• Nenhum resultado encontrado

ARCABOUÇO JURÍDICO POLÍTICO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

No documento Promoção da saúde (páginas 42-47)

Muitos são os desafios no campo da saúde do adolescente, todavia, a sociedade tem se mobilizado nas últimas décadas a fim de se responsabilizar pela promoção da saúde desses.

A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida em Alma Ata em 1978, expressou a necessidade de fortalecer a comunidade mundial para promover a saúde de todos os povos, enfatizando que para sua realização seria necessária à participação de outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde, e entre os cuidados primários destacou a educação para problemas prevalentes de saúde, e métodos para sua prevenção, controle e promoção. Tal

conjunto de ações remetia para a proteção e cuidado à criança e ao adolescente (BRASIL, 2011b).

O movimento de proteção à criança e ao adolescente teve sua consolidação durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989, se adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, cujas resoluções foram seguidas pelo Brasil em 1990. Tal movimento representou uma mudança que inseriu a criança e o adolescente em um arcabouço jurídico-legal direcionado para o seu pleno desenvolvimento e que o reconhece como sujeito de direitos e não como objeto de intervenção do Estado. Tal situação permitiu uma ênfase para que se priorizassem as políticas públicas para a juventude, antes não realizadas (PENSO et al., 2013, BRASIL, 2011b).

Seguindo essa tendência mundial, a Constituição Brasileira de 1988 referendou entre os seus princípios norteadores, a existência dos Direitos Humanos.

Assim, o cumprimento das obrigações internacionais assumidas e o reordenamento dos marcos jurídico-institucionais aos critérios das Convenções Internacionais de Direitos Humanos tornaram-se exigências constitucionais. O art. 277 da Constituição Federal ressalta que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, saúde e educação (BRASIL, 1988).

Em 1990, foi sancionado o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069 que objetiva inserir o direito de crianças e adolescentes à vida e saúde, com a efetivação das políticas sociais públicas, que garantam proteção integral abrangendo as dimensões física, psíquica e moral, de acordo com as suas vulnerabilidades. Tais direitos foram estendidos aos adolescentes em conflito com a lei, que cumprem medidas socioeducativas (BRASIL, 1990b).

A Lei Orgânica da Assistência Social, sancionada em 1993, estabeleceu a proteção a crianças, adolescentes e jovens carentes, com o objetivo de promover ações, programas e políticas sociais, que fortaleçam estratégias intersetoriais que revertam para atenção integral à saúde de adolescentes. Tais estratégias devem preconizar o atendimento dos adolescentes e instrumentalizar gestores e as equipes de saúde para a redução da vulnerabilidade dos adolescentes, por um trabalho integral com participação da comunidade (PENSO et al., 2013; BRASIL, 2010b;

BRASIL, 1993).

A Constituição Federal (CF) garante o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde para sua promoção, proteção e recuperação, assim como estabelece que as ações e os serviços públicos de saúde constituem uma rede regionalizada de serviços de saúde, em conformidade com o SUS seguindo três princípios: descentralização, atendimento integral, participação da comunidade.

Quando se considera a abrangência do conceito de integralidade, tal como descrito acima, pode parecer uma contradição a definição transcrita no texto constitucional: atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais (BRASIL, 1988).

Mesmo diante desta deficiência, a partir da CF, várias iniciativas institucionais, legais e comunitárias fortaleceram o pleno direito a saúde, por meio das Leis Orgânicas da Saúde (Nº 8.080/90 e 8.142/90) e as Normas Operacionais Básicas (NOB) editadas em 1991, 1992, 1993 e 1996 (BRASIL 1990a; BRASIL 1990c, BRASIL1996).

As Leis Orgânicas da Saúde dispõem sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, organizando o funcionamento dos serviços, e participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio das conferências e conselhos de saúde.

No campo saúde, a NOB 1996, destaca-se entre as outras, pois aponta a garantia de participação da comunidade e da integralidade6 do cuidado. O usuário é reconhecido como protagonista nos processos de cuidado pelo profissional que necessita desenvolver uma relação dialógica com o usuário, em que a assistência dirigida às pessoas, individual ou coletivamente, pode ser prestada em outros espaços da comunidade, respeitando os princípios de universalidade e igualdade (BRASIL, 1996; BRASIL, 2011b).

Da mesma forma, o Pacto pela Vida, de 2006, destacou a “Promoção da Saúde como uma das ações que devem ser priorizadas, tanto nos âmbitos

6O conceito de integralidade é um dos pilares a sustentar a criação do Sistema Único de Saúde.

Princípio consagrado pela Constituição de 1988, seu cumprimento pode contribuir muito para garantir a qualidade da atenção à saúde, prevê-se nesse conceito que, de forma articulada, sejam ofertadas ações de promoção da saúde, prevenção dos fatores de risco, assistência aos danos e reabilitação – segundo a dinâmica do processo saúde-doença (BRASIL, 1988).

Originalmente, a ideia de integralidade surge com a proposta da Medicina Integral ou Comprehensive Medicine. Assim, a Medicina Integral seria capaz de articular as ações de promoção, proteção, diagnóstico precoce, limitação do dano e reabilitação (PAIM, 2006).

municipais, regional e nacional” (BRASIL, 2006a, p.13). Assim, a Política Nacional de Promoção de Saúde compreende a:

"promoção de saúde, como uma das estratégias de produção de saúde, ou seja, como um modo de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no Sistema de Saúde Brasileiro, contribuem na construção de ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde (BRASIL, 2010b, p 10-1).

Assim, a PS apresenta-se como um mecanismo de fortalecimento e implantação de uma política transversal, integrada e intersetorial, que faça dialogar as áreas da saúde, os outros setores do governo, sociedade, compondo redes de compromisso e corresponsabilidade quanto à qualidade de vida da população em que todos sejam partícipes na proteção e no cuidado com a vida (BRASIL, 2010b).

Com o objetivo de reorientar as ações de Saúde, a Política Nacional de Atenção Básica definiu cinco principais fundamentos e diretrizes: território7 adstrito8 com planejamento e programação descentralizada, acesso universal e contínuo aos serviços de saúde como porta de entrada aberta e preferencial da rede de atenção, adscrever os usuários com vínculo e responsabilização entre equipes e população objetivando ser referência para o cuidado, coordenar a integralidade, e estimular a participação do usuário como forma de ampliar sua autonomia e capacidade de construção do cuidado à sua saúde, e trazendo entre as dimensões o controle social (BRASIL, 2012a).

Assim, na perspectiva da AB, foi publicado o manual técnico denominado

“Marco legal: saúde, um direito de adolescentes” com a finalidade de instrumentalizar profissionais de saúde, gestores, órgãos e instituições que atuam na área da Saúde do Adolescente, para o processo de tomada de decisões, para a

7 Na medida em que o conceito de território ou de espaço transcende a sua condição física ou natural e recupera o seu caráter histórico e social, o estudo das condições de vida segundo a inserção espacial dos grupos humanos no território tende a ser uma alternativa teórico-metodológica para a análise das necessidades e das desigualdades sociais da saúde (PAIM, 1997 p. 11).

8A Política Nacional da Atenção Básica, estabelecida pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, coloca como fundamento básico a existência de um território adstrito. A “(...) adscrição dos usuários é um processo de vinculação de pessoas e/ou grupos a profissionais, como o objetivo de ser referência para o seu cuidado” Tal adscrição seria a base para o processo de trabalho e elemento base para o planejamento, a programação e o desenvolvimento de ações que tivessem impacto na situação de saúde da coletividade (BRASIL, 2011 p 20).

elaboração de políticas públicas e para o processo assistencial dos serviços de saúde de forma sistematizada, organizada e planejada. Tal política permite que os direitos dos adolescentes sejam amplamente divulgados e discutidos pela sociedade, preconizando ações preventivas de forma integrada com famílias, escolas e comunidades próximas dos adolescentes com a finalidade de promover sua saúde (BRASIL, 2007b).

O Ministério da Saúde propõe diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde com a finalidade de “nortear ações, integradas às outras políticas sanitárias, ações e programas já existentes no SUS, frente aos desafios que a presente situação de saúde das pessoas jovens evidencia” e indicando alternativas para o trabalho intersetorial, para alterar a situação de vulnerabilidade que os adolescentes estão expostos (BRASIL, 2010a p.11).

Diante de um panorama que conjectura ações de promoção integral a saúde do adolescente, as diretrizes recomendam sete temas estruturantes para atenção integral á saúde de adolescentes e de jovens: participação juvenil, igualdade de gêneros, diretrizes sexuais e direitos reprodutivos, projeto de vida, cultura da paz, ética e cidadania, igualdade racial e étnica (BRASIL, 2010a). As mesmas diretrizes propõem aspectos metodológicos para serem desenvolvidos com os adolescentes que estimulem o fortalecimento da promoção da saúde a ser realizado na estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) como na ESF, por meio de ações para o cuidado integral á saúde de adolescentes e de jovens. (PENSO et al., 2013; BRASIL, 2010b).

Silva et al., (2013) referem ser percebível a necessidade da consolidação de políticas públicas de saúde para adolescentes no Brasil, que ultrapassem as normas escritas e sejam efetivadas na prática da atenção aos adolescentes, valorizando a intersetorialidade. Nesta perspectiva, várias parcerias entre as políticas públicas precisam ser efetivadas, entre elas o Programa de Saúde na Escola (PSE).

Na demarcação das fronteiras de ação para o atendimento da criança e do adolescente, o ECA estabeleceu políticas e programas de assistência social, motivando o fortalecimento e ampliação de benefícios assistenciais e políticas compensatórias como estratégia para a diminuição dos riscos e agravos de saúde dos jovens. Portanto, sendo este novo marco que deve nortear as políticas nacionais de atenção à saúde dos adolescentes no SUS.

Todavia, segundo Cohn (2013) a tradição política brasileira é de um Estado nacional altamente centralizado e associado a políticas de saúde verticalizadas que são delegadas aos municípios para execução. Assim, essas legislações possuem um traço comum: a descentralização política e administrativa, com ênfase nos municípios, e a participação da sociedade na formulação das políticas. Esse novo marco conceitual e legal possibilita uma melhor articulação institucional, e o desenvolvimento de programas e ações que deem conta da realidade local, sem perder de vista a proposta nacional (BRASIL, 2010a).

A políticas de saúde, tanto na sua formulação quanto na sua implementação, se configuram como processos complexos de interesses múltiplos presentes na sociedade em geral, de interesses de representações sobre as necessidades de saúde da população, ou de seus distintos segmentos socioeconômicas, e em particular no tocante a qualidade de vida da população adequada à manutenção das condições de saúde dessa população (COHN, 2013).

No documento Promoção da saúde (páginas 42-47)

Documentos relacionados