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4.3 Análise do Processo de Implementação da Política 65 

4.3.3 Articulações 78 

Os entrevistados E1, E3 e E4, ao relatarem as políticas e programas desenvolvidos pela SETUR, especificamente os dois de maiores abrangência além da Política de Circuitos Turísticos, que são o Estrada Real e o PRODETUR, deixam claro que, embora outros programas da SETUR, assim como outras políticas estaduais, não tenham suas ações direcionadas para o atendimento exclusivo dos circuitos, sempre que há oportunidade, a SETUR se esforça para que os municípios pertencentes aos circuitos turísticos sejam priorizados no atendimento das ações, principalmente daquelas que a própria SETUR não tem condições de realizar, como as de obras públicas, por exemplo, que são essenciais para o desenvolvimento da atividade turística, conforme apresentado por E3:

O circuito turístico não é contemplado pelo projeto Choque de Gestão. Mas tem ações deste projeto que o Circuito participa, como por exemplo, se você falar, se você falar do Lago de Furnas a gente quando começou esta ação eu fui o gerente desta ação (...), a gente trabalhou a questão de focar os circuitos turísticos dentro dessa ação. Então aí a gente tinha o envolvimento de 34 municípios e envolvendo aí 4 a 5 circuitos turísticos da região. Então a gente recebeu oficinas para o planejamento estratégico da região. O primeiro que a gente contemplou, que a gente chamou pra reunião foram os circuitos turísticos também, pra apoiar lá dentro (E3).

Para E2 e E3, a Política de Circuitos Turísticos é hoje a principal Política desenvolvida pela SETUR e, portanto, todas as outras estão, de alguma forma, alinhadas a ela, conforme destacado por E2:

79 Todos os nossos programas, projetos, todas as nossas metas acontecem no cenário, no território, na abrangência dos Circuitos Turísticos de Minas Gerais, tudo, todo, tudo é feito em articulação com esse grande macroprograma nosso, que é a regionalização do turismo e o nosso viés, a nossa diretriz principal é a descentralização (E2).

Contudo, embora os circuitos turísticos sejam a principal área de atuação da SETUR, E3 ressalta que internamente ainda há, por parte de alguns agentes, uma falta de entendimento do que realmente seja a Política. Na visão deste entrevistado, isso pode decorrer da própria troca de Governo, que nem sempre prioriza a continuidade das ações das gestões passadas, fazendo com que não se consolide o conhecimento e a experiência adquirida ao longo dos anos.

(...) trabalho é todo feito dessa forma e isso foi muito difícil pra nós no princípio, porque nem todo mundo entendeu o que é essa Política, porque eu acho que quando você fala de um projeto, não é de uma ação, você está falando pra casa toda. A casa toda tem que estar afiada. Tem também aqueles dois processos que eu entrei, do projeto de adquirir verba para o Programa de Regionalização um dos nossos era o nivelamento da informação dentro da Secretaria. Que isso era essencial. E ainda a gente tem uma dificuldade. A informação turística ela tem que falar em cima do que que é o circuito, eventos tem que ser todo em cima do que é circuito, e hoje a gente já trabalhou, a gente já fala, mas assim, todo dia a gente precisa focar muito em cima disso ainda, infelizmente (...) (E3).

Segundo E2 e E3, há uma articulação entre a Política de Circuitos Turísticos em MG e a Política Nacional de Turismo, contudo a segunda somente orienta as ações da primeira, sem impor uma linha de atuação única para o País. Pelo contrário, cada Estado tem autonomia para trabalhar o turismo de acordo com as suas especificidades, desde que alinhados ao propósito principal da Política Nacional. Dessa forma, conforme E3:

A gente está trabalhando sob a orientação do ministério, adaptando as regras de acordo com a gente. Que a gente não chega e fala assim: o ministério mandou fazer isso. Não, vamos ver porque que o ministério mandou fazer e como a gente vai implantar, como a gente vai pedir. Então a coisa é muito adaptada de acordo e aí a gente vai, a gente vê assim, e a gente nunca impõe o trabalho da gente, a gente chega e abre um diálogo, mais importante disso é o diálogo. Mas só que a gente segura a ponta, a gente segura a base (E3).

Diante do exposto, percebe-se que a fase de implementação da Política de Circuitos Turísticos constituiu-se num primeiro momento do planejamento e organização do Estado para execução da política, sendo necessário criar mecanismos legais para garantir a sua continuidade. Esse resultado vai ao encontro do que propõe Saravia (2006), que menciona essa organização do aparelho administrativo e dos

80 recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos necessários para a execução da Política.

Os resultados apresentados também indicam que ainda falta articulação da Política dentro da SETUR, de forma a alinhar todos os programas com a proposta de regionalização, visto que todas as ações do Governo para o turismo ocorrem no âmbito dos circuitos. Logo, a SETUR precisa fazer um trabalho de sensibilização interno e também de reorganização na sua estrutura, de forma que todas as ações ocorram no âmbito dessa Política.

Por outro lado, existe uma boa articulação entre a Política de Circuitos Turísticos e a Política Nacional, uma vez que ambas seguem as mesmas diretrizes - voltadas para a regionalização - sem, contudo, Minas Gerais perder a identidade do modelo desenvolvido preliminarmente no Estado.

Nesse sentido, constata-se que, ao contrário do que previa a Política quando de sua formulação, seu processo de implementação tem sido orientado a partir de uma abordagem top-down, uma vez que a SETUR assume o papel de articuladora (principal agente), cabendo aos circuitos apenas a execução da Política. A baixa participação dos circuitos nas decisões políticas e a falta de autonomia destes para se desenvolverem, evidencia esse papel de executores.