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A caracterização do local de estudo foi elaborada com base em dados recolhidos no Projecto Educativo do Agrupamento e informações fornecidas pela Directora do AEVA.

3.4 Métodos de Recolha de Dados

Nesta investigação, foram usadas várias formas de recolha de dados em diferentes momentos. Tornou-se fundamental seleccionar os métodos de pesquisa de acordo com as fases da investigação-acção, para que pudessem ser rapidamente analisados, interpretados e apresentados (Bell, 1995, p.157). Os instrumentos utilizados na recolha de dados materializaram-se em folha de pergunta e resposta, observação participante, diário reflexivo da investigadora, entrevistas informais, trabalhos dos alunos, fotografia e filmagem.

3.4.1 Entrevistas

Este instrumento foi utilizado para recolher dados descritivos, na linguagem do próprio sujeito, “permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (Bogdan e Biklen, 1994, p.134). Os mesmos autores sublinham a importância de serem criadas condições para construir uma relação entre entrevistador e entrevistado, colocando este à vontade, principalmente em situações em que não se conhece o sujeito. Se for adoptado o tipo de entrevista aberta, mais livre e exploratória (Bogdan e Biklen, 1994, p.135), o sujeito representa um papel decisivo na condução e desenvolvimento dos assuntos. Considerados estes aspectos, adoptou-se o tipo de entrevista aberta por ser mais espontânea e facultar a expressão livre de ideias ao entrevistado, um professor de outra área científica, Matemática, que lecciona na mesma escola que a investigadora.

Segundo os mesmos autores, este tipo de entrevista pode ser utilizado inicialmente e, numa fase posterior, ser usado de forma mais estruturada, para conseguir dados comparáveis entre os vários sujeitos. A este propósito Bell (1997, p.120), sugere a utilização de um formato estruturado, quando o entrevistador não tem experiência.

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Ainda de acordo com Bell (1995, p.119) este instrumento de recolha de dados, aparentemente simples, requer contudo, preparação cuidada e linguagem acessível, de forma a estabelecer um relacionamento fácil com os entrevistados. A utilização duma estrutura flexível, deve facultar liberdade de expressão ao entrevistado, desde que sejam garantidas as questões essenciais abordadas. Segundo a investigadora, este instrumento, tem uma grande vantagem, pelo facto de permitir informações que uma resposta escrita não pode revelar (como é o caso do inquérito), a entoação da voz, a expressão facial entre outros indícios não verbais. Por outro lado, distingue algumas desvantagens como o tempo despendido na análise da entrevista e o risco da parcialidade deste instrumento.

3.4.2 Folha de Pergunta e Resposta

Este método de recolha de dados em formato pergunta/resposta permitiu uma análise interpretativa do ponto de vista dos professores de Educação Visual e Tecnológica. Este instrumento foi aplicado no Ciclo Dois e o seu preenchimento permitiu recolher informação sobre as efectivas aprendizagens dos alunos e reflexão/avaliação das actividades. Segundo Robson (1993), citado por Moura (2003, p.23), este método requer pouco tempo e esforço na sua aplicação e preenchimento, sob pena de apresentar como principal desvantagem a superficialidade da informação, que pode gerar dificuldades na interpretação.

3.4.3 Observação

Foi utilizada a observação participante em que a investigadora e o par pedagógico se tornou o principal instrumento de observação. A investigadora, a própria professora da turma, registou o que observava da forma mais objectiva possível, bem como as interpretações dos dados recolhidos (Bell 1995, p.143), e focalizou-se essencialmente nas respostas e reacções dos alunos e professor participante. Pôde ser feita, através de notas de campo completadas, por vezes, na própria sala de aula, ajudando a “entender o contexto, ambientes e acção” como comenta Moura (2003, p.22).

Bell (1995, p.143) considera que esta técnica pode descobrir características de indivíduos que dificilmente seriam observáveis por outros meios. Na observação interna ou participante, como diz Wilson (in Moura, 2003, p.21), o investigador observa e conduz simultaneamente as actividades através das suas intervenções que resultam em novas situações. Serrano (in Moura, 2003, p.21) chama de observação externa quando

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o investigador não entra nas actividades e recolhe a informação à distância. Para os investigadores Cohen e Manion (1990, pp.167-171) a observação participante é apreciada como apropriada à recolha de dados subjectivos e indicativos dos procedimentos humanos, principalmente não verbais.

Um dos problemas apontados por Bell (1995, p.141) neste tipo de abordagem é a interpretação subjectiva do que é observado. Clarifica que cada observador incidirá a sua atenção num determinado foco específico do objecto observado e interpretá-lo-á segundo a sua perspectiva. Se não seguir uma determinada estrutura, a observação pode ser muito morosa e difícil de acompanhar.

3.4.4 Diário

Segundo Bogdan e Biklen (1994, p.73), para que um estudo qualitativo seja bem sucedido é fundamental que o investigador observe e registe sistematicamente, tentando fazê-lo o mais objectivamente possível. Nesta investigação o diário fez parte permanente dos instrumentos da professora investigadora contendo narrativas sobre “observações, sentimentos, reacções, interpretações, reflexões, hipóteses e explicações” pessoais (Kemmis et al, 1988). Deste modo, este instrumento foi utilizado como um excelente auxiliador de memória, praticamente durante todos os ciclos e especificamente no Ciclo três.

Foi especialmente usado no registo dos comentários proferidos pelo artista Sudha Daniel sobre os desenhos elaborados pelos alunos, aquando da visita destes, à sua exposição na Galeria de Arte Gutinlanis em VPA. Proporcionou também uma reflexão cuidada sobre o trabalho dos alunos e as suas reacções perante as estratégias/actividades apresentadas, permitindo fazer ajustamentos para as aulas subsequentes.

Tornou-se um instrumento importante que deu resposta a “necessidades específicas da investigação” (Moura 2003, p.23), ajudando na estruturação das ideias, procedimentos e estratégias. Moura (2003, p.24) considera o uso do diário como um instrumento imprescindível de reflexão, cuja componente referencial regista procedimentos, ideias, opiniões dos elementos da análise e a componente expressiva que regista as primeiras impressões da investigadora.

Uma das desvantagens relacionadas com a técnica do diário é referida por Oppenheim (in Bell, 1995, p.132), que alerta para a possibilidade dos registos apenas

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corresponderem às conveniências das pessoas, alterando assim os seus comportamentos, que é justamente o oposto do que se pretende. Bell (1997, p.138) chama a atenção para o facto de este instrumento não ser o mais adequado para ser preenchido por pessoas com um nível educacional reduzido.

3.4.5 Registo Audiovisual

Este tipo de registo foi de grande utilidade para analisar comportamentos da sala de aula, contribuindo para a fiabilidade do estudo e permitindo a sequência dos acontecimentos até à codificação dos dados (Conhen e Manion, 1990). Evidenciou as vantagens mencionadas por Moura (2003, p.22), na medida em que as gravações permitiram anotações detalhadas das acções tais como, comentários de um artista plástico sobre a sua obra aquando da visita de estudo à galeria de arte, a leitura e apreciação de obras de arte e autodescrição/avaliação de trabalhos realizados pelos alunos na sala de aula, para serem, mais tarde, partilhados, analisados e reflectidos conjuntamente com os participantes. Assim este instrumento tornou-se um complemento de análise indispensável, permitindo uma visão detalhada, a que Collier (in Moura, 2003) chama de pormenores secundários, mas que foram essenciais para uma análise global.

Esta forma de recolha de informação (fotografia, vídeo), nos contextos anteriormente identificados, teve, inicialmente, um efeito de defesa e inibição nas respostas e acções por parte dos intervenientes principalmente verificados na exposição de pintura na galeria de arte. Através da “familiaridade”, os comportamentos típicos das pessoas observadas (perda de espontaneidade, risos…), puderam ser minimizados desde que a utilização deste tipo de instrumento de análise passou a ser uma presença continuada (Bogdan e Biklen, 1994), pois familiarizados com esta situação, a indiferença por aquele “estímulo” acabou por se instalar rapidamente. O comportamento dos professores/colaboradores bem como as reacções dos alunos puderam ser indicadores importantes para apurar eventuais falhas na implementação e desenvolvimento das actividades.