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A sequência desta atividade foi realizada com uma turma de 8º ano, em agosto de 2016, após divulgação de um fato que se repercutiu nacionalmente e causou muita polêmica em toda sociedade brasileira: um estupro coletivo de uma menina de 16 anos. A ideia era discutir sobre o caso e, consequentemente, acerca da cultura do estupro, a qual foi levantada como tema pela sociedade na ocasião deste fato, além de debater acerca do consentimento quando se trata de sexo ou qualquer outra coisa, isto é, sobre o respeito à decisão do outro. A atividade partiu do seguinte plano de ação.

Quadro 8 – Plano para apropriação da palavra consentimento

Objetivos  Debater sobre o respeito à decisão do outro;

 Discutir sobre a ideia de consentir;

 Utilizar a palavra consentir em diferentes situações de comunicação.

Atividades  Debate;

 Leitura;  Análise.

Recursos  Material xerocado, dicionário, vídeo.

Duração  6h/a

Para problematizar tal discussão, optou-se por partir de um vídeo que metaforiza o abuso sexual com uma xícara de chá. Contudo, na ocasião do agendamento, a sala de vídeo não estava disponível, assim decidiu-se por transformar o vídeo em uma tirinha (APÊNDICE E).

Figura 19 – Síntese da tirinha Xícara de chá

Fonte: adaptado do vídeo https://www.youtube.com/watch?v=ckUYhFrVJlc. Acesso em: 20 jun. 2016

Como se observa, a tirinha era composta em quase totalidade pela linguagem não verbal, apresentando somente uma frase ao final: Consentimento é tudo. Então, partiu-se da leitura das imagens para compreensão da mensagem que se encontrava ao final do texto. Cogitou-se aos alunos se por meio das imagens e da frase ao final era possível inferir sobre o assunto tratado.

Neste primeiro momento, optou-se por trabalhar com oralidade e leitura, de modo que identificassem:

a. Assunto tratado.

b. Elementos que os fizessem deduzir o assunto do texto.

c. Conhecimento do texto. Já viram nas redes sociais? Em algum programa de televisão?

d. O assunto está ligado a algum contexto atual? Qual? O que pensa sobre?

Discutiu-se sobre as imagens, os alunos destacaram que havia café, bonequinhos, sinais de proibição, expressão de felicidade e de tristeza. Eles observaram, como citado, os elementos do texto, mas não conseguiram associar à frase ao final.

No segundo momento, trabalhou-se com a palavra: a. Qual a palavra que auxilia na compreensão do texto?

b. O que significa a palavra CONSENTIMENTO?

b. É possível encontrá-la no dicionário? Como? (Neste momento, o professor fez uso do dicionário que dispunha a escola)

d. Produza frases em que podemos utilizar a palavra apreendida (trabalhar contextos de uso).

Perguntou-lhes sobre o que significava a palavra consentimento. No momento, percebeu-se silêncio, então partiu-se novamente da composição da palavra: derivado e primitivo, questionando-lhes de que palavra provinha o vocábulo em análise, eles informaram que advinha de consentir, então cogitou-lhes: qual o significado de consentir, conforme o texto, isto é, as imagens apresentadas?

Novamente, nada apresentaram, então lhes perguntou se havia alguma relação entre a palavra analisada e o sinal de proibição, se a palavra e a imagem apresentavam a mesma ideia ou não. Alguns responderam que sim, era a mesma ideia, mas a maioria apontou que não, eram contrárias, mas não conseguiram explicar, verbalizar o entendimento. Assim, decidiu-se por apresentar a mesma tirinha, mas, agora, com sua composição original, isto é, com as falas.

Figura 20 - Síntese da tirinha Xícara de chá com linguagem verbal

Após a leitura da tirinha com a linguagem verbal expressa, debateu-se sobre o assunto tratado: o abuso sexual relacionando-o ao caso repercutido na época, o estupro coletivo. Após debate sobre o tema, novamente, voltou-se para a palavra consentimento, e, agora, as respostas foram:

Ah, consentimento é deixar alguma coisa... (Aluno A).

Não, consentimento é consentir...permitir, tipo isso...o contrário de proibir (Aluno B).

Consentir é deixar! (Aluno C).

Percebeu-se que os alunos conseguiram compreender a significação da palavra e associá-la ao texto, no entanto, pouco sabiam explicar e apresentar sinônimos para a explicação. Neste momento, solicitou-lhes a pesquisa da palavra consentir no dicionário, os quais foram distribuídos ao início da aula. Ao localizarem a palavra, informaram os seguintes sinônimos: concordar, aceitar, autorizar,

aprovar... Assim, pediu-lhes que criassem frases oralmente utilizando a palavra

consentimento ou seus sinônimos, requeriu-se que as frases tivessem relação com o contexto escolar, para que as criações não ficassem tão isoladas e sem contextos de uso. Dentre as frases, apresentaram:

A professora consentiu minha ida ao banheiro (Aluno A). A diretora consentiu minha entrada na escola (Aluno A). A colega permitiu que eu usasse sua borracha (Aluno C).

As frases foram simplórias, mas, a partir delas, observou-se que a compreensão da acepção foi apreendida.

Na aula seguinte, foi possível levá-los à sala de vídeo, em que se exibiu a tirinha em forma de vídeo11 e apresentou-lhes mais informações sobre a palavra

analisada.

No terceiro momento, intentou-se produzir textos cujos alunos pudessem opinar sobre o assunto até então debatido, pediu-lhes que tentassem utilizar a palavra apreendida nas aulas e seus sinônimos. Como o tempo transcorrido foi curto para exibição do vídeo e posterior debate, a produção ficou

para que os alunos a realizassem em casa, e, em vista disso, a grande maioria não entregou a atividade de produção.

Dentre os pontos satisfatórios, podem-se destacar:

Pontos satisfatórios: foi possível promover o debate sobre um assunto de repercussão nacional, abordar valores, discutir sobre a cultura do estupro, suscitando, assim, a criticidade dos discentes. E, oportunamente, apreender as acepções da palavra consentimento e ampliar, de certo modo, o campo lexical dos alunos envolvidos.

Pontos limitantes: devido ao tempo, não foi possível verificar na escrita a incorporação da nova palavra ao repertório do aluno. As discussões foram positivas, percebeu-se, por meio destas, a inclusão da palavra analisada, mas não houve registro para tal atividade.