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3.6.1 – Arbitragem dos Preços do GNL

CAPÍTULO II DESENVOLVIMENTO DO MERCADO INTERNACIONAL DE GNL

II. 3.6.1 – Arbitragem dos Preços do GNL

Um importante fenômeno que vem surgindo com o desenvolvimento do comércio internacional de GNL é a arbitragem. Esta operação contribui para a redução do custo de transação na indústria de GNL, pois como a sua realização tende a igualar o preço da mercadoria nos mercados, o risco do preço nestes mercados tende a diminuir, reduzindo assim a incerteza em relação a volatilidade dos seus preços.

Segundo Holleaux (2007), dentro da indústria do GNL existem dois tipos de arbitragem: física e financeira. A arbitragem física corresponde à compra física do GNL em um mercado, para vendê-lo em outro com um maior preço. Esta operação pode ocorrer através de um contrato bilateral ou permitindo ao responsável pelo transporte do GNL total independência para vendê-lo no mercado no qual consiga maior retorno61. A arbitragem financeira consiste na compra de derivativos financeiros de GNL em um mercado, para depois vendê-lo em outro mercado por um maior valor.

A arbitragem do GNL ocorre dentro do seu comércio de curto prazo e spot, mas isso não quer dizer que todas as operações ocorridas dentro deste comércio sejam operações de

61 Cabe ressaltar que o lucro da venda do GNL deve cobrir os custos referentes ao seu transporte, pois estes podem

arbitragem. Operações no mercado de curto prazo e spot de GNL podem ser simplesmente uma transação de compra e venda desta commodity, sem nenhuma finalidade de arbitragem. Segundo Holleaux (2007), no ano de 2005, as importações de GNL no mercado de curto prazo e spot corresponderam a 13% de todo o comércio mundial de GNL, tendo um volume de 40 milhões m³. Enquanto as operações de arbitragem neste mesmo ano tiveram apenas cerca de um terço do volume comercializado do mercado de curto prazo e spot de GNL, e 4,3% do total do comércio mundial de GNL.

Em 2005, o mercado da Bacia do Atlântico possuía a maior parte da arbitragem internacional de GNL com cerca de 84%, enquanto o mercado da Bacia do Pacífico possuía cerca de 16%. Esta arbitragem ocorre no mercado da Bacia do Atlântico, principalmente envolvendo Trinidad e Tobago e Nigéria como ofertantes com EUA e a Europa (sobretudo a Espanha) como demandantes. Já no mercado da Bacia do Pacífico, os principais países que participam das operações de arbitragem são: a Austrália, como ofertante; e Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Índia, como demandantes.

Em relação à arbitragem entre os mercados das Bacias do Atlântico e do Pacífico, a falta de terminais de GNL no lado oeste do Pacífico tem reduzido significadamente esta operação. Não obstante, a arbitragem ainda pode ocorrer entre estes mercados pelo Oriente Médio que atua como ofertante para ambos os mercados. Países exportadores de GNL do Oriente Médio, como Qatar, Oman e Emirados Árabes, preferirão comercializar o seu GNL de curto prazo e spot no mercado no qual tiverem maior retorno, realizando assim, um mínimo de arbitragem entre estes mercados.

Tradicionalmente, a cláusula de take-or-pay nos contratos de longo prazo da indústria de GNL determinava que o demandante assumisse todo o risco do volume a ser contratado. Já no mercado de curto prazo e spot, em decorrência da arbitragem e do não uso da cláusula de take-or-

pay, o risco de volume passa a ser dividido entre os agentes (Mazighi, 2004).

Segundo Mazighi (2004) o risco de volume pode ser potencializado no mercado de curto prazo e spot em função da arbitragem. Para o demandante o risco é de não conseguir fornecimento de GNL. Pois devido à arbitragem, o fluxo de venda de GNL vai para a região que pagar mais por ele, deixando a região que esteja pagando pelo GNL um preço menor com a possibilidade de enfrentar uma falta deste combustível, a não ser que esta região também pague o GNL por um preço maior. Além disso, os ofertantes tendem a dar prioridade de fornecimento de GNL aos seus contratos de longo prazo, deixando o fornecimento desta commodity no mercado

spot em segundo plano. Sendo assim, havendo alguma contingência para o fornecimento de GNL

o mercado de spot será o primeiro a sentir a falta desta commodity. Já para o ofertante, o risco é de não conseguir monetizar as suas reservas de gás natural através do GNL. No mercado de curto prazo e spot sem contratos de longo prazo com cláusula de take-or-pay a venda do seu GNL não é garantida, o ofertante encontra-se em um ambiente mais competitivo onde o demandante pode substituir o fornecimento do GNL de um ofertante por outro que ofereça melhor preço.

Ainda segundo Mazighi (2004), o demandante de GNL pode mitigar o seu risco contratual de volume investindo em capacidade de armazenamento (seja ela através de GNL ou em cavernas naturais), utilizando o estoque de gás natural em momentos de pouca oferta e/ou alto preço do GNL. Assim, o demandante de GNL deve comparar as vantagens da flexibilidade oriunda do mercado de curto prazo e spot de GNL, com o custo da construção e operação de capacidade de

armazenamento, a fim de que tenha uma maior segurança na oferta de gás natural. Já os ofertantes, para minimizarem o seu risco de volume e preço no mercado de curto prazo e spot de GNL, terão que se tornar mais competitivo, diminuindo seus custos e preços. Além de buscar combinar as suas vendas de GNL com contratos de longo prazo, curto prazo e spot.