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2.5 Arte Contemporânea

2.5.2 Arte no Pós-Modernismo

Crispolti (2000) alega que a arte possui, entre outras, uma característica essencial: a possibilidade de provocar mudanças de perspectiva, de rumo, de opinião, com efeitos “imprevistos e imprevisíveis” (p.17). Ao longo da história da arte, nenhum movimento ou corrente artística conseguiu que esta especificidade fosse tão evidente como na Arte Contemporânea, na sua imensa diversidade de expressão (fig.2), como já foi identificada previamente.

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A actividade artística dos anos oitenta e noventa, embora com recurso às amplas experiências anteriores, desde as influências expressionistas e gestualistas, iconografia figurativa de evocação realista até às representações simbólicas da Pop Art, não deixa, no entanto, de manifestar uma diversidade de propostas artísticas inovadoras (Ferrari, 2008, p.128). Honnef (1992, p.28), afirma que uma das características da denominada Pós-Vanguarda, é a ausência de tendências dominantes e os artistas não estão presos a uma única forma de expressão, sendo a sua prática artística a mistura de pintura e fotografia, fotografia e performance, pintura escultura, escultura e arquitectura, arquitectura e design, design e fotografia e outros, marcada pela irreverência relativamente às convenções sociais ou artísticas. Este investigador diz que o sociólogo alemão Jürgen Habermas associou a situação em termos socioculturais nos finais do século XX, a uma “nova obscuridade” e que se aplicava igualmente à arte contemporânea. Menciona também Andreas Huyssen, no que diz respeito à fase de transição da arte, e que faz a seguinte referência:

A arte pós-moderna dos anos oitenta situa-se, deste modo, num campo de tensão entre a tradição e a inovação, o conservadorismo e a renovação, a cultura de massas e a cultura de elite; no entanto, cada um dos conceitos indicados na segunda posição não é automaticamente privilegiado em relação ao primeiro e as antigas dicotomias deixaram de funcionar com a mesma segurança: o progresso contra a reacção, a esquerda contra a direita, o racionalismo, o futuro contra o passado, o modernismo contra o realismo, a abstracção contra a representação, a Vanguarda contra o Kitsch (p.36).

O artista contemporâneo das últimas décadas do século XX passa então a dispor de uma diversidade de formas de expressão, sem ser obrigado a justificar as suas escolhas e o seu pensamento artístico, possuindo várias perspectivas e universais. No entanto, não parece fugir da realidade, pelo contrário, a sua inspiração é profundamente baseada na vida quotidiana, seja através de procedimentos mais clássicos, seja por meios tecnológicos como o vídeo ou o computador.

Um dos meios de expressão bastante usado nos finais do século XX, o vídeo, parece ter inúmeras possibilidades de utilização e uma forma expressiva muito própria que lhe permite “fragmentar e recompor as imagens, inserir-se no interior de esculturas ou revestir de ecrãs salas inteiras, criando espaços totalmente virtuais” como afirma Ferrari (2008, p.161). As instalações vídeo infundem uma leitura, por vezes, muito complexa devido à mistura simultânea e rápida de imagens e sons, levando o espectador a fazer parte de um espaço confuso que lhe absorve continuamente a atenção, sem contudo

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deixar de permanecer passivo e ao mesmo tempo desconcertado. As questões que se levantam são: Como na vida real? É uma forma de representar (alertar) o dia-a-dia da pessoa comum das cidades modernas? O limite entre as fronteiras da realidade e virtualidade existe?

O coreano Nam June Paik e Yamaguchi são artistas representativos desta forma de expressão, baseada nas vídeo – instalações4, sendo a sua arte uma síntese entre a tecnologia de vanguarda e a criatividade, com presença regular nas mais prestigiadas bienais de arte.

Fig. 3 - Electronic Superhighway: Continental US, 1995, Nam June Paik

O computador transformou-se num objecto de utilidade indispensável na sociedade actual, ocupando um lugar de destaque nas nossas casas e nas nossas escolas. O computador cria um mundo virtual de imagens do qual podemos interagir com as personagens que ocupam esse espaço. Lidamos com “realidades” perceptíveis, mas sabemos que não existem.

É do conhecimento geral que esta tecnologia permite o tratamento de imagens, facilmente deformadas e/ou divididas, proporcionando a criação de imagens tridimensionais, fotográficas, cinematográficas ou em vídeo e colocando-as facilmente em movimento. No domínio artístico, nomeadamente no cinema, este instrumento

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possibilita os tão apreciados efeitos especiais nos filmes de ficção científica e cinema de animação, mas também na realização de videoclips musicais, em cenas teatrais e em espectáculos de dança contemporânea. É curioso o trabalho da artista Flávia Alman5 que através da manipulação de todos os objectos do célebre quadro de Van Gogh, provocam o seu movimento e as sombras projectadas na parede, criando em simultâneo experiências lúdicas e estéticas (Ferrari, 2008, p.161).

Fig.4 - Puzzle Museum, 1989, Flávia Alman

, Actualmente assiste-se à adesão crescente da realização de experiências artísticas através do computador. Permite uma interacção até agora sem precedentes, podendo o artista comunicar de várias maneiras com o utilizador e fazer com que este partilhe e experimente o trabalho proposto. ”Small fish” (fig.5) realizado em 2001 é um trabalho de

Kyoshi Furukawa, Masaki Fujihata e Wolfgang Münch6 e é um bom exemplo dessa interacção.

O período artístico da expressão abstracta no qual se revelaram Kandinski (1866-1944) na pintura e Shoenberg (1874-1951) na música, é possível nos dias de hoje voltar a ver numa nova manifestação através da interactividade dos computadores. ”Small fish” pretende provocar espaços de criação individual, pessoal e efémeros. Os pontos, linhas ou círculos são colocados de forma que o utilizador os movimente como entender,

5 www.youtube.com/watch?v=KPQk6rjdds 6 http://hosting.zkm.de/wmuench/small_fish

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criando por sua vez diversas variações de acordo com o movimento dos elementos. O utilizador vê-se “apanhado” na criação da sua própria obra e composição, deixando-se levar pela experiência da interacção imediata (Mestres, 2005, p.131).

Estamos perante uma nova relação com o objecto artístico que, provavelmente irá trazer novas inquietações e transformar profundamente o papel da arte na sociedade.