• Nenhum resultado encontrado

3 A PRESENTAÇÃO , ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Através da análise de conteúdo apercebemo-nos da consistência das entrevistas,

3.2.2 C ARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA

Nesta categoria procurou saber-se mais sobre como é que era a cidade onde cada entrevistado viveu, como era o país e qual foi a profissão apreendida por cada um deles.

3.2.2.1 Cidade

Sobre as cidades, cada entrevistado morou na sua, e a mais comum entre eles é Luanda, sendo que todos, exceto a Catarina, viveram nessa cidade. "Luanda era muito grande. (…) A cidade era boa. Com tudo, uma boa cidade, tomara eu que agora tivesse assim, que eu ia lá outra vez. (…) …a praia do Sal, uma boa praia. Também tínhamos a praia da ilha do Mossulo, que apanhávamos um barco, era muito bonita…” (Matilde)

A Catarina viveu em duas cidades: Lobito e Silva Porto. Sobre o Lobito refere que “...é linda, ainda hoje é maravilhosa”. Em Silva Porto foi onde ela começou "...a endireitar mais, hã… situação. (…)Tava bem de vida. Quando rebentou o…o 25 de abril, foi quando a guerra maior rebentou, pronto, tivemos que fugir novamente". (Catarina)

O Carlos viveu em Luanda, Lobito e São Filipe de Benguela. "A cidade que eu mais gostei em Angola foi Benguela (...) estive como civil ao serviço do Estado. (…) Dois anos… (...) E onde o relacionamento humano foi a melhor coisa de que conheci em toda a minha vida".

A Leonor viveu primeiramente na Índia primeiro em Pangim, “O meu pai era diretor da cadeia de Pangim" (Leonor). Depois "... a cadeia foi transferida para Reis Magos". Em Goa e Puna viveu já depois de casar. Goa era muito "....viçosa… Com muitas lojinhas…. (…) com muitas coisas. (...) Depois havia aquela grande festa de ganês". Em Puna “…morávamos mesmo na cidade, (…) cheia de gente, muito viçosa, muita população, de todas as raças". (Leonor) Depois em Angola viveu em Luanda. Era "...uma vida muito boa. Alegre. Os angolanos são muito alegres".

O Miguel viveu em Lobito, Cabinda e Luanda. Passou a adolescência no Lobito, considera que Cabinda é a cidade mais maravilhosa de Angola, mas “…Luanda era a minha terra".

58 A Gisela viveu em Luanda e Nova Lisboa. Ela viveu em Luanda desde pequena e viu a cidade crescer. Passou pouco tempo em Nova Lisboa, dois anos, pois "...o meu marido foi transferido pra lá. (…) Depois viemos pra Luanda outra vez, e foi sempre".

A Matilde viveu em Luanda e refere que a cidade tinha "...tudo, pronto, aeroporto, tinha porto, tinha transportes, tinha…supermercados, tinha escolas, tinha igrejas, (...) tudo o que uma cidade tem".

Ao ler os depoimentos dos entrevistados pode-se observar que Angola estava desenvolvida, principalmente a capital, Luanda.

3.2.2.2 País

O Carlos deu uma visão interessante sobre Angola, afirmando que

Angola é um território imenso, com uma potencialidade extraordinária, hum, só que…ainda está muito atrasado em termos de exploração. (...) Angola é catorze vezes e meia, catorze vezes e meia maior que toda a dimensão aqui de Portugal. (…) Banhada pelos rios de grande porte, grande volume…deixámos lá uma rede…rodoviária, ferroviárias, portos, caminho-de-ferro, universidades, liceus… (…) Tudo aquilo ficou feito, quando fui para lá aquilo era uma coisa muito pequenina, não em território e dimensão, mas em estruturas e infraestruturas (...) O comércio funcionava (...) todas as noites, 24 horas, em várias zonas. (...) ...tinha mar fantástico. (...) Os salários eram baixos, contrariando a ideia de muita gente que Angola que era a árvore das patacas... (...) ...o que contava é que dava para sobreviver perfeitamente. (...) A pesca era abundante, a vida era muitíssimo barata. (...) Os salários eram baixos, contrariando a ideia de muita gente que Angola que era a árvore das patacas, que aquilo era, que o dinheiro caia quase das árvores não era verdade… (…) A função pública tinha salários baixos, o comércio também tinham relativamente baixos, o que contava é que dava para sobreviver perfeitamente.

59 Assim sendo, percebe-se em grande parte o porquê de Salazar ter enviado colonos e não querer dar independência às colónias. e, tal como já foi afirmado no ponto 1.2 (Características sócio-históricas do império colonial português) a pobreza e o desemprego que se faziam sentir em Portugal levaram a que muitos portugueses emigrassem. (Mónica, 1978) Pretendia-se também que Luanda fosse "...a capital civilizadora de um futuro império africano", (Cirne, 1998, p. 501) enquanto Portugal teve o império colonial Luanda foi sempre aumentando as suas infraestruturas e evoluindo.

3.2.2.3 Profissão apreendida

O Miguel começou a trabalhar muito cedo. "Aos treze anos. Já era cobrador de autocarros...". Depois com 15 foi trabalhar para um bar. Passado uns anos foi para a função pública. “Fui funcionário público 9 anos…fui bancário 14 anos”. (Miguel)

A Catarina quando casou abriu uma loja. “Vendia roupas e farinhas e peixe seco e óleos de palma e açúcares, vendia essas coisas todas. E vinhos e cervejas”. Depois abriu uma fábrica de chouriças e alheiras e mais tarde começou a trabalhar na restauração. Sempre foi uma mulher empreendedora, e naquela altura era raro ver mulheres a trabalhar.

O Carlos prestou "...serviço para o Estado português, governo português, durante 14 anos, efetivos, depois dediquei-me à atividade privada…”

A Gisela não foi trabalhar, ficou a ajudar a mãe. O pai dela,

...pôs-me no...(...) sítio onde ele trabalhava, pra eu ir aprendendo pra ver se me arranjava emprego, e tar lá comecei a tirar o curso de tipografia… (…) de escrever à máquina, ainda aprendi, mas aquilo era por concursos, depois a gente ficava admitida, mas quem estivesse lá já tinha mais possibilidades quando houvesse concurso de…de ser chamada aquela pessoa que estava lá a aprender. A minha mãe como queria ajuda, eu larguei isso e fui ajudar a minha mãe. (...) Havia uma senhora que queria que eu fosse aprender de costura, o meu pai não me deixou.

60 A Matilde ainda era nova quando saiu de Angola, tinha 11 anos e portanto não aprendeu lá nenhuma profissão e a Leonor não aprendeu nenhuma profissão mas procurou sempre trabalhar.

No século XX o papel da mulher começou gradualmente a mudar, sendo que o século XX é considerado, para as mulheres, como "...um século de conquistas e de grande visibilidade". (Mestre, 2004, p. 12) Apesar disso, nessa altura era normal as mulheres só estudarem até à 4º classe e depois de casarem ficarem em casa a tomar conta dos filhos, pois Salazar entendia que as mulheres deveriam ficar "...em casa a fim de educarem os seus filhos e de se consagrarem às tarefas domésticas". (Cova & Pinto, 1997, p. 72)

Documentos relacionados