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Apresentação do Guerreiro na véspera de São João

4.2. Um espetáculo a beira mar: o Guerreiro e o Giro dos folguedos. O mês de Agosto é conhecido no Brasil como o mês do folclore. O dia 22 de Agosto foi decretado dia do folclore em 17 de Agosto de 1965, sob a lei Nº 56.747. Proclamado em plena ditadura militar, o objetivo deste decreto era/é proteger as manifestações de criação popular, pois estas são consideradas o elo entre o presente e o passado, além de uma busca pelo espírito da nacionalidade.

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Magnani (1998, p. 26), escreveu que as manifestações da cultura popular eram consideradas por muitos como algo autêntico a ser preservado, e toda mudança vista como um elemento de desagregação. Sobre proteger as ‘antigas tradições’, Cavalcanti escreveu que o folclorista Mário de Andrade via nas danças “uma solução brasileira e original da cultura popular” (2004, p. 54). É muito comum as escolas de ensino básico, neste mês, se organizarem para comemorar o dia do folclore, muitas cidades convidam representantes de grupos folclóricos para apresentações em espaços públicos. Em Maceió não houve grandes comemorações, os grupos se queixaram bastante com o descaso com a cultura do folclore no Estado.

O Giro dos folguedos é um projeto organizado pela Fundação Municipal de Ação Cultural de Maceió (FMAC), e tem como objetivo levar diversos grupos de folguedos e danças para se apresentarem na orla marítima de Maceió. Em algumas ocasiões o projeto também é estendido para os bairros da periferia e ruas do centro da cidade. O giro funciona da seguinte forma: cinco pequenos palanques são distribuídos em um trecho de algum bairro, no mês de Agosto foi na orla da praia de Ponta Verde. A ideia é que cada grupo se apresente durante dez minutos, para seguirem caminhando para o próximo palanque; com isso os grupos têm a chance de interagir entre si e também com o público. No site da FMAC existe uma breve descrição do Giro dos Folguedos41:

O projeto GIRO DOS FOLGUEDOS tem como principal objetivo divulgar e incentivar a cultura popular de Maceió. A ação consiste em promover exibições de folguedos e outros grupos típicos da cultura popular maceioense e alagoana em minipalcos dispostos ao longo de uma rua, praça ou calçadão.

Os grupos do mestre André e do mestre Juvenal Leonardo foram convidados para participarem da grade de programação do evento. Em 2014, o Giro dos Folguedos foi realizado em apenas dois sábados. Nas edições anteriores o projeto foi executado em todos os sábados do mês. Foi alegado, neste ano, que devido aos recursos escassos da prefeitura, o ideal seria reduzir a quantidade de apresentações. Não posso afirmar se, de fato, os recursos estavam baixos, pois esta afirmação não está ao meu alcance. De toda forma, os cachês dos grupos demoraram mais de dois meses para serem pagos.

O segundo dia de apresentação ocorreu no dia 23 de Agosto de 2014, a FMAC encaminhou ônibus grandes para as sedes de diversos grupos, possibilitando a chegada

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desses ao local do evento. Em todas as apresentações, os contratantes são encarregados pelos transportes dos brincantes. Durante todos os ensaios, que presenciei, os brincantes e mestres dos dois grupos sempre me perguntavam se eu iria ver a apresentação do Guerreiro na praia, pois a apresentação neste local é muito especial para eles, por dois motivos: o primeiro está relacionado com o próprio local. A praia de Ponta Verde é considerada um lindo cenário para os brincantes, apesar de não terem acesso a microfones e caixas de som neste local, a paisagem entusiasma os grupos; o segundo é por conta do público, formado em sua maioria por turistas, para eles fazer uma apresentação para pessoas que não conhecem o folguedo é muito importante. O assédio do público é bastante notório, muitas fotos são tiradas por estes, muitas conversas depois das apresentações, muitas explicações sobre as roupas e os adereços são presentes, pois os turistas querem saber mais um pouco sobre o folguedo, esta interação é muito importante, sendo sinônimo de prestígio para os grupos. Conforme Dawsey (2006), a performance é constituída da interação entre performer e público. Apesar da interação existente, a plateia formada por turistas ou organizada por agentes de turismo, se diferencia da plateia formada pelas pessoas do mesmo bairro dos brincantes. Canclini (1983, p. 125), escreve que é aí que: “são separados os espectadores dos atores e é entregue a profissionais a organização dos divertimentos”.

Por conta de problemas de saúde, mestre Juvenal Leonardo não dançou no último dia, quem ficou a frente foi sua companheira, d. Dolores. Enquanto seu grupo se apresentava ele ficava sentado em uma cadeira bem próxima ao palco. Ele me disse que só podia fazer o que o seu corpo aguentava, naquele momento ele não estava bem. Inclusive, enquanto os grupos caminhavam de um palanque para outro, mestre Juvenal andava apoiado no braço do seu filho, pois estava se sentido muito fraco. Durante a mudança de palanques, os mestres conversaram muito brevemente; o mestre André me perguntou, posteriormente, como o mestre Juvenal estava, uma vez que eu também estava acompanhado seu grupo naquele dia. Foi uma tarefa um pouco complicada para mim, pois como estar em dois lugares ao mesmo tempo, uma vez que as apresentações ocorriam no mesmo momento? A única saída foi acompanhar durante um tempo um grupo e depois o outro.

As apresentações dos dois grupos atraíram uma platéia significativa, não obstante, pude perceber como a ausência de um mestre na brincadeira mexeu com a estrutura de um dos grupos. O mestre, em uma apresentação, serve como guia para os

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outros brincantes, uma vez que é ele quem controla as peças, o ritmo e os passos, através de seu apito.

Foto 15: Apresentação do Vencedor Alagoano no Giro dos folguedos. Fonte: Juliana Gonçalves da Silva