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Visitas – a subida para o Horto e o caminho do Santo Sepulcro

Na quarta-feira, dia 10 de Setembro de 2014, às 3h30 da madrugada, todos no rancho começaram a despertar, pois aquele era o dia de visitar o Horto e o Santo Sepulcro. Saímos do rancho por volta das 4h da manhã, todos foram para esta caminhada, menos dona Janda que, por conta de uma operação na perna, preferiu ficar no rancho preparando o almoço do grupo. Até chegar ao topo da ladeira, andamos por mais de uma hora, mas como o mestre André falou: aquilo era uma penitência. Os romeiros vão subindo, no ritmo que suportam. A ladeira estava dividida em estações da via sacra. No pé da ladeira, diante da primeira estação, as pessoas pegavam uma pedrinha do chão, e trocavam por outra que estava no espaço da primeira estação. Em cada estação, as pessoas faziam uma breve oração, trocando, sempre, as pedrinhas. O caminho é repleto de pedintes, mestre André saiu do rancho com uma pequena bolsa, cheia de moedas, ele disse que é para ajudar, e que, assim, também é ajudado. Ao colocar a moeda na vasilhinha dos pedintes, estes agradecem em forma de oração. É uma troca: enquanto uns ajudam com alguns trocados, outros ajudam com bênçãos.

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Mauss (2003) observa o fenômeno de dar esmolas, como uma noção moral de dádiva, fortuna e sacrifício. A lógica é: aquele que ajuda, mais na frente será recompensado. Lira Neto (2009, p. 312), escreveu que:

Tantos anos depois, em vez de exigirem provas científicas contra ou a favor do decantado milagre, os romeiros estão mais interessados nos prodígios que afirmam receber eles próprios, do Céu, por obra e graça do Padim Ciço. Por isso, estão no Juazeiro. Por esse motivo, sobem a pé a colina do Horto, alguns descalços, outros levando pedras à cabeça, em sinal de penitência. Há os que carregam pesadas cruzes de madeira às costas, para repetir na pele os sofrimentos de Cristo. De um modo ou de outro, chegam ao topo da montanha esbaforidos, mas felizes, por ter cumprido a promessa feita.

Quando já estava clareando, paramos na pedra do joelho, onde as pessoas são bentas por uma senhora. Aqueles que podiam, colaborava dando um trocado em agradecimento a oração recebida. O grupo que seguia com o mestre André foi convidado para tomar café da manhã, em um ponto de cultura, próximo a pedra do joelho. Comemos, descansamos um pouco e seguimos a caminhada, já dava para ver a estátua de padre Cícero próxima, mas ainda faltava muito chão. Quando chegamos ao Horto, visitamos a Igreja que não foi terminada e quando eu pensava que iríamos visitar a estátua, o mestre disse que o destino, agora, seria o caminho do Santo Sepulcro. Lima (2009), escreveu que: “No Horto, os mais fervorosos não dispensam uma nova caminhada de 45 minutos ao sol, agora por uma trilha aberta no mato, até chegarem ao chamado Santo Sepulcro. Lá, creem, que Jesus Cristo foi crucificado. Grandes formações rochosas em granito bruto pontilham o lugar”. No entanto, andamos muito mais que quarenta e cinco minutos.

138 Foto 20: O caminho do Santo Sepulcro. Fonte: Juliana Gonçalves da Silva (2014)

O caminho ao santo sepulcro tem muitas barracas de ervas, parávamos a todo instante para descansar, além do cansaço físico e do sol forte que impedia que andássemos rápido. O caminho nos levaria para as grandes pedras, que, segundo os romeiros, as pessoas que conseguissem passar por elas, estão sem pecados ou foram perdoadas de alguma falta. Como as dezenas de pessoas que estavam presentes estavam passando, fui passar também. A primeira era muito baixa, sendo necessário passar rastejando, no entanto, posteriormente, dona Maria me falou que aquela não era a pedra certa. Diante do equívoco, fui para a pedra certa. Poucas pessoas se arriscavam a passar, pois o espaço de passagem é muito estreito. Só fui descobrir isso quando os dois meninos do Guerreiro tiveram que me auxiliar para eu conseguir sair, pois eu tinha ficado presa, por conta da mochila nas costas e do cuidado com a câmera que eu estava segurando. De acordo com Neto (2009): “Passar pela chamada’Pedra do Pecado’ — um dos trechos de ultrapassagem mais difícil, por causa do pequeno espaço aberto por uma fissura na rocha — constitui um desafio a que só os mais arrojados (e os mais místicos) se arriscam”.

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No santo sepulcro também tem alguns pequenos santuários e barracas de madeiras com lanches, ervas e água. Mesmo debaixo de um sol forte e no meio da caatinga, havia muitos pedintes no chão. Já no final do percurso, em algumas grandes rochas, percebi que estavam grafadas algumas letras e, segundo a crença dos romeiros, estas foram feitas por padre Cícero. Os romeiros passavam os dedos dentro das letras presentes nas pedras, consideradas sagradas. Sobre isso, Neto (1995, p. 150) escreveu que: “No Santo Sepulcro, estão gravadas algumas letras e dizem que foi o padre Cícero quem as esculpiu com o dedo, como se as pedras fossem de cera”.

Depois de um breve descanso, pois todos nós estávamos bem cansados, retornamos para o Horto. Lá chegando, fomos visitar a estátua de Padre Cícero, o mestre André pediu para eu fazer um retrato dele, em determinado ângulo, para parecer que ele estava pegando na mão do padre Cícero. Fomos visitar o museu do padre Cícero, onde estão representados em figuras de cera, em tamanho natural, as figuras de Padre Cícero, Floro Bartolomeu e beata Mocinha, ambos personagens importantes da história de Juazeiro do Norte. As visitas são sagradas pelos romeiros, porém nem sempre fáceis. O caminho é árduo, mas necessário para os fieis, que veem a prática como uma forma de ser abençoado por Nossa Senhora e por padre Cícero. Isso, de acordo com Durkheim (1978), quando escreveu que a primeira ideia de fé, é a crença na salvação pela fé. Nesses locais santos, na terra de padre Cícero, o mestre André disse que ali se dança e brinca Guerreiro apenas por devoção.