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BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO: BREVE HISTÓRIA DE UMA TRAJETÓRIA CENTENÁRIA.

CAPÍTULO III: BOVESPA: DO MERCADO DE COMPADRIO À INSERÇÃO GLOBAL.

III.1 BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO: BREVE HISTÓRIA DE UMA TRAJETÓRIA CENTENÁRIA.

Na avaliação do historiador Robert Sobel, autor da autonodeminada primeira história integral da Bolsa de Valores de Nova York,

“homens como Jay Cook, Jay Gould, J. P. Morgan, E. H. Harriman e Charles Merrill mostraram-se muito mais importantes do que muitas das personalidades políticas de seu tempo”, a tal ponto que, sem constrangimentos, pode-se afirmar que “o primeiro decênio deste século foi uma Era Morgan, tanto quanto foi de Roosevelt e Wilson. Gould e Cook tiveram importância muito maior para seu período do que qualquer Presidente dos Estados Unidos da América, desde Grant a Roosevelt”.240

O edifício da Bolsa, o Exchange Building, ícone de Wall Street, não tem o encantamento da Broadway, mas exerce sobre todos os norte-americanos um enorme fascínio, um magnetismo sedutor por seu desmedido poder em criar fortunas num passe de mágica, um sonho lúdico entranhado no cerne da sociedade

240 Cf. SOBEL, R. Wall Street: a história da Bolsa de Nova York. Rio de Janeiro: A Casa do Livro, 1967. p. 10.

capitalista, “o céu amplo da sociedade norte-americana que se tem refletido na superfície da lagoa que é Wall Street”.241

Suas origens perdem-se nas brumas da memória, em que a história custa a penetrar, realidades e fantasias se enleiam, heróis e facínoras se mimetizam, revelando personas complexas que incluem empresários convictos, comerciantes atilados, apostadores ousados, investidores precavidos, noviços seduzidos, em suma, perfis contrastados que medeiam entre aqueles eticamente compenetrados de seus papéis sociais aos que, simplesmente, “viviam de sua esperteza”, floresciam na euforia e desapareciam nos crashes, transitando da riqueza instantânea à débâcle fraglorosa, arrastando em seu caudal uma massa inerme de incautos investidores.

Personalidades complexas, que produziram imagens crispadas, cujo exemplo é o próprio J. P. Morgan, visto pela grande imprensa de seu tempo como homem único, último de sua estirpe, veraz, de natureza avessa à mesquinhez, retrato heróico que não cabe nas lentes do historiador Sigmund Diamond, que não acreditava ter havido no mundo qualquer outro homem que “tenha causado mais malefícios ao mundo”, pois foi ele quem “deu início à idéia de que o truste é uma necessidade econômica”, cujo resultado nefasto foi “a escravidão da mão-de-obra, o esmagamento da iniciativa do indivíduo, a desgraça da feminilidade, o envelhecimento prematuro das crianças”, essa foi a obra trágica “desse monstro moderno”.242

Nenhum desses traços distintivos reponta na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). Nem a visibilidade; nem o glamour, independentemente do grau de acerto que aquelas avaliações possam conter. Mas ela tem o seu lugar na história da formação do capitalismo brasileiro, definido por seu caráter retardatário, que confere

241 Ibidem, p. 7.

242 Cf. DIAMOND, S. “The reputation of the American businessman”. Cambridge: 1955. p. 92-93, apud SOBEL, R. Opus cit., p. 227.

à BOVESPA um papel singular, nem sempre percebido, mas de vital importância na apreensão dessa especificidade.

Independentemente do grau de acerto que possam conter as avaliações anteriormente delineadas, elas têm a virtude de explicitar a grandeza relativa da experiência histórica da BOVESPA, vis-à-vis sua congênere norte-americana. Nenhum dos parâmetros estabelecidos pode, nem de longe, equiparar-se: seja em termos de relevância política de seus criadores e gestores; seja do lugar que a instituição ocupa no imaginário dos cidadãos paulistanos, na escala de suas representações sociais. Mas isso não liquida a fatura. Pelo contrário, abre um vasto leque de reflexões que a sucinta trajetória da BOVESPA, apesar de sua aparente irrelevância, teria condições de oferecer.

Capital do Império brasileiro, centro econômico, financeiro e político do país, o Rio de Janeiro constituiu, desde 1848, sua Junta dos Corretores de Fundos Públicos da Corte, “germe embrionário daquilo que seria hoje a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro”,243 bem ao contrário de São Paulo que, apenas no final do século 19, em 1890, veria nascer a Bolsa de Valores de São Paulo. São Paulo, àquela época, traduzia-se em um espaço urbano ainda acanhado, com apenas 35 mil habitantes (a décima cidade na hierarquia das concentrações urbanas brasileiras), mas revelava, desde já, um enorme potencial de crescimento, dado o ritmo frenético imposto pela economia cafeeira que, nos inícios do século 20, era responsável por 75% dos valores consignados na pauta de exportação, correspondendo a 50% da comercialização mundial do produto. Indicadores econômicos que apontam no sentido da criação de uma elite agressiva, permanentemente oxigenada pela massiva

243 Cf. LEVY, M. B. História da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBMEC, 1977. p. 8.

chegada de imigrantes, anunciadora dos anos frementes da década de 1920,244 um

cenário que se descortinava promissor para o cultivo de novas instituições financeiras, o berçário ideal para o lançamento de uma bolsa de valores.

A BOVESPA originou-se com a fundação da Bolsa Livre245 para a compra de

títulos de bancos ou de companhias e letras hipotecárias por meio de pregão,246 em 23 de agosto de 1890, quando Emilio Rangel Pestana, carioca de origem, reuniu 94 corretores independentes no n.º 2 da rua do Rosário, no centro comercial e financeiro da capital paulista, seu primeiro endereço e “ponto de encontro do mundo financeiro”.247 Sua manutenção se daria pela contribuição regular de seus

associados, “figuras de proa” da cidade e, conseqüentemente, com a movimentação financeira supostamente bem sucedida nos mercados, o que, de fato, não ocorreu a contento. As crises econômicas e a inadimplência sufocaram a Bolsa Livre, levando Emilio Rangel Pestana, em 31 de outubro de 1891, a contragosto, a fechar suas portas na rua XV de novembro n.o 37, seu segundo endereço, 434 dias após fundação da mesma. O discurso de encerramento pronunciado foi dirigido aos poucos colaboradores ainda presentes.248

Passados três anos, em setembro de 1894, 95 representantes do mundo financeiro, dentre eles, vários ex-sócios da Bolsa Livre, reuniram-se para constituir uma Associação Comercial voltada para a defesa dos comerciantes,

244 Cf. SEVCENKO, N. Orfeu estático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

245 De uma carta, datada de 13 de janeiro de 1884, adveio a sugestão de Francisco Glicério para a criação de uma Bolsa na Capital paulista. Nesta deu ordens a Emílio Rangel Pestana para vender 600 letras hipotecárias do Banco de Crédito Real de São Paulo. Sob a denominação “Bolsa Livre”, ficava constituída uma associação com o propósito de estabelecer um local, para, por meio de pregão, serem vendidos e comprados todos os títulos de companhias, bancos e outros, sendo os trabalhos dirigidos por um agente que seria substituído de três em três meses, através de eleição. DIANA, J. Bovespa rumo à eternidade 1890-2000. São Paulo: Núcleo Cultural Bovespa – Centro de Memória Bovespa, 2001. p. 3.

246 Considera-se que a Bolsa Livre foi viabilizada graças às reformas implementadas pelo Ministro da Fazenda Rui Barbosa, no Governo Republicano Provisório.

247 BOVESPA: uma história centenária. São Paulo: 1990; BRANDÃO, I. L. 1936 BOVESPA: 110 anos. Texto Ignácio Loyola Brandão. Fotografia Rômulo Fialdini. São Paulo: DBA, 2000. p. 19.

independentemente da Junta Comercial. Em dezembro desse mesmo ano, o Presidente do Estado de São Paulo, Bernadino de Campos, regulamentou a ação dos corretores de São Paulo apoiando a Tabela de Corretagem.249

Em 24 de janeiro de 1895, o presidente da recém-criada Associação Comercial, Antônio Proost Rodovalho, reuniu-se com seis dos principais corretores do Estado para constituir a primeiradiretoria da futura Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, sob a presidência de Estevan Estrella. Dois dias depois, em 26 de janeiro de 1895, a nova Bolsa começou a funcionar no n.º 12 da travessa do Comércio, ainda sem o reconhecimento oficial e jurídico.

Alguns meses se passaram até que a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo fosse regulamentada por Campos Salles, Presidente do Estado de São Paulo, em 7 de junho de 1896. Ainda nesse ano foi sancionada a Lei n.º 476, de dezembro de 1896, que instituía a profissão de corretor, fixando seu número em 22: 15 na capital paulista e sete em Santos, estando proibidos os negócios fora do ambiente pregão. Nesse ano, consta que foram seus síndicos – denominação utilizada até 1967 para o cargo de presidente –, Francisco Carneiro, que também ocupou o cargo de 1901 a 1902, e, Eloy Cerqueira, que exerceu a função a partir de 1898, reassumindo-a novamente entre 1907 e 1909.250

Os movimentos inerentes à Bolsa não ocorreram apenas no âmbito da circulação financeira, das iniciativas privadas e oficiais para a implementação e desenvolvimento da instituição: a própria sede circulou pelo centro comercial e financeiro de São Paulo pelo menos 16 vezes, antes de se instalar no atual endereço.

249 Ibidem.

Em 1935, sob a presidência de Adholfo Lombardi (1933-1937), houve a alteração do nome para Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, que passou a ser considerada uma espécie de instituto semi-autônomo, subordinado à Secretaria da Fazenda do Estado.251 No livro de Atas da Bolsa de n.o 12, página 103, consta a Ata de 1.º de outubro de 1935, que descreve a realização do primeiro sorteio das Apólices Populares Paulista; sorteio histórico pelo fato de ter sido irradiado pela emissora Rádio Educadora Paulista, diretamente do salão de pregão, com locução de Mario Beni, que se tornaria corretor oficial em 1939. Os pregões da Bolsa foram irradiados por essa emissora entre 1934 e 1936.252 Pelo Decreto-Lei n.º 10.872, de

29 de dezembro de 1939, o Governador Adhemar Pereira Barros (interventor federal) elevou de 27 para 32 o número de cadeiras da Bolsa, sendo a posse efetuada no ano seguinte.253

As publicações da Bolsa eram instrumentos de comunicação social. Nas décadas de 1930 e 1940, eram publicados dois boletins diários, divulgando os resultados do pregão: um de negócios e outro com as cotações. No final de 1947, o novo assessor técnico, Geraldo Otto Banaskiwitz, agrupou os boletins em uma só publicação, denominada Boletim de Negócios. No final de 1960, tornou-se Boletim

Diário que, mais tarde, passou a incorporar notícias das empresas cotadas, dando

origem ao atual BDI (Boletim Diário Informativo). Nessa época, o Boletim Informativo, semanal, elaborado na Câmara Sindical, publicava os eventos que diziam respeito à Bolsa e à corporação dos Corretores Oficiais.

O Decreto-Lei n.º 9.873, publicado em 6 de setembro de 1946, tornou obrigatório o registro de todas as personalidades jurídicas sob regime de sociedades

251 Ibidem.

252 Cf. DIANA, J. Op. cit., p. 24-25. 253 Ibidem, p. 24.

anônimas do país, assim como de todas as sociedades organizadas, tendo estas últimas o prazo de 90 dias para fazê-lo. Da mesma forma, todas as sociedades por ação deveriam enviar à Bolsa de Valores cópia dos seus relatórios e balanços, constituição de suas diretorias, alterações subseqüentes e reformas estatutárias. Em decorrência deste decreto, sentiram-se motivados a solicitar registro na Bolsa, gerando um vasto arquivo referente às suas atividade: possuía um total de 42 arquivos de empresas cotadas desde as décadas iniciais do século 20 e arquivos com documentação completa referente a todos os títulos públicos, inclusive os do tempo do Império.254

Outra mudança significativa ocorreu em 9 de outubro de 1953, quando a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) encaminhou instruções assinadas pelo Ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, estabelecendo uma nova política cambial e comercial, passando a haver, segundo comentário do próprio ministro registrado por João Diana, “dez Bolsas, mais do que a ‘Cexim’ que era apenas uma só”.255 Nesse mesmo ano de 1953, pela Lei n.º 2.320, de 16 de outubro, o Governador Lucas Nogueira Garcez aumentou para 40 o número de cadeiras na Bolsa, número este ampliado para 50, dez anos mais tarde, pela Lei n.º 6.479, promulgada pelo Governador Carvalho Pinto.256

No final da década de 1950, a Bolsa começou a utilizar de forma experimental, mediante convênio com a Bolsa de Mercadorias de São Paulo, o aparelho de comunicação tickers, utilizado na Bolsa de Nova York (NYSE), que transmitia diariamente os registros dos negócios efetuados no pregão aos escritórios dos corretores. Pouco mais de um ano após o golpe militar de 1964, a chamada “Lei do

254 Ibidem, p. 25. Informa ainda João Diana que os arquivos foram levados para um depósito no bairro do Braz e, posteriormente, extraviados.

255 Ibidem, p. 26. Cexim era a sigla usada que significava Carteira de Exportação e Importação. 256 Ibidem, p. 24.

Mercado de Capitais”, n.º 4.728, de 14 de julho de 1965, objetivando o aperfeiçoamento dos negócios realizados, criou uma estrutura básica para o mercado de capitais, organizando o Sistema de Distribuição de Títulos e Valores Mobiliários, através da qual, obrigatoriamente, seria realizada qualquer emissão, colocação, distribuição ou negociação de títulos. Outra mudança ocorre na substituição do Corretor oficial de Fundos Públicos, que praticava a intermediação de negócios com títulos nos pregões da Bolsa de Valores, pelas Sociedades Corretoras.257

Em 1964, inicia-se uma nova era. O golpe militar e a ditadura implantada no país alteraram a política econômica, instituindo a Lei n.º 4.595, que reformou a Sistema Financeiro Nacional, baixando o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil (BCB), que substituíram a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), com poderes para determinar a política monetária a ser seguida, juntamente com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, ou BNDE, sigla da primeira nomenclatura aplicada ao atual BNDES. Estas medidas foram complementadas no ano seguinte com o objetivo de fortalecer o mercado de capitais, através da concessão de autonomia administrativa, financeira e patrimonial às Bolsas, sob supervisão do BCB, responsável pelo registro dos antigos corretores e conceder autorização para o funcionamento das sociedades corretoras, instituídas como firmas individuais ou coletivas. Ao CMN caberia a regulamentação e a normatização das bolsas.258 Essas alterações foram introduzidas pela Lei n.º 4.728, de 14 de julho de 1965, acompanhadas pela resolução n.º 39 do Banco Central, complementadas pelas correções publicadas em 16 e 17 de novembro do ano seguinte, que dispunha do seguinte em seu Artigo 8.º.

257 Ibidem, p. 29-31.

258 Cf. FIORILLO, M. P. BOVERSPA: uma história centenária (a centennarial history). São Paulo: Best Editora, 1999.

Que a intermediação dos negócios realizados na Bolsa de Valores deve ser realizada por sociedades corretoras de valores, sociedades comerciais, constituídas sob a forma de sociedades anônimas ou por quotas de responsabilidades limitada. Ficou extinto, em conseqüência, o cargo de Corretor Oficial de Fundos Públicos, passando as atividades específicas de intermediação nos negócios da Bolsa a serem exercidas pelas sociedades Corretoras de Valores.259

Ao Conselho Monetário Nacional, criado pela já referida Lei da Reforma Bancária (Lei n.º 4595/64), outorgou-se a competência para fixar as normas gerais, regulamentando a constituição, a organização e o funcionamento das Bolsas de Valores. Em 20 de outubro de 1966, por deliberação deste Conselho, o Banco Central do Brasil baixou a Resolução n.o 39, que definiu as Bolsas de Valores como associações civis, sem finalidades lucrativas.

As medidas constantes desta Resolução do Banco Central do Brasil dispunha sobre a organização da Bolsa de Valores:

a) As bolsas constituíram-se enquanto associação civil, sendo seus associados, obrigatoriamente, as sociedades corretoras, denominadas membros da Bolsa;

b) A direção estaria a cargo do Conselho de Administração, constituído por oito pessoas, sendo seis titulares ou administradores de sociedades corretoras, um representante das sociedades de capital aberto e o Superintendente Geral;

c) Teria poder de fiscalização sobre o mercado de capitais;

d) Constituiria um Fundo de Garantia gerido pela própria Bolsa e destinado a assegurar aos clientes das corretoras, até o limite do próprio Fundo, execuções e liquidação de operações com títulos da Bolsa;

259 Ibidem, p. 31.

e) Criaria órgãos de registro, liquidação e compensação de operações de Bolsa.260

Às medidas regulatórias seguiram-se iniciativas estimuladoras para o desenvolvimento do mercado de capitais. Foram criados incentivos fiscais para os fundos de investimentos especiais, com abatimento no imposto de renda devido, a exemplo do Fundo 157 – descontinuado logo após, desde que se constatou ser lesivo aos investidores –, que facultava aos contribuintes do imposto de renda direcionar recursos para as instituições financeiras, com a finalidade exclusiva de comprar ações ou debêntures conversíveis de empresa de capital aberto, o que significava, no fundo, o governo abrir mão de receita tributária em favor de instituições privadas.261

Um passo decisivo na trajetória da Bolsa foi dado no ano seguinte, em 7 de março de 1967, quando, na Assembléia Geral Extraordinário da Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, procedeu-se sua transformação em associação civil, sem fins lucrativos, deixando de ter prerrogativas oficiais, constituindo-se em entidade civil, atendendo às exigências da lei, em que a figura do corretor de fundos públicos era substituída pela sociedade corretora, na forma de sociedade por ações nominativas, ou por cotas de responsabilidade limitada, permitindo-se aos antigos corretores abrir suas próprias firmas, com caráter vitalício.262 Ato contínuo, uma administração

profissional foi criada para gerir a Bolsa na forma de um Conselho de Administração, com mandato por três anos, composto por seis membros titulares oriundos de corretoras, um representante da sociedade de capital aberto e o superintendente geral, que passou a ser efetivamente o gestor da política geral da BOVESPA.

260 Ibidem, p.31.

261 Cf. FIORILLO, M. P. Op. cit.

A modernização do sistema operacional da Bolsa foi uma das principais atividades dos anos seguintes, sobretudo na elaboração do índice263 do mercado acionário, desde então; realizado com precisão pela primeira vez em janeiro de 1968, ao ser disponibilizado segundos após o encerramento do pregão, condição essencial para a integração da BOVESPA a outras bolsas do país, possibilitando que suas ações fossem aqui negociadas. Foi, no entanto, somente em 1972 que ocorreu a instalação das ferramentas mais sofisticadas, com a introdução dos painéis eletrônicos conjugados à implantação definitiva do sistema on-line, ampliando, assim, a capacidade de gerar informações instantâneas, tanto de caráter operacional quanto para atender a consultas que, por meio de teleimpressoras, tornavam os dados mais relevantes acessíveis às instituições financeiras ou sociedades de capital aberto.264

O Decreto-Lei n.º 1.401, de 1975, que autorizou a criação de fundos especiais, na forma jurídica de sociedades de investimento, cujo patrimônio inicial deveria ser de no mínimo US$200 mil, deu o passo inicial para a abertura do mercado de capitais nacional aos investidores estrangeiros.

Em 7 de dezembro de 1976, foi sancionada a Lei n.° 6.385, que instituía a Comissão de Valores Mobiliários (CVM),265 uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. A CVM, escudada na Lei das Sociedades por Ações (Lei n.° 6.404/76), passou a exercer de forma majoritária a fiscalização do mercado de capitais, até então sob responsabilidade exclusiva do Banco Central. Em meio à vasta gama de atribuições desta autarquia, destaca-se o registro de companhias de capital aberto; registro de distribuição de valores mobiliários; organização e funcionamento das

263 Trata-se do Índice Bovespa cuja metodologia adotada em sua elaboração permanece inalterada desde sul lançamento.

264 Cf. FIORILLO, M. P. Op. cit.

265 Após a criação da CVM no Governo Geisel, o escopo de atuação da mesma fora ampliado e alterado sucessivamente pelas seguintes leis: alterada pela Lei n.º 6.422, de 8 de junho de 1977, Lei n.º 9.457, de 5 de maio de 1997, Lei n.º 10.303, de 31 de Outubro de 2001, Decreto n.º 3.995, de 31 de outubro de 2001, Lei n.º 10.411, de 26 de fevereiro de 2002. Disponível em: <www.cvm.gov.br>.

bolsas de valores; fiscalização das emissões feitas pelas sociedades corretoras e todos os atores envolvidos nessa seara. A premissa básica para sua criação consistia em manter um ambiente saudável e equânime para as operações engendradas no âmbito deste mercado, a partir do exercício do poder coercitivo a ela conferido

Outras regulamentações alavancaram o mercado de capitais, beneficiando a BOVESPA. Entre elas, a Resolução n.º 381, do Banco Central, que dispunha sobre a conversão em ações das cotas de participação em fundos, a exemplo do FINAM (Fundo de Investimento da Amazônia), FINOR (Fundo de Investimento do Nordeste) e FISET (Fundo de Investimentos Setoriais), bem como a Resolução n.º 460, de 23 de fevereiro de 1978, que disciplinava as aplicações de reservas técnicas dos Fundos de Pensão, que passaram a ter uma porcentagem de ações e debêntures.266

A década de 1980 iniciou-se com uma crise econômica que levou a Bolsa a adotar estratégias administrativas que aperfeiçoassem o seu desempenho, com a adoção de mecanismos operacionais sofisticados: sistema de Processamento Distribuído, via instalação de microcomputadores nas sociedades corretoras para agilizar os serviços pela Bolsa; Sistema Privado de Operações por Telefone (SPOT)