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Mais verdadeiro que o real. Tudo é como é, no entanto, é distinto no modo como nos parece.

As duas frases acima representam o lema do movimento de arte que ficou conhecido como hiperrealismo ou fotorealismo. O hiperrealismo surgiu graças ao retorno do interesse dos artistas pelo realismo, que irá se fortalecer nos Estados Unidos e na Europa, entre 1969 e 1972 (MORAES, 1977).

O surgimento da fotografia durante o século XIX provocou um grande impacto no contexto artístico. Isso ocorreu pelo fato de que muitos dos artistas sentiram-se ameaçados com o seu surgimento, haja vista que a qualidade de um artista naquele momento resumia-se à sua capacidade em representar a realidade da maneira mais fiel possível. Desta forma, com a fotografia, muitos temiam que a pintura perdesse seu espaço, o que de fato não aconteceu. No entanto, a fotografia, com o passar do

aliada dos artistas para as suas composições, que a utilizavam tanto como instrumento para a captação de poses de difícil precisão, como também, juntamente com a pintura, para construção de inúmeras composições artísticas.

Entretanto, no século XX, por volta dos anos sessenta, em que o figurativismo na arte estava quase extinto, haverá o surgimento da Pop Art. Caracterizando-se pela utilização de signos da sociedade de consumo tais como ídolos de cinema, rótulos de produtos, quadrinhos, etc., a Pop Art mostrará um novo interesse dos artistas pelo aspecto figurativo.

Na mesma época, constata-se também o surgimento do movimento do Novo Realismo, em contraposição direta ao quase abstracionismo vivenciado pela arte durante os anos iniciais do século XX. Liderado por Pierre Restany, o Novo Realismo pretendeu ser um gesto fundamental da apropriação do real, ligado a um fenômeno quantitativo de expressão, em que o real seria percebido em si e não através da emoção artística. (MORAES, 1977). A partir de então, este novo realismo será a base para uma nova forma de arte, denominada hiperrealismo, que será uma reação à arte abstrata e à arte conceitual, e que terá como referência principal a fotografia.

Jean-Louis Pradel, no seu livro A arte contemporânea (1999), considera que o hiperrealismo irá agrupar uma maior diversidade de artistas do que a revelada pelos parentescos evidenciados por algumas galerias de prestígio e pelos seus exclusivos críticos de arte. As suas obras são sujeitas a uma aparatosa promoção digna do show business, cujo único ponto comum é o recurso à fotografia utilizado em grade escala pela Pop Art. (PRADEL, 1999, p.71)

A fotografia no hiperrealismo é usada, antes de tudo, como meio para obter as informações do mundo, tendo como primeiro registro, os movimentos congelados pela câmera, num instante preciso. Se o modelo vivo - pessoa ou cena - sofre permanentemente as interferências do ambiente e está, portanto, sempre em movimento, a imagem registrada pela máquina encontra-se cristalizada, imune a qualquer efeito externo imediato, o que dá a ela um tom de irrealidade.

Logo, se anteriormente a fotografia era vista como instrumento de arte, a partir desta nova tendência, a fotografia servirá tanto de base para a reprodução de detalhes pelos artistas como também de inspiração para os seus trabalhos, pois o resultado final de um quadro deverá ser tão real ou mais real que o preciosismo fotográfico. O artista, no seu afã de perfeição e realismo, pretende ser a própria máquina (MORAES, 1977). O hiperrealismo passa então a estabelecer um olhar neutro e objetivo sobre a realidade urbana, privilegiando a aparência, em que o grande plano, preocupado com os detalhes, realça a vacuidade das significações. (PRADEL, 1999)

Constata-se, então, que a questão da representação da realidade a partir do hiperealismo adquiriu uma nova singularidade. A representação artística, que anteriormente era baseada na realidade, passa então a basear-se na fotografia. Como os artistas estavam preocupados com os detalhes na representação, segundo os preceitos do hiperrealistas, a fotografia possuía uma precisão muito maior do que o olho humano, o que permitia que a representação de uma determinada realidade fosse muito mais além do que aquela percebida pelo espectador. Em conseqüência disto, para a obtenção de uma pintura com o aspecto fotográfico, os artistas projetavam um slide na tela e utilizavam instrumentos de arte comercial como o airbrush, que permitia reforçar os aspectos brilhantes da pintura e sua similaridade com o papel fotográfico. (STRICKLAND, 1999)

No entanto, não é apenas a pintura que se destaca no hiperrealismo. Segundo o Art Grove Dictionary of Art (2000), enquanto que a pintura envolve a reprodução precisa da fotografia em pintura, na escultura hiperrealista há uma reformulação minuciosa de objetos reais. As esculturas apresentam uma aparência ainda mais fiel da realidade, pois são realizadas em sua maioria em tamanho natural e adornadas por objetos reais. Para Moraes (1977), as esculturas hiperrealistas lembram as figuras dos museus de cera, com um olhar gélido e fantasmagórico, não apresentando movimento e nem profundidade, como é o caso das pinturas.

A recusa ao "hermetismo" da arte contemporânea, a atração pelos temas e recursos técnicos oferecidos pelo mundo moderno, assim como a vontade de figurar a realidade de modo detalhado e impessoal aproxima o hiperrealismo da Pop Art.

também um grande afastamento. A Pop Art volta-se preferencialmente para os objetos da sociedade de massas e para os ícones do mundo da mídia, como as imagens da Marilyn Monroe trabalhadas por Andy Warhol (1928-1987), enquanto que o hiperrealismo, faz uso de clichês, de imagens pré-fabricadas e de elementos do cotidiano, mas em sentido inverso, buscando conferir a eles o valor de obras particulares5.

O hiperrealismo retira, assim, a imagem massificada do seu circuito habitual, recuperando-a como objeto de arte único. A figura humana, por exemplo, menos que um ícone ou sujeito anônimo, tem nome, idade e características específicas, minuciosamente registradas pelo pintor. Trata-se, segundo o artista hiperrealista Richard McLean, de "re-autenticar o evento fotografado como um puro evento pictórico".

O hiperrealismo, assim como qualquer tendência artística, apresentará algumas características que podem ser visualmente identificadas nas obras dos artistas. A seguir estão listadas algumas delas:

1. Aproximação nova e radical ao mundo real; 2. Arte distante e fria;

3. O resultado artístico é semelhante a um registro obtido por uma câmera fotográfica, sendo então conhecido também como fotorrealismo;

4. Emprego da fotografia para a obtenção de modelos para a construção das obras;

5. Utilização de perspectivas típicas da fotografia com objetivas angulares; 6. Emprego de meios mecânicos, originários da retícula, para transferir as

imagens fotográficas;

7. Aplicação da pintura em superfícies finas e lisas, geralmente com pistola e aerógrafo;

8. Cores realistas nas obras;

9. Utilização de materiais novos, tais como pintura acrílica, látex e resinas sintéticas;

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Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/ index.cfm? fuseaction=termos_ texto&cd_verbete=329

10.As obras de arte apropriam-se de ícones relacionados com a sociedade de consumo, tais como automóveis, postos de gasolina, rótulos de produtos e clichês de um modo geral;

11.Geralmente as obras possuem um caráter ampliado, com um tamanho maior que o natural. Os objetos, as pessoas e os ambientes apresentam uma grande quantidade de detalhes. Exemplo disso são os quadros de Chuck Close, que parecem fotografias ampliadas.

Apesar de o hiperrealismo não ter se constituído como um movimento de arte, este também foi alvo da crítica artística. A crítica mais comum que se faz ao hiperrealismo é a de que as obras de arte não contribuíram com nada de novo à pintura do século XX, sendo apenas um regresso a formas acadêmicas que já haviam sido superadas. Além disso, muitos acreditam que os motivos favoritos dos artistas para realizar as suas criações, as cenas do cotidiano, demonstram a falta de um olhar subjetivo e imaginativo do artista. Neste sentido, há também aqueles que afirmam que a arte hiperrealista apenas afirma os valores já existentes da sociedade, não se comprometendo com nenhuma atitude política, perdendo assim o instinto de ruptura e investigação característica das vanguardas artísticas do século XX. Por outro lado, há outros que consideram que o hiperrealismo é uma tendência autêntica, pois enfatiza a abundância de imagens da sociedade americana, mostrando também, em algumas obras, como o mundo está cercado pelos meios de comunicação6.