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Na primeira parte deste capítulo, e antes de nos debruçarmos sobre o Jornalismo Cultural, existem alguns conceitos que devem ser esclarecidos. São conceitos que irão reger a nossa análise prática, como por exemplo: agenda setting, como surgiu e de que forma influencia o jornalismo. Os Valores-Notícia, as Fontes de Informação e a sua relação com o jornalista, a Duração, Espaço, Género Jornalístico e o Tipo de Discurso. Achamos de extrema importância fazer um enquadramento teórico dos mesmos, pois mostram-se essenciais na compreensão da análise em torno da Cultura no Telejornal.

A segunda parte deste capítulo incidirá sobre o Jornalismo Cultural e a sua história. Serão abordados três tópicos principais: a definição do termo Cultura, pois acreditamos ser necessária esta clarificação, uma vez que existem várias definições da mesma. A sua definição é de extrema importância e auxiliar-nos-á no terceiro capítulo. A sua história será outro dos tópicos debatidos. Quando nasceu e onde, o seu percurso em Portugal. Dentro deste tópico incluiremos o jornalismo de agenda ou divulgação e debateremos esta forma de o ver, abordando diversas perspetivas. Por fim, concluiremos este capítulo com as Indústrias Culturais. Falar sobre as mesmas é de extrema relevância, uma vez que este termo alterou a forma como se vê a Cultura e a forma de ser tratada. Vários autores sustentam a ideia de que tudo está relacionado com questões económicas, não sendo ela uma excepção. Após o abandono do termo “cultura de massas” e a adoção da expressão “Indústrias Culturais”, passa a ser vista como uma moeda de troca, sujeita à procura e à oferta do mercado. As massas não são o principal fator que influencia estas indústrias mas sim algo secundário.

2.1- Agenda

Setting

Durante todo o meu estágio fui-me perguntando qual o conceito de agenda que a RTP1 seguia. Consultava-a todos os dias e notava que quase sempre os eventos culturais eram poucos e estavam destinados ao programa Cultural In & Out. Poucas peças do programa cultural passavam para o Telejornal. Com este relatório de estágio e com a entrevista ao editor do departamento de Agenda queremos entender se esta situação realmente acontece e a sua explicação.

Maxwell McCombs e Donald Shaw, (McNair, 2002), foram os pioneiros na hipótese da agenda setting. Agenda setting significa, de forma sucinta, que está nas mãos dos meios de comunicação social escolher o que vai ser notícia ou não.

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“O agenda setting confere ao jornalismo a importante função de cão de guarda em nome do público, alertar sobre perigos que possam surgir, facilitando o debate das possíveis respostas e que representa a preocupação do público para os políticos” (McNair, 2002, p.51).

Para os criadores desta teoria o conteúdo de agenda dos meios de comunicação e a perceção pública andam de mãos dadas. Os meios de comunicação levam assim a audiência a considerar certos temas como os mais cruciais para o seu dia-a-dia.

É necessário, neste contexto, falar também sobre o processo de Gatekeeping. Teoria da ação pessoal, ou teoria do Gatekeeper, foi a primeira teoria que surgiu acerca do jornalismo em 1950. Esmiuçando a palavra, “gate” significa portão e “keeper” guardador. Todos os dias as agendas dos meios de comunicação social são bombardeadas com milhares de informações. Nem todas podem ser consideradas notícias, ou seja, nem todas passam nos portões dos guardadores. São momentos de decisão que passam pelo jornalista, que correspondem, na metáfora, aos portões (gates). E o jornalista corresponde, na metáfora, ao porteiro (gatekeeper) (Traquina, 2002). Na RTP1 a função do gatekeeper é desempenhada pelos profissionais da Agenda. Torna-se assim necessário entender o que leva a escolha de uma notícia/ evento em detrimento de outra.

Se a decisão for positiva, a notícia acaba por passar pelo «portão»; se não for, a sua progressão é impedida, o que na prática significa a sua «morte», porque significa que a notícia não será publicada, pelo menos, nesse órgão de informação (Traquina, 2002, pp.77-78).

A seleção é a pedra angular do trabalho do jornalista, pois um meio de comunicação deve ser criterioso. Na RTP1 pude perceber que não existe apenas um gatekeeper, mas vários. Depois de ser avaliado pela Agenda, é a editoria que decide se vai acompanhar o evento. Normalmente decidem nas reuniões diárias, ou seja, não há apenas uma pessoa, mas várias que fazem parte deste processo. E, além de reduzir o número de notícias, também reduzem o conteúdo das mesmas. Galtung e Ruge, (1965), citados em Sousa, (2008, pp.17-18), introduziram a ideia de que o processo de seleção não passa só pela objetividade do jornalista, mas sim pelos valores- notícia que regem a profissão do jornalista. Os valores de noticiabilidade são vários e cada autor possui a sua definição de valores-notícia. Erboltato (n.d.), citado em Silva, (n.d.) considera como valores-notícia, os seguintes: proximidade, marco geográfico, impacto, proeminência, aventura/conflito, consequências, humor, raridade, progresso, sexo e idade, interesse pessoal, interesse humano, importância, rivalidade, utilidade, política editorial, oportunidade, dinheiro, expetativa/suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas/ invenções, repercussão, confidências.

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Wolf (1995) considera os valores-notícia como uma componente da noticiabilidade:

“Pode também dizer-se que a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher, quotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de factos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias” (Wolf, 1995, p.170).

Os jornalistas necessitam, assim, de um conjunto de critérios que selecionem aquilo que deve ser considerado notícia e o que deve ser banido. Silva (n.d.) afirma que Wolf (n.d.) considera como critérios de noticiabilidade a importância ao nível hierárquico do indivíduo; a influência sobre o interesse nacional; o número de pessoas envolvidas e a relevância quanto à evolução futura.

Em 1950, David Manning White, criador da teoria do Agenda Setting, realizou uma pesquisa sobre a atividade de um jornalista de meia-idade num jornal norte-americano. Com esta pesquisa, o autor procurava entender os motivos que levam um jornalista a escolher umas notícias em detrimento de outras. As conclusões desta pesquisa foram claras. White, após a pesquisa, sustenta que o processo de decisão do jornalista debruçava-se inteiramente pela sua experiência e pela sua subjetividade (Traquina, 2005, citado em Castro, 2012, p.5). O autor pode assim concluir que esta teoria do jornalismo é não mais que o comportamento e as escolhas do jornalista, “é interessante observar que quanto mais tarde no dia chegaram as notícias, maior era a proporção da anotação “sem espaço” ou “serviria”” (White, 1943, citado em Assunção, 2005, p.33). Esta é uma teoria que esbarra em alguns limites. Ignora as normas editoriais, desconsidera a organização como parte deliberativa no processo de decisão e coloca o “poder” nas mãos de quem produz a notícia, o jornalista.

2.2- Fontes de informação

Achámos necessário debruçarmo-nos sobre o tema das fontes de informação, uma vez que, na metodologia seguida, identificamos todas as fontes de informação relacionadas com a Cultura, presentes no Telejornal. Por isso, escolhemos uma tipologia para depois a aplicarmos na prática. Indo ao início da questão e segundo uma definição etimológica, a palavra fonte significa o lugar onde nasce sempre água ou algo onde tudo começa. Fonte é o deus das nascentes. Fonte é filho de Jano, o deus das portas e passagens. Partindo desta definição, podemos concluir que, simbolicamente falando, a informação corre cristalina e pura como água e passa pelas portas e portões até chegar ao leitor/telespetador (gatekeeper) (Lopes, 2000).

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Berlo considera que uma fonte é “uma pessoa ou um grupo de pessoas com um objetivo para despoletar o processo comunicativo, objetivo esse que tem de ser expresso em forma de mensagem” (Berlo, 2003, p.30).

Schudson (2003, p.134) define fonte como “o mais profundo, o mais escuro segredo do poder do jornalismo”. Gans (1979) distingue duas categorias de fontes: conhecidas (presidentes, membros do governo e outros funcionários do Estado) e desconhecidas. Afirma, de igual modo, que este tipo de fonte conhecida é a preferida dos jornalistas. Estrela Serrano, no seu artigo “Jornalismo e Elites do poder”, afirma que a cobertura jornalística tende a centrar-se em fontes ligadas ao poder:

“Tornou-se, assim, quase natural a existência de uma cultura de governo, asfixiada e telecomandada pelos media, pelo seu ritmo, pelas suas exigências, o que levou ao empolamento espectacular de certos sectores de actividade, alguns deles menores” (Serrano, 1999, p.3).

2.2.1- Relação do jornalista com a fonte

As opiniões são desiguais no que toca à relação entre o jornalista e as fontes. As fontes detêm uma função principal no trabalho jornalístico: transmitir informação. Sem elas, os jornalistas não podem executar o seu trabalho. Sempre que saía em reportagem notava a forma como as fontes se relacionavam com o jornalista e vice-versa. É, sem dúvida, um interesse mútuo. Na Cultura funciona também assim. Os organizadores dos eventos veem no jornalista uma forma de divulgar a sua arte. E o jornalista vê na arte do organizador uma forma de fazer Cultura contanto uma história.

Mencher (1991) considera as fontes como o “sangue” dos jornalistas (Mencher, 1991, citado em Santos, 2012, p.13). Segundo um estudo realizado a partir da análise dos jornais diários norte-americanos, Berkowitz e Beach (1993) concluíram que mais de metade das peças chegam às redações pelas mãos das fontes de informação e não pelo esforço do jornalista. Manuel Chaparro, (2001), citado em Ribeiro, (2010, p.232) é também da opinião que o poder está do lado das fontes:

“Na hora de escrever, na rotina da produção e dos procedimentos profissionais (os conscientes e os inconscientes), a perspectiva das fontes influencia inevitavelmente, a decisão jornalística”.

Há outra linha de pensamento diferente destes autores, ao considerar que o poder está nas mãos do jornalista. O jornalista é quem escolhe as suas fontes, escolhe as perguntas e cabe ao jornalista escrever e publicar a peça, detendo a palavra final.

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“Apesar de as fontes controlarem, em parte, o processo de produção de notícias, esse controle não é total, na medida em que lhes escapa o controle da edição de textos; por exemplo, os "cortes" e as "montagens" são exclusivamente da responsabilidade dos media. Aliás, o facto de as organizações recorrerem a publicidade paga e a existência de protestos por parte das fontes relativamente a determinadas matérias publicadas, são a prova de que as fontes não controlam todo o processo informativo” (Serrano, 1999, p.11).

Outros autores consideram que a relação fonte jornalista deve ser encarada como um poder negociado, como um equilíbrio entre as partes. Richard V. Ericson et al. (1989), citado em Ribeiro (2006, p.34) considera que esta convivência entre jornalista e fonte deve ser encarada como uma negociação: “as notícias são um processo de transacção entre os jornalistas e as suas fontes”. Schudson (2003) constata que a relação entre jornalistas e fontes oficiais é rotineira. Dá-nos o exemplo dos “Kisha Clubs” ou clube de jornalistas no Japão. Eram clubes exclusivos dos maiores jornais japoneses, que se reuniam nos escritórios do governo e do partido político. Recolhiam informações numa sala composta por fontes como o Primeiro- Ministro, autoridades locais ou polícia.

No que diz respeito à RTP1 e no pouco que eu pude perceber, a Cultura funciona de duas formas em relação às fontes. As fontes enviam informação aos jornalistas, muitas vezes para não passarem pelo processo de gatekeeper ligam para o número pessoal do jornalista e depois o jornalista mostra-se interessado ou não. Outras vezes enviam simplesmente o press release. Noutros casos, é o jornalista que tem conhecimento do evento e entra em contacto com as fontes.

Entramos, assim, no domínio da profissionalização das fontes, estas se organizam e atuam consoante os seus objetivos, com o intuito de provocar certas repercussões nos meios de comunicação social. Philip Schlesinger (1992) foi dos primeiros autores a refletir sobre a profissionalização das fontes: “(…) a sua capacidade para desenvolver uma racionalidade estratégica assente na antecipação das rotinas e das práticas dos jornalistas, de modo a fornecer-lhes um “pronto a publicar ou a difundir”” (Schlesinger, 1992, citado em Neveu, 2003, pp.68-69). Neveu, 2003, considera que esta profissionalização das fontes deve-se ao crescente número de pessoas a trabalhar na comunicação e na difusão de informação e aos chamados especialistas em lobbying: “formados em escolas ou vindos do jornalismo, estes profissionais da comunicação dispõem de um conhecimento preciso dos métodos de trabalho dos jornalistas, que lhes permite antecipar as suas limitações e expectativas” (Neveu, 2003, p.69). Cabe ao

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jornalista o distanciamento entre as fontes e a verificação das notícias, o que nem sempre é fácil, tendo em conta a velocidade com que as informações correm. Todos os dias as redações são inundadas com inúmeras informações, quer de empresas, quer da iniciativa das fontes. Essas informações lutam entre si para ganharem espaço mediático. O jornalista é o caçador da notícia e quer ser o primeiro a noticiar o facto. Muitas vezes não possui o tempo necessário para verificar a fidedignidade das suas fontes. Ou, tal como considera Neveu (2003) a profissionalização pode ser considerada algo bom, uma vez que possuir uma informação pronta a publicar pode ajudar um jornalista sobrecarregado de trabalho.

A classificação de fontes que vamos utilizar na nossa análise é a uma adaptação de Lopes et al. (2013) (vide anexo 10). As fontes de informação “constituem um binómio que determina parte do processo noticioso” (Lopes, 2013, p.30). A relação entre a fonte e o jornalista é atravessada por momentos de negociação ou proximidade e de tensão ou afastamento (Lopes, 2013). A autora admite a dificuldade de criar uma classificação de fontes, visto que “não se trata de uma tarefa simples, na medida que qualquer proposta esbarra sempre numa multiplicidade de limitação no momento em que se passa para a fase de aplicação” (Lopes, 2013, p.41).

Lopes (2013) considera que o primeiro passo na classificação das fontes é saber se a peça possuiu fontes. Caso possua é necessário contabilizá-las de modo a entender se o princípio do contraditório foi cumprido. Relativamente à identificação das fontes, a autora destaca três categorias: identificada: “nome próprio e apelido como elemento invariável” (Lopes, 2013, p.42); não identificada: “oculta-se o nome da pessoa, mas indica-se um elemento que a liga a um determinado organismo” (Lopes, 2013, p.42) e, por fim, anónima: “não se apresenta qualquer indicação para a fonte”. Depois da identificação das fontes, temos a variável sexo, a geografia e a composição (individual ou coletiva). Segue-se a variável estatuto que está dividida em fontes humanas e não-humanas. As fontes humanas dizem respeito a categorias oficiais (cargos públicos, por exemplo); profissionais (são fontes devido à profissão que exercem); não- profissionais (exercem determinada atividade juntamente com a sua profissão); cidadãos (falam em nome individual) e outros (tudo o que as categorias anteriores não abarcam) (Lopes, 2013). No caso das fontes não-humanas temos presente os documentos, os media, a web 2.0, e outros (Lopes, 2013).

2.4- Quanto tempo o tempo tem

Uma das maiores questões em torno da televisão prende-se com o tempo. A falta dele ou o excesso dele. A RTP não é exceção, nem a cultura. Segundo Sousa (n.d., p.10), o jornalista é um

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escravo do tempo: “Daí que o jornalista seja um escravo do tempo, regule a sua acção pelas deadlines e pelo ponteiro do relógio”. Philipe Schlesinger, (1977), citado em Ota, (2008, p.130) descreve o jornalismo como “máquina do tempo” e o autor Schudson (1986), citado em Ota, (2008, p.130), afirma que o jornalista é gerido por uma “cronomentalidade” aliada à sua profissão. Os meios de comunicação procuram a novidade de forma mais rápida e expressiva possível. Lutam diariamente contra o tempo. Lutam por chegar mais cedo, chegar antes, mas nunca depois e transmitir mais rápido. A circulação cada vez mais rápida da informação leva o jornalista a não confirmar a veracidade das suas fontes, entrando em conflito com a sua deontologia e ética, a qual diz que os jornalistas devem sempre confirmar a informação cedida pelas fontes. Nelson Traquina afirmou que “se o campo jornalístico fosse um país chamado «Novaslândia», a paisagem desse país estaria marcada, por tudo quanto é sítio, pela presença de relógios” (Traquina, 2002, p.147).

Principalmente na Cultura o tempo está mais cronometrado do que nas outras áreas. A partir da minha observação, pude perceber que as peças culturais tinham uma duração mais reduzida. Para além de não serem tão usuais no Telejornal, ainda possuíam menos tempo. Por exemplo, na chamada silly season, normalmente no verão, quando a intensidade informativa é menor, verificam-se mais notícias culturais. Se falarmos apenas do programa Cultural In & Out podemos concluir o oposto do que se passa no Telejornal. São peças mais longas, com entrevistas mais demoradas e com a jornalista mais vezes em plano de forma a criar um ambiente mais intimista.

2.5- Géneros Jornalísticos

Existem vários géneros jornalísticos: a notícia, a reportagem, a entrevista, a crónica, o editorial, entre outros:

“Os géneros servem ainda para identificar uma determinada intenção, seja de informar, de opinar, de interpretar ou de divertir. Podemos afirmar que os géneros são determinados pelo estilo que o jornalista emprega para expressar para o seu público os acontecimentos diários.” (Medina, 2001, pp.50-51).

No caso da nossa metodologia, basear-nos-emos na notícia, reportagem e entrevista. Estes são os géneros jornalísticos usados em televisão, no Telejornal. A notícia é o mais utilizado em televisão. Constitui-se a partir de factos atuais, de interesse comum, com uma linguagem simples e clara: “no jornalismo, o género de base é a notícia (o relato puro dos acontecimentos)” (Medina, 2001, p.48). A reportagem difere da notícia, pois contém pormenores e resulta de uma grande investigação “relato ampliado de um acontecimento. O jornalista vai ao local para apurar

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os fatos” (Medina, 2001, p.54). Para Melo (2007, p.6), uma reportagem: “utiliza elementos narrativos para contar o acontecimento. Assim, antes de ferir a objetividade jornalística a narratividade é uma de suas condições para produzir um relato claro e atraente”.

A entrevista dá a conhecer ao público pessoas do seu interesse e são as perguntas que criam a estrutura da entrevista: “permite ao leitor conhecer opiniões e ideias das pessoas envolvidas no ocorrido ou em um determinado assunto” (Medina, 2001, p.54).

2.6- Tipo de discurso

O tipo de discurso refere-se à linguagem utilizada pelo jornalista para transmitir a informação: “Os jornalistas produzem discursos como o pintor pinta telas, o músico compõe músicas, o arquiteto projeta edifícios”(Rodrigues 1997, citado em Marques, n.d., p.6).

A nossa metodologia vai assentar na análise do discurso proferido pelo jornalista.

“Isto significa normalmente que o discurso jornalístico não só constitui a realidade e suas complexidades, mas ao mesmo tempo, é o resultado desta complexidade mais ou menos vulgar; mais ou menos qualitativa, dependendo da realidade de onde tira a sua matéria prima e para onde retorna como produto.” (Marques, n.d., pp.13-14.)

Ou seja, verificaremos a presença ou de voz off, ou do jornalista em grande plano. Podem ser peças só com off, ou off com vivos, ou em direto ou falso direto. A voz off consiste na apresentação de imagens com voz de fundo. Normalmente acontece, ou quando a notícia é muito recente e ainda há pouca informação, ou quando o assunto não é relevante, mas preciso. Ou seja, é necessária a transmissão desse assunto, mas não a sua cobertura até à “exaustão”. O off com vivos consiste na transmissão das imagens e com passagens gravadas pelo jornalista, a imagem do jornalista aparece algumas vezes em plano. O direto é quando estamos a ver uma notícia em direto, pode ser algo de última hora, bem como algo planeado anteriormente. O falso direto, como o próprio nome indica, é algo que aparenta ser em direto, mas foi gravado anteriormente.

Existem vários conceitos que farão parte da nossa investigação. O Agenda Setting, de forma a entender o que leva uma peça a ser noticiada em detrimento da outra, nomeadamente no caso do Telejornal. Para tal, entrevistámos o Coordenador da Agenda, Vítor Oliveira. As fontes de informação fazem também parte do nosso estudo. Perceber quais as mais utilizadas e tentar entender o porquê. Compreender por que o jornalista utiliza umas fontes e não outras e por que existem peças sem qualquer fonte conhecida. No género jornalístico o nosso objetivo é aferir qual o género mais utilizado e porquê. Sabemos de antemão que a reportagem é mais cuidada. Pretendemos perceber se o Telejornal prima por peças mais cuidadas ou mais presumidas.

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Quanto ao tipo de discurso é relevante perceber se existe uma discrepância entre os tipos usados ou um padrão, e entender porquê.

2.7- Jornalismo Cultural

2.7.1- Noção de Cultura

Antes de falarmos sobre as origens do Jornalismo Cultural é necessário, devido à polissemia da palavra Cultura, definir primeiramente a mesma. Num estudo realizado por dois autores, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn, foram encontradas mais de 150 definições. É um conceito complexo devido às diversas definições existentes. Dominique Wolton (1994) afirmava que a palavra Cultura é das mais difíceis de definir. Os autores Jan Hofstede, Pedersen e Geert Hofstede (2002) também consideram a sua definição como um problema:

“a noção de Cultura não é aceite universalmente, existem diferentes maneiras de a definir. Contudo, as mais exóticas definições de Cultura incluem, como nós sabemos, o sentido que a Cultura pertence ao mundo

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