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A articulação institucional da investigação criminal relativa aos crimes de incêndio florestal

No documento Crime de Incndio Florestal (páginas 112-114)

ASPECTOS JURÍDICOS PROCESSUAIS DOS CRIMES DE INCÊNDIO FLORESTAL A articulação institucional da investigação criminal relativa ao crime de incêndio florestal

II. ASPECTOS JURÍDICOS PROCESSUAIS DOS CRIMES DE INCÊNDIO FLORESTAL

1. A articulação institucional da investigação criminal relativa aos crimes de incêndio florestal

A investigação criminal relativa aos crimes de investigação criminal obriga a que o Ministério Público se relacione com diversas entidades, nomeadamente com os Órgãos de Polícia Criminal (PJ e/ou GNR) e, eventualmente, com outras entidades, nomeadamente com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ou com os Centros Distritais de Operação de Socorro, enquadrados na estrutura da Protecção Civil.

E como já se referiu, tais entidades encontram-se dotadas de estruturas especializadas e centralizadas, nomeadamente a Polícia Judiciária encontra-se dotada de um Gabinete Permanente de Acompanhamento e Apoio, com sede em Coimbra e dirigido por um Magistrado do Ministério Público, competindo a tal gabinete fazer a verificação da situação relativa aos incêndios florestais, implementar critérios de investigação, fazer a devida articulação, centralizar a informação e proceder à elaboração de um relatório anual.

Em contrapartida, o Ministério Público, neste particular, não se encontra dotado de uma estrutura especializada e centralizada.

A articulação entre o Ministério Público e a Polícia Judiciária, e independentemente da existência de outras ordens de serviço ao nível dos Distritos Judiciais e de outras determinações hierárquicas ao nível das comarcas, tal articulação faz-se ao abrigo da Circular n.º 9/2008 da PGR, Circular que, mesmo assim, não deixa de ser restritiva, na medida em que a respectiva aplicação assenta na verificação de dois pressupostos: é necessário tratar-se de crime doloso de incêndio florestal e o inquérito correr contra pessoas determinadas.

Porém, e olhando para a prática judiciária, certamente, que existirão questões que deveriam ser devidamente esclarecidas com vista à uniformidade de critérios e de procedimentos nas diversas comarcas, as quais, e aproveitando-se a janela de oportunidade que vai ser aberta pela nova organização judiciária, na área de inquéritos em cada uma das novas comarcas deveria haver um magistrado afecto a tal tipologia criminal e que se especializasse na investigação criminal relativa aos crimes de ince ndio florestal e que todos fossem coordenados por uma estrutura central.

Para mais, e como é sabido, quando essa articulação veio de certa forma a ser posta em causa devido ao despacho interno da GNR que fez com que as ocorrências de incêndio deixassem de

Crime de Incêndio Florestal 5.Aspectos jurídicos substantivos e processuais dos crimes de incêndio florestal

Pese embora a Polícia Judiciária poder adquirir de imediato a notícia do crime por outros meios, nomeadamente através do acesso às bases de dados da GNR que contêm esse tipo de informação ou através de recolha de informação junto da Protecção Civil, ou seja, do respectivo Centro Distrital de Operação de Socorro, tudo isso não obsta que o Ministério Público, em cada comarca, e face ao quadro ordenador que existe, não possa garantir uma articulação eficaz entre as diversas entidades de molde a adquirir a notícia do crime o mais urgentemente possível.

Por exemplo, na Comarca da Figueira da Foz foi determinado hierarquicamente que «os incêndios cujos prejuízos não excedam 5000 €, salvo oposição da PJ a quem tais crimes devem ser comunicados, devem ser investigados pelos OPC´s territorialmente competentes. Aliás, há situações de atraso na investigação criminal que se devem à organização e actuação do próprio Ministério Público, na medida em que relativamente a muitos dos inquéritos instaurados em Julho e Agosto ainda não contra pessoa determinada, o despacho de delegação de competência acaba por ser só proferido em Setembro, ou seja, após as férias judiciais, situação que não pode deixar de ser rapidamente solucionada, uma vez que em tais casos perdem-se quase dois meses, o que pode inviabilizar de todo em todo a investigação.

Assim, o Ministério Público ao tomar notícia da prática de um crime doloso de incêndio florestal, em termos de iniciativa processual, deve delegar a competência na Polícia Judiciária, que face à sua alta preparação e conhecimentos técnicos, tem competência reservada para a investigação do referido crime, e se for caso disso, e com urgência, deve solicitar que a investigação se inicie de imediato.

Relativamente ao crime negligente de incêndio florestal a competência deve ser delegada na GNR.

a) Do crime doloso de incêndio florestal

A competência para a investigação do crime doloso de incêndio florestal é reservada à Polícia Judiciária, nos termos do disposto na alínea f) do n.º 3, do artigo 7º da L.O.I.C.

Quanto ao crime doloso de incêndio florestal, previsto no artigo 274º do Código Penal, (não se aplica ao crime negligente de incêndio florestal) o Ministério Público deverá ainda considerar o disposto na Circular n.º 9/08 de 16 de Junho, da Procuradoria-Geral da República, que determina a atribuição de carácter urgente aos inquéritos contra pessoas determinadas, por suspeita da prática de factos susceptíveis de integrarem o crime doloso de incêndio florestal (ver artigo 103º, n.º 2, alínea b), do Código de Processo Penal) que visa garantir uma boa articulação entre o Ministério Público e a PJ e criar uma uniformidade de procedimentos.

b) Do crime negligente de incêndio florestal

Por exemplo, no Distrito Judicial do Porto, atendendo ao teor da Informação n.º 2/11 de 6 de Janeiro de 2011, no que respeita ao crime negligente de incêndio florestal, o Ministério Público

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deverá ter em consideração o facto de terem sido criadas as secções SEPNA (Serviços de Protecção da Natureza e do Ambiente), em todos os Comandos Distritais da GNR, que possui quadros habilitados para a instrução de processos relativos a este tipo de crime, pelo que todos os inquéritos a delegar na G.N.R., deverão ser remetidos às Secções SEPNA dos diferentes Comandos Territoriais.

2. As competências judiciárias na definição da criminal relativa ao crime de ince ndio

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