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Questão 10 Enumere os objetivos mais importantes da aprendizagem de língua espanhola na escola (1 mais importante 2 importante; 3 pouco importante; 4-menos

6.2. Apresentação dos quadrinhos e das atividades de leitura

6.2.1.2 Apresentação dos resultados das atividades

Estas atividades foram desenvolvidas no dia 26 de março e marcaram o início das atividades de leitura. A seguir, apresento algumas respostas construídas durante a realização da atividade com a tira 1. Os alunos que no questionário afirmaram consumir demasiadamente também continuaram coincidindo com este posicionamento nas respostas elaboradas para a pergunta “a”.

(E03) “Compro sempre que posso, eu gosto muito de comprar.” (E01) “Compro o que é realmente importante”.

(E08) “Compro demais”.

Com relação à letra “b”, os estudantes usaram o processo inferencial para produzir significados acerca das representações de adolescentes consumidores presentes na tira. Os vinte alunos participantes construíram sentidos de uma personagem ser consumista e o outro sentimental. Entretanto, devo ressaltar o fato de que cinco alunos, entre eles (E01), se

posicionaram discursivamente ao afirmarem que o quadrinho negociava sentidos de as meninas serem mais consumistas que os meninos.

(E01) “A tira diz que as meninas são consumidoras e os meninos não”. (E 18) “Dos adolescentes, uno consumista y otro sensible.”

(P) “E vocês acham que as meninas consomem mais que os meninos? (E01) “Não, nada a ver, isso é preconceito”

(E08) “Eu sou menino e consumo muito”.

(E20) “Ah...Eu acho que elas consome mais sim...Tem que comprar batom, sombra, pintar unha...”

Em se tratando do item “c” os estudantes (E08) e (E05) exemplificam a resposta apresentada por dezoito alunos. Dessa forma, os pressupostos teóricos defendidos por essa investigação acerca da prática do consumo na contemporaneidade (conf.cap. 2.2) encontram- se em consonância com os posicionamentos discursivos da maior parte dos participantes. De fato, há uma valorização de objetos como “carros”, “sapatos”, “roupas” e também do “dinheiro”, em detrimento do valor outorgado ao sentimento de amor, mencionado por somente dois alunos (E 15) e (E 20).

(E 08) “Sapatos, roupas, chocolates e dinheiro”.

(E 20) “Sentimiento, dinero, casa, porque sin eso no se vive”. (E 05) “Carros e sapatos”.

(E 15) “Casa, amor, roupa, comida, porque não é possível viver sem isso”.

Na pergunta seguinte, letra “d”, alguns alunos do sexo masculino argumentam que se eles coincidissem com a opinião de Ágatha poderiam ser comparados a ter o pensamento “igual ao de mulher”. Portanto, pareceu-me importante ressaltar que aquela era uma representação do quadrinho sobre um perfil feminino estereotipado de adolescente construído naquele gênero discursivo. A partir dessa ressalva, constatei que eles estavam mais à vontade para responder à pergunta. Nesse sentido, as respostas oferecidas por 15 alunos seguem o direcionamento daquela exposta pela aluna (E 15), com a preferência pela identificação com a personagem adolescente da gata. Apenas dois alunos, um do sexo masculino (E 20) e outro do sexo feminino, afirmaram possuir um perfil mais semelhante ao do gato. Além disso, observo que tanto o aluno mencionado anteriormente, quanto o próprio Gaturro, rompem com visões

padronizadas e homogeneizantes de adolescentes do sexo masculino, pois eles constroem discursos de indivíduos mais sentimentais. Por fim, dois alunos, entre eles (E 13), afirmam ser consumistas, porém também valorizam os sentimentos.

Em consonância com o posicionamento dos alunos em relação à questão “d”, destaquei a fala da aluna (E11), pois ela afirma ser a adolescência a fase em que mais se consome. A construção discursiva da estudante vai ao encontro de uma visão mercadológica de perspectiva neoliberal, instituída pelas indústrias de bens de consumo, responsáveis por forjar as identidades adolescentes pós-modernas, conforme apontado por Lorenzo (2003) (conf. cap. 2.2).

(E 15) “Com a gata, eu sou consumista de mão cheia”. (E 13) “Com um pouco dos dois”.

(E 11) “Me pareço mais com a gata, porque nessa idade é que mais se consome”. (Grifo meu)

(E 20) “Con el gato, porque soy muy sentimental”.

A questão “e” possui o objetivo de compreender em que medida os alunos- participantes possuem o entendimento dos diversos perfis de adolescentes consumidores presentes na sociedade contemporânea. Nesse contexto, cinco alunos, como (E 13), se posicionam de forma reflexiva sobre a heterogeneidade de identidades juvenis. Por outro lado, quinze alunos consideram como o padrão a existência de adolescentes ávidos pelo mercado consumidor. Portanto, ressalto a fala da estudante (E 11), a qual afirma ser um privilégio ter todas essas mercadorias e associa o fato de pensar alto à possibilidade de adquirir diversos produtos e mercadorias. Observo a excessiva valorização pelo “ter” em detrimento do “ser”, já que para essa aluna um adolescente que pensa alto possui inúmeros objetos.

Em consonância com o exposto, esta aluna não considera os diversos adolescentes pertencentes à subclasse, excluídos deste mercado consumidor. Além disso, em seu posicionamento discursivo averiguo um pensamento perpassado por uma maior aceitação social dos indivíduos adolescentes a partir da aquisição de diferentes mercadorias. Este fato reitera o exposto nos pressupostos teóricos (conf. cap. 2.2), onde Nunes (2007) considera a posse de alguns objetos como um indicador de ascensão social para juvenis que não pertencem às classes sociais mais abastadas. Por isso, promovi intervenções no papel de mediador com a finalidade de possibilitar uma reflexão sobre essa temática.

(E 06) “Sim, porque hoje em dia os adolescentes não têm controle do dinheiro que ganham, então acabam comprando muitas coisas”. (E 13) “Não, porque nem todos os adolescentes têm dinheiro para consumir.”

(E 11) “Sim. Adolescentes pensam grande, alto, e ter todas essas

mercadorias seria um privilégio enorme”. (Grifo meu).

(P) Por que você acha que seria um privilégio?

(E11) “Ah, professor...Porque é muito bom ter tudo isso.

(P) Todo mundo concorda em ser um privilégio ou é mais importante não ter tudo aquilo e valorizar mais as pessoas?

(E08) “Eu acho que os dois são importantes”.

(E01) “Eu acho que às vezes a gente tem muita coisa e não valoriza as pessoas”.

(P) O que você acha? (Pergunta para E11)

(E11) “Ah...Sei lá...É legal valorizar as pessoas também.

6.2.2 Tira 2

Figura 2: Tira 2. Fonte: www.gaturro.com

O segundo quadrinho segue com a abordagem do consumo exagerado na sociedade da pós-modernidade. Nesta tira, o autor também apresenta três personagens. Um deles

masculino, representado por Gaturro e outros dois femininos, sendo duas jovens mulheres. Torna-se interessante observar que, conforme demonstrado na tira anterior, Nik também apresenta as mulheres como consumistas, e o personagem masculino apresenta-se como um indivíduo que reflete sobre esse consumo exagerado.

O espaço construído pelo autor por meio da linguagem não verbal é aparentemente um parque. Ele retrata um ambiente propício a uma reflexão, pois Gaturro está caminhando sozinho e pensando como a sociedade valoriza o “ter” em detrimento do “ser”. O autor representa o gato com um olhar triste e desanimado nos dois primeiros quadrinhos, porque a personagem não está de acordo com o cenário atual da sociedade de consumo. Portanto, averiguo que Nik em seu posicionamento autoral constrói um gato adolescente preocupado com a superficialidade do mundo, pois Gaturro afirma “Vivemos em um mundo capitalista superficial” “Se você não tem isso ou aquilo, você não existe”. Nesse sentido, o gato esclarece que o valor do ser humano na sociedade pós-moderna está perpassado pelos bens de consumo adquiridos.

No terceiro quadrinho, Gaturro observa duas jovens mulheres caminhando e escuta o seguinte discurso “Porque o que importa de verdade é o que temos dentro de nós”. A expressão do gato torna-se mais feliz devido ao fato dele acreditar que elas faziam alusão à essência e aos sentimentos humanos. Por isso, ele pensa no quadrinho seguinte: “Finalmente, duas almas sensíveis”. Entretanto, as personagens femininas referem-se à importância de o indivíduo possuir uma situação financeira satisfatória, não valorizando a essência do ser humano em detrimento do dinheiro que possuem. Uma delas afirma “Eu, por exemplo, dentro da minha pochete, levo três cartões de crédito, um de débito, algum dinheiro, as entradas de...”. A outra complementa dizendo “óbvio”. Por isso, Gaturro encontra-se com uma expressão triste no último quadrinho, pois foi surpreendido pelo discurso delas.

No processo de construção composicional o autor deve ser capaz de perceber/ imaginar quem são os destinatários da sua obra e a quem se destina a sua produção. Os interlocutores desse quadrinho podem ser adolescentes ou adultos, pois ele aborda uma problemática social que perpassa os indivíduos inseridos nas sociedades globais, independente da faixa etária.

Em alinhamento com esse posicionamento, a paisagem bucólica de um parque ensolarado constrói um ambiente favorável à reflexão. Gaturro parece estar caminhando devagar, pois geralmente os indivíduos andam lentamente quando estão refletindo sobre algo. Nos dois primeiros quadrinhos, ele é a única personagem da história. No primeiro, ele está mais ao fundo; no segundo, o gato aparece com a imagem ampliada, denotando o seu

movimento. Esta movimentação, aliada a sua expressão facial, reforça a construção da imagem de um indivíduo pensativo. No terceiro, ele observa duas jovens mulheres com roupa de ginástica andando pelo parque.

A presença da vestimenta específica pode ser um indicador de que elas estão andando em um ritmo mais rápido, o que se confirma por meio das passadas largas. Uma delas porta um media player portátil no braço, com o fone no ouvido. Um objeto importante é a “pochete” usada por uma personagem, pois dentro dela a mulher afirma portar o que em sua opinião é realmente relevante no contexto social atual: três cartões de crédito, um de débito, dinheiro e entradas para algum evento.

Esse cenário composicional construído pelo autor permite a negociação de diferentes significados sociais em relação às personagens da tira. Por um lado, Gaturro representa um indivíduo reflexivo sobre o consumo contemporâneo. Por outra parte, as jovens são construídas como pessoas socialmente descomprometidas com aquela questão social. A forma rápida como elas andam relaciona-se com seus posicionamentos discursivos acerca da sociedade, pois de acordo com Bauman (2003), no mundo líquido, tudo é rápido e efêmero. Por fim, ressalto que na construção composicional a figura feminina está representada com o discurso do consumo, em detrimento da masculina, que se apresenta como sentimental. Dessa forma, o autor reforça uma visão socialmente padronizada: a de que as mulheres consomem demasiadamente.

Em relação ao estilo verbal, o autor constrói diálogos usando o discurso direto. Nos dois primeiros quadrinhos da tira, a relação dialógica é negociada diretamente com o leitor, de forma argumentativa, pois o gato expressa a sua opinião sobre o excesso de consumo no mundo de hoje. Nos terceiro e quinto quadrinhos, a conversa entre as duas jovens nos remete a um diálogo cotidiano, muito presente nesse gênero do discurso. Por isso, o estilo da escrita de Nik acerca da importância social que o consumo possui na contemporaneidade insere-se no atual momento da pós-modernidade.

Advogo pela utilização dessa tira na pesquisa realizada em sala de aula, porque Nik, em sua postura de autor, constrói um discurso que negocia determinados significados sociais relacionados à prática do consumo. O uso desse quadrinho permite problematizar o consumo desde uma perspectiva crítica, pois ele contribui para o aluno “compreender a cidadania como participação social e política”. (BRASIL, 1998, p.7). Nessa perspectiva, ainda que a tira não apresente diretamente personagens adolescentes, ela possibilita a construção de uma relação dialógica com os seus interlocutores acerca da valorização excessiva do “ter” na sociedade atual. Por isso, no papel de mediador do processo de ensino-aprendizagem elaborei atividades

de leitura com a finalidade de contribuir para a construção de posicionamentos críticos, sociais e políticos por parte dos estudantes, abrindo-lhes espaço para “questionar a realidade” (BRASIL, 1998, p.8).

6.2.2.1 Atividades de leitura

De acordo com o exposto, elaborei cinco perguntas. A pergunta “a” é de pré-leitura e possui o objetivo de averiguar os posicionamentos discursivos dos estudantes acerca de alguns valores predominantes na sociedade pós-moderna em relação à maior valorização do “ter” ou do “ser”. Esta primeira questão permite mapear as opiniões dos estudantes sobre as relações dialógicas que perpassam o atual contexto sócio-histórico no que se refere à importância atribuída à essência do indivíduo ou às suas aquisições materiais.

As questões “b” e “c” são de leituras. É importante ressaltar que as duas perguntas são de leitura detalhada, por isso os alunos precisam realizar inferências com a tira buscando informações mais específicas para construir as suas respostas. A letra “b” possui o objetivo de averiguar em que medida os alunos promoveram inferências a fim de negociar os significados sociais construídos por meio do posicionamento discursivo de Gaturro na tira. Para isso, é fundamental a observação das expressões faciais e corporais do gato, linguagem não verbal, assim como da interação do interlocutor com os diálogos da personagem citada, estabelecendo uma relação dialógico-discursiva.

A questão “c” tem a função de mapear como os estudantes negociam o duplo sentido da expressão “Porque lo verdaderamente importante es lo que llevamos adentro”. Nesse sentido, o importante é que os estudantes infiram sobre o discurso acima, de forma a negociar o seu duplo sentido social: um construído pelo gato ao ouvir as mulheres falando e relativamente estabilizado nas culturas brasileira e argentina; e outro que promove o humor no quadrinho, a partir da ambiguidade expressa pela palavra “adentro”. Observo que esse jogo de palavras com a finalidade de produzir o humor é típico dos quadrinhos, pois eles se caracterizam como um gênero discursivo criativo.

Em consonância com o exposto, os alunos também poderão usar o seu conhecimento de mundo na língua portuguesa para promover a construção da ambiguidade da expressão presente no último quadrinho. Essa inferência torna-se possível porque na construção de significados sociais do português do Brasil usa-se uma expressão semelhante a do espanhol, “Porque o importante é o que temos em nosso interior”. Por isso, entendo que essa comparação pode facilitar os alunos na negociação dos significados sociais presentes no

âmbito social do Brasil e da Argentina, pois eles interagem com a leitura do quadrinho para construírem sentidos discursivos socialmente e relativamente estabilizados nessas duas sociedades.

Com relação às perguntas de pós-leitura, a de letra “d” busca averiguar o posicionamento dos alunos sobre as suas opiniões pessoais acerca do que é mais importante: valorizar o “ser” ou o “ter” na sociedade contemporânea. Dessa forma, esta questão torna-se muito importante no âmbito pedagógico, pois a partir dela os discentes têm a possibilidade de expressar os seus pontos de vista e o professor-pesquisador deve mediar as respostas com o objetivo de advogar por um aspecto fulcral na formação do aluno como um cidadão consciente: a compreensão da importância de se valorizar a essência do ser humano, assim como respeitar as diferenças socioculturais dos indivíduos.

A questão “e” possui o objetivo de averiguar em que medida os estudantes possuem uma compreensão global de mundo. Nesse sentido, Freire (1998) ressalta que a leitura do mundo precede a da palavra. Por isso, é importante a compreensão por parte dos alunos da existência de diversas identidades de indivíduos adolescentes, inclusive aqueles sem acesso ao mercado consumidor, os socialmente marginalizados. Eles integram a subclasse e sobrevivem em muitas partes do mundo. Conforme afirma Moita Lopes (2009), os excluídos podem ser do gênero masculino ou feminino; brancos, negros ou pardos; são heterogêneos e sem voz na sociedade. Essa pergunta abre a oportunidade para o debate em sala de aula sobre o ato de consumir e que atores sociais possuem acesso (se possuem) a quais tipos de consumo; alimentação, vestuário, viagens etc.

Prelectura

a)¿Crees que vivimos en un mundo que valora más lo que tenemos o lo que somos? ¿Por qué?

Lectura

b) ¿El gato del texto valora más el exterior o el interior de las personas?

c) ¿Cuál es el doble sentido de la expresión “ Porque lo verdaderamente importante es lo que llevamos adentro”, en el comic?

Poslectura

d) ¿Es más importante valorar a las personas por lo que ellas son o el dinero también cuenta mucho?

e) ¿Crees que todas las personas adultas o adolescentes tienen dinero para consumir? ¿Por qué?

Quadro 5: atividades de leitura da Tira 2

6.2.2.2 Apresentação dos resultados das atividades

O encontro aconteceu no dia 02 de abril. Nesta data abordei a tira 2 na aula, assim como os respectivos exercícios de leitura pertinentes a ela. Em seguida, apresento as respostas construídas pelos alunos durante a realização das atividades. O primeiro exercício é o de pré- leitura da questão “a”.

(E20) “Creo que el mundo valora más lo que tenemos”. (E01) “O mundo valoriza mais o que nós temos”.

(E07) “Vivemos num mundo que valoriza o que a gente tem”. (E15) “Acho que depende da pessoa”.

(E06) “Mais o que a gente tem mesmo”.

Averiguo que de acordo com o conhecimento de mundo de dezessete estudantes, a sociedade contemporânea, imersa no contexto global e em práticas capitalistas, como a do consumo exagerado, valoriza mais os bens materiais de cada indivíduo em detrimento dos seus sentimentos e da maneira deles agirem socialmente. Apenas dois alunos construíram posicionamentos discursivos a fim de relativizar a generalização da importância atribuída ao “ter” na sociedade global, pois afirmaram que depende do indivíduo.

Devido a este cenário, o fato de alguns estudantes problematizarem essa situação permite compreender que para eles não há uma homogeneização dos atores sociais. Este posicionamento discursivo possibilita a abertura de um espaço pedagógico favorável à construção de significados sociais perpassados pela heterogeneidade dos diversos perfis de indivíduos imersos no contexto social. Além disso, torna-se possível o debate acerca do discurso predominantemente construído pela mídia global, que é o de promover constantemente a prática do consumo.

Por fim, a questão “a” possibilitou a negociação de significados a fim de promover a (re)construção e o questionamento de determinados discursos homogêneos sobre o consumo. Dessa forma, a sala de aula se apresenta como um espaço pedagógico favorável à ressignificação de discursos pasteurizados; assim como permite a construção de posicionamentos favoráveis a uma construção horizontal da sociedade, conforme defende Santos (2001).

A segunda questão abordada foi a letra “b”. Todos os vinte alunos participantes dessa investigação responderam que Gaturro valoriza mais o interior das pessoas. Dessa forma, os estudantes negociaram os significados sociais por meio da inferência na leitura detalhada da tira. Vale a pena ressaltar que eles não apresentaram dificuldade na compreensão dessa atividade. Contudo, foi importante um esclarecimento por parte do professor-pesquisador de que a palavra “interior” alude respectivamente, à essência, ao sentimento dos indivíduos; e “exterior” faz referência ao que elas possuem de bens de consumo ou de dinheiro.

Na pergunta da letra “c”, alguns alunos apresentaram dificuldades na compreensão do duplo sentido da expressão “Porque lo verdaderamente importante es lo que llevamos adentro”. Ao lançar um olhar mais minucioso para a resolução desta problemática, observei que apesar da semelhança entre a sentença em português e em espanhol, alguns alunos não estavam fazendo essa associação entre as duas línguas. Por isso, lhes propus que pensassem se conheciam alguma expressão semelhante àquela em português. Após essa proposta de reflexão, alguns estudantes negociaram uma aproximação de significados com a língua portuguesa. Por fim, abriu-se a possibilidade para a reconstrução de práticas leitoras com o foco na possibilidade de “aumentar o conhecimento sobre linguagem que o aluno construiu sobre sua língua materna, por meio de comparações com a língua estrangeira em vários níveis” (BRASIL, 1998, p. 28).

(E09) “O amor e coisas como o cartão de crédito, dinheiro”.

(E01) “O que leva dentro da pochete e o que levamos dentro de nós”. (E15) “Dinheiro, cartão de crédito ou sentimento”.

(E08) “Que ela está levando dentro pode ser objeto ou sentimento”.

(E13) “Os objetos, 3 tarjetas de crédito, 1 de débito, algo de cash, los tickets de...”

Os alunos (E09), (E11), (E01) e (E15) construíram um significado interacional de prática de leitura que os possibilitou negociar os duplos sentidos da expressão nos contextos socioculturais argentino e brasileiro. De fato, quinze alunos participantes também se posicionaram discursivamente na construção da ambiguidade acima citada e presente nos dois idiomas. Observei que a maior dificuldade dos alunos se encontrou no momento da elaboração da compreensão escrita na própria língua materna, pela falta do uso de alguns conectivos e elementos de coesão. Por outro lado, três estudantes, conforme E13, não negociaram os duplos sentidos presentes nos âmbitos sociais e culturais de Brasil e Argentina, inferindo a leitura de forma restrita à materialização da linguagem na tira 2.

Com relação à questão “d”, vale a pena ressaltar que todos os vinte alunos atribuíram uma importância à essência das pessoas. Entretanto, cinco deles também fizeram alusão ao valor social do “dinheiro” em nossa sociedade. Por isso, o fato de os alunos se posicionarem discursivamente a favor da valorização do “ser”, permite-os ter uma “oportunidade de crescimento, de reflexão, de autoconhecimento e de autocrítica” (PARAQUETT, 2009a, p. 6).