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O desenvolvimento urbano em uma megacidade

4. A MEGACIDADE DE SÃO PAULO

4.2. Narrativas do contexto político

4.2.2. O desenvolvimento urbano em uma megacidade

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

[...]

Em 2001, este artigo foi complementado pela lei no. 10.257:

[...]

Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra- estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;

[...]

Desde o início do século, a cidade de São Paulo foi construindo sua legislação urbanística. Apenas em 1971, porém, foi desenvolvido o primeiro Plano Diretor da cidade. Ainda sem tratar-se de obrigação constitucional, que viria apenas anos depois, o plano foi elaborado em época de regime militar. Em 1988 um segundo plano foi aprovado por decurso de prazo sem, portanto, qualquer debate na esfera da sociedade civil. Em 1991 a prefeita Luiza Erundina chegou a enviar uma proposta à Câmara, mas não obteve aprovação (SÃO PAULO, 2004).

O terceiro Plano Diretor Estratégico aprovado para a cidade de São Paulo, para o período de 2002 a 2012, foi desenvolvido em contexto democrático, depois da

promulgação da Constituição Estadual em 1989, da implantação da Lei Orgânica do Município em 1990 e do Estatuto da Cidade de 2001, citado anteriormente. Elaborado sob a gestão do PT, levou em especial consideração os aspectos da função social da propriedade urbana e foi construído de maneira participativa.

O plano foi construído em sete meses e debatido por seis, promovendo quarenta debates com mais de 500 entidades representadas. Três mil pessoas participaram envolvendo usuários dos serviços públicos, engenheiros e arquitetos, movimentos de moradia, empreendedores imobiliários, acadêmicos, associações de moradores, secretários de planejamento da região chamada de Grande São Paulo (envolvendo municípios adjacentes), técnicos de órgãos estaduais com atuação na capital, promotores públicos, jornalistas e militantes políticos. No desdobramento do Plano da cidade em planos regionais para cada uma das 31 subprefeituras, ao longo dos anos de 2003 e 2004, o processo participativo foi continuado, com 256 reuniões realizadas aos finais de semana e envolvendo então cerca de 10 mil pessoas e entidades (SÃO PAULO - Secretaria de Planejamento Urbano, 2004).

Um dos entrevistados desta pesquisa afirmou sobre o processo participativo de desenvolvimento do Plano Diretor Estratégico de São Paulo:

[...] além dos sucessivos aperfeiçoamentos do texto, gerou-se uma „pedagogia da cidadania‟. [...] Cremos que os leitores terão em comum a consciência da importância de construir cidades justas e um desenvolvimento que implique em qualidade de vida para todos. Os principais desafios da cidade destacados no registro do processo de elaboração do Plano Diretor Estratégico de 2002 foram: o desemprego crescente (variando entre 17 e 20% à época); a violência urbana (índices de homicídios de 50 por 100 mil habitantes) e a precariedade habitacional e problemas ambientais (enchentes, poluição do ar e do solo, congestionamento do tráfego, coleta e disposição final de lixo incompleta com pouca reciclagem, insuficiência de espaços públicos verdes e de lazer). Dentre os objetivos gerais do Plano Diretor encontram-se menções à elevação a qualidade de vida, da promoção do desenvolvimento sustentável e a justa distribuição de riquezas, aumento da eficiência econômica da cidade e da

eficácia de uma ação governamental descentralizada e integradora dos diferentes níveis de governo.

Em 2005, com a entrada de uma nova administração no município, houve um movimento para a revisão do Plano Diretor. Essa articulação enfrentou, porém, dura resistência do grupo envolvido na elaboração original do documento gerando amplo e ardente debate. Os que argumentavam a favor da revisão alegavam necessidades de ajustes técnicos para viabilizar a operacionalização do Plano. Os que eram contra apresentavam a defesa de que a revisão não poderia ser realizada por invalidar o debate no âmbito da sociedade civil realizado na fase original de elaboração. Esse contexto, no entanto, para ser bem compreendido mereceria investigação aprofundada que não cabe neste trabalho. O importante é configurar que a questão foi então objeto de discussão interna no Movimento Nossa São Paulo, já constituído à época, posicionou-se contra a revisão. Seu relatório de atividades registra:

Junho: Adiamento da revisão do Plano Diretor: acatando a reivindicação de várias entidades que o compõe, o Movimento encaminhou uma carta solicitando o adianto da revisão do Plano Diretor. Isso porque foram insuficientes as audiências públicas e debates com a participação da sociedade civil e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, assim como exige o Estatuto da Cidade [...]. Em novembro, uma representação assinada por dezenas de entidades foi enviada ao Ministério Público Estadual e ganhou apoio do Movimento (MOVIMENTO NOSSA SÃO PAULO, 2008).