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APRESENTAÇÃO DA MESA REDONDA: NOVAS PRIORIDADES PARA A COLETA DE GERMOPLASMA DO GÊNERO ARACHIS

No documento [Anais...]. (páginas 128-131)

Mesas Redondas

APRESENTAÇÃO DA MESA REDONDA: NOVAS PRIORIDADES PARA A COLETA DE GERMOPLASMA DO GÊNERO ARACHIS

Veiga, R. F. A.

Av. Barão de Itapura, 1481, Cx.P. 28, CEP 13001-970, Instituto Agronômico (IAC). Campinas, SP, Brasil. E-mail: veiga@iac.sp.gov.br

A coleta de germoplasma é uma atividade básica, na área de recursos genéticos, através da qual se viabilizam outras como: intercâmbio, quarentena, sistemática, taxonomia, caracterização (agronômica – morfológica – genética – citológica - histoquímica), conservação ex situ: (in vitro - criopreservação - câmaras- frias – a campo), educação ambiental agrícola, valoração e de uso de recursos fitogenéticos. O inverso também é verdadeiro, isto é, qualquer uma dessas demais atividades pode servir de priorização para uma nova coleta.

Ao se tratar de prioridades de coleta para o gênero Arachis, duas especificidades podem ser distinguidas: 1. Monoespecífica: quando se trata de coleta do amendoim comum (A. hypogaea L.), em que se procura plantas, com potencial de resistência a doenças ou outras características, de interesse aos programas de melhoramento, espalhadas por todos os continentes; 2. Multiespecífica: quando se trata de coleta de espécies silvestres, em que se busca por espécies nativas (Arachis spp.) para conservação e uso em pesquisas botânicas, genéticas e agronômicas (forragem e ornamental), na América do Sul, especialmente no Brasil (centro de origem e dispersão do gênero).

Da mesma forma, quando se trata de priorizar a localidade da expedição de coleta, pode-se separar em dois ítens: 1. Nas comunidades: quando se trata de A.

hypogaea, pode-se dizer que a coleta ocorre em lavouras, roças, hortas e pomares

caseiros, mercados e feiras; localidades em que se busca por germoplasma do amendoim comum, seus cultivares em desuso, raças locais e espécies cultígens; 2. Na natureza: para as espécies silvestres do gênero, como a busca no campo de propriedades agrícolas particulares, beira de estrada, em meio às áreas de campos experimentais de instituições de pesquisa e em áreas de preservação, etc.

Logicamente, para elaborar novas prioridades de coleta de germoplasma, torna-se necessária uma adequada planificação anterior. Tal ação deve ser iniciada através da elaboração de um projeto, principalmente para viabilização dos recursos necessários na sua execução. Neste, define-se a base da coleta, isto é, a coordenação e a equipe, o trajeto da coleta, a viabilização segundo a legislação do país, a documentação necessária para o acesso aos recursos genéticos e a necessidade ou não de realização da pré-coleta. O mesmo grupo, de coordenação da expedição científica, define o meio de transporte e a época de coleta (dependente do período da frutificação e florescimento, bem como do ambiente e clima da região). Providencia o equipamento e material necessário, inclusive, faz o estudo das exsicatas de herbário, para retorno ao local de coletas anteriores que estejam no percurso da expedição, ou até mesmo o auxilie na elaboração deste. Na execução da coleta, deve-se prever que ocorrerá o preparo de exsicatas, de frutos e sementes, bem como de Rhizobium, para maximizar os resultados científicos da expedição.

Na organização de priorização para a coleta deve-se levar em conta que uma expedição não se encerra no dia final da viagem, pois, existe a pós-coleta, tão trabalhosa quanto à própria coleta em si, pois, aí se finalizam as cadernetas,

passando os dados para o computador. Continua, com o trabalho de preparo das exsicatas, identificação taxonômica, prosseguindo com o preparo do germoplasma para sua distribuição, conservação, caracterização e uso, bem como se realiza a elaboração de relatórios para a instituição executora e instituições financiadoras.

Em priorização de expedições, algumas perguntas devem ser respondidas com antecedência: 1. No caso do amendoim comum: Os programas de melhoramento estão carentes de novos acessos regionais ou internacionais? O Banco Ativo de Germoplasma (BAG) necessita de mais acessos para ser realmente ser representativo da espécie? São necessárias mais coletas para a conclusão de estudos científicos? A necessidade não pode ser suprida pelo germoplasma conservado em outros BAGs nacionais ou internacionais? É necessário o resgate de cultivares primitivas? É necessário o resgate de cultivares que se encontram no mercado? Existem raças locais por serem coletadas? A legislação do país permite que se efetue a coleta? Em quanto tempo é possível obter a autorização? A região possui pessoal capacitado para efetivar a coleta?; 2. No caso de espécies silvestres: existe germoplasma disponível nos bancos de germoplasma? A espécie está em risco de extinção, ou de erosão genética? A conservação in vivo do germoplasma ex situ é difícil? Existem estudos científicos regionais que dependam do germoplasma procurado? A espécie tem potencial de uso direto como ornametal, forrageiro, ou mesmo para o melhoramento genético do amendoim comum? No caso de não se conhecer a região da coleta, a mesma apresenta altitudes, acidentes geográficos, vegetação, solo e clima com potencialidade de ocorrência de novas espécies? A região possui equipe de especialistas auto-suficientes para a execução da coleta? A legislação do país permite coletas ou somente prospecção ou pré-coleta? Há recursos disponíveis para priorizar também estas ações?

Muitos pesquisadores nacionais e estrangeiros, passaram pelo trabalhoso sistema de priorização de coletas para o amendoim. Na história do gênero Arachis, a primeira espécie descrita foi Arachis hypogaea L., em 1753. A partir daí, foi um longo período de 88 anos, até que Bentham descrevesse as primeiras espécies silvestres do gênero. Desde então, muita coisa mudou, o número de espécies conhecidas se alterou radicalmente depois de três expedições científicas de coleta de germoplasma executadas na década de 30, onde se destacaram o brasileiro J.Ramos de Otero e o americano W.A. Archer, duas na década de 40, com J.L. Stephens (USA) e W.Hartley (Austrália) e V.A. Rigoni e J.R. Báez (Argentina), cinco na década de 50, três na década de 60 e seis na década de 70, onde se destacaram A.Krapovickas e R.Pietrarelli (Argentina) e W.Gregory (USA). Com o advento do Centro Nacional de Recursos Genéticos (CENARGEN), hoje Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, sob o comando de J.F.M.Valls (Brasil) e o apoio dos coletores das três últimas décadas, acrescida de novos especialistas como C. E. Simpson e D. Williams (USA), E. Pizarro (Uruguai), V. R. Rao (Índia) e G. P. Da Silva (Brasil), entre outros, o incremento foi visível, sendo vinte e sete na década de 80 e mais vinte e seis até 2004, (Krapovickas & Gregory, 1994 ; Valls, 2001), foram aproximadamente 70 coletores até o presente.

Todo este esforço tem sido plenamente recompensado, pois, resultou em, aproximadamente, 81 espécies, organizadas em 9 seções taxonômicas do gênero. Concluiu-se que as espécies silvestres se encontram restritas à América do Sul, distribuídas pelos territórios da Argentina (6), Bolívia (15), Brasil (64), Paraguai (15) e Uruguai (2). Assim, os últimos 24 anos de intensivas expedições científicas de coleta de germoplasma refizeram, e continuam alterando, o mapa de dispersão das

espécies do gênero Arachis. Ao mesmo tempo, existe uma equipe de especialistas que, integradamente num plano mundial, vem trazendo à tona novos conhecimentos taxonômicos, morfológicos, citogenéticos, histoquímicos, genéticos, agronômicos, entre outros, fornecendo inúmeros novos subsídios para que neste evento se elabore um texto atualizado de prioridades de coleta para o amendoim e suas espécies silvestres.

Numa mesa redonda como esta: “Novas prioridades para a coleta de germoplasma”, a qual tenho a honra de moderar, está presente a nata dos especialistas em amendoim que é a principal responsável pelo grande avanço nos conhecimentos científicos e pelo alto número de novos acessos disponibilizados para a pesquisa científica mundial. Aqui estão os ídolos de uma nova geração de especialistas no gênero Arachis, que cresce a cada dia, graças a esses mesmos abnegados especialistas mundiais, merecendo aqui uma menção especial, não desmerecendo os demais: Os Engenheiros Agrônomos Antonio Krapovickas e José Francisco Montenegro Valls.

ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES E INTEGRADAS DE CONSERVAÇÃO DOS

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