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Argumentação e suas sete características principais

5 ARGUMENTAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO MATEMÁTICA

5.1 Argumentação

5.1.2 Argumentação e suas sete características principais

De acordo com Eemeren, Grootendorst e Kruiger (1987), o significado de argumentação é composto por sete características: “é uma atividade social, intelectual e verbal que serve para justificar ou refutar uma opinião, composta por um conjunto de declarações e direcionada para a obtenção da aprovação de uma audiência.15” (p.7). Cada uma dessas características é necessária para essa composição e a reunião delas se torna uma condição suficiente para se falar em argumentação, mesmo havendo outras características.

A argumentação é considerada uma atividade social para esses autores. Ela pode estar presente em uma discussão entre duas ou mais pessoas, na qual cada uma delas apresenta argumentos. Também é considerada argumentação quando uma pessoa delibera consigo mesma, pensando em argumentos prós e contras. Mas a argumentação é mais bem percebida quando há interação entre duas ou mais pessoas que podem reagir a cada argumento apresentado por um interlocutor que participa da discussão.

Ao argumentar, uma pessoa funda seus argumentos em seu pensamento, agindo de forma consciente e levando em consideração a razão. Não há espaço para impulsos ou reflexos inconscientes. Assim, para Eemeren, Grootendorst e Kruiger (1987), a argumentação é uma atividade intelectual.

Segundo esses autores, a argumentação não ocorre sem o uso da linguagem, sendo assim, ela é considerada uma atividade verbal. Uma pessoa defende uma opinião, nega alguma afirmação ou faz uma declaração por meio de palavras que podem ser expressas na

15

Tradução de: “is a social, intellectual, verbal activity serving to justify or refute an opinion, consisting of a

constellation of statements and directed towards obtaining the approbation of an audience.” (EEMEREN;

63 forma oral ou escrita, em linguagem coloquial ou formal, que fazem parte da lógica e da matemática. Meios não-verbais também podem fazer parte de uma argumentação, por exemplo, os gestos. Todavia, eles não podem substituir completamente o uso da linguagem verbal.

Uma argumentação pode ser iniciada por discordância de opiniões. Uma pessoa, ao expressar sua opinião sobre determinado assunto, pode provocar a interação com uma segunda pessoa, que pode discordar da opinião dada, tendo dúvidas a respeito da coerência dela, ou tendo uma opinião contrária.

Assim, de acordo com Eemeren, Grootendorst e Kruiger (1987), o tema da argumentação é a disputa de opiniões, visto que ela é uma questão de opiniões. Contudo, o ato de expressar uma opinião não tem um significado limitante em relação à argumentação. Uma pessoa que defende uma opinião ou expressa uma opinião contrária, expõe a sua concepção sobre um determinado assunto, ou seja, ela realmente acredita no que fala e se compromete com sua ideia.

Por isso, o principal intuito da argumentação é resolver conflitos de opiniões. Segundo esses autores, a argumentação é voltada para a justificação ou refutação de opiniões, ou seja, a defesa de uma opinião tem o sentido de justificar a ideia proposta e o ataque a uma opinião tem o sentido de refutá-la. Essas duas atividades não acontecem de forma independente, elas podem estar ambas presentes em uma mesma discussão entre duas ou mais pessoas que discordam sobre um determinado ponto de vista.

Para Eemeren, Grootendorst e Kruiger (1987), a argumentação é composta por um conjunto de declarações, por meio das quais uma pessoa tenta justificar ou refutar uma opinião. Os argumentos utilizados a favor de uma opinião são chamados pró-argumentos e argumentos utilizados contra uma opinião são chamados de contra-argumentos.

Um argumento pode ser composto unicamente de pró-argumentos a favor de uma única opinião ou de contra-argumentos que atacam uma mesma opinião. Quando isso acontece, Eemeren, Grootendorst e Kruiger (1987) os classificam como argumentação simples. Se argumentos simples formam uma cadeia de argumentos relacionados para reforçar uma mesma opinião, eles são classificados por esses autores como argumentação composta.

Quem argumenta a favor ou contra uma opinião tem como objetivo convencer a quem está argumentando e a audiência que está envolvida nesta discussão. O argumentador espera que a audiência aprove seus argumentos, fazendo uma avaliação racional deles, sem apelar para tradições, preconceitos ou emoções. Esses elementos podem fazer parte de uma

64 avaliação dos argumentos, mas não podem ser os únicos critérios da avaliação. Portanto, de acordo com Eemeren, Grootendorst e Kruiger (1987), a argumentação tem por objetivo obter a aprovação de uma audiência.

De acordo com Velasco (2010), a argumentação possui as seguintes propriedades: 1) Os argumentos são compostos por um conjunto de sentenças que declaram alguma

informação sobre o mundo;

2) As sentenças que constituem o argumento devem ser encadeadas, ou seja, devem estar relacionadas entre si;

3) As sentenças que são premissas em um argumento podem constituir uma conclusão em outro argumento e vice versa, ou seja, não são considerados termos absolutos; 4) A conclusão pode ser encontrada em qualquer uma das sentenças que constituem o

argumento, não é necessário que seja a última sentença;

5) Um argumento não pode ser um conjunto vazio de sentenças declarativas; 6) Um argumento é composto por um conjunto finito de sentenças declarativas.

A negação e a proibição podem fazer parte da composição de um argumento, mas Charaudeau (2008) destaca que esses termos não devem ser chamados de argumentação, pois eles podem existir de forma autônoma. Em uma negação, o interlocutor apenas rejeita uma afirmação, enquanto que na refutação, que é um movimento argumentativo, uma afirmação é demonstrada como falsa. Já em uma proibição, o interlocutor impõe ao outro um determinado comportamento.

Para esse autor, a argumentação pode ser apresentada sob três formas: a dialógica, na qual ocorre uma interlocução, a escrita ou a oratória, na qual a argumentação ocorre de maneira monolocutiva, ou seja, uma pessoa controla o discurso, como em uma palestra.

Para identificar e analisar um argumento proveniente de qualquer uma dessas três formas, é possível utilizar o modelo de Toulmin (2006). Assim, faz-se necessária sua apresentação e caracterização a partir de agora.