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A atividade foi realizada com uma turma de 8º ano, do ensino fundamental II, de uma escola pública, do município de Fortaleza-CE, em que atuava a pesquisadora/autora, na qualidade de professora de Língua Portuguesa. Na ocasião, o conteúdo a ser abordado, conforme o planejamento anual da disciplina, era Texto

Instrucional, assim optou-se por trabalhar com o gênero receita. Para tanto, seguiu- se o seguinte plano de ação:

Quadro 2 – Plano texto instrucional

Objetivos  Caracterizar o texto instrucional;

 Reconhecer os gêneros textuais que têm como propósito comunicativo a orientação;

 Explorar, em especial, o gênero receita: estrutura, termos peculiares e função.

Atividades  Exploração do título;

 Uso do dicionário;  Formação de equipes;  Produção textual.

Recursos  Quadro-branco, dicionários, material xerocado.

Duração  3h/a

A aula dividiu-se nos seguintes momentos:

1. Apresentação do conteúdo texto instrucional. Colocou-se a expressão aqui destacada no centro do quadro-branco, e perguntou-se aos alunos se as duas palavras eram de conhecimento deles, a maioria destacou o desconhecimento da palavra Instrucional, então decidiu-se por elencar hipóteses sobre o que a palavra em contexto isolado poderia significar, dentre as possibilidades de significações recorreu-se ao contexto de formação/composição de palavras, referindo-se à palavra primitiva e derivada, pois corrobora-se com Sbrogio (2008), o qual elucida que a língua portuguesa dispõe de diferentes processos de combinação de morfemas para formar novas palavras. Para compreender esses processos, retomou-se aos seguintes conceitos:

 Palavras primitivas: são aquelas que não derivam de outras palavras. Exemplos: dia, casa, flor

 Palavras derivadas: são aquelas que derivam de outras palavras. Exemplos: diário (de dia), casarão (de casa), floreira (de flor).

Após tal explanação, os alunos identificaram e explicitaram que a palavra

instrucional era derivada de instruir, mas, de modo isolado, também não

conseguiram abstrair a significação de tal palavra. Em seguida, distribuiu-lhes a receita intitulada Vaca Atolada7.

2. De posse da receita, a pesquisador/autora informou aos discentes que o texto que estavam em mãos era um texto com o propósito de instruir, assim como outros, como o manual e a bula de remédio. Neste momento, apenas um aluno se colocou sobre a possibilidade do que significaria a palavra analisada e afirmou: Acho que é um texto que diz como fazer algo... acho que instruir significa como fazer algo. Assim,

investiu-se na colocação do aluno e, em seguida, pediu-se que os alunos pesquisassem nos dicionários pertencentes à escola e disponibilizado a todas as escolas públicas pelo Ministério da Educação, os quais a professora/autora já havia distribuído ao início da aula, a palavra instruir. Ressalta-se que na turma trabalhada não houve a necessidade de trabalhar no momento com o manuseio do recurso, e sim fazer uma pequena revisão de como ocorria a localização de palavras, uma vez que a grande maioria sabia como executar tal ação, pois no ano anterior, a professora já havia investido na prática do manuseio.

3. Auxiliou-se, minimamente, na pesquisa da palavra analisada, e quando todos os alunos a localizaram, perguntou-lhes como chamava o bloco de informações em que a palavra estava inserida, como se proferiu a palavra bloco, muitos a utilizaram e afirmaram que era bloco de significados. Assim, percebeu-se que,

apesar de saber manusear, ainda não conheciam, de fato, a composição e nem a nomenclatura de um verbete. Neste momento, anotou-se o verbete no quadro- branco e explicitou-se a composição deste.

4. Após explicitação dos elementos composicionais, investiu-se nas significações, trabalhando com as sinonímias e os exemplos de uso, foi pedido a diferentes alunos para ler o que estava numerado no verbete, após a leitura e os comentários, os alunos compreenderam que a palavra analisada significava também orientar. Um aluno assim colocou: Então, era só ter orientado melhor a gente desde o início...

Depois de compreender melhor o assunto geral que seria abordado, por meio da pré-leitura, a qual designamos aqui de predição lexical, seguiu-se para o trabalho com a receita que foi distribuída, pois já a reconheciam como um texto que objetivava orientá-los, que se tratava de uma receita culinária, com o passo a passo para o preparo, desde as quantidades do que seria utilizado até o modo de fazer.

5. Finalizado o momento de pré-leitura, passou-se para o trabalho com a receita selecionada: Vaca atolada8.

8 Disponível em: http://www.receitastipicas.com/receitas/vaca-atolada-mineira.html. Acesso em: 18

Figura 13 – Receita selecionada para o trabalho em sala de aula Esta receita vai pegar você

VACA ATOLADA • 1 kg de costela de vacaν

• 2 cebolas picadasν • 4 dentes de alho amassadosν

• 5 tomates descascados, picados sem sementesν • 1 colher (sopa) de vinagreν

• 1 colher (chá) de salsinha picada; • 3 cebolinhas verdes picadasν • 1 cubinho de caldo de carneν • 2 colheres (sopa) de óleoν

• 1 kg de mandioca descascada e cortada em pedaços. Misture as costelas com a cebola e o alho. Leve ao fogo

com o óleo e frite até que dourem. Junte os tomates, o vinagre, a salsinha, a cebolinha e o cubinho de caldo de

carne. Acrescente água suficiente para cobrir. Cozinhe: quando a carne estiver macia, adicione a mandioca e água

suficiente para cozinhá-la. Pegue uma travessa grande e sirva em seguida!

Fonte: Nota 8

6. Nesta ocasião, depois de reconhecer o propósito do texto, trabalhou-se mais uma vez com a predição lexical, a começar pelo título da receita, instigando os alunos a deduzirem o que de fato seria uma vaca atolada no contexto de uso apresentado. Muitos utilizaram o sentido da palavra por ora analisada no seu sentido isolado, fora do contexto, no sentido de inserida em lama.

Mais uma vez voltamos à consulta ao dicionário para elencar os sinônimos dados a palavra atolar, e, assim, compreendeu-se que trataria de uma receita de uma vaca que estaria imersa em algo, isto é, mergulhada, que no caso não seria lama, e, informaram: mergulhada em molho, enfiada em um creme, dentro de um creme...

7. Seguido momento de pré-leitura, denominado por Seide e Hintze (2015), autores da atividade, iniciou-se a leitura propriamente dita, confirmando mais uma vez do que se tratava: uma receita culinária, que instruía como cozinhar e preparar uma carne bovina em um molho de mandioca.

Seguidamente, discutiu-se, também, sobre o porquê de o título ser Vaca Atolada e não Carne de Vaca, já que se tratava de uma receita culinária voltada para isto. Então, iniciou-se uma breve discussão sobre o contexto de uso e as variações linguísticas, uma vez que vaca atolada remeteria a uma receita peculiar de uma dada região, de modo a enaltecer o modo de falar desta e outras particularidades.

Pelo indício mandioca, debateu-se que poderia ser uma receita da região Sudeste do Brasil, uma vez que nesta ela é conhecida como mandioca e no Sul, como aipim. Nas regiões Norte e Nordeste, é chamada de macaxeira ou aipim. No Rio de Janeiro, é também chamada de aipim. No entanto, não se estendeu a esta discussão, tendo em vista o tempo de aula e o foco desta.

8. No momento final da aula, apresentou-se a organização estrutural da receita, bem a composição dos elementos. Destacou-se que as receitas culinárias em geral possuem partes fixas: ingredientes e modo de preparo, em que a primeira lista os alimentos/produtos que estabelecem a medida/quantidade do que será utilizado; a segunda parte narra e descreve o passo a passo do modo de fazer com o auxílio de verbos de comando (em geral no imperativo ou infinitivo que caracterizam o tipo textual injuntivo ou instrucional) e por meio de uma linguagem formal. Ademais, salientou-se que, como quase todo gênero textual, a receita culinária possui valor sociodiscursivo e sociocultural e, sobretudo, certo teor pragmático. Ou seja, existe para, de maneira geral, ser seguida e aplicada/executada na cozinha.

9. A fim de exercitar o assunto trabalhado, distribuiu-se atividade voltada para exploração do que foi abordado (APÊNDICE B). A aula foi finalizada com a correção da atividade. Como tarefa posterior, em ocasião ao dia dos pais, solicitou- se a produção textual de uma receita que abordasse o tempero dos pais, trabalhando assim com a retextualização. Tal aula não se encontra aqui descrita, tendo em vista que não se constituía foco deste estudo.

Pontos satisfatórios: foi possível exercitar a pré-leitura ou predição, palavra adotada neste estudo, a qual, conforme Seide e Hintze (2015), refere-se à apresentação inicial do texto, de modo a direcionar a atenção do aluno para os passos seguintes e ativar na memória conhecimentos necessários ao que se pretende ensinar. Além disso, percebeu-se bastante envolvimento da turma durante os debates, bem como a curiosidade dos discentes. Utilizou-se, também, o dicionário, não apenas como mera consulta, mas para confirmar algo que havia sido inferido.

Pontos que necessitam de aprimoramento: acredita-se que os contextos de uso deveriam e devem ser melhores explorados, de modo, também, a introduzir a utilização do dicionário nesta perspectiva. Ademais, como apontado, poderia ter elucidado e investido, também, nas variações linguísticas.