• Nenhum resultado encontrado

DISTRIBUIÇÃO DO MÊS DE NASCIMENTO E MEDIDAS

ANTROPOMÉTRICAS

DE

JOGADORES

DE

FUTEBOL

6.1 Resumo

O objetivo do presente estudo foi analisar a distribuição das medidas de estatura e massa corporal em relação ao mês de nascimento, de jogadores de futebol participantes da Copa Brasil de Futebol Sub-15. A amostra foi composta de 400 jogadores de futebol (15,4 ± 0,4 anos) da categoria Sub-15 que participaram da 10° Copa Brasil de Futebol Sub-15. Todos estavam envolvidos em programa de treinamento de futebol de campo a pelo menos 6 anos e participavam ativamente de competições. As datas de nascimento, bem como as medidas antropométricas estatura e massa corporal foram obtidas a partir de dados relatados pelas equipes na ficha de inscrição de cada atleta à organização do evento e a CBF. Os indivíduos foram separados de acordo com a categorização de idade cronológica por quadrimestres, 1˚ quadrimestre (1˚ QDT), jovens nascidos entre janeiro e abril; 2˚ quadrimestre (2˚ QDT), jovens nascidos entre maio e agosto e 3˚ quadrimestre (3˚ QDT), jovens nascidos entre setembro e dezembro. Para comparação da distribuição encontrada nos quadrimestres em cada categoria foi utilizado o teste não paramétrico do qui-quadrado (X2). A significância adotada foi P<0,05. Os resultados demonstram que o número jogadores nascidos nos meses correspondentes ao 1˚ QDT foram maiores quando comparado ao 2˚ QDT e 3º QDT (P<0,05), e maiores quando comparado o 2˚ QDT com o 3º QDT (P<0,05). Para as variáveis ET e MC observou-se que os jogadores nascidos nos meses correspondentes ao 1˚ QDT apresentaram valores significativamente maiores que os nascidos nos meses correspondentes ao 2˚ QDT e 3º QDT (P<0,05). Constatou-se também que os valores de estatura e massa corporal dos jogadores nascidos nos meses correspondentes ao 2˚ QDT apresentaram valores significativamente maiores que os nascidos nos meses correspondentes ao 3º QDT (P<0,05). A partir dos achados pode-se concluir que o ERI exerce influência na seleção de jogadores Brasileiros de futebol da categoria Sub-15 por estar associado às diferenças nas características antropométricas desses jovens jogadores, o que pode estar relacionado a uma maturação biológica precoce.

6.2 Introdução

No contexto esportivo, muitos fatores são relevantes para determinação do sucesso de um jogador de futebol e a exigência para a prática em alto nível competitivo é multifatorial, justificando a complexidade em predizer o desempenho esportivo de jovens atletas (Williams e Reilly, 2000).

Além disso, deve-se considerar o fato de que muitos profissionais responsáveis pelo processo de formação do jovem atleta, desconhecendo as diversas transformações corporais que ocorrem durante a puberdade, submetem os jovens atletas à cargas de treinamento incompatíveis com sua capacidade de suportá-las devido a um possível atraso em seu desenvolvimento biológico, o que pode comprometer o desenvolvimento esportivo dos jovens atletas (Musch e Grondin, 2001).

Em algumas situações da prática esportiva, encontramos jovens em diferentes estágios maturacionais dentro de um mesmo grupo de treinamento ou categoria competitiva (Hirose, 2009). Situações que, pela diferença interindividual no componente físico, podem favorecer os mais adiantados no processo de desenvolvimento biológico e, que podem desmotivar e automaticamente excluir outros mais tardios, com possibilidades reais de se tornarem excelentes atletas no futuro (Malina, 2003).

Evidências científicas demonstram que, jovens em estágios maturacionais avançados em relação a indivíduos com maturação atrasada de um mesmo grupo de treinamento, apresentam vantagens no desempenho esportivo (Helsen, Winckel e Williams, 2005; Malina, Bouchard e Bar-Or, 2009). Para Rogel et al. (2006) muitas dessas diferenças podem ser atribuídas ao efeito relativo da idade. O ERI tem sido observado não apenas no futebol, mas também em diversos esportes (Musch e Grondin, 2001; Cobley, Wattie e McKenna, 2009).

Algumas pesquisas têm analisado a relação entre a distribuição dos meses de nascimento e dimensões corporais de atletas jovens (Malina et al., 2007; Sherar et al., 2007). Mais recentemente, Carling et al. (2009) sugeriram que as diferenças no tamanho do corpo causadas pelo ERI exercem influência sobre a assimetria da distribuição dos meses de nascimento em jovens jogadores de futebol. No entanto, ainda são escassos os estudos

que envolveram amostras de jovens jogadores de futebol brasileiros, que procuraram analisar a relação entre indicadores somáticos, como estatura e massa corporal e o ERI.

Assim, o presente estudo teve por objetivo analisar a distribuição das medidas de estatura e massa corporal em relação ao mês de nascimento, de jogadores de futebol participantes da Copa Brasil de Futebol Sub-15.

6.3 Materiais e métodos

6.3.1 Amostra

A amostra foi composta de 400 jogadores de futebol, do sexo masculino, da categoria Sub-15 (15,4 ± 0,4 anos) que participaram da 10° Copa Brasil de Futebol Sub-15 (Tabela 1A). Todos estavam envolvidos em programa de treinamento de futebol de campo a pelo menos 6 anos e participavam ativamente de competições.

Tabela 1A - Equipes que participaram da Copa Brasil de Futebol Sub-15.

Equipes Número Atletas

América Futebol Clube 20

Atlético Clube Goianiense 20

Avaí Futebol Clube 20

Botafogo de Futebol e Regatas 20

Ceará Sporting Club 20

Clube de Regatas Vasco da Gama 20

Clube Atlético Mineiro 20

Clube de Regatas do Flamengo 20

Coritiba Foot Ball Club 20

Cruzeiro Esporte Clube 20

Esporte Clube Bahia 20

Esporte Clube Vitória 20

Figueirense Futebol Clube 20

Fluminense Football Club 20

Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense 20

PSTC - Paraná Soccer Technical Center 20

Santos Futebol Clube 20

São Paulo Futebol Clube 20

Sport Club Corinthians Paulista 20

Sport Club Internacional 20

Total de Atletas 400

Foram considerados na análise todos os atletas inscritos na competição e oficializados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). As datas de nascimento, bem como as medidas antropométricas Estatura e Massa Corporal foram obtidas a partir de

dados relatados pelas equipes na ficha de inscrição de cada atleta à organização do evento e a CBF. Todos os responsáveis pelas equipes foram convenientemente informados sobre a proposta do estudo, e em seguida assinaram declaração de consentimento livre e esclarecido.

Os sujeitos foram separados de acordo com a categorização de idade cronológica em quadrimestres, sendo que o primeiro quadrimestre (1˚ QDT) foi composto pelos jovens nascido entre janeiro e abril; o segundo quadrimestre (2˚ QDT) foi composto pelos jovens nascido entre maio e agosto, e o terceiro 3˚ quadrimestre (3˚ QDT) composto pelos jovens nascido entre setembro e dezembro.

6.3.2 Análise estatística

Todas as informações foram analisadas por meio da estatística descritiva, utilizando-se do pacote estatístico Statistica™ 7.0® (STATSOFT INC., TULSA, OK , USA). Para comparação da distribuição da idade cronológica encontrada nos quadrimestres em cada variável foi utilizado o teste não paramétrico do qui-quadrado (X2). Para análise comparativa dos dados referente à estatura e massa corporal utilizou-se análise de variância (ANOVA) one- way. A significância adotada foi P<0,05.

6.4 Resultados

Os resultados referente a distribuição do número dos jogadores de futebol em relação ao mês de nascimento, são apresentados na Figura 1A.

Os resultados demonstram que o número jogadores nascidos nos meses correspondentes ao 1˚ QDT foram maiores quando comparado ao 2˚ QDT e 3º QDT (P<0,05), e maiores quando comparado o 2˚ QDT com o 3º QDT (P<0,05).

Figura 1A - Distribuição do mês de nascimento dos jogadores de futebol. Nota: QDT = quadrimestre; *Diferenças significantes do 3˚QDT (P<0,05); Diferenças significantes do 2˚QDT (P<0,05).

Para as variáveis estatura e massa corporal observou-se que os jogadores nascidos nos meses correspondentes ao 1˚ QDT apresentaram valores significativamente maiores que os nascidos nos meses correspondentes ao 2˚ QDT e 3º QDT (P<0,05). Constatou-se também que os valores de estatura e massa corporal dos jogadores nascidos nos meses correspondentes ao 2˚ QDT apresentaram valores significativamente maiores que os nascidos nos meses correspondentes ao 3º QDT (P<0,05) (Figura 2A e 3A, respectivamente).

Figura 2A – Valores (média ± DP) de estatura dos jogadores de futebol. Nota: QDT = quadrimestre; *Diferenças significantes do 3˚QDT (P<0,05); Diferenças significantes do 2˚QDT (P<0,05).

Figura 3A – Valores (média ± DP) de peso corporal dos jogadores de futebol. Nota: QDT = quadrimestre; *Diferenças significantes do 3˚QDT (P<0,05); Diferenças significantes do 2˚QDT (P<0,05).

6.5 Discussão

Considerando a atual categorização das competições de jovens futebolistas em períodos bianuais, baseada na idade cronológica, não é difícil observar desvantagens físicas, cognitivas e menor experiência de jogo para aqueles que apresentam idade biológica inferior à idade cronológica, principalmente, aqueles que compõem o grupo de novatos da categoria (Côté et al., 2006; Figueiredo et al., 2009). Adicionalmente, nos deparamos com um processo de detecção e seleção de talentos bastante contestável nos clubes brasileiros - “peneiras” - que favorece àqueles fisicamente superiores, principalmente nos quesitos tamanho corporal (Helsen, Winckel e Williams, 2005).

Poucos são os estudos nacionais que analisaram os efeitos da idade (cronológica ou biológica) em indicadores somáticos em grupos com prática esportiva sistemática. É importante destacar que, em nosso país, o futebol apresenta uma grande importância sócio-econômica-cultural, sendo muito praticado pela população mais jovem, indicando a necessidade de estudos que analisem as possíveis influências da sua prática em crianças e adolescentes (Villar e Zühl, 2006).

Desse modo, o presente estudo procurou investigar a distribuição das medidas de estatura e massa corporal em relação ao mês de nascimento, de jogadores de futebol participantes da Copa Brasil de Futebol Sub-15, a fim de observar se os clubes brasileiros, em suas categorias de base, apresentam tais características, na perspectiva de auxiliar na escolha de métodos e conteúdos de treinamento, adaptados à realidade fisiológica da idade.

Inicialmente foi possível observar que a maioria dos jogadores são nascidos no 1˚ QDT (~60%), ou seja, entre janeiro e abril, seguido de ~30% nascidos no 2˚ QDT, entre maio e agosto. Achados semelhantes foram observados por Altimari et al. (2011), onde o número de atletas selecionados para integrar a Seleção Brasileira de Futebol na categoria Sub-15, nascidos nos meses correspondentes ao 1˚ QDT (65%) foram significativamente maiores que o 2˚ QDT (30%) sugerindo que o ERI influencia a seleção de talentos no futebol Brasileiro em idades menores, sendo os indivíduos nascidos no 1˚ QDT preferidos na seleção de atletas para compor seus times.

Adicionalmente, o presente estudo apresentou dados consistentes com a literatura científica acerca do fenômeno ERI. Estudos de Brewer, Balsom e Davis (1995), e Musch e Hay (1999) já demonstravam uma distribuição assimétrica de datas de nascimento de jogadores de futebol profissional da Suécia, Alemanha, Japão e Austrália, com tendência para nascimentos no primeiro semestre, mais especificamente no primeiro quarto do ano competitivo.

Um importante estudo de Helsen, Winckel e Williams (2005), envolvendo jogadores de futebol europeus das categorias sub-15 a sub-18, apresentou uma prevalência de nascidos no primeiro trimestre do ano competitivo. Da mesma maneira, dados recentes de Mujika et al. (2009) e Wiium et al. (2010), demonstraram a existência do EIR em jogadores espanhóis de futebol profissional e das categorias de base e jogadores profissionais noruegueses, respectivamente.

Corroborando com a hipótese de que as diferenças no tamanho do corpo causadas pelo ERI exercem influência sobre a assimetria da distribuição dos meses de nascimento em jovens jogadores de futebol (Carling et al., 2009), nosso achados demonstraram diferenças significantes, onde que a maioria dos jogadores nascidos no 1˚ QDT (entre janeiro e abril), apresentaram maior estatura e massa corporal, seguido dos jogadores nascidos no 2˚ QDT (entre maio e agosto).

Estudo de Helsen, Van Winckel e Williams, (2005) já relatava que jogadores em vantagem na idade relativa, quando comparados aos semelhantes, possuíam consideráveis vantagens físicas (estatura, peso corporal e força), as quais poderiam afetar a percepção de potencial talento e predição de sucesso esportivo. Da mesma forma, Hirose et al. (2009), após investigar a relação entre a distribuição dos meses de nascimento, maturação e características antropométricas em jovens jogadores de futebol com idades entre 9 e 15 anos, constataram que as assimetrias na distribuição dos meses de nascimento são resultados da relação com a maturação biológica, o que poderia indicar que os jogadores que amadurecem precocemente são favorecidos na seleção de jovens jogadores de futebol.

Por fim, diante do exposto, muitos jovens talentosos podem ser subestimados simplesmente por nascerem no final do ano e, por consequência, pelos atributos físicos

inferiores. Assim, acreditamos que o entendimento do impacto do ERI sobre jovens esportistas pode modificar a maneira como os atletas, pais, treinadores e federações percebem o potencial talento e predizem o sucesso esportivo.

6.6 Conclusão

A partir do presente estudo foi possível concluir que o ERI exerce influência na seleção de jogadores Brasileiros de futebol da categoria Sub-15 por estar associado às diferenças nas características antropométricas desses jovens jogadores, o que pode estar relacionado a uma maturação biológica precoce. A partir desses achados o próximo passo em nossos estudos será investigar a relação do ERI e a maturação biológica, e a influência desses sobre parâmetros de desempenho motor em jovens jogadores de futebol.

REFERÊNCIAS

ALTIMARI, J.M. et al. Distribuição do mês de nascimento dos jogadores das seleções brasileiras de futebol. Revista Andaluza de Medicina Del Deporte, v.4, p.13-16, 2011. BREWER, J.; BALSOM, P.; DAVIS, J. Seasonal birth distribution amongst European soccer players. Sports, Exercise and Injury, v.1, p.154–157, 1995.

CARLING, C., LE GALL, F., REILLY, T., WILLIAMS, A.M. Do anthropometric and fitness characteristics vary according to birth date distribution in elite youth acad¬emy soccer players? Scand J Med Sci Sports. v.19, p.3-9. 2009.

CÔTÉ, J., MACDONALD, D.J., BAKER, J., ABERNETHY, B. When «where» is more impor¬tant than «when»: birthplace and birthdate effects on the achievement of sporting expertise. J Sports Sci. v.24, p.1065-73, 2006.

FIGUEIREDO, A. J. et al. Youth soccer players, 11-14 years: maturity, size, function, skill and goal orientation. Am J Hum Biol. v.36, p.60-73, 2009.

GORDON, C. C.; CHUMLEA, W. C.; ROCHE, A. F. Stature, recumbent length, and weight In: LOHMAN, T. G.; ROCHE, A. F.; MARTORELL, R. editors. Anthropometric Standardization Reference Manual. Champaign: Human Kinetics Books, 3-8, 1988.

HIROSE N. Relationships among birth-month distribution, skeletal age and anthropometric characteristics in adolescent elite soccer players. J Sports Sci. v.31, p.1-8, 2009.

HELSEN, W.F.; WINCKEL, J.V.; WILLIAMS, A.M. The relative age effect in youth soccer across Europe. J Sports Sci. v.23, p.629-636, 2005.

HELSEN, W.F., STARKES, J.L., VAN WINCKEL, J. Effect of a change in selection year on success in male soccer players. Am J Hum Biol. v.12, p.729-35, 2000.

HELSEN, W.F., STARKES, J.L., VANWINCKEL, J. The influence of relative age on suc¬cess and dropout in male soccer players. Am J Hum Biol. v.10, p.791-8, 1998.

MALINA, R. M.; BOUCHARD, C.; BAR-OR, O. Crescimento, maturação e atividade física. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2009. 784 p.

MALINA, R.M., CHAMORRO, M., SERRATOSA, L., MORATE, F. TW3 and Fels skeletal ages in elite youth soccer players. Ann Hum Bio. 34:265-72, 2007.

MALINA, R.M. Growth and maturity status of young soccer (football) players. En: Reilly T, Williams AM, editores. Science and soccer. 2nd ed. London: Routledge; p. 287-306, 2003.

MUJIKA, I. et al. The relative age effect in a professional football club setting. Journal of Sports Sciences, v.27, p.1153-1158, 2009.

MUSCH, J., GRONDIN, S. Unequal competition as an impediment to personal development: A review of the relative age effect in sport. Dev Review. v.21, p.147-67, 2001.

MUSCH, J.; HAY, R. The relative age effect in soccer: Cross-cultural evidence for a systematic discrimination against children born late in the competition year. Sociology of Sport Journal, v. 6, p.54–64, 1999.

ROGEL T, ALVES I, FRACA H, VILARINHO R, MADUREIRA F. Efeitos da idade relativa na seleção de talento no futebol. Revista Mackenzie de Educação Fisica e Esporte. v.6, p.171-8, 2006.

SHERAR, L.B., BAXTER-JONES, A.D., FAULKNER, R.A., RUSSELL, K.W. Do physical maturity and birth date predict talent in male youth ice hockey players? J Sports Sci. v.25, p.879-86, 2007.

VILLAR, R.; ZÜHL, C.A. Efeitos da idade cronológica e da maturação biológica sobre a aptidão física em praticantes de futebol de 13 a 17 anos. Motricidade. v.2, p.69-79, 2006. WIIUM, M. et al. Does relative age effect exist among norwegian professional soccer players? International Journal of Applied Sports Sciences, v.22, p.66-76, 2010.

WILLIAMS, A.M., REILLY, T. Talent identification and development in soccer. J Sports Sci. v.18, p.657-67, 2000.

Documentos relacionados