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Factores preditivos do sucesso das investigações

No documento Crime de Incndio Florestal (páginas 30-37)

Crime de Incêndio Florestal 2.Questões substantivas e processuais relativas ao crime de incêndio florestal

− Inspecção judiciária

Uma boa e atempada análise do local, podendo até o OPC estar no local ainda na fase de combate e/ou rescaldo.

O sucesso será tanto maior quanto a investigação se iniciar o mais rapidamente possível após deflagração do incêndio e a propagação da notícia.

A primeira e cuidada inspecção ao local pelos órgãos de polícia criminal competentes (PJ e GNR/SEPNA) é fulcral para o sucesso da investigação e apuramento da causa do incêndio com a recolha de indícios objectivos que permitam determinar a concreta ignição.

− Dinâmica do incêndio

É essencial um conhecimento correcto e preciso do comportamento do fogo e para tanto é importante o auxílio de especialistas em dinâmica dos incêndios (universidades, professores estudiosos do fenómeno, bombeiros) uma vez que estamos numa área que convoca uma multiplicidade de conhecimentos e apetências técnicas que vai muito além do jurídico.

Aqui é de socorrer-se dos necessários conhecimentos técnicos que especialistas em fogo podem trazer ao processo.

E é tão mais importante porquanto é fundamental perceber a forma como o incêndio se iniciou, se propagou, que causas externas ao comportamento do agente concorreram para a propagação, se as mesmas podem ser imputadas à vontade daquele (ao juízo de culpa que é formulado), ainda que na forma negligente.

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Slide 7 – Factores preditivos do sucesso das investigações

− Carrear para os autos todas as informações relativas a essas concausas, designadamente as meteorológicas (facultadas pelo IPMA).

− Preservação dos dados de rede

Também aqui uma boa prática implica que o OPC encarregue da investigação, recolha os dados de identificação das células das antenas que cobrem o local dos factos e, com essa informação, o MP peça a preservação os dados nos termos do art. 12.º da Lei do Cibercrime (formulários disponibilizados pelo Gabinete do Cibercrime e que se encontram no SIMP) para, posteriormente ser possível solicitar ao JIC a obtenção dos dados (porque não sendo dados de comunicação permitem a localização) e, assim independentemente da posição sufragada atrás referida, identificado um suspeito não se perdeu a informação, podendo obter-se o efeito comparativo entre os dados preservados e as especificações/dados do telemóvel do suspeito/arguido.

Estes dados de rede não são registos de comunicações, pelo que as operadoras mantêm os dados em regra por 2/3 dias, no máximo 30 dias. Por isso, a importância da rápida recolha e preservação dos mesmos.

Crime de Incêndio Florestal 2.Questões substantivas e processuais relativas ao crime de incêndio florestal

Apesar de não ser uma posição jurisprudencial pacífica, entendemos que devem ser valorados, em audiência, as contribuições do arguido na reconstituição do facto efectuada, bem como o depoimento dos órgãos de polícia criminal sobre as informações prestadas por ele aquando dessa diligência.

Tratando-se a diligência de reconstituição um meio de prova autónomo, os esclarecimentos ali prestados são contribuições do arguido para a efectiva realização da diligência de reconstituição, não sendo, por isso, declarações de arguido sujeitas ao espartilho do disposto no art. 356.º e 357.º do CPP.

Consequentemente, desde que obtido de forma legal, este meio de prova pode ser valorado nos termos do art. 127.º do Código de Processo Penal, não se confundindo as contribuições do arguido para a reconstituição do facto, ainda que orais (informações, esclarecimentos) com a problemática da leitura em audiência de julgamento das declarações anteriormente prestadas no inquérito ou na instrução, bem como os depoimentos dos órgãos de polícia criminal sobre o que viram e ouviram na reconstituição do facto, designadamente através dos esclarecimentos aí prestados pelo arguido, não versam verdadeiramente sobre “declarações de arguido”, daí não estarem sujeitos à disciplina da proibição de prova prevista no n.º 7 do art. 356.º do Código de Processo Penal.

− Perícias

Referir neste item, para além das perícias psiquiátricas quando haja indícios de que o agente é inimputável, as perícias que podem ser realizadas tendentes, com a introdução de métodos de cálculo fidedignos e objectivos (com base em critérios já ao apuramento dos prejuízos/danos causados pelo incêndio (com a competente descrição, identificação e quantificação), bem como os perigos/danos que poderiam ter ocorrido ou que tenham sido colocados em perigo com o incêndio e que apenas não ocorreram fruto da intervenção que permitiu extinguir o incêndio atempadamente.

Estas perícias podem ser realizadas por técnicos (engenheiros civis) que constam de lista oficial de peritos avaliadores da DGAJ.

Facultam um precioso instrumento para o preenchimento, nomeadamente, do crime agravado previsto no n.º 2 do art. 274.º do CP, designadamente na concretização do perigo para bens patrimoniais de elevado valor ao quantificar.

Trazendo aos autos métodos de cálculos objectivos para avaliação das áreas rurais, das áreas urbanas que naturalmente são diversas.

Ferramenta muito útil, devendo o MP formular os quesitos aquando da determinação da perícia, que se podem reduzir a dois pontos fundamentais:

“− Quais os prejuízos/danos causados pelo incêndio (descrição, identificação e quantificação);

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− Quais os perigos/danos num raio de 1 quilómetro em relação ao ponto de ignição do incêndio que poderiam ter ocorrido ou bens que tenham sido colocados em perigo com o incêndio e que apenas não ocorreram fruto da o que permitiu extinguir o incêndio atempadamente.”

Satisfeitas que sejam estas premissas, recorrendo às regras da experiência comum e conjugá- las, através de um raciocínio lógico ditado por aquilo que é o normal acontecer, com os factos apurados e objectivados no processo estarão certamente reunidos indícios suficientes e prova bastante que conduzirão à dedução de acusação mas também, e essencialmente, à prolação de uma condenação.

Infelizmente os tempos recentes demonstraram como os incêndios podem afectar a comunidade, exigindo-se, por isso, que a Sociedade (na qual os Tribunais têm um papel primordial e único) saiba dar uma resposta atempada e capaz ao anseios das populações que servem.

Vídeo da apresentação

Crime de Incêndio Florestal 3.A Investigação no Crime de Incêndio Florestal

No documento Crime de Incndio Florestal (páginas 30-37)