exposição. Por último, destacámos a novidade, algo novo e diferente do que estamos habituados a ver, por exemplo: a banda FigoMaduro, em que todos os intervenientes fazem parte da mesma família.

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A atualidade é o valor-notícia mais usado (catorze vezes), quase em todas as peças, fazendo-nos chegar à conclusão que a RTP1 prima por acontecimentos com data marcada e não por acontecimentos que fujam à rotina, ou que não possuem marcação definida.

Do ponto de vista de Artur Coimbra, programador do Teatro Cinema de Fafe, os pressupostos que estão na escolha dos eventos a noticiar baseiam-se na localização geográfica (próximo de Lisboa e arredores), com a exceção de Serralves, na grandeza, na extravagância e impacto na população:

“Mas a maioria das vezes, quero crer, a existência de cumplicidades ou estratégias de sedução por parte dos promotores dos eventos para com os jornalistas. É que nem sempre o que é importante é noticiado; e, inversamente, nem sempre o noticiado é relevante” (Artur Coimbra, programador Teatro Cinema de Fafe).

Para Vítor Oliveira, coordenador do departamento de agenda, o que o leva a escolher um evento cultural para fazer parte da agenda é a originalidade e a localização, dando preferência a eventos fora dos grandes centro urbanos (Vítor Oliveira, coordenador do departamento de agenda). As notícias culturais fora dos centros urbanos não se verificam na análise efetuada, como podemos concluir com o tópico “Local”. Vítor Gonçalves, Diretor Adjunto de Informação, afirma que os valores-notícia que levam à escolha de um evento cultural são os mesmos que nas outras áreas: “obedece a critérios de novidade, actualidade, notoriedade das personalidades envolvidas e relevância pública dos factos”. Estes critérios relatados por Vítor Gonçalves vão ao encontro da análise por nós realizada.

4.2.7- Duração

A partir de uma análise dos 32 Telejornais, chegámos a um total de 24 horas, 2 minutos e 56 segundos. No que diz respeito às dezasseis peças culturais, temos um total de 39 minutos e 43 segundos. Existe, sem dúvida, uma discrepância entre o tempo dedicado à Cultura e o tempo dedicado às outras áreas. A Cultura é a área minoritária, perdendo também para a categoria “Outros”, que apresenta 1 hora, 6 minutos e 16 segundos. Mário Rui Cardoso, editor de Cultura no período de tempo analisado, não compreende como a secção “Outros” possuiu mais tempo que a Cultura e questiona sobre o conteúdo dentro dos 39 minutos e 43 segundos de Cultura:

“De uma forma muito simples. A RTP está mais preocupada em olhar para o umbigo, em divulgar-se a si mesma, do que em dar notícias de cultura. E se calhar nesses 39 minutos e 43 segundos havia assuntos em que, na

65 00:00:00 00:00:43 00:01:26 00:02:10 00:02:53 00:03:36 00:04:19 00:05:02 00:05:46 00:06:29 00:07:12 1

A- Fotografia Bryan Adams B- Digressão Tony Carreira C- Álbum Mickael Carreira D- David Carreira- MTV EMA E- Concerto DAMA

F- Livro J.R. Dos Santos G- Livro Pamur

H- Livro sobre Fidel Castro I- FigoMaduro J- Nobel Medicina L- Nobel Física M- Morte Estilista N- Moda Lisboa O- Nobel Paz P- Nobel Literatura "Os Maias"

verdade, o assunto principal era a própria RTP. Havia lá notícias do Anselmo Ralph?” (Mário Rui Cardoso, editor de artes para rádio e para televisão).

As 16 peças culturais rondam uma média de aproximadamente 2 minutos e 64 segundos por peça. No entanto, podemos concluir a partir do gráfico seguinte que não existe um padrão de duração por peça.

É importante salientar que a Cultura ocupa um espaço e duração insignificante na televisão pública portuguesa. O tempo total de Cultura não chegou sequer a uma hora, no total dos 32 Telejornais. Estes dados só vêm comprovar que a Cultura não é prioritária para a estação de serviço público. A Cultura está dividida em vários temas e este facto podia ser motivo para existirem mais peças culturais, mas isso não se verifica.

4.2.8- Tipo de discurso

Relativamente ao tipo de discurso, podemos concluir que o texto off é o mais utilizado. No entanto, não devemos considerar este dado como um aspeto negativo. Em catorze das dezasseis

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