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Ao longo desta dissertação pretendi compreender como é que tinha sido a vinda dos portugueses das ex-colónias para Portugal e como é que foi a relação deles com a cidadania social. Para tal, passo a explicitar quais eram os meus objetivos e se os atingi ou não:

1 – Aprofundar os conhecimentos sobre o Império Colonial português e a sua posição no sistema mundo durante o século XX.

Este objetivo foi cumprido através da elaboração do capítulo 1 da presente dissertação, onde foi feita pesquisa bibliográfica para tentar compreender as características sócio históricas de Portugal enquanto país semiperiférico e s características sócio históricas do império colonia português. Através de diversos autores pude compreender que Portugal, durante o período colonial, era visto como um país semiperiférico, eminentemente rural e com elevadas taxas de analfabetismo. Durante o Estado Novo o Salazar divulga Portugal como sendo uma potência colonial, sendo que a pobreza e o desemprego levou a que muitos portugueses emigrassem para as colónias. (Mónica, 1978)

2 – Aprofundar os conhecimentos sobre a descolonização e o processo de retorno das ex-colónias.

Este objetivo foi cumprido durante a pesquisa e elaboração do ponto 1.2, sobre as características sócio históricas do império colonial, onde foi abordado o retorno dos portugueses e o facto de as autoridades portuguesas não preverem a saída massiva dos portugueses das ex-colónias. Isso levou a que existissem vários movimentos de libertação de Angola, sendo que os mais conhecidos são a UNITA, (União Nacional para a Independência Total de Angola) o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e o FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola). Para os portugueses conseguirem voltar foram realizadas várias pontes aéreas, acontecimento que os entrevistados lembram-se bem.

80 3 – Compreender quais eram as medidas de política social existentes na época para a integração dos ex-colonos no Portugal democrático.

Este objetivo foi cumprido e percebeu-se que na altura, devido ao súbito aumento da população portuguesa foram criadas novas medidas para ajudar as pessoas que tinham vindo das ex-colónias. As duas primeiras medidas criadas foram dois núcleos de apoio a desalojados em 1974. Como eram cada vez mais pessoas a pedir ajuda foi então criado o IARN, (Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais) que ajudou nomeadamente três entrevistados. Uma das entrevistadas que provém da Índia não se referiu ao IARN mas sim a assistentes sociais que a ajudaram, o que pode estar relacionado com o CAAD, (Comissão Administrativa e de Assistência a Desalojados) que foi criada para resolver problemas e assuntos de pessoas que provinham do Estado Português da Índia.

4 – Compreender como é que foi a integração das pessoas que vieram das ex- colónias em Portugal e averiguar relações com a (re) construção da cidadania e da identidade.

Este objetivo foi cumprido, em grande parte, através das entrevistas realizadas. Os entrevistados falaram todos sobre a sua integração em Portugal, nomeadamente no bairro e como é que era a sua relação com as pessoas. Acabaram por deixar uma vida em Angola e recomeçarem uma nova vida, construindo uma nova identidade e cidadania, pois a pátria era-lhes desconhecida e não sentiam Portugal como sendo a terra deles.

5 – Explorar a abordagem biográfica como dispositivo chave para auxiliar o papel da educação social.

Esse objetivo foi cumprido, pois procurei apreender mais conhecimentos sobre as narrativas biográficas e as suas perceções para a educação social. Ficou talvez a faltar entrevistar uma educadora social que trabalhasse diretamente com uma medida de apoio da época, nomeadamente o IARN.

Após a revolução de 25 de abril de 1974 procurou alterar-se a cultura política do país, apresentando programas de educação que tinham objetivos expandir a cultura, fazer com que todos os cidadãos tivessem direito a uma educação e mais solidariedade entre os sectores urbanos e rurais.

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Dado que é neste período que se dá a vinda dos portugueses das ex-colónias para Portugal, procurei averiguar até que ponto as narrativas biográficas recolhidas se traduzem, ou não, esta abertura, solidariedade e espírito de inclusão e comunidade. E pude averiguar que de início isso não foi sentido pelos entrevistados. Sejam à chegada em Portugal, o terem ido para a aldeia ou para o bairro, o ser gozado na escola... nem os portugueses provenientes das ex-colónias estavam habituados a Portugal tal como os portugueses viram de repente chegar pessoas que lhes eram estranhas e ficarem a trabalhar com eles e fazerem parte da sociedade. Foi através dos relatos que tive acesso à memória histórica de cada um dos entrevistados e pude situar-se no tempo e no espaço em que se deram todos os acontecimentos.

A memória histórica permitiu portanto recuperar "...la verdad de lo sucedido...", (Monteagudo, 2009, p. 217) sendo que a memória coletiva promove "...el trabajo colectivo y la construcción del conocimiento a partir de situaciones, problemas y vivencias de gran significación social y personal". (Monteagudo, 2009, p. 217)

Os entrevistados tiveram várias transições ao longo da sua vida, sendo que a a maior de todas foi quando tiveram que vir de Angola para Portugal, que foi uma "...transição para uma realidade totalmente nova". (Arco & Fragoso, 2015, p. 72) A transição não é apenas um evento, pois pressupõe que exista uma auto-redefinação e uma reorganização na vida da pessoa, de forma a incorporar as mudanças que acontecem na sua vida. (Magalhães, 2011)

Como futuro tema de investigação gostaria de aprofundar mais a história de vida de cada um dos entrevistados, entrevistando os familiares deles. Gostaria também de entrevistar técnicos da área social que tenham trabalhado ou feito voluntariado no IARN. Considero que apesar de se abordar muito o tema do 25 de abril de 1974 fala-se muito pouco de como é que foi a vinda dos portugueses das ex-colónias e como foi feita a integração dos mesmos. Por último, gostaria também de entrevistar mais portugueses que tenham vivido na Índia e como é que foi feita a descolonização lá, tema que é pouco abordado na história portuguesa.

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