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O percurso da SAN tem sido considerado por inúmeros segmentos sociais como uma estratégia que põe em evidência a

3 UMA COMPREENSÃO DO ESPAÇO PRODUZIDO MEDIANTE O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS

4. Articulação, Mobilização e Controle Social

a) Centros de Referências em Assistência Social (CRAS) e Programa de Atenção Integral às Famílias (PAIF);

b) Conselhos de Políticas Públicas (CONSEAs e outros Conselhos e Comitês de Controle Social);

c) Educação Cidadã e Mobilização Social;

d) Doações;

e) Parcerias com Empresas e Entidades. FONTE: MDS/Aranha (2010).

A interseção nos eixos “Acesso aos alimentos, Fortalecimento da Agricultura Familiar, Geração de Renda e Articulação, Mobilização e Controle Social” permitiu estabelecer a reflexão que, separadamente, não haveria, ou seja, a possibilidade de os agricultores familiares poderem garantir alimentação segura e saudável em quantidade e qualidade suficientes, com vistas a ser efetivado o DHAA.

Tal proposta logrou frutos positivos na perspectiva da inclusão social, geração de renda e possibilidades de erradicação da pobreza extrema. Não será afirmado, aqui, que os resultados apreendidos tanto na perspectiva quantitativa quanto na qualitativa têm levado à população que se encontrava em situação de extrema pobreza a ficar na situação de pobreza.

É fato que os avanços alcançados no campo social, em particular no alimentar e nutricional, devem ser enaltecidos, mas a dívida social existente no Brasil permanece incompatível em comparação com o desenvolvimento econômico.

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O país ainda possui um contingente, significativo de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza e apresenta níveis de desigualdade entre os mais altos do mundo e milhões de famílias que ainda não têm acesso a programas públicos, o que resulta na violação quotidiana de seu direito humano à alimentação adequada. Além disso, verifica-se nos setores conservadores um recorrente esforço de enfraquecimento e de criminalização das organizações e movimentos sociais que lutam por justiça social, o que contribui para fragilizar a democracia brasileira (MALUF, 2012, p. 63).

Com o Governo Dilma, em 2011, ocorreu a perspectiva da ampliação das ações governamentais do Presidente Lula (2002-2010), agora com a tônica da erradicação da pobreza extrema, bandeira do Programa Brasil Sem Miséria o qual possui três eixos de atuação: Acesso a Serviços (Área da Educação, Saúde, Assistência Social e Segurança Alimentar); Garantia de Renda (Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada - BPC); e Inclusão Produtiva (Rural e Urbana).

Essa proposta se assemelha com o Programa Fome Zero, no que tange às áreas de atuação, além de programas como Bolsa Família, PRONAF, PNAE e PAA terem sido mantidos no Brasil Sem Miséria (BRASIL, 2013).

Conforme o CONSEA (2009), u ma das mais importantes expressões do enfoque intersetorial da SAN, orientado pelos princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada e da Soberania Alimentar, está na articulação entre as ações que promovem o acesso aos alimentos e aquelas voltadas para o fortalecimento da agricultura familiar, a qual é o principal objetivo do PAA.

O PAA junto ao novo formato do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) se caracteriza como duas importantes conquistas para as quais foi decisivo o trabalho do CONSEA. Note-se que ambos os programas conferem estímulo especial para a agricultura familiar de base agroecológica.

Para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), instituído pelo Artigo 19, da Lei 10.96/2003, é uma das ações do Fome Zero, proporcionando o acesso a alimentos às populações em situação de insegurança alimentar, promovendo inclusão social e econômica no campo, por meio do fortalecimento da agricultura familiar mediante aquisição de produtos agropecuários de pequenos agricultores familiares, enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), ou seja, que possuem Declaração de Aptidão (DAP) do PRONAF.

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O PAA conta com recursos do MDS e do MDA. É executado em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), e, no caso do Ceará, pela SDA e pelos municípios. Sua organização se dá por intermédio de um Grupo Gestor, coordenado pelo MDS e MDA, vinculado a mais cinco ministérios que são: o da Fazenda, Planejamento – Orçamento e Gestão, Ministério da Educação, que está representado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE); e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, representados pela CONAB (MELLO; FIGUEIREDO, 2009, p. 137).

FIGURA 2 - Organograma de Funcionamento do PAA

Fonte: Portal do MDS, MDA e CONAB (2007) org. pela Autora (2015).

Segundo os autores (op. cit.), essa rede de atuação permite a influência das instituições na formulação de políticas públicas. Utilizando-se de um tom mesmo jocoso, afirma-se que as “regras do jogo” são ditadas pelos órgãos federais (o grupo gestor), e os “jogadores” são as organizações – as entidades que, direta ou indiretamente, fazem parte do processo (gestores executores e atores locais). “Com a estrutura de governança (gestão) os atores envolvidos se relacionam para dirimir conflitos que venham a existir e solucionar problemas sobre assimetrias de informações” (p. 138).

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De acordo com o Decreto 7.775, de 4 de julho de 2012, em Parágrafo único, intui-se que o MDS, o MDA e o Grupo Gestor do PAA (GGPAA), no âmbito de suas competências, poderão fixar disposições complementares sobre o PAA (BRASIL, 2012). O PAA prevê a compra governamental de produtos alimentares, diretamente de agricultores familiares, assentados da reforma agrária e povos e comunidades tradicionais, para abastecer programas voltados ao atendimento de populações em situação de insegurança alimentar, para ações de distribuição de alimentos à população de maior vulnerabilidade social e para a formação de estoques estratégicos. Ou seja, conforme o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) (2009),

O programa tem dois grandes objetivos: apoiar a comercialização agropecuária dos agricultores familiares, estimulando a produção de alimentos; facilitar o acesso a esses alimentos pelas famílias em situação de insegurança alimentar. Trata-se de juntar os produtores agrícolas e os consumidores. Os alimentos adquiridos de associações de agricultores familiares, com apoio operacional de governos estaduais, municipais e da CONAB, seguem, como doação, para abastecimento da rede de proteção e promoção social e para os equipamentos públicos de alimentação e nutrição tais como restaurantes populares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias, bem como para a rede pública de ensino e para a composição de cestas de alimentos distribuídas pelo MDS (CONSEA, 2009, s.p.).

É importante destacar que existem três tipos de beneficiários no Âmbito do PAA: a) Beneficiário Fornecedor; b) Beneficiário Consumidor; e c) Organização Fornecedora. De acordo com Decreto Nº 7.775, de 4 de Julho de 2012 (BRASIL, 2012), organizador da Cartilha PAA – Doação Simultânea:

a) São caracterizados como beneficiários fornecedores os agricultores familiares, assentados, agro-extrativistas, quilombolas, famílias atingidas por barragens, trabalhadores rurais sem-terra acampados, comunidades indígenas e ribeirinhos que apresentem a Declaração de Aptidão (DAP) ao PRONAF, e que preferencialmente estejam organizados em cooperativas e associações. As organizações fornecedoras são cooperativas ou associações que detenham a DAP Jurídica;

b) Os beneficiários consumidores são os indivíduos em situação de insegurança alimentar e nutricional, aqueles atendidos pela rede socioassistencial (asilos, hospitais, APAE) pelos equipamentos de alimentação e nutrição (restaurantes populares) e pela rede pública e filantrópica de ensino (escolas, creches);

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c) As organizações fornecedoras são cooperativas ou associações que detenham a DAP Jurídica;

A escolha dos beneficiários consumidores é feita de acordo com o Decreto 7775, de 4 de julho de 2012, priorizada nesta ordem:

1) O consumo de pessoas ou famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional; 2) O abastecimento da rede socioassistencial;

3) O abastecimento de equipamentos de alimentação e nutrição; 4) O abastecimento da rede pública e filantrópica de ensino;

5) A constituição de estoques públicos de alimentos, destinados a ações de abastecimento social ou venda;

6) O atendimento a outras demandas definidas pelo Grupo Gestor do Programa de Aquisição de Alimentos (GGPAA).

O Programa tem ainda, em sua proposta, o objetivo de simplificar os processos de venda dos produtos agrícolas, ou seja, de prever a dispensa de licitação, desde que os preços não sejam superiores aos perpetrados nos mercados regionais.

Como apresentado na Introdução da presente Tese, a implementação do PAA ocorre por meio de cinco modalidades, cujas parcerias perpassam pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), governos estaduais e municipais. O Programa atua nesses Territórios em suas múltiplas modalidades. No caso do Ceará, especificamente, quatro: Compra Direta, Compra com Doação Simultânea, Incentivo à Produção e ao Consumo de Leite e Apoio à Formação de Estoques.

Entretanto, a operacionalização do mesmo se dá por intermédio de cinco modalidades previstas no Capítulo IV, Art. 17, do Decreto 7.775, de 4 de julho de 2012, cujo Decreto previa quatro modalidades:

a - Compra com Doação Simultânea - compra de alimentos diversos e doação simultânea a entidades da rede socioassistencial, aos equipamentos públicos de alimentação e nutrição e, em condições específicas definidas pelo Grupo Gestão do Programa de Aquisição de Alimentos (GGPAA), à rede pública e filantrópica de ensino, com o objetivo de atender a demandas locais de suplementação alimentar de pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional; este financiado pelo MDA/MDS e executado pela CONAB, estados e municípios;

b- Compra Direta da Agricultura Familiar - compra de produtos definidos pelo GGPAA, com o objetivo de sustentar preços, atender a demandas de programas de acesso à alimentação e das redes socioassistenciais e constituir estoques públicos; sendo esta modalidade financiada pelo MDS/MDA e executado pela CONAB;

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c - Incentivo à Produção e ao Consumo de Leite - Compra de Leite que, após beneficiamento, é doado aos beneficiários consumidores; é financiado pelo MDS e executado pelos estados das regiões Nordeste e do norte de Minas;

d - Apoio à Formação de Estoques - apoio financeiro para a constituição de estoques de alimentos por organizações fornecedoras, para posterior comercialização e devolução de recursos ao Poder Público ou destinação aos estoques públicos; desenvolvido pelo financiamento do MDS/MDA e executado pela CONAB;

e - Compra Institucional - compra voltada para o atendimento a demandas regulares de consumo de alimentos por parte da União, Estados, Distrito Federal e Municípios pela aquisição de produtos da agricultura familiar com recursos próprios, de acordo com regras do PAA (limite e preços). – Restaurantes Universitários, Brigada Militar, recursos próprios da alimentação escolar, hospitais;

f - outras modalidades definidas pelo GGPAA.

As referidas modalidades serão discutidas no próximo Capítulo, especificando a situação no Estado do Ceará.

4. COMPRA DIRETA DA AGRICULTURA FAMILIAR: