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Aprovação na câmara de vereadores

6. A “LEI DO PLANO DE METAS” E A AGENDA 2012

6.2. Aprovação na câmara de vereadores

Uma vez redigida a proposta, é encaminhada à Câmara de Vereadores por meio de iniciativa popular, mecanismo de participação previsto na Lei Organica do Município (1990). A Secretaria Executiva e os participantes do Movimento iniciaram um trabalho de articulação e pressão popular, enquanto membros do Colegiado trabalharam o dialogo com as principais lideranças políticas do legislativo e do executivo. Em entrevista, o vereador José Police Neto, líder da bancada do governo na casa à época, relata quando Oded procurou diretamente o Prefeito Kassab, com a proposta da lei.

O Movimento Nossa São Paulo, ainda na sua fase embrionária, já lhe tinha sido apresentado pelo próprio Oded, por meio de seu colega da Escola Politécnica, chefe da casa civil e ex-ministro Clovis Carvalho. Recém eleito após um período como vice no lugar de José Serra (que deixou o cargo para disputar eleições estaduais), o novo prefeito estava disposto a conquistar o apoio popular e o referendo das elites institucionalizadas. Kassab, assim, levou o projeto à Câmara dando apoio, como chefe do poder executivo, para a aprovação da “Lei do Plano de Metas”:

Oded conseguiu enxergar esse momento em que o Kassab estaria, de uma certa maneira, politicamente mais aberto para isso. Tanto é que no final de 2007, o Kassab vem com o Oded aqui à Casa para trazer o plano de metas. Então é algo que a sociedade elaborou depois de intensos debates, o texto do plano de metas, com participação de muita gente, mas quem traz à Casa é o prefeito junto com a sociedade.

A seu líder de governo, vereador José Police Neto, foi atribuído papel importante de apoio e articulação política para a aprovação da “lei do plano de metas” na casa. Inicialmente, a proposta gerou certo desconforto entre os legisladores. A ideia do exercício do controle social diretamente pelas organizações da sociedade civil, somando à fiscalização já realizada pela Câmara, pôs papéis em cheque. Houve um clima de desconfiança e o

questionamento clássico a respeito de quem detém o poder representativo: vereadores eleitos versus “movimentos da autointitulados representantes da sociedade civil”. Continuando o relato de Police Neto durante sua entrevista:

Porque uma coisa é a sociedade civil organizada que só demanda, que organiza a demanda. Então uma coisa é eu ter a associação de bairro que quer a pavimentação da rua, que quer iluminação... É muito diferente essa sociedade que se organiza para fazer oferta e para fazer pedido. E aí, ele [Oded] estava dizendo o seguinte, „Olha, tem uma sociedade que se organiza para ofertar para o setor público e que o setor público, historicamente, é um adversário, não gosta, não curte.‟ Interpreta um pouco como adversário. „Mas que história é essa de você falar como eu tenho que administrar isso aqui? Eu fui eleito para administrar.‟ Então tem um pouco também, um pouco da soberba, um pouco que é uma característica dos regimes presidencialistas. „Foi dado a mim esse poder. Sou eu que faço. Eu que decido. [...] Você podia ter dos dois lados soberba. Então você podia ter a soberba do agente... do investido no cargo de vereador e a soberba da sociedade que fala o seguinte: „eu carrego a sociedade inteira, eu sou a sociedade‟. Eu falo „bom, crise de conflito. Você é a sociedade, só que eu sou o representante da sociedade eleito. Quem é mais sociedade aqui?‟ Então, teve um certo momento em que os dois lados tinham que dar passos para trás.

A Secretaria Executiva do Nossa São Paulo articulava a nova legislação pressionando a casa, enquanto Oded fazia reuniões com pessoas próximas às lideranças da casa buscando apoio. Foi aprovada assim, por unanimidade, a “Lei do Plano de Metas”, Emenda nº 30 à Lei Orgânica do Município de São Paulo, com o seguinte texto:

Art. 1 – Fica acrescentado ao art. 69 da Lei Orgânica do Município de São Paulo o artigo 69-A com a seguinte redação:

“Art. O Prefeito, eleito ou reeleito, apresentará o Programa de Metas de sua gestão, até noventa dias após sua posse, que conterá as prioridades, as ações estratégicas, os indicadores e metas quantitativas para cada um dos setores da Administração Pública Municipal, subprefeituras e distritos da cidade, observando, no mínimo, as diretrizes de sua campanha eleitoral e os objetivos, as diretrizes, as ações estratégicas e as demais normas da lei do Plano Diretor Estratégico.

§1º – O Programa de Metas será amplamente divulgado, por meio eletrônico, pela mídia impressa, radiofônica e televisiva e publicado no Diário Oficial do Município no dia imediatamente seguinte ao do término do prazo a que se refere o “caput” deste artigo.

§ 2º – O Poder Executivo promoverá, dentro de trinta dias após o término do prazo a que se refere este artigo, o debate público sobre o Programa de Metas mediante audiências públicas gerais, temáticas e regionais, inclusive nas subprefeituras.

§ 3º - O Poder Executivo divulgará semestralmente os indicadores de desempenho relativos à execução dos diversos itens do Programa de Metas.

§ 4º - O Prefeito poderá proceder a alterações programáticas no Programa de Metas sempre em conformidade com a lei do Plano Diretor Estratégico, justificando-as por escrito e divulgando-as amplamente pelos meios de comunicação previstos neste artigo.

§ 5º - Os indicadores de desempenho serão elaborados e fixados conforme os seguintes critérios:

a) Promoção do desenvolvimento ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável

b) inclusão social, com redução das desigualdades regionais e sociais; c) atendimento das funções sociais da cidade com melhoria da qualidade

de vida urbana;

d) promoção do cumprimento da função social da propriedade;

e) promoção e defesa dos direitos fundamentais individuais e sociais de toda pessoa humana;

f) promoção de meio ambiente ecologicamente equilibrado e combate à poluição sob todas as suas formas;

g) universalização do atendimento dos serviços públicos municipais com observância das condições de regularidade; continuidade;

h) eficiência, rapidez e cortesia no atendimento ao cidadão;

i) segurança; atualidade com as melhores técnicas, métodos, processos e equipamentos; e modicidade das tarifas e preços públicos que considerem diferentemente as condições econômicas da população. § 6º - Ao final de cada ano, o Prefeito divulgará o relatório da execução do Programa de Metas, o qual será disponibilizado integralmente pelos meios de comunicação previstos neste artigo.

Art. 2º _ Fica acrescentado ao art. 137 da Lei Orgânica Municipal o § 9º com a seguinte redação:

“§ 9º _ As leis orçamentárias a que se refere este artigo deverão incorporar as prioridades e ações estratégicas do Programa de Metas e da lei do Plano Diretor Estratégico.

§ 10 – As diretrizes do Programa de Metas serão incorporadas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias dentro do prazo legal definido para a sua apresentação à Câmara Municipal”.

[...]

(SÃO PAULO, 2008)