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CAPÍTULO III – METODOLOGIA DO ESTUDO

6. Técnicas de análise de dados

1.1.2. Pontos fortes

Apesar de alguns alunos se mostrarem receosos, por estarem pouco confiantes nas suas capacidades, o interesse e motivação foram dois aspetos muito positivos que correspondem a pontos fortes, o que era um bom princípio para o sucesso do projeto que iniciávamos. De facto, no geral, mostraram-se muito disponíveis, recetivos e colaborantes desde o início, pois estavam conscientes de muitas das suas dificuldades e acreditavam que o projeto poderia ajudá-los a ultrapassá-las. Parece-nos evidente que perceberam a motivação e a empatia das professoras envolvidas no projeto e se deixaram contagiar.

Embora os alunos tenham confirmado muitas dificuldades, como a identificação e explicitação dos recursos expressivos e fazer inferências, como indicaremos nos pontos fracos, começou por denotar-se um aspeto positivo que foi a almejada associação da literatura a uma arte, valorizando a estética da língua e consequente importância das palavras, à semelhança do que acontece com o desenho e a pintura. Começaram a tomar mais consciência do valor das palavras, da distinção entre denotação e conotação, reconhecendo a simbologia das palavras como fator determinante para a literariedade textual, que é preciso desmontar para a apreensão de mensagens. Quando há alunos que dizem que “A literatura é uma arte muito difícil, mas desenhar e pintar também não é para todos ”(M) ou “Agora percebo aquilo que a professora disse que “ a descrição era pintar com palavras” (G), é evidente a gradual tomada de consciência da literatura como manifestação artística, com a qual não se sentem à vontade. Refira-se ainda o facto de alguns alunos começarem a usar a palavra estética com propriedade, isto é, tendo consciência do seu significado e adequando-a a contextos pertinentes: “Isto da estética tem sempre a ver com a beleza e criatividade, já percebi. Todas as áreas podem ter arte, até as palavras” (M), ” A tua intenção é boa, mas esteticamente não está bem conseguido, tens que dar volta a isso (N).

A aplicação de conhecimentos, mobilizando linguagens diferentes para a transmissão de uma ideia, de acordo com determinada intencionalidade comunicativa, foi um dos aspetos em que evidenciaram mais dificuldade, porém tê-los despertado para a visão integrada das aprendizagens, dando-lhes uma dimensão transversal foi importante, como se revê pelos comentários que se seguem: “Isto é uma grande responsabilidade, porque é suposto que o desenho seja artístico como o texto” (J); “Ter que ilustrar obriga mesmo a perceber bem”(L) ou “A professora de EV diz que um grande problema é não saber ler” (N).

A articulação entre Português e Educação Visual foi fundamental para deixarem de encarar as disciplinas como núcleos separados e sem qualquer relação e passar a ter uma visão mais transversal e integradora das aprendizagens. Esta articulação representa portanto uma vantagem com que todos concordaram, incluindo os alunos, como se nota quando eles dizem por exemplo: “Nunca pensei que saber o sentido das

cores fosse importante para perceber um texto” (B) ou “eu já sabia que o Português ajudava em tudo, mas que EV ajudasse em Português….” (D)

A novidade de ser um trabalho de projeto e a possibilidade de experimentar uma metodologia diferente também foi motivadora e embora criasse alguma insegurança, pois nunca haviam desenvolvido trabalhos com estas características, acabou por se tornar positiva. Foi muito importante envolver os alunos de forma mais direta e ativa na (re)construção das suas aprendizagens, criando hábitos de pesquisa, seleção de informação, realização, apresentação e avaliação de atividades, enquanto processo que obriga a uma maior autoimplicação nas tarefas a desempenhar e potenciar o desenvolvimento da sua autonomia na construção do conhecimento, como é desejável.

O recurso à biblioteca como estrutura de apoio permitiu criar um suporte ao desenvolvimento do projeto, a começar por esta atividade, onde se disponibilizaram recursos necessários para a realização da tarefa e se disponibilizaram outros no âmbito da Educação Literária. A sessão de motivação para a leitura da obra e participação no concurso foi feita na biblioteca e partilhada pelas professoras, o que reforçou a ideia de que se tratava de um trabalho colaborativo em que todos nos iríamos empenhar. Desde cedo os alunos interiorizaram a dinâmica do projeto e trocavam impressões e informações com a professora bibliotecária, pedindo ajuda ou dando conta do andamento do trabalho.

A formação que entretanto se iniciou em simultâneo com o decorrer do projeto, foi essencial para “ fundamentar a nossa prática e não trabalharmos sem rede”(P1), permitindo “ esclarecer conceitos” (P1) “ clarificar, reler e refletir “(P3) sobre a teoria em associação com a nossa prática letiva, no sentido de encontrar caminhos para resolver o problema dos alunos. Acreditamos que “ (…) em conjunto é mais fácil, (…) proveitoso, (…) interessante” (P1). Logo, a formação interpares ganhou todo o sentido. O suporte teórico e a reflexão conjunta permitiram sustentar o trabalho teoricamente, pois “refletir em conjunto é uma mais-valia para (…) que nos possamos desenvolver a nós, aos alunos, à instituição e o saber-ser e saber-fazer tem muitas implicações para além da componente científica, porque pode-se ser muito bom cientificamente e pedagogicamente não ser capaz, e isoladamente ainda pior ainda.” (P1). Porém, sempre estivemos conscientes de que o nosso objetivo era ultrapassar o problema diagnosticado, com características concretas, em contexto específico, encarando a formação também na “perspetiva de (…) dentro para fora e não de fora para dentro”, isto é, partir de uma realidade concreta para a qual deveríamos discutir formas / teorias que nos guiassem na resolução, já que a ligação da teoria à prática nem sempre é linear. Na verdade, a experiência demonstra-nos que não há uma solução teórica milagrosa para resolver os problemas. Assim seria fácil, mas nem todas as teorias se confirmam em todas as práticas, tal como só a prática sustenta a teoria.

Conscientes da mais-valia da formação supervisiva e reflexiva entre pares, a partilha de saberes e experiências, a discussão de ideias para definir estratégias de atuação foram constantes. A necessidade de atualização é consensual e encarada como possível entre pares que trabalham para os mesmos objetivos, ainda que de áreas diferentes. É preciso “(…) resolver os problemas dos alunos que são comuns a outros professores “ (P1) e valorizar a formação não apenas na vertente cientifica, como é usual: a maior parte dos profissionais tem tendência a encarar a formação apenas na vertente científica e esquece-se da parte pessoal e interpessoal, disciplinar e interdisciplinar, comprometendo muitas vezes o verdadeiro desenvolvimento profissional, porque somos pessoas e devemos desenvolver-nos enquanto tal, isto é, atendendo a todas as vertentes e complexidade do ser humano. Certamente, ninguém conseguirá um trabalho colaborativo eficaz se se detiver apenas na vertente científica. Estamos certos que “aprendemos uns com os outros” (P1) em todos os domínios se nos questionarmos e confrontarmos com os outros, com a abertura, a honestidade e a humildade suficientes de partilhar o que sabemos e aceitar críticas que nos valham um melhor desempenho profissional.

Esta colaboração estreita e aberta em regime de aprendizagem partilhada no questionar da prática e discussão de estratégias para superar dificuldades revelou-se desde cedo um ponto muito forte do nosso estudo.

Apesar das dificuldades e constrangimentos, os resultados foram bastante satisfatórios, pois todos os alunos leram o livro, realizaram o trabalho e participaram no Concurso Nacional de Leitura, no qual obtiveram bons resultados: dois alunos da turma ficaram entre os quatro melhores da escola e um deles representou a equipa da escola a nível distrital, ficando nos primeiros lugares, de entre oitenta participantes.

Embora tenha havido vários obstáculos ao longo de todo o processo, muitas das ilustrações foram bem conseguidas e permitiram uma exposição interessante sobre a obra e o autor, que foi motivo de orgulho, sobretudo para os alunos, que viram o seu trabalho valorizado, e serviu para divulgar o autor e motivar outros alunos para a leitura do livro, acabando por mobilizar a comunidade escolar em torno do trabalho realizado.