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Apresentação do Vencedor Alagoano no Giro dos folguedos

O Mensageiros de Padre Cícero, chamou muita atenção do público por conta da quantidade de brincantes que estavam se apresentando. Além disso, o grupo estava muito animado, no entanto, observei o desconforto dos grupos diante do curto tempo de cada apresentação, que foi estipulado pela organização. Como o mestre André afirmou: tudo tem que ser muito rápido no giro. Apesar de sempre escutar que o tempo reduzido das apresentações prejudica, de certa forma, a apresentação do folguedo, o mestre André, em outras ocasiões, falou que quando o tempo é curto, o esforço também é, então não é de todo mau. Durante a última apresentação, que aconteceu no quinto palanque, o mestre sempre falava para as pessoas da organização do evento: Gente, quando der o tempo da brincadeira podem avisar.

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O Giro dos Folguedos me fez refletir sobre a ideia de espetacularização, proposta por José Jorge de Carvalho (2010), na qual a ideia é que as partes dos folguedos sejam apresentadas para um grupo que não faz parte da comunidade dos brincantes, em forma de espetáculo, destinada principalmente para os turistas, sendo uma forma de entreter quem caminha na praia quando. Uma das brincantes, na volta para sede, em uma conversa, falou que: a apresentação foi muito boa, mas a praia é muito longe de muita gente, ninguém vai à praia no sábado à tarde. Apesar da ideia do Giro dos Folguedos ser muito interessante, as apresentações são reduzidas a ‘cartão postal’ da cidade. Conforme Cooper et al (2001, p. 211):

[...] cerimônias e rituais são muitas vezes levados a uma postura de exploração, reduzidos, tornados mais coloridos, mais dramáticos e mais espetaculares para capturar a atenção e a imaginação de uma audiência que, muitas vezes, não possui o conhecimento e a experiência básicos que tornariam atraente a versão não-adaptada.

Apesar do uso, que a secretaria de turismo faz, da imagem das apresentações dos grupos de Guerreiros, os mestres e brincantes não ficam chateados com isso, pelo contrário, eles gostam de ver suas fotos em propagandas de turismo. Na verdade, o que os aborrece é a falta de apoio e estrutura que é deficiente. Depois das apresentações, foi oferecido ao grupo, e a seus acompanhantes, um copo de refrigerante, um copo de água e uma coxinha fria para. A organização do evento foi embora antes de alguns grupos de folguedos, o que não deveria ter acontecido, pois a meu ver até os grupos entrarem nos ônibus, o contratante é o responsável direto pela segurança dos brincantes e pelo patrimônio dos grupos.

Assim, podemos ver que ter uma agenda de apresentações e compromissos é importante para os grupos, os próprios brincantes falam que o Guerreiro deve ser divulgado na imprensa e na internet, para que mais convites apareçam. Como uma das brincantes me falou, é preciso fazer apresentações, é importante para o Guerreiro não ficar esquecido pela população. Os cachês, mesmo baixos, são considerados formas de incentivo para se continuar na brincadeira, como alguns me falaram.

Existe uma discussão sobre a natureza dessa ‘espetacularização’, se é boa, ou nociva (Carvalho: 2010; Augé: 1997; Canclini : 1983) para os grupos. Observo este fenômeno como uma faca de dois gumes, podendo ser interessante, uma vez que os grupos querem, e precisam, sair de suas sedes para que continuem ativos, do ponto de vista simbólico e financeiro; e nocivo quando não existe um esclarecimento sobre o

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formato da apresentação, os valores pagos, o horário definido e a devolução, dentro do combinado, de objetos do grupo que são emprestados para exposições temporárias. Fazer parte de uma programação, se apresentar para um público, é tão importante, que o mestre André pediu que quando fosse publicado um edital ou uma chamada, relacionado à apresentação de grupos folclóricos, eu não esquecesse de inscrever seu grupo, especialmente no edital que será lançado em 2015 no SESC do Cariri, na cidade de Juazeiro do Norte-CE, pois além das apresentações com o apoio estrutural do SESC, partes das despesas das romarias seriam diminuídas.

4.3. Uma encenação do auto: a entrevista concedida a uma

emissora de TV de Alagoas.

Preste atenção meu Guerreiro amado, Vou dançar trajado. Na televisão. Mestre André No dia 22 de Agosto de 2014 não houve apresentação de Guerreiro, mas os dois grupos, representados por seus mestres, foram procurados pela imprensa local para darem suas opiniões a respeito desta data em Alagoas. Os brincantes do Mensageiros de Padre Cícero concederam uma entrevista ao vivo no Teatro Deodoro, no centro da cidade. Eles foram trajados, quando eu os vi descendo do ônibus eu até imaginei que seria uma apresentação que eles fariam no local. Mas era só uma breve entrevista. Até a equipe de TV chegar, foram mais de quarenta minutos em pé no rol de entrada do teatro, nenhum responsável pelo Teatro ofereceu lugares para as pessoas aguardarem sentadas. Muitos estavam ali pela primeira vez, então tudo era uma grande novidade. Depois que a equipe de reportagem chegou, os brincantes foram posicionados no palco do teatro, com as portas fechadas e ninguém presente, a jornalista pediu que eles dançassem como se fosse numa apresentação, pois no momento certo a entrevista começaria. A matéria jornalística quis mostrar que os grupos, apesar das dificuldades ainda estão ativos. A escolha, pela imprensa, do teatro Deodoro, o mais antigo da cidade, foi para mostrar que o teatro está de portas abertas para os grupos de folguedos. Entretanto, notei que o teatro estava, na verdade, de portas fechadas, pois não houve uma boa recepção.

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A entrevista foi uma tentativa de encenar, para mostrar que tudo está caminhando bem, por ser dia do folclore. A intenção foi mostrar o Guerreiro se apresentando no palco do teatro, coisa que na verdade não ocorreu, até mesmo porque eu era a única pessoa em meio do teatro vazio. Os brincantes acharam desnecessário o deslocamento para o teatro, que fica à uma hora de ônibus da sede do Guerreiro, para uma entrevista que durou pouco mais de seis minutos. Mas não acharam negativo, pois ali o Guerreiro, na concepção do grupo, foi divulgado. No jornal exibido a noite na mesma emissora, o mestre Juvenal Leonardo foi entrevistado em sua residência, denunciando a falta de apoio para os folguedos alagoanos e os constantes atrasos de pagamento da bolsa do patrimônio vivo.

Foto 16. O Guerreiro do mestre André, sendo entrevistado no palco do teatro Deodoro. Fonte: Juliana