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1. Enquadramento Teórico

1.4. Educação Emocional

1.4.2. Artes Plásticas e Educação Emocional

De seguida apresentamos, detalhadamente, um seleto conjunto de estudos empíricos que ilustram bem a relação que existe entre as competências emocionais e o domínio sobre a experiência visual através das Artes Plásticas. De um modo geral, as experiências realizadas sugerem que as competências emocionais não só

27 contribuem para o desenvolvimento da sensibilidade artística e da educação visual, como podem ser desenvolvidas através do meio facilitador das Artes Plásticas.

Em 1990, Mayer, DiPaolo e Salovey, realizaram um estudo empírico com o objetivo de examinar a relação entre o nível de capacidade para identificar conteúdo emocional em estímulos visuais e a capacidade de empatia nas relações interpessoais. Os resultados do estudo demonstraram que o nosso sistema de perceção emocional não está programado para detetar apenas expressões faciais estereotipadas mas, pelo contrário, constitui um sistema geral capaz de extrair conteúdo emocional a partir da observação de outros estímulos visuais como cores e padrões abstratos. De facto, verificou-se que os sujeitos com dificuldade em deduzir as emoções consensualmente suscitadas por determinados estímulos visuais ambíguos tinham também dificuldades nos processos de empatia em situações interpessoais complexas. Esta investigação ilustrou a relação entre a experiência no mundo visual e as aptidões emocionais – sujeitos treinados ou mais familiarizados com estímulos visuais, mesmo que ambíguos, são também mais competentes na tarefa de descodificação de mensagens de natureza afetiva nesse mesmo tipo de estímulos. Através deste estudo, Mayer e colaboradores (1990) sugerem que as dificuldades nas relações interpessoais não se relacionam com problemas de atitude pessoal, mas sim com um défice em aptidões emocionais específicas, as quais podem ser avaliadas e melhoradas.

Romba, Gomes, Dias & Cabido (2001) aplicaram um programa de enriquecimento na área das Artes Plásticas aos alunos de duas turmas do 3.º ciclo do ensino básico (7º e 8º anos). Trata-se de um conjunto de atividades exigentes do ponto de vista sensorial e emocional, com o objetivo de estimular as aptidões visuais através de atividades que contribuem para o desenvolvimento integral dos sentidos. Os investigadores levaram os participantes a realizar várias tarefas, como ficar de olhos vendados para tentar denominar um conjunto de elementos sentidos apenas com as mãos ou para sentir um determinado objeto e depois proceder à sua representação mediante a utilização de um lápis e uma folha de papel. Outras atividades incluiam a representação gráfica de um poema ou a audição de diferentes músicas para experimentar a sua representação através da utilização da linha, de modo a expressar a natureza e os contrastes entre os sentimentos percecionados. Os resultados desta intervenção foram alvo de uma avaliação externa, onde se verificou que os exercícios realizados levaram a um aumento na capacidade de desenho à

28 vista, por comparação com a qualidade dos desenhos realizados no pré-teste (antes da implementação do programa) e com a avaliação de um grupo de controlo que frequenta os mesmos anos e pertence à mesma escola do grupo experimental.

Numa investigação levada a cabo por Morris, Urbanski e Fuller (2005), foi realizado um conjunto de exercícios que utilizam as Artes Plásticas para desenvolver a Inteligência Emocional, nomeadamente a capacidade de perceção das emoções. Os alunos tinham de descrever as emoções presentes nas imagens visualizadas, identificar as pistas não-verbais que levaram à identificação dessas emoções e refletir sobre a forma como podem promover a sua capacidade de reconhecer as emoções nos outros. Os autores referem que embora tenham dado preferência à pintura, qualquer meio visual pode ser utilizado neste tipo de atividade (atendendo ao facto de que, por exemplo, num retrato é mais fácil compreender conteúdo emocional do que numa paisagem). Além disso, a investigação sugere que o Impressionismo e o Realismo são os movimentos artísticos mais apropriados para explorar esta competência emocional. Duas pinturas especialmente efetivas neste estudo foram “O Grito”(1983) de Edvard Munch e “Os Dois Saltimbancos (Arlequim e sua Companheira)” (1901) de Pablo Picasso (Anexo A). Os autores concluiram que as Artes Plásticas podem estimular a imaginação e desencadear imagens mentais, criando-se condições que favorecem a perceção das emoções. De um modo geral, os resultados desta investigação demonstraram que os exercícios de Inteligência Emocional, para além de terem promovido a capacidade de apreciação artística, contribuiram para o desenvolvimento de importantes competências socioemocionais, nomeadamente a perceção emocional e a capacidade de empatia.

Gisbert, Cordero e Núnez (2012), investigadores da Universidade de Sevilha, realizaram uma experiência com alunos do ensino superior que combina duas áreas artísticas - a Música e as Artes Plásticas. Nesta investigação, os produtos artísticos dos alunos foram utilizados para explorar as suas emoções e descrever os seus sentimentos. Numa primeira fase, os alunos foram levados a observar algumas obras de arte conhecidas e a registar conceitos que de alguma forma as qualificassem. Por exemplo, a obra “A Dança da Vida” (1899-1990) de Edvard Munch foi associada à solidão, ao amor, à tristeza, à decadência e à escuridão; a obra “A Noite Estrelada” (1889) de Vincent Van Gogh foi mais frequentemente qualificada com palavras como ansiedade, medo e evasão; ao passo que a obra “Mulheres de Taiti na Praia” (1891) de Paul Gauguin recebeu adjetivos tão diferentes como tristeza, desconfiança, bem-

29 estar e tranquilidade (Anexo B). Numa segunda fase do estudo, os alunos foram organizados em grupos e cada grupo foi convidado a selecionar uma pintura e a traduzir a sua experiência subjetiva em música. Porém, de modo a terem um suporte gráfico da composição, tiveram de inventar uma «partitura gráfica» para registar as suas ideias através de cores e formas. Concluiu-se com este estudo que, a partir da análise e exploração do conteúdo subjetivo de diferentes obras de arte é possível, não só desenvolver os conhecimentos em Artes Plásticas, como também competências criativas e emocionais.

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