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CAPÍTULO III – METODOLOGIA DO ESTUDO

4. Procedimentos

4.2. Apresentação do projeto – Projet’Arte

Garantida a viabilidade de um trabalho colaborativo entre as professoras envolvidas, a partir das dificuldades dos alunos, foi formalizado um projeto a que demos o nome de Projet’Arte, por nos parecer ajustado aos objetivos a que se

propunha, conferindo-lhe uma identidade mais concreta e apelativa. Porquê Projet’Arte? Desde logo porque é um projeto relacionado com arte em que:

- a metodologia escolhida é trabalho de projeto que, apesar da orientação das professoras envolvidas, tem a intervenção direta dos alunos na pesquisa, projeto de trabalho, concretização do projeto e respetiva avaliação. Esta metodologia serve também o propósito de promover a autonomia dos alunos, já que nunca haviam trabalhado desta maneira nem desenvolvido trabalhos interdisciplinares, e nos pareceu uma mais-valia no seu processo de aprendizagem, por os obrigar a envolver- se mais diretamente na construção e reforço das suas aprendizagens, complementando outras estratégias em sala de aula;

- é um projeto de investigação-ação, com diferentes atividades ao longo do ano, diretamente relacionado com arte, em que a dimensão estética da língua é um ponto chave para o desenvolvimento da leitura e promoção da Educação Literária, valorizando a escrita enquanto arte, à semelhança de outras manifestações artísticas, como a ilustração (desenho, pintura), muito trabalhadas em Educação Visual. Sempre foi nossa intenção levar os alunos a reconhecer a literatura como arte, à semelhança de outras manifestações artísticas, e reforçar a consciência da sua importância no nosso património cultural, bem representado pelos autores de Educação Literária recomendados e integrantes do programa e metas de Português;

- é uma tentativa de implementar um projeto teoricamente sustentado para desenvolver as aprendizagens dos alunos em diferentes níveis de leituta e o desenvolvimento profissional dos professores, integrado numa lógica de escola aprendente, em trabalho colaborativo e reflexivo, avaliado com regularidade, em que a supervisão é constante e consciente;

- fonologicamente conduz–nos a projetar-te (a ti), o que também é verdadeiro e pertinente, já que as interpretações e realizações individuais resultam da subjetividade de cada um, da sua sensibilidade, conhecimento e visão pessoais em que cada qual se projeta no trabalho que faz e torna seu o texto que analisou. Esta pluralidade é um valor acrescentado para demonstrar a diversidade de interpretações e a dimensão pessoal e afetiva que cada um coloca nas leituras e interpretações do que lê. Consideramos que é um aspeto significativo, visto que implica a subjetividade de interpretação que é visível na concretização de projetos, numa manifestação plural de leituras e sensibilidades que assumem um papel importante na receção estética de textos em que a simbologia é determinante.

Em síntese, a designação do projeto surge da associação das palavras projeto e arte, bem como das suas possibilidades de sentido, nomeadamente a partir da sonoridade da palavra. De alguma maneira, é uma denominação que apela à pluralidade regulada e justificada de interpretações, cujo jogo de sentidos vai ao encontro da plurissignificação que, no contexto deste trabalho, é fundamental: cada um projeta o que leu, com arte, de modo pessoal, isto é, criando e projetando-se a si próprio no trabalho que faz.

A implementação do projeto abrangeu todo o ano letivo pois, como já foi referido, trata-se de um estudo ao longo do ano, que começou a desenhar-se em setembro e terminou em julho.

Após identificação do problema e todos os acertos já especificados para a viabilidade do projeto, foi desenvolvida a primeira atividade. A obra selecionada foi O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, por ser uma recomendação das metas e ter sido selecionada para a primeira fase do Concurso Nacional de Leitura. Era importante motivá-los para a leitura e participação no concurso, tentando inverter o desinteresse crescente que vinham a manifestar por este tipo de atividades. Foi então planificada a atividade de pré-leitura que se desenvolveu da seguinte forma:

- Outubro: foi feita a motivação para a leitura pela professora bibliotecária, na biblioteca, com a apresentação do autor e da obra, complementada em sala de aula pela professora de Português;

- Outubro / novembro: desenvolveu-se o trabalho de projeto, a partir de um guião de trabalho que orientava os alunos na análise da obra, centrando-se na pesquisa, isto é, na seleção e interpretação da informação, orientada e supervisionada pela professora de Português, mas também em casa. A partir desta investigação que visava a compreensão do texto, projetaram a ilustração nas aulas de Educação Visual;

- Dezembro e janeiro: os alunos concretizaram a ilustração nas aulas de Educação Visual e os trabalhos foram expostos no átrio da escola, associando os painéis ilustrativos da ação do conto a frases-chave de cada uma das estações do ano. Foi uma maneira de valorizar o seu trabalho, mas também de divulgar a obra junto de todos os alunos enquanto estratégia de motivação para a leitura.

- Para além de avaliação intermédia que íamos fazendo da atividade, quer formal quer informalmente, já que a comunicação entre todos os intervenientes era muito regular, foi feita uma sessão final de avaliação gravada, refletindo sobre todo o processo e o resultado final, mediante análise da concretização da planificação, dos guiões, dos registos de observação, no sentido de verificar os pontos fortes e fracos e os constrangimentos, a fim de (re)definir estratégias para a planificação de um novo trabalho, que se pretendia o mais ajustado possível às necessidades dos alunos, dentro da viabilidade do cumprimento dos programas disciplinares e atuação da professora bibliotecária, reforçando a biblioteca como estrutura de apoio ao desenvolvimento do currículo.

- Fevereiro: depois de avaliada a primeira atividade, ponderados os pontos fortes e fracos e os constrangimentos, foi planificado o segundo trabalho de projeto, cujo resultado final são caricaturas das personagens do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, obra que entretanto começariam a estudar na disciplina de Português e cuja pertinência deste tipo de trabalho nos pareceu ajustada. Tinha um grau de complexidade maior, mas permitia desenvolver domínios e descritores em que os alunos manifestaram dificuldades e importava reforçar, integrando outros

descritores pertinentes, de acordo com os objetivos do trabalho preconizados nas metas.

Mais uma vez, foi feita a motivação para o estudo da obra, na biblioteca, em trabalho articulado com as três professoras. Foram selecionados materiais e em diferentes formatos, com o propósito de dar a conhecer o autor e a obra, bem como a pertinência do seu estudo. Uma vez explicitado este novo projeto de trabalho, foram apresentados recursos relacionados com a caricatura, já que o objetivo era exatamente caricaturar as personagens do auto.

Os recursos digitais foram disponibilizados aos alunos na plataforma moodle, disciplina de Português 9, bem na biblioteca, para que os alunos pudessem fazer a investigação na preparação do trabalho. Para além dos recursos usados para motivação, foram ainda disponibilizados outros que existiam na biblioteca relacionados com o assunto, em espaço criado para o efeito e devidamente identificado como Projet’Arte.

Março /abril

Mais uma vez se optou pelo guião de trabalho, cuja investigação foi supervisionada pela professora de Português, passando depois ao desenvolvimento do projeto da caricatura e respetiva concretização nas aulas de Educação Visual, apesar das trocas de informação e o acompanhamento do trabalho serem preocupações constantes por parte de todas as professoras envolvidas.

Desta vez, os trabalhos foram apresentados oralmente em sala de aula, aproveitando esta atividade para avaliar a expressão oral formal, ao mesmo tempo que se permitia fazer a auto e heteroavaliação dos trabalhos.

Por fim, as caricaturas foram expostas na biblioteca. Maio /junho

Finalizado o trabalho, foi feita a sessão de avaliação/reflexão do trabalho desenvolvido. Verificados os pontos fortes e fracos, bem como os constrangimentos, concluímos que seria importante desenvolver ainda outro trabalho, reforçando aspetos a melhorar e complexificando o necessário para levar os alunos a progredir. Sempre tivemos em mente que os pré-requisitos e ritmos de trabalhos eram distintos, numa turma muito heterogénea e o tempo era uma condicionante ameaçadora, mas, ainda assim, decidimos arriscar e avançámos para um outro trabalho de projeto: fazer a ilustração de episódios de Os Lusíadas (Adamastor e Tempestade) e de dois poemas de Fernando Pessoa (O Mostrengo e Mar Português), por serem autores de referência da literatura portuguesa do programa, analisados em intertextualidade, e que são literariamente muito significativos. Para além disso, pareceu-nos importante terminar com um trabalho em que os alunos fizessem uma ilustração livre e eventualmente mais pessoal e criativa, fomentando a sua autonomia e criatividade.

Apesar do manter um guião de trabalho orientado para a investigação, a ilustração era livre, tendencialmente mais simbólica, dado o teor dos textos, com maior grau de

complexidade e simbolismo, dando primazia a uma interpretação mais pessoal, no sentido de despertar diferentes sensibilidades e capacidades de análise, numa clara valorização da capacidade leitora de cada um, em que a subjetividade assumisse um papel determinante.

Na verdade, apesar de termos consciência de que, provavelmente, haveria alunos com dificuldade em terminar o trabalho, nomeadamente os de NEE, pois restava um mês e meio de aulas, arriscámos levá-lo avante, na medida em que só o processo de investigação e a definição do projeto de trabalho já seriam enriquecedores. Formalizámos então a planificação e procedeu-se à apresentação e motivação da atividade, mais uma vez na biblioteca, com todas as professoras.

Consoante o texto que cada aluno ia trabalhar (sete alunos por texto), foi distribuído o guião de trabalho que, tal como nos trabalhos já desenvolvidos, previam a investigação, o desenvolvimento e avaliação da atividade, sempre em articulação com Português e EV.

Como já receávamos, nem todos os alunos conseguiram concluir o trabalho, apesar de haver bastantes que o fizeram, e não houve tempo para ser apresentado em contexto de sala de aula nem para a sua divulgação, uma vez que entretanto terminaram as aulas.

Demos por findo todo este processo com uma sessão final de avaliação/reflexão sobre este trabalho em particular e do Projet’Arte em geral, sistematizando o que, na sua essência, foi mais positivo e conseguido e o que poderia ter mais benéfico, numa perspetiva de melhoria do processo ensino-aprendizagem e do nosso desenvolvimento profissional, uma vez que aprendemos com todas as experiências.

Para uma fácil e breve apreensão do modo como o projeto se desenvolveu ao longo do ano, vejamos o seguinte esquema (figura 8), em que também se configura a metodologia de investigação-ação, pelo caráter repetitivo e sequencial de procedimentos.

Como trabalho de investigação-ação, assenta em ciclos sucessivos de planificação – ação – observação – reflexão, com todas as repetições e adequações previsíveis nesta metodologia, velando o mais possível pelo sucesso dos alunos da turma e do desenvolvimento profissional das professoras.

Ilustração de O Gato Malhado e A andorinha Sinhá, de Jorge Amado

Caricaturas de O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

Articulação dos objetivos, descritores e conteúdos de Português e Educação Visual Articulação com a Professora bibliotecária (biblioteca como estrutura de apoio ) Definição da metodologia de trabalho – trabalho de projeto

Elaboração do guião de trabalho

Disponibilização de recursos – estante Projet’Arte e de EL– moodle – recursos digitais

Desenvolvimento do trabalho a partir do guião:

Pesquisa: leitura da obra, seleção e tratamento da informação: Elaboração do projeto de ilustração;

Concretização do projeto

Apresentação do trabalho em sala de aula Exposição das caricaturas na biblioteca

Notas de campo / registos descritivos/memorandos Grelhas de observação

Sessão de avaliação / reflexão final – memorandos – sessão gravada

lustração de Adamastor, Tempestade, (Os Lusíadas -Camões), O Mostrengo e Mar Português (Mensagem – F. Pessoa)

Articulação dos objetivos, descritores e conteúdos de Português e Ed.Visual Articulação com a Professora bibliotecária (biblioteca como estrutura de apoio ) Definição da metodologia de trabalho – trabalho de projeto

Elaboração do guião de trabalho

Disponibilização de recursos – estante Projet’Arte e de EL – moodle – recursos digitais

Desenvolvimento do trabalho a partir do guião:

Pesquisa: leitura da obra, seleção e tratamento da informação: Elaboração do projeto de ilustração;

Concretização do projeto

Notas de campo / registos descritivos/memorandos Grelhas de observação

Sessão de avaliação / reflexão final – sessão gravada

Figura 8 - Ciclos de IA do Projet’Arte

Articulação dos objetivos, descritores e conteúdos de Português Educação Visual Articulação com a Professora bibliotecária (biblioteca como estrutura de apoio ) Definição da metodologia de trabalho – trabalho de projeto

Elaboração do guião de trabalho

Disponibilização de recursos na biblioteca

Desenvolvimento do trabalho a partir do guião

Pesquisa: leitura da obra, seleção e tratamento da informação Elaboração do projeto de ilustração

Concretização do projeto

Exposição das ilustrações no átrio da escola

Notas de campo / registos descritivos/memorandos Grelhas de observação

Sessão de avaliação / reflexão final gravada

1.º CICLO PLANIFICAR ATUAR OBSERVAR REFLETIR 2.º CICLO PLANIFICAR ATUAR OBSERVAR REFLETIR 3.º CICLO PLANIFICAR ATUAR OBSERVAR REFLETIR

IA

PROJE

T

’A

RTE