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Este argumento é corroborado por Paul Krugman, em matéria veiculada pelo jornal The New York Times, em 18 de janeiro de 2008, publicado em versão traduzida na seqüência para Folha de

CAPÍTULO I: MUNDIALIZAÇÃO FINANCEIRA, CRISES E CAPITAL FICTÍCIO.

I.2 CRISE DE 1929 E O AFROUXAMENTO MONETÁRIO.

I.2.4 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.

84 Este argumento é corroborado por Paul Krugman, em matéria veiculada pelo jornal The New York Times, em 18 de janeiro de 2008, publicado em versão traduzida na seqüência para Folha de

São Paulo, de 19 de janeiro de 2008. O autor afirma que a economia norte-americana é a “bola da vez”, ou seja, aquela que é o mais recente alvo de uma recessão gestada sob a égide do capitalismo financeiro. Os Estados Unidos passam assim a desempenhar papel até então performado exclusivamente por países do terceiro mundo, logicamente atenuado pela condição inerente à economia americana enquanto a maior do mundo e do lugar do dólar, fundo de reserva internacional (o que o resguarda de uma explosão da dívida mobiliária por ser a mesma denominada na moeda nacional). Krugman indica como causa para a crise gerada a partir do rompimento da bolha especulativa no mercado imobiliário a incompatibilidade entre uma sofisticação crescente no mercado financeiro norte americano e a estrutura responsável pela regulamentação do setor. A institucionalidade encarregada de proteger a economia americana de crises passou a ser insuficiente perante esta sofisticação, sobretudo no contexto de dependência do capital financeiro ao qual passou a estar submetida à economia estadunidense. Para acessar a íntegra da matéria na versão original, veja: http://www.nytimes.com/2008/01/18/opinion/18krugman.html?_r=1&oref=slogin.

da crise, a sobre-acumulação observada no setor industrial; provocando, a partir da percepção da possível desvalorização de ativos, um movimento auto-realizável com o irromper da crise, que contamina todo o ambiente econômico. Neste episódio, ratificando o que fora dito até aqui, a emergência de um mercado secundário de capitais organizado, dinamizado, corroborou para que um desajuste na cadeia produtiva fosse inflado, ampliando muito as conseqüências desse feito; mercado este reforçado pela nova forma de propriedade capitalista. Se, por um lado, o fracionamento da propriedade dos fatores de produção foi decisivo no processo de incremento industrial e capitalista, por outro, propiciou a especulação, reforçando um processo de reajuste desestabilizador e, sobretudo, toldou o horizonte do investimento social produtivo, a partir da diluição dos riscos inerentes (incerteza), possível pela criação da liquidez proporcionada pela negociação em bolsa de valores.

Já no caso das crises dos anos 1990, este capital encontra-se infinitamente mais denso do que em 1929. (VER GRÁFICOS 1.1, 1.2 E TABELA 1.1). A reestruturação da propriedade capitalista da segunda metade do século 20, já amadurecida na década de 1990, representa, a partir de um dado ponto de vista, um vetor tingido pelos interesses sociais, comprometidos com os interesses das camadas trabalhadoras. Por outro lado, a concentração da massa de capital, reforçada pelo fato de este ter acesso a novos espaços de valorização cujo potencial é inimaginável, poder-se-ia dizer infinito (mercados criados única e exclusivamente com esse propósito, notadamente os mercados futuros), atua, logicamente, desestabilizando na mesma proporção, gerando crises de impacto global num simples movimento agregado por parte destes fundos, subordinando às suas injunções muitos países e o sistema como um todo. Aqui, a causa do movimento do

capital nos mercados global é, para além da manutenção do valor dos ativos – do capital –, a possibilidade extrema de rentabilidade a partir de ataques especulativos direcionados e potencializados pela alavancagem financeira que, ao se deflagrar, foge para se proteger do que ajudou a engendrar.

Gráfico 1.1: Patrimônio dos investidores institucionais em anos selecionados entre 1986 e 1997 (referência: bilhões de dólares).

5 7 7 54 6 7 10 4 10 7 9 8 12 55 59 6 9 80 1 1 2 5 7 8 1 0 0 20 40 60 80 100 120 1986 1987 1990 1994 1995 1996 1997

Fundos Mút uos Fundos de Pensão Seguradoras

Tabela 1.1: Patrimônio dos investidores institucionais em anos selecionados entre 1986 e 1997 (referência: bilhões de dólares).

Ano Fundos Mútuos Fundos de Pensão Seguradoras Total

1986 5 9 1 15 1987 7 8 1 16 1990 7 12 2 21 1994 54 55 5 114 1995 67 59 7 133 1996 104 69 8 181 1997 107 80 10 197

Obs.: As seguradoras incluem os fundos de pensão abertos.

Fonte: Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID), Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP) e Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) apud SOUSA, Lucy Aparecida de. O mercado de capitais brasileiro no período de 1987-97. 1998. 194 fls. Tese. (Doutorado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, p. 31.

Os Fundos Mútuos e os Fundos de Pensão tiveram acréscimo patrimonial altamente expressivo a partir de 1994. Em apenas três anos, o patrimônio dos Fundos Mútuos simplesmente dobrou, passando de 54 para 107 bilhões de dólares. O patrimônio dos Fundos de Pensão, equivalentes aos Fundos Mútuos. O patrimônio das Seguradoras teve acréscimo modesto, levando praticamente uma década para passar de um a dez bilhões. No somatório total, os três fundos somados chegaram a 197 bilhões de dólares em 1997, recursos que transformavam estas instituições em players fundamentais no mercado de capitais brasileiro.

Gráfico 1.2: Evolução do patrimônio líquido dos fundos de investimento nos anos de 1995, 1996 e 1997 (referência: por espécie em bilhões de dólares). 0,0 10.000,0 20.000,0 30.000,0 40.000,0 50.000,0 60.000,0 70.000,0 80.000,0 90.000,0

US$ m ilhões US$ m ilhões US$ m ilhões

1995 1996 1997

Finalmente, a constatação de certo grau de similitude entre a quebra de 1929 e suas congêneres mais recentes apontam para duas questões:

1. A dificuldade de se localizar a causa última das crises, revelando o seu caráter fugidio e irracional. Os movimentos de saída massiva de capital, tanto aqueles iniciados na Bolsa de Nova York e depois disseminados pelo sistema, quanto os realizados em bolsas no México, na Ásia, na Rússia ou no Brasil, são ondas condicionadas por uma percepção irracional da adversidade do ambiente, pelo pessimismo introjetado no estado de expectativa dos atores envolvidos;

2. O grau elevado de integração entre os diversos mercados no âmbito do mercado financeiro, tanto no que diz respeito às suas segmentações quanto às nacionalidades. Nas palavras de Harold James:

What produced the crash of 1929 in the United States is still mysterious, at least for believers in the rationality of markets. What did stock market investors know on “Black Thursday,” 24 October 1929, that they had not known on Tuesday or Wednesday? There had been “bad news” since early September, and the weight of evidence had accumulated to such an extent that there was a panic in the face of the likelihood of the decline of stock prices. […] What made the depression the Great Depression rather than a short-lived stock market problem or a depression for commodity producers was a chain of linkages that operated through the financial markets. The desperate state of the commodity producers along with the reparations-induced problems of Germany set off a domino reaction. In this sense the depression was directly a product of disorderly financial markets.85

O pânico face à possibilidade de recrudescimento de circunstâncias associadas às variáveis macroeconômicas de alguns países, disseminado, muitas vezes, pelos próprios investimentos especulativos, combinado à contínua avaliação entre os players a respeito da saúde desses mercados, produziu a suposição de que o parceiro abandonaria o barco primeiro, desencadeando um movimento de “estouro da manada”, para invocar o jargão corrente. O resultado foi a queda acentuada do

85 JAMES, H. The end of globalization: lessons from the great depression. Cambridge; London: