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A Arte como Livre Expressão

CAPÍTULO 2: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PARA A ARTE NO BRASIL

2.2. A Formação Oficial em Artes Visuais

2.2.5. A Arte como Livre Expressão

Outra corrente metodológica que aparece no início do século XX, a arte como livre expressão, tem suas origens na arte expressionista como representação do que vem de dentro, dos sentimentos; nas pesquisas de Freud sobre a arte infantil e nas ideias do artista plástico Franz Cizek, criador da Escola de Artes e Ofícios de Viena (1878), que afirma que a arte não pode ser ensinada, pois o maior objetivo da educação em arte é possibilitar que a criança expresse seus sentimentos. Essa teoria de início arrebanhou mais adeptos e difusores, entre os psicólogos e artistas, do que no meio dos educadores. Mas, a partir do final dos anos de 1940, esta metodologia será a responsável por reiterar que ―promover experiências terapêuticas passou a ser considerada a maior função da Arte na Educação.‖ (BARBOSA, 1985, p. 45).

Tal como Cizek, Luquet 19e outros estudiosos da produção gráfica infantil

– Read, Lowenfeld20 & Brittain – defenderam a prática da livre expressão. Entendiam

que a criança não deveria receber orientações sobre como desenhar, nem cogitavam a possibilidade de elas virem a apreciar obras de arte, pois consideravam que o contato com essa obras poderia incentivar a cópia, o que entendiam como sendo prejudicial ao desenvolvimento de sua expressão artística. (SCHNEIDER, 2002).

A concepção da Livre Expressão vincula-se histórica e ideologicamente ao Modernismo, pois enfatiza a visão pessoal como interpretação da realidade, a emoção como o principal conteúdo da expressão e a busca do novo, do original como ideal a ser alcançado. Disso resultou, segundo críticos dessa concepção, em

19 Georges-Henri Luquet estuda entre os anos de 1910-30 a arte primitiva e pré-histórica e o desenho

infantil, concluindo que esses desenhos são uma representação realista. Luquet divide as etapas gráficas em Realismo Fortuito, Realismo Falhado, Realismo Intelectual e Realismo Visual.

20 Victor Lowenfeld e W. Lambert Brittain são pesquisadores norte-americanos desenvolvimentistas

que interrelacionam as características plásticas e gráficas do desenho infantil e o desenvolvimento psicológico e psicomotor, estabelecendo fases definidas pela faixa etária. Publicaram essas pesquisas no livro “Creative and Mental Growth”, traduzido para o espanhol em 1972 e para ao português somente em 1984, com o titulo “Desenvolvimento da Capacidade Criadora”, tornando-se uma referência para os arte-educadores de vanguarda. (BEMVENUTI, 2003,)

uma defasagem entre a Arte produzida no período e a Arte ensinada nas escolas. (RIZZI, 2008, p. 66).

A arte como livre expressão no Brasil, foi propagada pelo movimento de Arte Moderna de 1922, Mario de Andrade e Anita Malfatti foram os precursores da aplicação dessa metodologia no país, buscando sanar as fragilidades existentes na mesma, por meio de adaptações que veremos a seguir.

Mario de Andrade inicia suas pesquisas sobre arte infantil quando ocupa o cargo de chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, em 1935, demitindo-se do cargo em 1938, por discordar da política do Estado Novo (LOPES, 2006). Essas pesquisas resultam em uma série de artigos publicados nos jornais, sobre a produção de desenhos de crianças e jovens dos parques infantis da prefeitura de São Paulo e dos alunos da artista plástica Anita Malfatti. O escritor agrega essa experiência em suas aulas de Filosofia e História da Arte, ministradas na Universidade do Distrito Federal (Rio de Janeiro), onde reside de 1938 a1941, sendo considerado o precursor na inclusão do estudo da Arte Infantil na universidade brasileira. (LOPES, 2006; SCHNEIDER, 2002).

A concepção de Mario de Andrade sobre livre expressão difere das veiculadas naquele momento, e da maneira como será implantada a partir de 1948. Andrade considerava imprescindível a educação visual das crianças e dos jovens, por intermédio de visitas a exposições, leitura de imagens incluindo a fotografia e o cinema.

Sobre a apreciação estética, afirmava que não basta ampliar o número de contatos visuais, mas entendia ser necessário que as imagens oferecidas às crianças e aos jovens tivessem qualidade estética. Assim, recomendava aos professores dos parques infantis, que fossem e levassem os alunos a visitas em exposições de artes visuais e ao cinema. Esta valorização da fruição é uma posição defendida a partir dos anos de 1990, por estudiosos do ensino de arte, que acreditam que quanto maior for o repertório de imagens que a criança possui, mais rica será sua produção gráfica. (SCHNEIDER, 2002, p.80).

A artista plástica Anita Malfatti lecionou arte mais de 30 anos, aposentando-se em 1952. Ministrava aulas de desenho, pintura e de história da arte, em seu ateliê, na Escola Americana21 e na Associação Cívica Feminina, em São Paulo, tendo como alunos tanto crianças como adultos. (CARVALHO, 2007).

Anita Malfatti e Mario de Andrade são personagens importantes da vanguarda intelectual brasileira entre os anos de 1920 a 1950, ambos dedicaram-se a pesquisa e a teoria da arte, mas Anita cria propostas metodológicas embasada na sua experiência como artista e pelos estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos.

A metodologia de ensino da arte de Anita, pautada na livre expressão, possibilita que os alunos expressem seus sentimentos e direciona-os a desenvolver uma linguagem própria. A artista aponta para a questão da crítica em relação ao trabalho artístico do aluno, afirmando que se não for bem elaborada pode criar bloqueios, fazendo com que o aluno deixe de se expressar por meio da linguagem visual. Entretanto, Anita preocupa-se com as questões técnicas e em suas anotações de planejamento de suas aulas há registros dos elementos e princípios do desenho como representação de linhas retas e curvas, perspectiva e análise preliminar do objeto a ser representado. (CARVALHO, 2007).

Portanto, o respeito e apreço pela produção de seus alunos não podem se confundidos com a aprovação imediata e incondicional. Não devem ser confundidos com aulas constituídas por momentos de livre fazer e livre expressão; sem uma orientação e direção bem estruturadas e articuladas com as sólidas bases que um artista profícuo em sua linguagem deve obter e desenvolver. (CARVALHO, 2007 p. 98).

A metodologia da arte como livre expressão tem a sua aplicação na escola oficial e nas escolinhas de arte, de maneira mais incisiva, entre os anos de 1948 a 1958. Ana Mae (2008) aponta que houve uma má interpretação das ideias de Cizek, confundindo a livre expressão com o livre-fazer, sendo o professor um mero espectador e organizador das atividades propostas, evitando que as crianças sejam

contaminadas por influências externas, para não macular sua criatividade. Concordamos com a autora que se a criança não for orientada pelo professor, ela o será pelos pais, irmãos ou colegas e, na atualidade, pelas mídias.

As metodologias expostas nos dois itens anteriores têm seu foco principal na criança. Para o ensino de arte na educação superior e para o curso secundário, vale salientar a colaboração do arquiteto e urbanista Lucio Costa e a sua reflexão sobre artes visuais. O arquiteto atuou como diretor da ENBA (1930-31) e foi convidado para elaborar um programa para a reformulação do ensino de desenho no curso secundário (1940), por solicitação do ministro Capanema. (COSTA 1940 apud DOMÍNIO PÚBLICO, 2009).