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1. Enquadramento Teórico

1.4. Educação Emocional

1.4.1. Programas de Educação Emocional

Os programas de Educação Emocional são um meio de desenvolvimento da Inteligência Emocional e podem ser aplicados em diversos contextos educativos formais e não formais, atuando como resposta preventiva e complementar ao desenvolvimento cognitivo.

Podemos destacar um conjunto de critérios que devem ser tidos em consideração ao longo dos processos de planificação, intervenção e avaliação de um programa de Educação Emocional: fundamentar o programa com base na investigação prévia e numa abordagem conceptual sólida; estabelecer objetivos adaptados à população-alvo; impulsionar a integração do programa, a longo prazo, nas atividades do contexto educativo onde será implementado; utilizar técnicas de ensino variadas que promovam uma aprendizagem proativa e em cooperação; promover o envolvimento da comunidade educativa nalguma fase do programa; estabelecer um plano de avaliação do programa em diferentes momentos da sua aplicação; realizar pelo menos um estudo de validação rigoroso, onde a eficácia do programa possa ser verificada através de instrumentos de avaliação cientificamente validados (Pérez-González & Pena, 2011).

De seguida apresentamos um conjunto de importantes programas de desenvolvimento de competências emocionais na população infanto-juvenil em

24 contextos educativos: os programas de Aprendizagem Emocional e Social – SEL (Social and Emotional Learning) da CASEL (2015) – Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning, o programa INTEMO (Cabello, Gualda, Gallego & Fernández-Berrocal, 2016), o programa MQ – Aprender a Ser Feliz (Queirós, 2014) e, por fim, o programa Educación Responsable da Fundação Marcelino Botín que integra o ReflejArte (Fundación Botín, s.d.), um recurso educativo que recorre às Artes Plásticas para o desenvolvimento da Educação Emocional.

A CASEL, sediada na Universidade de Chicago, foi a primeira instituição internacional a impulsionar a Educação Emocional, promovendo o desenvolvimento socioemocional através de atividades práticas desenvolvidas nas escolas, dentro e fora das salas de aula, com a colaboração dos encarregados de educação e da comunidade durante os processos de planificação, implementação e avaliação. A SEL é o processo através do qual os sujeitos aprendem a desenvolver e a aplicar efetivamente o conhecimento, as atitudes e as competências necessárias para compreender e regular as suas emoções, definir e alcançar determinados objetivos, sentir e demonstrar empatia pelos outros, criar e manter relações sociais positivas e tomar decisões responsáveis. Os resultados destes programas têm sido amplamente estudados, verificando-se que os alunos alvo de intervenção, em comparação com grupos de controlo, apresentam pontuações significativamente superiores ao nível das competências emocionais e sociais, correlacionando-se estes valores com o nível de rendimento académico e com a diminuição de vários problemas de comportamento incluindo a agressão, a delinquência, o abuso de substâncias e o abandono escolar (CASEL, 2015; Durlak, 2015; Extremera & Fernández-Berrocal, 2013; Pérez-González, 2012).

Em Espanha, o programa INTEMO (Cabello, Gualda, Gallego & Fernández- Berrocal, 2016) é um projeto de Educação Emocional baseado na abordagem teórica de Inteligência Emocional de Mayer & Salovey (1997), criado com o objetivo de desenvolver as competências emocionais que integram a Inteligência Emocional (perceção, facilitação, compreensão e regulação das emoções) em crianças e adolescentes, partindo do princípio de que a implementação de estratégias de desenvolvimento da Inteligência Emocional é a única forma de criar uma sociedade melhor, com jovens integrados, felizes, saudáveis, inteligentes e criativos. Os resultados obtidos mediante a aplicação deste programa têm demonstrado a sua eficácia a longo prazo, nomeadamente ao nível dos efeitos positivos expressos na

25 capacidade de ajustamento psicológico e ao nível da qualidade das relações interpessoais (Extremera & Fernández-Berrocal, 2013). A sua aplicação em adolescentes espanhóis (entre os 11 e os 17 anos) tem contribuido para um aumento da autoestima e da capacidade de empatia, bem como para a diminuição dos níveis de depressão, ansiedade, afetividade negativa, locus de controlo externo, somatização, hostilidade e agressividade (Cabello, Gualda, Gallego, & Fernández- Berrocal, 2016).

Em Portugal, a professora Manuela Queirós (2014) desenvolveu o programa MQ – Aprender a Ser Feliz, no âmbito do projeto nacional CIEE (Clube de Inteligência Emocional na Escola). É um programa de desenvolvimento da Inteligência Emocional destinado a crianças, adolescentes e adultos, e tem como objetivo geral contribuir para o bem-estar emocional e social. As estratégias utilizadas para o desenvolvimento das competências de Inteligência Emocional comprometem-se a melhorar o desempenho académico e a diminuir as manifestações de agressividade e comportamentos de risco entre os jovens. O programa integra conteúdos teóricos (conceitos básicos sobre a natureza das emoções e a Inteligência Emocional) e práticos, no sentido de estimular seis habilidades emocionais: atenção e perceção das nossas emoções, conhecimento das nossas emoções, regulação das nossas emoções, perceção emocional interpessoal, empatia ou compreensão das emoções nos outros e regulação interpessoal das emoções (Queirós, 2011). Num estudo experimental realizado junto de alunos da Escola Básica 2/3 de S. João da Madeira, verificou-se que a estimulação de competências emocionais através do programa MQ contribuiu para um aumento do nível de Inteligência Emocional, para a diminuição das manifestações de agressividade e de comportamentos de indisciplina, bem como para o aumento do nível de sucesso escolar (Ramos, 2007). De acordo com a mentora do projeto, os resultados da aplicação deste programa têm sido muito satisfatórios, não só junto dos alunos das escolas portuguesas, como também com adultos em vários contextos (Queirós, 2014).

A Fundação Marcelino Botín, sediada em Madrid, em colaboração com o Yale Center for Emotional Intelligence, tem vindo a integrar as artes visuais, a música e o teatro em diversas atividades educativas para crianças e adultos. Os investigadores acreditam que a utilização das artes em programas educativos é uma estratégia segura e facilitadora de aprendizagem sobre os processos emocionais, potenciando a emergência de momentos únicos onde as emoções podem ser entendidas e pensadas

26 de uma forma psicologicamente saudável (Ivcevic, Hoffmann & Brackett, 2014). O programa Educación Responsable da Fundação Marcelino Botín contempla um recurso educativo em especial, designado ReflejArte, o qual vincula as Artes Plásticas, em particular, à Educação Emocional (Fundación Botín, s.d.). Este recurso tem como objetivo a integração da Educação Estética Visual na prática educativa, a compreensão das obras de arte através de exercícios de observação em grupo e o desenvolvimento da criatividade e de competências socioemocionais como as capacidades de identificar e compreender conteúdo emocional.

Trata-se de um programa que pretende contribuir para o desenvolvimento integral, através do confronto com a experiência artística, levando os alunos a fazer uma análise visual que induz a reflexão, a expressão e a partilha das suas emoções com os outros. Através destas experiências educativas, os sujeitos são convidados a explorar e a partilhar as emoções e perspetivas sobre determinados problemas através da visualização de diversas obras de arte. Mesmo os sujeitos com dificuldades na expressão emocional ou simplesmente preocupados com as consequências da sua exposição social, facilmente poderão deixar-se envolver pelas artes, sem deixarem de se sentir confortáveis e em segurança (Ivcevic, Hoffmann & Brackett, 2014).

Uma avaliação externa intensiva realizada pela Univerisidade de Cantabria demonstrou a eficácia do programa em vários parâmetros, nomeadamente ao nível da Inteligência Emocional (capacidade de compreensão emocional, de identificação das emoções e de reparação dos estados emocionais negativos), da assertividade e da ansiedade. De acordo com a investigação realizada, as melhorias observadas nos alunos após a aplicação do programa manifestam um impacto positivo em diversas áreas: prevenção do consumo de drogas, diminuição de comportamentos agressivos, aumento do rendimento escolar, maior qualidade do relacionamento entre pares e entre alunos e professores e diminuição de sintomas associados a depressão infantil e juvenil (Fundación Botín, s.d.).

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