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2. C ONTEXTO

2.6. A CTUAÇÃO E P ERSPECTIVA DO A CCIONISTA

2.6.2 O UTROS C OMPORTAMENTOS DOS A CCIONISTAS

Pensamos que compete ao accionista apoderar-se de toda a informação que considere relevante e que possa influenciar a sua cotação para proceder a uma análise exaustiva da acção.

O investidor deve seleccionar a informação mais apropriada para realizar a sua análise. Um investidor minoritário é um observador externo à sociedade e a informação sobre a mesma é mínima, como referem Colot e Samain (2005). Para além disso, a informação oficial que se resume ao relatório e contas é dificil de ser confirmada, mostrando-se assim imperfeita, visto que pode não reflectir uma imagem fiel e verdadeira da sociedade, para além de faltarem alguns elementos qualitativos, por exemplo quais são os riscos. E ainda existe a possibilidade dos auditores não serem totalmente imparciais pois mantêm uma relação muito próxima com a adminstração e assim podem demonstrar complacência nos seus pareceres. Os mesmos autores sugerem que o investidor faça a sua própria análise, seguindo três fases: aplicar os critérios quantitativos de rendimento, especialmente o market-to-book e a capitalização bolsista; verificar se a sociedade apresenta algum factor negativo prejudicial a evolução da acção, por exemplo rendimentos decepcionantes, muito cara, endividamento muito elevado, processos judiciais, entre outros; e apreciar os vários elementos da empresa, como por exemplo a sua estratégia, os últimos resultados, o respeito pelos trabalhadores, entre outros.

Como foi referido no ponto anterior (2.6), os investidores actuam para além de uma forma racional, numa outra forma mais emotiva. Assim, é necessário estudar o comportamento dos investidores quando estes se encontram no mercado. Neste sentido, apareceram duas teorias que tentam explicar as atitudes e os comportamentos dos investidores: teoria das multidões e a teoria da opinião contrária (Peixoto, 2000).

A teoria das multidões baseia-se em actuações, vontades e comportamentos distintos quando as pessoas se encontram inseridas em grupos, face às mesmas atitudes quando agem isoladamente, ou seja, o conhecimento enquanto se relacionam as três grandes entidades: o indivíduo, a multidão e o mercado. O indivíduo procura insistentemente os seus objectivos pessoais, envolvendo uma postura emocional e/ou racional, mas não pode descurar que se encontra inserido numa multidão que influencia os preços em movimentos coordenados. Detecta-se aqui um efeito de sinergia visto que a multidão

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não representa a simples soma das vontades dos vários agentes no mercado, apresentando desta forma, vontade e objectivos próprios, mas com um propósito comum às duas entidades que é a maximização do lucro, comprando barato e vendendo caro. O mercado resulta do conjunto de todas as multidões.

O comportamento de cada indivíduo não é previsivel. Mas como cada indivíduo pertence a uma multidão, o mercado, como conjunto de multidões, torna-se previsível […] depois de formada uma expectativa em relação ao mercado, cada indivíduo integra-se numa multidão e torna-se um participante activo, na medida em que assume uma posição de acordo com essa mesma expectativa (Peixoto, 2000, p. 30).

Numa multidão, as emoções demonstram uma maior força que a razão, tendo alguma dificuldade em distinguir o facto objectivo da vertende subjectiva do mesmo (Matos, 2007).

A teoria da opinião contrária, segundo Peixoto (2000), diz-nos que quando existe consenso32 acerca da movimentação dos preços, estes tendem a mudar o seu sentido33. Se a maioria tem uma opinião consensual, a melhor actuação seria no sentido contrário ou seja, comprar quando a maioria pensa vender e vender quando a maioria pensa comprar.

Deve-se ter um certo cuidado porque jogar no momento errado, entrando quando se deveria sair ou sair quando se deveria entrar é o grande dilema do investidor. Desta forma, o jogo resume-se essencialmente a uma forte importância no sentido de oportunidade na tomada da decisão. Compete ao investidor verificar o que está a passar, analisando os que os demais estão a fazer (Matos, 2007).

A notícia difundida pelos meios de comunicação tem uma enorme influência na mudança das expectativas dos investidores. Presbo e Klein (citado por Peixoto, 2000) concluiram que o índice Dow Jones Industrial Average (DJIA) era influenciado em 70% pela notícia. Foram elaborados diversos estudos para determinar e ponderar diferentes tipos de notícias. No estudo em causa seria determinar se a venda do passe do melhor jogador poderia ou não ser relevante para a inversão da tendência da acção.

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Consenso nas expectativas dos investidores, nos comportamentos dos agentes e na influência das notícias.

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Razão pela qual se justifica, em parte, as perdas de alguns pequenos investidores, que não compreendem esta teoria.

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A regra de antecipação explica qual a razão da notícia optimista originar uma indiferença ou até mesmo uma queda na cotação e factos negativos poderem originar subidas na cotação. Por detrás deste comportamento encontra-se o facto que os “eventos já tinham influenciado os preços, apesar de aparente imobilidade destes.” (Matos, 2007, p.85).

Uma das técnicas mais utilizadas que tem como base a teoria da opinião contrária provém de um ditado de Wall Street “compre com o rumor e venda com os factos”. Quando existe a publicação dos factos, os mesmos já podem encontrar-se incorporados no preço e se existiu uma subida acentuada, a descida é o movimento mais natural até atingir o nível do próprio facto. Desta forma, a notícia, mesmo que seja positiva, é uma oportunidade para realizar uma venda. O exemplo desta teoria verificou-se pelo menos em dois momentos na Sporting SAD. A sociedade desportiva atingiu o ponto máximo de €8,15 no dia 15 de Maio de 2000, um dia após o conhecimento da notícia da conquista do titulo nacional de futebol depois de vários anos sem o conseguir vencer. No início desse mês, a sua cotação era de €5,64 para fechar o mesmo mês a €5,23. O surgimento da notícia resultou numa tendência de descida das acções da Sporting SAD, com excepção do day after da notícia. Outra justificação para o sucedido prende-se com a “quebra da expectativa”, ou seja, depois de se extinguir a expectativa da vitória na competição, no momento n+1, o mercado não conseguiu discernir uma outra expectativa que possibilitasse a continuidade da tendência de subida. O mesmo aconteceu duas épocas mais tarde, quando a equipa de futebol profissional do Sporting assegurou o titulo nacional a 28 de Abril de 2002, no dia seguinte a cotação da acção desceu 25% dos €7,07 para os €5,27.

O investidor terá de comprar acções quando a sua leitura indicar uma tendência de subida e vender quando começar a perder gás. Para além da disciplina, tolerância ao risco e facilidade com números, o caminho para ser bem sucedido terá de se basear nos três M (Elder, 2006):

 mind, desenvolver regras psicológicas para tornar o investidor frio, calmo e controlado;

 method, processo de análise de preços e desenvolvimento de uma árvore de decisões;

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Segundo o mesmo autor, o investidor deve verificar o passado do título ou do sector para reagir com rapidez. Os mercados são constituidos por muitos investidores que perdem algum dinheiro para alguns que saiem vencedores desta batalha, para isso compete analisar o comportamento das massas, para tendência alta, deve-se comprar; para multidão menos optimista, recomenda-se vender; se a multidão parecer confusa, aconselha-se a não investir no mercado accionista.