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Aquí se respira lucha

Vamos caminando

Yo canto porque se escucha

Vamos dibujando el camino

(Vozes de um só coração)

Vamos caminando

Aquí estamos de pie

Que viva la América!

No puedes comprar mi vida

Latinoamérica – Calle 13

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objeto da presente tese traz em si o desafio que se consubstanciou na análise de uma política pública e sua espacialização no Estado do Ceará. Teve-se como pressuposto que as condições de renda, educação, moradia e também a alimentação com qualidades nutricionais expressivamente precárias nas diferentes regiões do país, padrões dietéticos por vezes incompletos e desarmônicos revelam a grande problemática para o desenvolvimento socioeconômico do povo brasileiro.

Para a mudança dessa situação é necessária a atuação do Estado por meio da implementação de políticas sociais, à exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); construídas mediante a participação e a mobilização social que proporcionem condições para efetivação do controle social de maneira mais equitativa e sistemática.

Nesse sentido, a efetivação do mapeamento do PAA no Ceará, bem como a compreensão da execução de tal política foi sendo realizada de acordo com o início de cada modalidade e o entendimento da intervenção do Estado, com vistas a contribuir para a redução do quadro de I nsegurança Alimentar no Ceará, uma vez que a complexidade dessa análise se materializou na busca pela compreensão dos meandros dos jogos de interesse e, principalmente, p o r deparar-se com a leitura de que os municípios mais articulados, por vezes os que tinham maiores condições para contratação de projetistas ou ainda por possuírem técnicos que se focaram nas possibilidades de aquisição de recursos com o desejo de uma mudança na situação dos agricultores familiares; foi a confirmação de que para além de diretrizes bem estruturadas de uma política pública, uma série de questões ocorrem por trás de sua execução.

Confirmou-se, assim, o desenvolvimento de um estudo geopolítico, na perspectiva da compreensão dos interesses para a execução e distribuição do programa, enfocando os seus princípios norteadores da SAN, como o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e à Soberania Alimentar.

É fato que o PAA foi construído em um contexto marcado pelo debate da fome e da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, c o m o apresentou-se, no Capítulo 2. Interessante frisar a mudança terminológica da fome, para segurança alimentar, que por sua vez evoluiu para segurança alimentar e nutricional e abriu as portas para o fortalecimento do debate da Soberania Alimentar e, posteriormente, do Direito Humano à Alimentação Adequada.

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De início, as definições que fundamentaram o trabalho, em si, ainda, não possuem um contorno bem definido, a exemplo de Segurança Alimentar e Nutricional e também, Soberania Alimentar, como indicado por uma série de pesquisadores da área. Considera-se, sim, que, principalmente, Soberania Alimentar possibilita ao leitor ter mais uma noção do mesmo do que um conceito fechado em si, onde o presente trabalho contribui para o entendimento do mesmo para além da perspectiva da autonomia decisória do País, mas sim conforme a bandeira da Via Campesina, a precursora desse debate entre os movimentos sociais. A execução das modalidades no estado do Ceará, permitiram identificar a materialização de formas espaciais, provenientes de intervenções teleológicas e a efetivação de projetos elaborados por sujeitos históricos e sociais que a partir de ações conjuntas, principalmente à nível municipal, foram atendidos; sendo possível observar investimentos progressivos tanto no que tange a valores advindos do Governo Federal, como do Governo Estadual e incentivos municipais.

Essas formas espaciais, produzidas pela sociedade; especificamente a produção de gêneros alimentares nas áreas rurais; vão exprimir e manifestar projetos, interesses, necessidades e utopias, o que levará à garantia da sobrevivência alimentar. Aqui faz – se, no entanto, uma crítica ao fato que somente garantir a comida não basta para a sociedade. É preciso ter uma boa alimentação, saber escolher os alimentos e reverter favoravelmente o que é adquirido de recurso com que for recebido pelo PAA.

O que se constatou, foi a necessidade de se pensar sistemicamente e intersetorialmente a execução do PAA, uma vez que mesmo existindo a orientação de atender os municípios mais pobres, o que se constata é que quem têm sido atendidos pelos recursos do PAA são os municípios que submetem projetos e propostas. Ou seja, se está submetendo, visto que nem todos constam neste rol, têm mais chance de ser beneficiado.

O que falta é divulgação, existência de ações conjuntas entre instituições executoras e maiores iniciativas de controle social desenvolvidas tanto pelo CONSEA-CE, como pelos demais sujeitos da sociedade civil. Em que pese estas questões, é preciso considerar que elas são fundamentais para execução de uma política pública que venha garantir o DHAA e a Soberania Alimentar.

No entanto, os movimentos sociais, que estão na base, têm conseguido uma mudança nessa máxima, à medida que as mesmas viram nesses últimos doze anos a possibilidade de se envolver na elaboração de políticas públicas.

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O ex-presidente do CONSEA-CE destacou em sua última reunião: “Foram pessoas como a gente que discutiram as políticas públicas, ouvindo os clamores da sociedade por políticas sociais” (E.B. ex-presidente do CONSEA-CE, 2014). Para a atual Presidente do Conselho, M.M. (Entrevista realizada em dezembro de 2014), “são os representantes...conselheiros...que representam a sociedade civil na luta para se alcançar o objetivo comum, que é a efetivação do DHAA, mas esse caminho precisa de apoio para ser executado”. Afirma a mesma remetendo-se a necessidade de ser realizado um controle social.

Vale indicar que existe o registro do início de um projeto de controle social a partir do CONSEA-CE, mas o mesmo se deparou com a inexistência de recursos para alavancarem suas atividades. Nesse contexto, indica-se, também, como um desafio, para uma satisfatória execução de uma política, a necessidade de se aumentar o percentual desses grupos que reivindicam uma política social de SAN.

Somente esse envolvimento permitiu que a s políticas sociais mudassem a imagem da fome, principalmente, na Região Nordeste, e fizessem que os números do levante à pobreza extrema caíssem, mesmo que infelizmente não se findassem.

Dentre as políticas que contribuíram para a alteração desse quadro, conta o objeto de estudo, especificamente, em três de suas modalidades executadas no Estado do Ceará que, mesmo tendo como tônica a redução da pobreza, a garantia da alimentação em quantidade e qualidade e a superação das situações de vulnerabilidade social; precisariam ser pensadas dentro de uma totalidade estadual de forma estratégica, abrangendo, principalmente, os municípios com maior situação de Insegurança Alimentar e Nutricional.

Observou-se, primeiramente, a inexistência de um diálogo intergovernamental e, em consequência, as execuções municipais e estaduais realizadas por organizações como Prefeituras, SDA e CONAB não estabelecem planejamentos de ação com vistas ao atendimento prioritário dos municípios em situação de vulnerabilidade.

Foi contatado que o PAA aliou elementos da política agrícola e componentes da política de Segurança Alimentar, articulando o apoio à comercialização dos produtos da agricultura familiar, notadamente por meio da aquisição de produtos pelo Governo Federal, e a promoção do acesso aos alimentos pelas pessoas em situação de vulnerabilidade social. Entretanto, não é possível indicar em nenhuma das modalidades uma regularidade do ano de início de execução para 2012. Tal indicação só foi possível ser observada de 2010 a 2012, quando as informações passaram a ser mais sistemáticas à nível Estadual e os agricultores familiares iniciaram as indicações de demandas para serem atendidas pelo PAA.

Infelizmente, o PAA ainda não possui capacidade, até o presente momento, de ser intermunicipal devido ao baixo excedente da produção, pouca logística para o transporte dos alimentos e a inexistência da ideia de um território unificado, pois ainda é pensado no atendimento por municípios.

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Ressalta-se, ainda, o papel que o PAA, enquanto política pública, tem gerado ao agricultor familiar no Estado do Ceará. Entendimento, este, que foi subsidiado pelo processo de compreensão do espaço social construído a partir da leitura geográfica da tese.

Sendo assim, conforme as discussões apresentadas no corpo da pesquisa, o PAA contempla diversos aspectos positivos, no entanto, ainda há desafios a serem superados, entre eles estão a adequação da legislação tributária e sanitária às especificidades da agricultura familiar; acesso à assistência técnica pública de forma permanente; concentração entre produtores e entidades consumidoras sobre a variedade e quantidade dos alimentos a serem entregues e consumidos; a continuidade e regularidade do programa e, a construção de uma rede de controle social nos municípios, o que envolve inúmeras dificuldades em decorrência da falta de informações e da grande concentração de poder por parte de grupos políticos locais que se apropriam e privatizam os recursos públicos.

Outra preocupação que não deve ser descuidada é a ameaça de uma focalização na comercialização dos produtos a ponto de transformá-los em simples mercadorias perdendo a dimensão do que representam os alimentos para a soberania alimentar dos povos do campo e da cidade o que pode, não somente comprometer o programa, mas ter um efeito devastador sobre as relações de troca características da agricultura familiar. Nesta perspectiva a participação das organizações camponesas são imprescindíveis no processo de implementação, monitoramento e avaliação do Programa nas esferas municipais, estaduais e nacional.

Seria, necessário para melhoria na execução do Programa, uma série de orientações, a exemplo da criação de infraestrutura adequada, como: estradas, energia, armazéns para estoque dos alimentos; o desenvolvimento de programas de formação, bem como a oferta de oficinas para os jovens com vistas à identificar potencialidades que venham garantir a geração de emprego e renda, diminuindo o êxodo rural; o treinamento também de agricultores para que possam melhorar a sua produção e agregar valor; incentivo para o desenvolvimento de lideranças e participação dos agricultores nas decisões do programa; a criação de uma logística eficiente para que os alimentos possam ser entregues no tempo certo sem gerar perdas; definição clara do papel de cada órgão público na execução do PAA, o que significa melhor coordenação e comunicação no gerenciamento e execução do PAA.

Além desses pontos, a busca pela constituição de uma mudança de consciência que altere as formas de consumo e possibilite a sociedade apreender como deve se alimentar, valorizando os alimentos de tradição e os conhecimentos transmitidos por gerações para sua produção e elaboração, ou seja, a comida de verdade. Enquanto se pensar que alimentos são lanches rápidos, adquiridos em mercadinhos ou supermercados e que os benefícios advindos das políticas públicas sociais devem unicamente ser revertido para aquisição de eletrodomésticos, continuar-se-á reproduzindo valores e padrões de consumo que levam à insegurança alimentar e nutricional.

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Nesse contexto, é pertinente registrar que o término da Tese, configurou-se como o despertar para novos questionamentos, uma vez que uma série de outras inquietações surgiram, sendo, neste caso, diretamente ligadas à situação alimentar dos sujeitos sociais atendidos pelo PAA em suas diversas modalidades e como estes têm se alimentado, se suas escolhas foram alteradas, e se a garantia em quantidade e qualidade têm se mantido.

Nesse sentido, vale inferir reflexões: sobre o fato de até hoje não serem publicitados os mecanismos de controle social, do Programa no Estado; a inexistência de um mapeamento dos povos indígenas e das demais comunidades tradicionais beneficiadas; e mesmo, não havendo uma avaliação sobre os projetos aprovados que receberam o benefício, como se encontra seu andamento; e quais as histórias de êxitos e fracassos no Programa são necessárias ao desenvolvimento do Programa. Ou, ainda, quais os efeitos do PAA nas áreas atendidas? Que resultados indicam a efetivação da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional nesses espaços? O que representa o PAA para o espaço da economia do município? Para a superação da pobreza?

Os caminhos que corroborarão para responderem essas reflexões só será possível mediante a contribuição da sociedade civil ao levantar demandas que visem a garantia de SAN. A participação social, nesses meandros de formulação e seguimento de políticas públicas, que auxiliará na efetivação do controle social e, assim, na consecução dos objetivos que o PAA preconiza.

7. REFERENCIAS

Equipe do CONSEA – Fortaleza – Ação pelo Dia Mundial da Alimentação