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O PGIRS é um dos instrumentos mais importantes da PNRS (12.305/2010), pois estabelece, a partir da situação atual, como o município implantará na prática os objetivos da lei federal, envolvendo todos os atores da gestão dos resíduos sólidos urbanos. O PGIRS/SP também atende às exigências da Lei Nacional de Meio Ambiente (Lei. 6.938/1981), da Lei Federal de Saneamento Básico (Lei 11.455/07), em relação aos serviços públicos de manejo dos resíduos sólidos, e da Política Nacional sobre Mudanças do Clima (Lei 12.187/09), no tocante às metas de redução das emissões de gases de efeito estufa.

O PGIRS/SP foi lançado na cidade em 2014, após amplo debate com diversas áreas da sociedade. Ele acolheu o trabalho que já havia sido feito no primeiro PGIRS da cidade, em 2012, o qual não abarcava todas as diretrizes da lei federal e foi construído sem a participação efetiva da sociedade. O PGIRS/SP atual contou com forte engajamento da sociedade, mobilizada na IV Conferência Municipal de Meio Ambiente (CMMA), que ocorreu em 2013 e envolveu a participação de mais de 7 mil pessoas, organizadas em cinco grupos com 800 delegados, em 58 eventos. As diretrizes debatidas na IV CMMA trouxeram direcionamentos centrais à elaboração do PGIRS, já que o tema da Conferência foi o “novo plano municipal de

85 gestão integrada de resíduos sólidos”. Parece consenso de que um ponto forte do processo foi ter escutado, engajado e incorporado desejos de diversos setores da sociedade, conforme relatos de entrevistado da AMLURB e de Antônio Storel, que reforça que “a chegada do PGIRS/SP foi muito celebrada por todos os atores envolvidos no processo, já que deu peso e legitimidade para a política de resíduos da cidade. Um dos grandes pontos positivos foi que o Plano colocou todo mundo para dentro”.

Storel também reforça que a diferença entre “gerenciamento” e “gestão” de resíduos é que a gestão considera a introdução do gerador de resíduo como central no desenvolvimento, implementação e fiscalização do Plano. Desta forma, pode-se afirmar que a primeira etapa de participação dos geradores de resíduo da cidade ocorreu no desenvolvimento do PGIRS/SP.

A diretriz que norteia o Plano é o eixo central da PNRS, baseada na hierarquia dos resíduos, em que a prioridade do gerenciamento deve seguir a seguinte ordem: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. A implementação do Plano: “exige dos governos, das empresas e dos cidadãos uma fundamental mudança de rumo e de cultura: recuperar ao máximo os diversos tipos de resíduos recicláveis, sejam eles responsabilidade pública ou privada, e dispor o mínimo em aterros sanitários” (PGIRS/SP, 2014).

Essas diretrizes se traduzem na busca pela máxima segregação nas fontes geradoras e em sua valorização, com elaboração de plano de coletas seletivas, envolvendo resíduos domiciliares recicláveis, resíduos domiciliares orgânicos, resíduos orgânicos de feiras, mercados, assim como o direcionamento de geradores privados em desenvolverem os próprios planos de gerenciamento de resíduos sólidos, segundo a legislação vigente. O Plano também segue a orientação da legislação federal de integrar os catadores de materiais recicláveis nos planos de responsabilidade compartilhada da logística reversa de produtos.

O PGIRS/SP indica ainda a implantação de programas de educação ambiental permanentes, voltados à conscientização da importância da não geração, redução e reutilização dos resíduos. A proteção da saúde pública, a qualidade ambiental e o estímulo à adoção de padrões sustentáveis na produção e no consumo também aparecem como objetivos gerais do Plano.

A sustentabilidade econômica e financeira do Plano é colocada como fundamental, mas não foi possível observar nenhuma ação concreta de como isso seria colocado em prática. Segundo resposta da AMLURB em relação a este questionamento feita pela pesquisadora, o órgão afirmou que: “Atualmente não temos nenhum plano em relação a isso, apesar de

86 sabermos que a cobrança de taxa de resíduos é imprescindível para uma boa gestão de resíduos e um dia São Paulo terá que implantar. Porém como se trata de um tema complicado, para implantação ocorrer corretamente precisamos de um planejamento minucioso para não ter erros. Porém, infelizmente hoje esse tema não é pensado profundamente pela prefeitura.”

O Plano traz o cenário atual completo dos dados da coleta, transporte, tratamento e destinação dos resíduos sólidos e um conjunto de ações que devem ser implantadas num período de vinte anos, com metas progressivas. Há metas ambiciosas para o setor público e para os geradores privados, ligadas à diminuição do envio de resíduos aos aterros sanitários, implantação da logística reversa, compostagem, entre outras. Ao final de cada subitem do PGIRS, constam as metas específicas de cada ponto.

O Plano, com mais de trezentas páginas, é dividido da seguinte maneira: • Introdução;

• O processo participativo na construção do PGIRS; • Resumo executivo;

• Diretrizes e objetivo geral;

• Situação atual do município – aspectos gerais; • Cenários futuros;

• Diagnóstico dos resíduos sólidos e diretrizes para o manejo diferenciado. Neste item, os tipos de resíduos são divididos em doze subitens, de acordo com suas particularidades e soluções específicas para cada caso. São eles: Resíduos Domiciliares Secos e sua logística reversa; Resíduos Domiciliares Úmidos; Resíduos da Limpeza Urbana; Resíduos da Construção Civil; Resíduos Volumosos; Resíduos dos Serviços de Saúde; Resíduos com Logística Reversa; Resíduos dos Serviços Públicos de Saneamento; Resíduos dos Serviços de Transporte; Resíduos Industriais; Resíduos Minerários; Resíduos agrossilvopastoris;

• Áreas para destinação de resíduos e disposição final de rejeitos; • Diretrizes para outros aspectos do PGIRS;

• Educação ambiental e comunicação social para o manejo de resíduos sólidos; • Recuperação de custos e sustentação econômica para a gestão dos resíduos sólidos; • Articulação entre órgãos da administração e estruturação da Autoridade Municipal

para a implantação da Política Municipal de Resíduos Sólidos e do PGIRS; • Informação, monitoramento e controle social;

87 • Agendas de implementação das ações – Planos de Coletas Seletivas e de Redução de

Resíduos em Aterros;

• Agendas de implementação das Ações – Agendas setoriais de implementação e agendas de implementação com as Subprefeituras;

• Anexos (Resultados da IV CMMA, Aspectos das Cooperativas, Experiências significativas na gestão de resíduos orgânicos e estudos potenciais de mercado para compostos orgânicos na região do entorno do município de São Paulo, Legislação e Normas Brasileiras Aplicáveis e Bibliografia).

A AMLURB é o órgão responsável pela coordenação, estabelecimento de normas e procedimentos para implementação, gerenciamento, fiscalização e controle do PGIRS (PGIRS/SP, 2014).

A revisão do PGRIS/SP era prevista para 2018, quatro anos após sua aprovação. Entretanto, isso ainda não ocorreu. Também é possível afirmar que muitas das metas estabelecidas no PGIRS/SP não foram cumpridas dentro do prazo estabelecido e estão distantes de ser atingidas. No website da Prefeitura Municipal de São Paulo, está disponível o cronograma do cumprimento de metas do Plano, porém, com data de agosto de 2018, ou seja, defasada em mais de um ano até a conclusão deste trabalho. Um dos exemplos de metas ambiciosas não atingidas é a implementação da compostagem em um terço dos domicílios da cidade (1.06 milhão de domicílios), através de composteiras domésticas. Outro exemplo é a arrojada meta de introdução da coleta seletiva de orgânicos na cidade, a partir do primeiro semestre de 2016. Isso significa que a cidade contaria com a “coleta em três frações”, com segregação na fonte geradora (munícipes) de: reciclável seco, compostável e resíduo comum. Segundo Storel, o Plano estabeleceu “metas de chegada”, a partir de anseios da população, mas sem um estudo prévio da real viabilidade de implementação: “O PGRIS/SP focou mais no que ‘queremos’ fazer e menos em ‘como’ vamos fazer”. O especialista também afirma que o Plano abriu as portas para a inovação tecnológica, mas não indicou quais seriam os caminhos escolhidos em termos de planejamento e viabilidade.

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