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2. C ONTEXTO

2.4. M ARKET TO B OOK

Fama e French (citado por Colot & Samain, 2005) descobriram, em 1992, através de estudos estatísticos, a existência de duas variáveis que estão na origem dos rendimentos bolsistas: a relação entre o valor contabilístico e o valor de mercado e a dimensão da empresa expressa na capitalização bolsista. No primeiro caso, a variável relaciona o

market value com o book value (market-to-book) e reflecte que quanto mais baixo for

este rácio, maior será o rendimento esperado para a acção. No segundo caso, a variável explicita que quanto maior for a capitalização bolsista, mais baixo é o rendimento esperado para uma acção.

Ao estudo realizado por aqueles investigadores, dever-se-á acrescentar ainda, outros factores explicativos que são os denominados “factores relevantes”. Uma acção com um elevado grau de risco tenderá a ter um market-to-book mais baixo, do que outra com menor risco com o book value idêntico.

Os mesmos investigadores Fama e French (citado por Damodaran, 2007) observaram entre 1962 e 1990 as acções que acumulativamente apresentavam menores valores de mercado e menores market-to-book, obtiveram de uma forma corrente retornos maiores do que as empresas com maiores valores de mercado e maiores market-to-book.

O indicador “market-to-book mede a relação entre o valor de mercado de uma empresa e o valor registado na contabilidade” (Pedro, 2006, p.51). O mesmo autor refere que para o calculo do rácio, não se deve incluir as golden shares, porque o seu preço não é definido pelo mercado.

 o valor de mercado = Número de acções * Preço de cada acção em bolsa.  o valor contabilístico = Activo líquido – Passivo ± Reservas ocultas.

Os autores Colot e Samain (2005) comprovam o seu calculo da seguinte forma, o valor em bolsa provém do capital próprio valorizado em bolsa e da prespectiva de

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crescimento dos lucros por cada acção. O valor contabilistico retira-se do capital próprio do balanço por cada acção.

O conceito de reserva oculta provém de activos ou passivos mal registados no balanço, devendo, desta forma, serem corrigidos (Pedro, 2006). O autor revela exemplos: sobreavaliação de dívidas; subavaliação de dívidas de terceiros; omissão de registo de bens activos; sobreavaliações das amortizações e reintegrações e das provisões e ajustamentos; subavaliação no registo do valor de bens activos. É fácil verificar que as reservas ocultas distorcem a análise da empresa, e seria mais vantajoso, proceder a uma auditoria para recalcular as massas gerais. Preocupações essas que impossibilitavam de proceder a qualquer análise.

Com os aspectos atrás mencionados, verificamos que a contabilidade é imperfeita, visto que, alguns activos imateriais podem ter uma importância extrema na obtenção do lucro como referem Colot e Samain (2005) e não fazerem parte, ou não estarem devidamente valorizados em balanço, ocasionam, desta forma, uma desvirtualização do indicador. Para referir como exemplo, deve-se mensurar o valor justo de uma marca com grande notoriedade e aplicá-lo no balanço numa rubrica do activo.

Aquele rácio, segundo Pedro (2006), reflecte uma comparação entre duas grandezas, por um lado, o mercado e por outro, a contabilidade. Caso o rácio seja superior a 1, o valor de mercado é superior ao valor contabilístico, o mercado considera que existe um valor intangível para além do book value, e dessa forma, “O mercado avalia positivamente a empresa e tem expectativas que justificam a oferta de um valor acima do que a empresa tem registado na contabilidade” (Pedro, 2006, p.53). Ao invés, caso seja inferior à unidade, o contrário acontece. A raridade ocorre quando o rácio admite o valor de 1, neste caso, o valor de mercado é igual ao valor contabilístico. No mercado português de 1991 até 2004, o valor global do rácio foi quase sempre superior a 1, para as empresas cotadas na Euronext Lisboa14.

Quando o indicador market-to-book evidenciar um resultado extremo, deve-se ter cuidado com a sua leitura, Colot e Samain (2005) referem que se o mesmo indicador for muito baixo, existe uma grande probabilidade de o título apresentar um grande risco ou estar subavaliado, podendo ter influência no desenrolar da actividade. Pelo contrário, se

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Os anos de 1991, 1992, 1995 e 1996 reflectiram um market-to-book inferior a 1. Todos os restantes anos, o valor foi superior a unidade.

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for muito alto, o título não só pode encontrar-se sobreavaliado como também pode apresentar um baixo risco.

Segundo Bradley (citado por Pedro, 2006) o mesmo acontece no mercado americano visto que reflecte uma tendência próxima da Euronext Lisboa, com um alargamento considerável do indicador.

Mas podem existir dúvidas substanciais, por um lado, o mercado pode não estar a valorizar adequadamente as acções devido à desigualdade de informação entre os intervenientes e à própria ineficiência do mercado, e por outro, a existência de reservas ocultas relevantes que possa distorcer o indicador ao nível do activo tangível ou do activo intangível. Activo este que está a ganhar uma grande ponderância na contabilidade de uma empresa, mas de difícil mensuração (Pedro, 2006). Veja-se o caso de uma sociedade desportiva, para compreender o problema, qual será o justo valor de um activo muito específico, que é o passe de um profissional de futebol?

Colot e Samain (2005) referem que as duas grandezas são diferentes visto que o market

value incorpora não só os resultados como os dividendos futuros. A diferença representa

o valor actualizado das perspectivas de crescimento dos lucros e resulta numa relação positiva entre o número de investidores que acreditem que a sociedade realize lucros elevados no futuro e o próprio indicador. Os investidores demonstram um pessimismo face a lucros futuros quando o mesmo indicador for inferior a um, se bem que o optimismo e o pessimismo não se comprova apenas na existência ou não de lucros futuros, mas a congregação de vários factores podem explicar tal comportamento. Pedro (2006) justifica esta intangibilidade com o potencial de conhecimento organizacional que criará riqueza, ou o chamado “capital conhecimento.”