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A SUPERSUITE G1 ENTRE TEÓFILO OTONI E RIO DO PRADO: A TERMINAÇÃO INTRACONTINENTAL DO ARCO RIO DOCE

4.1 – PANORAMA GEOLÓGICO REGIONAL

A área de estudo compreendida entre as cidades de Teófilo Otoni e Rio do Prado, em Minas Gerais, está inserida na porção nordeste do núcleo cristalino do Orógeno Araçuaí (Alkmim et al. 2006, 2007, Pedrosa-Soares et al. 2011) (Anexo I). O núcleo do Orógeno Araçuaí é constituído por rochas metamórficas de alto grau e um conjunto de supersuites graníticas Ediacaranas a Cambrianas, que marcam desde o estágio pre-colisional (Supersuite G1) até o colapso gravitacional (supersuites G4 e G5) do referido orógeno. Particularmente, na área estudada, as unidades aflorantes são as seguintes:

- o Complexo Jequitinhonha; - o Grupo Rio Doce;

- a Supersuite G1;

- além das supersuites G2, G3 e G5.

O Complexo Jequitinhonha constitui uma das unidades de maior abrangência do domínio interno do Orógeno Araçuaí e está localizado no extremo nordeste da área de trabalho (Anexo I). Este complexo representa a unidade mais antiga exposta na área e é formado por granada-biotita gnaisses, kinzigitos, quartzitos, gnaisses ricos em grafita, mármore e rochas meta-máficas (Almeida & Litwinski 1984, Paes et al. 2010, Gonçalves-Dias et al. 2011, Gonçalves-Dias 2012). Uma característica marcante das rochas deste complexo é a ocorrência de feições migmatíticas, estas observadas principalmente nos paragnaisses (Fig. 4.1a).

Determinações de idades U-Pb em zircões detríticos de quartzitos intercalados nos paragnaisses revelaram seis fontes principais (Fig. 4.1b) para os protólitos desta unidade (Gonçalves- Dias et al. 2011, Gonçalves-Dias 2012). A população de zircões com idades médias de 2541 ± 8 Ma (6% dos valores) e 2044 ± 6 Ma (28%) sugerem que as rochas do embasamento do Paleocontinente São Francisco-Congo (e.g., Teixeira et al. 2000, Barbosa & Sabaté 2004, Noce et al. 2007) sejam as prováveis rochas fonte. Por outro lado, grãos de zircões detríticos com idades médias de 1819 ± 6 Ma (18%), 1487 ± 5 Ma (9%), e 1219 ± 3 Ma (24% dos valores) apontam para uma contribuição advinda de fontes magmáticas associadas ao sistema de riftes intracontinentais representado pelo Aulacógeno do Paramirim e Espinhaço Meridional (e.g., Babinski et al. 1999, Danderfer et al. 2009, Chemale Jr.

Figura 4.1 – a) Paragnaisse migmatizado pertencente ao Complexo Jequitinhonha. Nota-se que o leucossoma encontra-se fortemente dobrado. b) Histograma de frequência, curva de probabilidade, em vermelho, e diagrama concórdia, canto superior direito, obtidos por meio de datação U-Pb (LA-ICP-MS) de zircões detríticos extraídos de quartzito intercalado em paragnaisse do Complexo Jequitinhonha (extraído de Gonçalves-Dias et al. 2011).

et al. 2011), embora tais idades possam também refletir a erosão de rochas do cinturão Kibaride,

relacionado ao Cráton do Congo (e.g., Kokonyangi et al. 2006). A população de zircões mais jovens com idade média de 956 ± 4 Ma (14% dos valores) sugerem que as fontes poderiam estar ligadas à erosão de rochas magmáticas expostas no sistema de riftes Noqui-Zadiniano-Mayumbiano, do cinturão Congo Ocidental (Tack et al. 2001), ou à erosão de rochas da Suite Salto da Divisa, localizada no Orógeno Araçuaí (Silva et al. 2008). A idade máxima de deposição para os protólitos do Complexo Jequitinhonha é de 898 ± 8 Ma (Gonçalves-Dias et al. 2011), sendo tal complexo interpretado como equivalente de alto grau da unidade tipo do Orógeno Araçuaí, o Grupo Macaúbas (Pedrosa-Soares et

al. 2008, Gonçalves-Dias et al. 2011).

O Grupo Rio Doce ocorre na porção sudoeste da área estudada (Anexo I) e é constituido por xistos pelíticos, quartzitos, orto- e para-gnaisses e meta-grauvacas. Este grupo contém ainda rochas dacíticas e riolíticas, expostas nas proximidades da cidade de Governador Valadares, cujas idades de cristalização estão em torno de 585 Ma (Vieira 2007, Gonçalves et al. 2010, 2014). A idade máxima de deposição das rochas deste grupo, estimada por meio de zircões detríticos extraídos de xistos e meta-grauvacas, é de 594 ± 3 Ma (Vieira 2007). Observações de campo, combinadas com estudos petrográficos, conduziram Vieira (2007), Pedrosa-Soares et al. (2011) e Gonçalves et al. (2010, 2014) a interpretar as rochas vulcânicas desta unidade como equivalentes às rochas G1 e o grupo, como um todo, como a sucessão de cobertura Neoproterozóica do arco magmático Rio Doce.

A Supersuite G1 encontra-se amplamente distribuída pela área de estudo (Anexo I) e é formada por pequenos plutons (até ~ 5 Km2) e stocks (~ 80 Km2). Os principais plutons, localmente conhecidos como Rancho Alegre, Felizburgo, Pedra do Sino, Bom Jesus da Vitória, São Vítor e Topázio (Paes et al. 2010, Gonçalves et al. 2013), consistem de tonalitos (e seus equivalentes ricos em ortopiroxênio), granodioritos e em menor quantidade de monzogranitos. Trata-se de rochas essencialmente peraluminosas (com índice de saturação em alumínio, ASI, em média igual a 1,07),

que envolvem fácies cálcicas (68 %), cálcio-alcalinas (24 %) e alcali-cálcicas (8 %), localmente portadoras de titanita e granada, mas comumente livres de hornblenda. As rochas G1, nesta região, são isotrópicas a foliadas, com ocorrência local de feições migmatíticas (Fig. 4.2a), e hospedeiras de enclaves meta-ígneos e meta-sedimentares, sendo os últimos mais frequentemente observados. Para maiores detalhes dos atributos dos granitóides pertencentes à terminação intracontinental do arco magmático Rio Doce vide a seção 4.3 a seguir.

A Supersuite G2 ocorre na forma de plutons isolados e batólitos, principalmente nas porções central e sul da área de estudo (Anexo I), onde biotita-cordierita-granada-silimanita granitos foliados (Fig. 4.2b), são as rochas dominantes desta unidade (Paes et al. 2010, Gradim et al. 2014). Constituída essencialmente de granitos do tipo S, a Supersuite G2 possui idades de cristalização U-Pb obtidas em zircão entre 590 e 545 Ma (Nalini Jr. et al. 2000, Pedrosa-Soares & Wiedemann-Leonardos 2000, Pedrosa-Soares et al. 2011, Gradim et al. 2014). Neste intervalo teve lugar a principal fase de deformação e metamorfismo, até o momento, registrados no Orógeno Araçuaí (Silva et al. 2002, 2011, Alkmim et al. 2006, Pedrosa-Soares et al. 2011, Cavalcante et al. 2013, 2014, Gonçalves et al. 2014, Gradim et al. 2014, Uhlein et al. 2014, Peixoto et al. 2015).

Comumente associada com rochas da Supersuite G2, a Supersuite G3 é constituida por corpos isotrópicos de granada-cordierita-silimanita leucogranitos (Fig 4.2c). Essencialmente formada por granitos do tipo S, as rochas G3 não foram individualizados na área estudada, devido à limitações na escala de mapeamento. A cristalização magmática dos plutons G3, tal como indicam idades U-Pb em zircão, fica situada entre 545 e 530 Ma, que corresponde ao intervalo de idades do magmatismo tardi- colisional do Orógeno Araçuaí (Pedrosa-Soares et al. 2011, Gradim et al. 2014).

A Supersuite G5 encontra-se amplamente distribuída na área de estudo na forma de pequenos plutons ou batólitos (Anexo I), e consiste de monzogranitos, sienogranitos e charnoquitos não foliados (Fig. 4.2d). Localmente, estes granitóides mostram uma foliação restrita a zonas próximas ou mesmo no contato com as unidades mais antigas. Idades U-Pb em zircão obtidas neste trabalho, combinadas com dados da literatura, mostram que a cristalização dos granitos G5, que são essencialmente do tipo I, estão entre 530 e 480 Ma (e.g., De Campos et al. 2004, Pedrosa-Soares et al. 2011). As rochas G5, por seu turno, são interpretadas como o produto do magmatismo pós-colisional e tem sido relacionadas ao evento do colapso gravitacional do Orógeno Araçuaí (Alkmim et al. 2006, Pedrosa- Soares et al. 2011).

Figura 4.2 – a) Granitóide pertencente a Supersuite G1 com feições típicas de migmatização. Importante observar que o leucossoma encontra-se dobrado (amostra LG34, Anexo I). b) Aspectos macroscópicos de granitóides pertencentes a Supersuite G2. Do lado esquerdo, nota-se a ocorrência de granada, pontos avermelhados/rosados, e de cordierita, grumos escuros na parte inferior da figura (amostra LG149, Anexo I). No lado direito, tem-se a ocorrência de cordierita, pontos escuros disformes distribuídos pela amostra (amostra LG389, Anexo I). Ambas as amostras estão foliadas, sendo a foliação definida pela orientação preferencial do alinhamento dos cristais de biotita. c) Leucogranito pertencente a Supersuite G3 rico em granada, pontos rosados, e cordierita, grumos escuros dispostos na parte inferior da imagem (amostra LG163, Anexo I). No canto superior direito, tem-se um detalhe de granada, porções avermelhadas, e cordierita, ponto escuro no centro da imagem, próximo à granada, da amostra LG389 (Anexo I). d) Granitóide de tonalidade esverdeada rico em ortopiroxênio, característica típica das rochas pertencentes a Supersuite G5 (amostra LG220, Anexo I).

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