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O ARRANJO INSTITUCIONAL DE DISTRIBUIÇÃO DO “BEM-ESTAR” PRODUZIDO PELOS TERRENOS COMUNITÁRIOS

TERRA, CASAMENTO, HERANÇA E POUPANÇA ESTUDO DE CASO DE UMA ALDEIA MINHOTA

4. O ARRANJO INSTITUCIONAL DE DISTRIBUIÇÃO DO “BEM-ESTAR” PRODUZIDO PELOS TERRENOS COMUNITÁRIOS

Uma diretriz, teoricamente razoável, utilizada na concepção dos programas de devolução da “terra” é garantir que os direitos dos grupos utilizadores sejam compatíveis com as suas responsabilidades na gestão do recurso. Isto implica que nos modelos de "gestão de recursos com base na comunidade " os usuário tenham direitos “mais fortes” do que nos modelos de cogestão (gestão conjunta com o estado), onde o Estado mantém um papel activo na gestão do sistema.

Em Portugal, pós 25 de Abril de 74, privilegiou-se o modelo da cogestão (Fig.3), cabendo ao Estado o papel central na gestão dos terrenos comunitários. A existência de uma grande quantidade de bens públicos associados aos baldios, podem justificar tal escolha. Porém, esta opção deveria implicar o envolvimento mais efetivo de um grande número de Stakeholder na gestão dos baldios.

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111  (As)Sincronicidade entre os territórios comunitários de montanha (baldios) e a Agricultura Familiar

no Norte de Portugal

familiares com o espaço comunitário. Esta situação associa-se, em muitos casos, a uma gestão enfraquecida dos baldios: tanto pela acção centralizadora do governo central (DGRF, AFN, ICNF), como pelo próprio interesse difuso de muitos dos órgãos gestores do baldio que conscientemente centram a gestão nos rendimentos obtidos com a floresta e com a cedência de direitos sobre o baldio (caça, parques eólicos, pedreiras, antenas, cedências de parcelas), descurando o controlo e a manutenção do espaço comunitário. Ou seja, erosionou-se o controle social dos baldios (Baptista, 2010) por indução da economia dominante.

4. O ARRANJO INSTITUCIONAL DE DISTRIBUIÇÃO DO “BEM-ESTAR” PRODUZIDO PELOS TERRENOS COMUNITÁRIOS

Uma diretriz, teoricamente razoável, utilizada na concepção dos programas de devolução da “terra” é garantir que os direitos dos grupos utilizadores sejam compatíveis com as suas responsabilidades na gestão do recurso. Isto implica que nos modelos de "gestão de recursos com base na comunidade " os usuário tenham direitos “mais fortes” do que nos modelos de cogestão (gestão conjunta com o estado), onde o Estado mantém um papel activo na gestão do sistema.

Em Portugal, pós 25 de Abril de 74, privilegiou-se o modelo da cogestão (Fig.3), cabendo ao Estado o papel central na gestão dos terrenos comunitários. A existência de uma grande quantidade de bens públicos associados aos baldios, podem justificar tal escolha. Porém, esta opção deveria implicar o envolvimento mais efetivo de um grande número de Stakeholder na gestão dos baldios.

Figura 3. Modelo institucional de gestão dos territórios comunitários em Portugal

Na Figura 4, esboçou-se o modelo conceitual da governação democrática dos recursos naturais associados aos terrenos comunitários; alicerçado em quatro vectores i) legitimidade, ii) sustentabilidade, iii) direitos de propriedade, e controlo democrático. Verifica-se uma diminuição de “intensidade” nos quatro vectores, do centro para a periferia, isto é do nível local para o global.

Figura 4. Representação esquemática do modelo conceptual de governação democrática dos recursos naturais associados aos terrenos comunitários.

5. CONCLUSÕES

As tendências trágicas associadas à institucionalização da propriedade comunitária e a sua (as)sincronicidade com a agricultura familiar só terão sentido na óptica da eficiência económica, ou seja, as tendências trágicas são aquelas que implicam uma diminuição do “bem estar” para a sociedade. A economia dominante (neoclássica) enfraqueceu a Agricultura familiar, a sua importância económica tem diminuído. As cidades já não são, maioritariamente, abastecidas por produtos originários da AF. Hoje, a função dominante esperada para a AF são os serviços ambientais. Porém, o “mercado livre” tem apresentado dificuldade na distribuição equitativa destes serviços, geralmente remete-os para as “externalidades”. Era expectável que o Estado assumisse as suas responsabilidades, como cogestor e regulador. Todavia a teoria económica presente não privilegia intervenções do

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 Agricultura Familiar e Sustentabilidade dos Territórios Rurais \ Vila Real de Trás-os-Montes 

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Estado, verificando-se mesmo uma desvalorização dos serviços florestais públicos. A utopia reinante é o “liberal”. Os baldios ressentem-se destes e outras contradições. O rural de montanha é agora de baixa densidade demográfica, esbateu-se a influência dos terrenos comunitários na evolução do sistema agrário; declinaram as normas tradicionais de regulação dos espaços comunitários, muitos dos interesses individuais e institucionais que agora utilizam os terrenos comunitários tendem a ser conflituantes na exclusão. Os terrenos comunitários tendem para unidades geradoras de rendas, obtidas pela cedência de direitos de propriedade. Por conseguinte, o direito de propriedade atomiza-se, resultando em quadros jurídicos e institucionais incipientes, incapazes de regular uma titularidade eficiente.

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