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Descrito pela primeira vez no início dos anos 1960, na região do médio vale do Rio Doce, o Tonalito Galiléia representou um marco na descoberta de um arco magmático de margem de placa no sistema orogênico Araçuaí-Ribeira. Barbosa et al. (1964) caracterizaram-no como um batólito composto principalmente por tonalitos foliados com comum ocorrência de enclaves melanocráticos. Estudos geoquímicos, geocronológicos e isotópicos de detalhe confirmaram, posteriormente, a natureza pré-colisional e cálcio-alcalina do batólito Galiléia, conduzindo Nalini Jr. (1997) a interpretá- lo como um arco vulcânico formado em uma margem de placa continental, em torno de 595 Ma. A designação Arco Rio Doce foi empregada, pela primeira vez, por Figueiredo & Campos-Neto (1993) no estudo de plutons cálcio-alcalinos encontrados na região limítrofe entre os orógenos Araçuaí e Ribeira (entre os paralelos 20º e 22º S). Estes plutons correspondem a rochas tonalíticas e enderbíticas, sendo que as últimas, de caráter peraluminoso, tem sido atualmente entendidas como resultado de

fusão parcial de rochas metasedimentares na região (De Campos et al. 2004, Bento dos Santos et al. 2011, Gradim et al. 2004, Tedeschi et al. 2015).

Após os trabalhos pioneiros de Barbosa e colaboradores, mapeamento sistemático em áreas do Orógeno Araçuaí-Ribeira (e.g., Pinto et al. 2000, Pedrosa-Soares et al. 2003, Heilbron et al. 2007, Paes et al. 2010), identificou inúmeros plutons cálcio-alcalinos, e aqueles cuja natureza aponta para uma assinatura de arco vulcânico, foram agrupados na Supersuite G1 (Pedrosa-Soares et al. 2001, 2011, Gonçalves et al. 2014, Tedeschi et al. 2015). Recentemente, plutons tonalíticos e gabróicos expostos no segmento norte do Orógeno Ribeira foram correlacionados à Supersuite G1 (Figueiredo 2009, Novo 2013, Heilbron et al. 2013, Corrales 2015), sendo que alguns desses já haviam sido atribuidos ao Arco Rio Doce por Figueiredo & Campos-Neto (1993).

Compilando os dados até aqui disponíveis, Tedeschi et al. (2015) divide o Arco Rio Doce em três segmentos, quais sejam: norte, entre as cidades de Rio do Prado e Teófilo Otoni; central, entre as cidades de Teófilo Otoni e Manhuaçu; e sul, entre as cidades de Manhuaçu (MG) e aproximadamente Cantagalo (RJ). Ao longo destes segmentos, a Supersuite G1 que caracteriza a sua porção plutônica, dispõe agora de um amplo acervo de dados petrográficos, químicos, geocronológicos e isotópicos, obtidos por meio de trabalhos de mapeamento de vários grupos de pesquisadores ao longo das últimas décadas. Tal como descrita na literatura, a Supersuite G1 é entendida como formada por suites, batólitos e stocks de composição predominante tonalítica a granodiorítica (Pedrosa-Soares et al. 2011, Gonçalves et al. 2014, Tedeschi et al. 2015). Comumente, as rochas G1 são portadoras de enclaves e fácies máficas e dioríticas. Em menor proporção, ocorrem plutons máficos a intermediários ricos em fácies gabróicas a enderbíticas (Novo et al. 2010, Gonçalves et al. 2014, Tedeschi et al. 2015).

Regionalmente, as rochas da Supersuite G1 mostram clara evidência de deformação dúctil, embora feições ígneas bem preservadas sejam localmente observadas (Nalini Jr. et al. 2000, 2005, Pedrosa-Soares et al. 2011). Quimicamente, a supersuite apresenta características similares a uma série cálcio-alcalina de médio a alto-K, predominantemente magnesiana, metaluminosa a levemente peraluminosa, do tipo I (Pedrosa-Soares et al. 2011, Gonçalves et al. 2014, 2015, Tedeschi et al. 2015). Os dados isotópicos de Sm-Nd e Rb-Sr obtidos em rocha total, combinados com os recentes dados Lu-Hf de zircão (Gonçalves et al. 2015, Tedeschi et al. 2015) evidenciam claramente a contribuição de material crustal na gênese do Arco Rio Doce, como é esperado para o caso de arcos continentais. Além disso, o acervo de idades U-Pb em zircão de aproximadamente 45 amostras de plutons G1 registram a idade de cristalização de componentes do Arco Magmático Rio Doce entre ca. 630 e 580 Ma (Nalini Jr. 1997, Pedrosa-Soares et al. 2011, Gonçalves et al. 2014, 2015, Tedeschi et

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2.1.5 – A zona de sutura do Orógeno Araçuaí

A “Descontinuidade Geofísica de Abre Campo”, hoje entendida como Zona de Cisalhamento de Abre Campo (ZCAC), foi inicialmente observada por Haralyi & Hasui (1982) quando do estudo das anomalias gravimétricas e magnéticas associadas, presentes no leste do Brasil. Por meio de mapas e perfis Bouguer, com base nos dados gravimétricos disponívies, esses autores chamaram a atenção para as anomalias regionais, na tentativa de contribuir para a história geológica arqueana e proterozóica do leste do país. Mais tarde, Fischel (1998), com base em informações de campo e dados isotópicos Sm-Nd, do Complexo Mantiqueira e do Cinturão Ribeira na região de Abre Campo - MG, observou que: a oeste da ZCAC, no domínio do Complexo Mantiqueira, as condições metamórficas operantes atingiram fácies anfibolito, ao passo que a leste da ZCAC, no domínio do Cinturão Ribeira, as condições metamórficas vigentes atingiram fácies granulito. Peres et al. (2004) ao estudar a ZCAC sob o ponto de vista estrutural, entre as cidades de Governador Valadares, ao norte, e Juiz de Fora, ao sul, notaram que, no interior da ZCAC, domínios com foliação de alto ângulo gradam progressivamente para domínios de ângulos intermediários a baixos, com mergulho para leste. Os indicadores cinemáticos, essencialmente de caráter dúctil, exibem sentido de cisalhamento predominantemente dextral, embora indicadores de sentido sinistral possam ser observados. Recentemente, Silva (2010), ao estudar o sistema transcorrente da porção sudeste do Orogéno Araçuaí e norte da Faixa Ribeira, demonstrou que a ZCAC constitui-se de três ramos principais, de forma sigmoidal. O ramo mediano que passa pela cidade de Abre Campo e os ramos oeste e leste que passam pelas cidades de Ervália e Matipó, respectivamente, totalizam em seu conjunto uma largura média de 20 km e extensão de 350 km. Além disso, Silva (2010) dividiu a ZCAC em três segmentos, quais sejam: norte, central e sul. O arcabouço estrutural presente nesses segmentos indica que ocorreu movimentação reversa e dirigida para oeste no segmento norte, oblíqua reversa-dextral no segmento central e essencialmente transcorrente dextral no segmento sul. O referido autor demonstra ainda que a direção geral da ZCAC é NS, com deflexões para NE em seus extremos norte e sul nos domínios do Orógeno Araçuaí, adquirindo direção NE-SW pelo interior do Orógeno Ribeira, onde é conhecida como Zona de Cisalhamento Juiz de Fora-Jaguari-Taxaquara.

A ZCAC marca uma mudança substancial nas características das porções internas (núcleo cristalino) do Orógeno Araçuaí. As datações obtidas (idades modelo Sm-Nd) por Fischel (1998) indicam que a oeste dessa estrutura o substrato é de idade arqueana/paleoproterozóica (o Complexo Mantiqueira) e a leste da mesma tem-se substrato de idades paleoproterozóica (o Complexo Juiz de Fora) e neoproterozóica (o Complexo Paraíba do Sul e a Supersuite G1 – arco magmático do Orógeno Araçuaí). Dessa forma, a ZCAC é interpretada como uma zona de sutura não só paleoproterozóica, por separar terrenos do embasamento, mas, também como uma zona de sutura neoproterozóica por limitar, em todo seu traçado oeste, a ocorrência dos granitóides pré-colisionais da Supersuite G1.

Os dados disponíveis até bem pouco tempo atrás mostravam que a Zona de Cisalhamento de Abre Campo tinha a sua ocorrência limitada a norte na altura do paralelo 17º 20’ S, nas proximidades da cidade de Teófilo Otoni, em Minas Gerais (Fig. 1.2). Desta região, estende-se para sul até a zona de transição com a Faixa Ribeira, que se dá na altura do paralelo 21º S. Dados mais recentemente obtidos indicam porém, que: i) partindo da região de Teófilo Otoni, um grande lineamento de orientação NE- SW, aqui interpretado como extensão da ZCAC, tem continuidade em direção a nordeste por pelo menos 100 km, atingindo assim o município de Águas Formosas; ii) ocorrências de corpos tonalíticos e granodioríticos da Supersuite G1 (pré-colisional), também persistem na mesma direção e também são observados nas proximidades do município de Rio do Prado. Por esta razão, escolheu-se como uma das áreas principais a serem enfocadas no presente estudo a região compreendida entre Teófilo Otoni e Rio do Prado, como indicado na figura 1.2.

A SUPERSUITE G1 ENTRE MANHUAÇU E TEÓFILO OTONI:

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