CAPÍTULO I – O AUDIOVISUAL NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS
CAPÍTULO 3 – CONTRIBUIÇÕES DA ARTICULAÇÃO FREIRE-CTSA PARA A
4.2 Instrumento de Análise de Dados: Análise Textual Discursiva
4.2.1 Articulação entre a Análise Textual Discursiva e a Investigação Temática: Construindo
Para construir e implementar a sequência temática, segunda fase desta pesquisa,
utilizamos a proposta metodológica de Torres et. al., (2008) que consiste em articular a ATD
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com a Investigação Temática. Esta articulação permite analisar os dados obtidos das fontes
primárias e secundárias para construção da ST. Sobre esta articulação os autores consideram
que:
(...) a vinculação de uma “estratégia” de estruturação de programas escolares
a uma metodologia de análise de dados pode “organizar o currículo escolar
de forma a romper com a hegemonia conteudista e bancária que
desconsidera os problemas sociais na realidade dos estudantes (TORRES et.
al., 2008, p. 2).
Assim, consideramos conveniente o uso desta articulação na análise dos registros e
dados obtidos nos estudos que propusemos, de forma que a pesquisa fosse alinhada ao
referencial teórico utilizado. Afinal, pudemos levantar de forma sistemática o contexto escolar
e as contradições sociais vividas pelos sujeitos da pesquisa, a fim de construir uma ST que
contribua com a superação das construções históricas acerca de Ciências e Tecnologias (CT),
através de uma formação crítica e transformadora sobre o Tema Gerador.
Para tanto, recordemos que investigação Temática
52(FREIRE, 1987) (IT) foi
sistematizada por Delizoicov (1991), para ensino formal em Ciências, em cinco etapas:
Primeira (levantamento preliminar) que consiste em reconhecer a realidade vivida do aluno,
seu contexto; segunda (análise das situações e escolha das codificações) momento em que é
realizada a escolha de situações que sintetiza as contradições vividas; terceira (diálogos
descodificadores) momento em que, através do diálogo, se obtêm os Temas Geradores; quarta
(redução temática) que consiste em um trabalho de equipe interdisciplinar, com o objetivo de
elaborar o programa e/ou currículo e identificar quais conceitos disciplinares são necessários
para o entendimento dos temas; e finalmente, a quinta (trabalho em sala de aula), momento
em que as atividades programadas são desenvolvidas em sala de aula.
Então, Torres et. al. (2008) articularam a Investigação Temática com a ATD em três
momentos: 1. o Levantamento Preliminar à unitarização; 2. a Escolhas das Situações
Significativas e os Diálogos Descodificadores à categorização; 3. A Redução Temática e o
Desenvolvimento em Sala de Aula à comunicação/metatexto. Esta articulação será utilizada na
52
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segunda fase desta pesquisa empírica, onde obtivemos o Tema Gerador e desenvolvemos a
Sequência Temática.
Assim, o primeiro momento desta articulação refere-se ao Levantamento Preliminar
das condições locais articulada à unitarização. Para Torres et. al. (2086, p. 7) este momento é
um: “(...) processo de levantamento preliminar da realidade local – 1ª etapa da Investigação
Temática – em busca das situações significativas da comunidade, contemplou a prática da
unitarização – 1ª etapa da Análise Textual Discursiva (...)”. Esse movimento é balizado pela
problematização e dialogicidade que, ao buscar as unidades de análise, possibilitou o encontro
das situações significativas da comunidade. Surge a articulação situações significativas/
unidades de análise (MORAES e GALIAZZI, 2006).
Então, durante o momento das situações significativas/ unidades de análises, os
registros obtidos, que constituem o corpus desta pesquisa, como as fontes primária,
secundária e os registros/dados dos sujeitos da pesquisa foram transcritos e examinados em
seus detalhes, fragmentados e separados em unidades de análise que são as situações
significativas da comunidade. Estes dados iniciais são úteis para a compreensão sobre os
princípios e normas que regem o comportamento dos sujeitos da pesquisa, no entendimento
da sua realidade vivida
53.
No segundo momento desta articulação, a Análise das situações/escolha das
codificações associada à categorização, Moraes e Galiazzi (2006, p. 8) esclarecem que “a
prática que direcionou a análise das situações significativas – 2ª etapa da Investigação
Temática – em busca das codificações, contemplou a prática da categorização – 2ª etapa da
Análise Textual Discursiva (...)”. Este movimento balizado pela problematização e
dialogicidade, que ao buscar categorias emergentes, possibilitou o encontro das possíveis
53
Podemos ainda realizar uma articulação tripla entre a ATD, IT e a Pesquisa Participante. Neste sentido, o primeiro momento da articulação ATD-IT pode ser ainda articulado com a com a primeira e segunda fase da pesquisa participante. Segundo Rosa (2013), a primeira fase da Pesquisa Participante é a Montagem Institucional, Metodológica da Pesquisa onde se discute o projeto de pesquisa com a comunidade; a segunda fase, chamada de Estudo Preliminar da região e da População Envolvida, identifica-se as características do universo dos pesquisados, o levantamento de dados socioeconômicos e um primeiro retorno da pesquisa ao grupo envolvido.
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contradições sociais da comunidade, que deu origem a articulação codificações/categorias
emergentes (MORAES e GALIAZZI, 2006, p. 8).
Então, durante o momento da articulação codificações/categorias emergentes, os
fragmentos que originaram as unidades de significados
54são agrupados semanticamente pelo
pesquisador, constituindo as categorias, através da qual podemos identificar as possíveis
situações limite para a equipe. Neste momento, o referencial teórico Freire-CTSA orienta a
formação destas categorias que são influenciadas pela capacidade de indução
55, dedução e até
mesmo intuição do pesquisador. Isto permite, inclusive, que o pesquisador crie categorias a
priori e/ou a posteriori pautadas, também, nos temas dobradiças
56, definidos por Freire
(1987) e nos Conceitos Unificadores
57, definidos por Angotti (1993). Desta forma, devido ao
referencial CTSA, o conceito energia associado à Ciência e Tecnologia tem grande influência
na categorização nesta etapa da pesquisa, para a futura definição do Tema Gerador.
Ainda, no segundo momento, temos a articulação Diálogos descodificadores
associados à categorização. Os autores da articulação esclarecem que:
Essa etapa de validação das codificações em busca dos temas geradores, inserida no contexto dos diálogos descodificadores e que caracteriza a 3ª etapa da Investigação Temática, pode ser associada ainda à etapa de categorização – 2ª etapa da Análise Textual Discursiva –, devido ao fato da legitimidade ser fundamental no processo de obtenção dos temas geradores. Nesse sentido, estamos associando a etapa de validação das codificações (as quais podem tornar-se os temas geradores para a estruturação de currículos críticos) como parte final do processo de categorização, emergindo a articulação temas geradores/categorias emergentes (MORAES e GALIAZZI, 2006, p. 9).
54 Junção do termo situações significativas com unidades de análise.
55 De acordo com Lakatos e Marconi (1991), o método de abordagem pode ser: Indutivo: que caminha para planos mais abrangentes, indo das constatações particulares às leis e teorias gerais; Dedutivo: parte das leis e teorias e prediz a ocorrência de fenômenos particulares; Hipotético-dedutivo: inicia-se pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos, formula-se uma hipótese e, pelo processo dedutivo, testa a predição da ocorrência de fenômenos; Dialético: penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
56 Os Temas Dobradiças refere-se à flexibilidade de inclusão dos temas, relativamente importantes, mas que não emergiram durante as etapas anteriores da Investigação Temática sem que haja necessidade de passar pelas cinco etapas da Investigação Temática.
57
Angotti (1993) propõe os Conceitos Unificadores com a intenção de estabelecer relações entre o Tema Gerador, as situações significativas e a conceituação científica. Para Angotti (1993), os quatro conceitos – transformações, ciclos e regularidades, energia e escala - perpassam as áreas das Ciências Naturais, sendo chamados de supradisciplinares e transdisciplinares, na medida em que dialogam com diversas outras áreas (GEHLEN, 2009 apud SOLINO, 2013, p. 46). Consideramos que os conceitos Unificadores são considerados
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Durante o momento da articulação de temas geradores/categorias emergentes,
legitimamos as categorias/situações limites, obtidas na etapa anterior, de forma a identificá-las
como contradições sociais/codificações para a validação do Tema Gerador, durante os
diálogos descodificadores. Este momento é necessário, posto que nem sempre a situação
limite obtida pela equipe é uma situação limite para os sujeitos da pesquisa. Através do
diálogo, esta legitimação ocorre mediante: a) a confecção de painéis e/ou projeção de imagens
das referentes às codificações/categorias emergentes; b) a exposição e problematização dos
Temas junto aos discentes e docentes da unidade em torno da seguinte questão: como os
assuntos expostos nas categorias e relação entre escola e comunidade, encontram-se
relacionados com suas vivências? (Questão adaptada de MORAES e GALIAZZI, 2006, p.
9)
58.
No terceiro momento desta articulação, Redução temática e trabalho de sala de aula
associados à comunicação, os autores esclarecem que:
(...) a Redução Temática – 4ª etapa da Investigação Temática –, processo que resulta na produção de recursos didático-pedagógicos, pode ser associada ao processo de construção de metatextos, referente à etapa de comunicação – 3ª etapa da Análise Textual Discursiva –. Acreditamos ainda que essa etapa pode ir além da construção textual, no sentido de abarcar o desenvolvimento de práticas pedagógicas – 5ª etapa da Investigação Temática -, momento em que os educadores podem configurar uma nova concepção de sujeito, educação, conhecimento e currículo, via dialogicidade e problematização. Portanto, foi dessa forma que associamos as 4ª e 5ª etapas da Investigação Temática com a 3ª etapa da Análise Textual Discursiva, emergindo as articulações redução temática/metatexto e sala de aula/comunicação” (MORAES e GALIAZZI, 2006, p. 9).
O momento da articulação traz a redução temática/metatexto de cada educador, pois
em conjunto, seleciona os conceitos necessários de sua área que serão necessários para a
compreensão do Tema Gerador. Para tanto, o pesquisador concentra na seleção e no
desenvolvimento dos conceitos relativos à Sequência Temática (ST) relacionados ao ensino
de Ciências/Física articulados ao enfoque CTSA, podendo ou não contar com a colaboração
de outros professores de outras áreas de conhecimento no desenvolvimento da ST.
58 Com relação à articulação tripla entre a ATD, IT e a Pesquisa Participante, o segundo momento da articulação ATD-IT pode ser articulado com a com a terceira fase da pesquisa participante. Segundo Rosa (2013), na terceira fase da Pesquisa Participante: A Análise Crítica dos Problemas Considerados Prioritários os participantes, distribuídos em grupos de estudo e discussão, buscarão analisar criticamente os problemas, analisando possíveis estratégias de superação.
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Destacamos que Freire (1987) não propõe a forma de como podemos trabalhar os temas
gerados em sala de aula. Então, baseamos nas contribuições de Delizoicov e Angotti (2002)
fundamentado nos Três Momentos Pedagógicos
59(MP) para a construção da ST. Assim
entende-se que, através do processo da unitarização e da categorização, a elaboração de textos
descritivos, interpretativos e argumentativos, a seleção dos conteúdos críticos necessários
para o desenvolvimento da ST, foram possíveis de serem desenvolvidos no contexto da 3ª
etapa da ATD, metatexto, conforme estudo de Torres et. al. (2008). Este momento de
articulação na escolha dos conteúdos é defendido por Delizoicov quando entende que:
Os critérios usados durante a redução temática são epistemológicos, isso porque os conhecimentos científicos são previamente selecionados e estruturados antes de serem desenvolvidos em sala de aula – 5ª etapa da Investigação Temática –, “constituindo conteúdos programáticos escolares críticos e dinâmicos” (DELIZOICOV 1991, p. 181 apud MORAES E GALIAZZI, 2006, p. 9).
Ainda no terceiro momento desta articulação, após a estruturação dos conteúdos,
temos a articulação sala de aula/comunicação. Este momento equivale à quinta etapa da
Investigação Temática e consiste na implementação das atividades pedagógicas/ST CTSA, em
sala de aula, fundamentadas nos MP e a produção de um audiovisual pelos alunos produtores.
A ST encontra-se em um caderno de proposição, no final da Dissertação. A análise das
atividades implementadas será desenvolvida, detalhadamente, no capítulo 4, de análise dos
resultados
60. (Podemos articular este momento da pesquisa com a quarta fase da pesquisa
participante, que Segundo Rosa (2013), a Programação e Aplicação de um Plano de Ação, as
ações planejadas são executadas e a pesquisa propriamente dita acontece, pois as ações que
foram delineadas nas etapas anteriores foram executadas e o grupo recebeu os resultados).
59
Este conceito será definido no capítulo da Sequência Temática.
60 Com relação à