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6 RESULTADOS

6.2 ARTIGO ORIGINAL

Capacidade de autocuidado e qualidade de vida no pré-operatório de revascularização miocárdica**

Objetivo: relacionar a qualidade de vida relacionada à saúde com a capacidade de autocuidado em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica, fundamentando-se na Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado. Método: empregou-se uma pesquisa do tipo analítica com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados entre Março e Agosto de 2013. Utilizou-se um questionário sócio-demográfico e clínico, além das versões brasileiras da Appraisal of Self-care Agency Scale e do Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey. Resultados: os resultados obtidos demonstraram há uma correlação fraca entre a capacidade de autocuidado e a qualidade de vida relacionada à saúde.

Conclusão: acredita-se que ocorra na amostra pesquisada um envelhecimento não saudável, porém ativo, no qual os indivíduos convivem com doenças e agravos não transmissíveis, fato que não os impossibilita de buscarem as melhores maneiras de cuidar de si.

Descritores: autocuidado, qualidade de vida, cuidados pré-operatórios, teoria de enfermagem, enfermagem.

Self-care agency and quality of life in preoperative myocardial revascularization

Objective: to associate health-related quality of life related to self-care of preoperative myocardial revascularization individuals, based on Self-Care Deficit Nursing Theory. Method: an analytical research with quantitative approach was applied. The data were collected from March to August of 2013. Not only social-demographics and clinical questionnaire were used, but also the brazilian versions of Apraisal of Self-Care Agency scale and Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey. Results: the outcomes showed that the participants have a weak correlation between the self-care capacity and health-related life quality. Conclusion: it is considered that a unhealthy aging occurs however active in the researched sample, because this population coexist with non-transmissible diseases, which does not prevents the search of better ways of caring for themselves.

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Artigo elaborado conforme as normas de formatação da Revista Latino-Americana de Enfermagem (Qualis A1 - Enfermagem).

Descriptors: self-care, quality of life, preoperative care, theory of nursing, nursing

Capacidad de autocuidado y calidad de vida en la etapa preoperatoria de revascularización miocárdica

Objetivo: relacionar la calidad de vida vinculada a la salud, con la capacidad de autocuidado en personas en la etapa preoperatoria de revascularización miocárdica, basándose en la Teoría del Déficit de Autocuidado. Método: se aplicó una encuesta con enfoque cuantitativo del tipo analítico. Los datos fueron recolectados entre marzo y agosto de 2013. Se utilizó un cuestionario sociodemográfico y clínico, además de las versiones brasileñas de Appraisal of Self-care Agency scale e do Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey. Resultados: los resultados mostraron que los participantes tengan una débil correlación entre la capacidad de autocuidado y la calidad de vida vinculada a la salud. Conclusión: se cree que el envejecimiento no se produce sano, pero todavía activo en esta encuesta, porque las personas tienen enfermedades y lesiones no transmisibles, hecho que no impide estos pacientes de buscar las mejores maneras de cuidar de sí mismos.

Descriptores: autocuidado, calidad de vida, cuidados preoperatorios, teoría de enfermería, enfermería

Introdução

A incidência de doenças e agravos não transmissíveis concomitantemente ao envelhecimento populacional tem ocasionado um aumento na demanda por serviços especializados, como os procedimentos cirúrgicos para revascularização miocárdica(1-4).

Diante do aumento dessa demanda, torna-se imprescindível a atuação de enfermeiros na educação em saúde de indivíduos que se submetem à revascularização miocárdica, notadamente na fase pré-operatória, marcada por anseios, medos e dúvidas referentes ao autocuidado. Essa atuação pode ser ancorada em teorias próprias da Enfermagem, dentre as quais se destaca a Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado(5-7).

A Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado foi desenvolvida por Dorothea Orem durante quatro décadas, sendo constituída por três construtos teóricos inter- relacionados: Teoria do Autocuidado, Teoria do Déficit do Autocuidado e Teoria dos Sistemas de Enfermagem(6).

As concepções teóricas de Dorothea Orem têm o autocuidado, a capacidade de autocuidado e os fatores condicionantes básicos como conceitos fundamentais, os quais podem ser aplicados em ações de educação em saúde, pois norteiam o cuidar centralizado no indivíduo, na família e na comunidade. Desse modo, os supracitados conceitos podem plasmar estratégias de educação em saúde, objetivando o desenvolvimento humano e uma melhor qualidade de vida(5-7).

Nesse tocante, destaca-se a Capacidade de Autocuidado (CAC), que se constitui na habilidade que os indivíduos têm de voluntária e deliberadamente engajaram-se em ações de autocuidado, baseadas na manutenção da saúde e do bem-estar(6). Por outro lado, a manutenção da saúde e do bem-estar atrela-se à Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS), que enfatiza a percepção dos indivíduos sobre sua saúde e seu bem-estar nas investigações de cuidados em saúde(4,8).

Tanto a CAC, quanto a QVRS sofrem influência de fatores intrínsecos e extrínsecos aos seres humanos, como idade, sexo, aspectos socioculturais e econômicos. Tais fatores são denominados de Fatores Condicionantes Básicos (FCB)(4,6,8).

O conhecimento sobre a CAC, a QVRS e os FCB dos indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica pode respaldar a atuação da Enfermagem, subsidiando ações de educação em saúde. Esse conhecimento pode ser empregado na reorientação das práticas de atenção à saúde(6,9-11).

Desse modo, o propósito deste estudo foi avaliar a associação dos FCB e da QVRS com a CAC em um grupo de indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica, ancorando-se na Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado para embasar ações de educação em saúde.

Métodos

O estudo foi do tipo analítico com corte transversal e abordagem quantitativa(12), transcorrendo no Pronto-Socorro Universitário Cardiológico de Pernambuco Professor Luiz Tavares da Universidade de Pernambuco (PROCAPE/UPE), instituição hospitalar do sistema público de saúde, referência em cirurgias cardiovasculares para as regiões Norte e Nordeste do Brasil, situando-se na cidade do Recife - PE.

A amostra desta pesquisa foi de 62 participantes, sendo calculada por equação para estudos de proporção com população finita, considerando-se pesquisa anterior no local deste estudo(13). Os participantes foram arrolados por amostragem não aleatória e intencional(12).

Incluíram-se os indivíduos que se submeteriam pela primeira vez à cirurgia de revascularização miocárdica, em caráter eletivo; indivíduos de ambos os sexos; com idade entre 50 e 70 anos, porque essa era a faixa etária predominante na população pesquisada(13). Excluíram-se os indivíduos que possuíam comprometimento neuromuscular, que faziam uso de psicotrópicos, que apresentavam dificuldade de comunicação ou incapacidade para responder aos questionários durante a coleta de dados.

A coleta de dados ocorreu entre Março e Agosto de 2013, sendo realizada individualmente com os participantes, por meio de entrevista, devido à baixa escolaridade da população pesquisada(13).

Foram empregados três questionários: (1) sobre informações sócio-demográficas e clínicas relacionadas aos FCB; (2) sobre a QVRS - Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey (SF-36); (3) sobre a CAC - Appraisal of Self-Care Agency Scale (ASA-scale). O SF-36 e a ASA-scale foram traduzidos e validados para o contexto brasileiro(14-15).

Os dados relacionados aos FCB foram coletados por um instrumento construído pelos autores do estudo, sendo constituído por informações sobre idade, sexo, cor autorrelatada, estado civil, escolaridade, situação profissional, renda mensal da família e classificação socioeconômica, as quais podem influenciar tanto a CAC, quanto a QVRS(6,8).

A classificação socioeconômica foi realizada através do Critério de Classificação Econômica Brasil, que tem por finalidade estimar o poder de compra das pessoas e famílias, dividindo-as em cinco grupos: A (melhor status), B, C, D e E (pior status). Essa estimativa é dada pela quantidade de itens possuídos em casa e o grau de instrução do chefe da família(16).

Os dados clínicos abordados foram as comorbidades presentes; o peso e a altura para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), considerando-se IMC < 25 kg/m2 (sem excesso de peso), IMC ≥ 25 kg/m2 e < 30 kg/m2 (sobrepeso), e IMC ≥ 30 kg/m2 (obesidade)(17); a manifestação clínica que desencadeou a cirurgia de revascularização do miocárdio.

A QVRS foi avaliada através do SF-36, um instrumento genérico constituído por 36 itens agrupados em oito domínios ou subescalas, que podem ser agrupados em dois componentes, gerando escores entre 0 e 100, que demonstram a percepção de saúde(14), tendo sua validade evidenciada por coeficientes alfa de Cronbach que variaram entre 0,59 e 0,85(18).

A capacidade de autocuidado foi avaliada por meio da ASA-scale, que compreende 24 itens voltados para a operabilidade do autocuidado, admitindo-se respostas tipo Likert, com pontuações que variam de um (discordo totalmente) a cinco (concordo totalmente). A tradução e a validação da ASA-scale para o contexto brasileiro demonstrou um coeficiente alfa de Cronbach de 0,85(15). E em indivíduos com problemas cardiovasculares, esse coeficiente variou entre 0,77 e 0,85(19).

Um banco de dados foi construído no software EPI INFO 3.5.2, através de dupla entrada para validação dos dados inseridos. Os dados foram exportados e analisados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 18, empregando-se frequências, intervalos (valor mínimo e máximo), média e Desvio-Padrão (DP). Também foram descritos os intervalos de confiança e os escores médios da CAC e da QVRS.

O coeficiente alfa de Cronbach foi utilizado para avaliar a consistência interna da ASA-scale e do SF-36, a fim de comprovar a confiabilidade destes instrumentos no grupo pesquisado(12).

O teste qui-quadrado foi usado para comparar proporções entre os FCB pesquisados. Utilizou-se o teste t de Student e o teste de Mann-Whitney para comparações entre dois grupos. A análise de variância (ANOVA) e o teste de Kruskal-Wallis foram empregados para comparações entre três ou mais grupos. Essas comparações envolveram a CAC e a QVRS.

Na análise da associação entre os escores dos domínios do SF-36 com a CAC, aplicou- se o coeficiente de correlação de Pearson, sendo observada sua significância. Consideraram-se os seguintes graus de correlação: perfeito (+1 ou -1), forte (+0,9 a +0,7 ou -0,9 a -0,7), moderado (+0,6 a +0,4 ou -0,6 a -0,4) e fraco (+0,3 a +0,1 ou -0,3 a -0,1)(12).

Aplicou-se a regressão de Poisson com variância robusta para a busca de fatores associados à CAC. A seleção dos fatores que contribuíam independentemente para explicar a capacidade de autocuidado, realizou-se através da análise de regressão múltipla. O efeito de cada fator foi expresso como Razão de Prevalência (RP) com Intervalo de Confiança (IC) de 95%. A significância estatística foi determinada pelo teste de Wald. Considerou-se um nível de significância de 5% (p<0,05) em todos os testes.

Respeitaram-se os quatros referenciais básicos da bioética (autonomia, não- maleficência, beneficência e justiça) no decorrer deste estudo, que primeiramente foi aprovado por um comitê de ética em pesquisa para que fosse iniciada sua coleta de dados sob CAAE 11133712.2.0000.5192. Todos os participantes aceitaram participar do estudo, após esclarecimentos sobre o mesmo e assinatura de termo de consentimento. Os participantes que

demonstraram déficit de autocuidado ou dúvidas sobre o mesmo, foram beneficiados por ações de educação em saúde ancoradas na Teoria dos Sistemas de Enfermagem(6).

Resultados

Um número total de 62 indivíduos participou deste estudo. Os fatores condicionantes básicos dos participantes estão dispostos na Tabela 1. Verificou-se que o teste de comparação para os fatores analisados foram significativos, com exceção das faixas etárias da amostra, indicando o perfil mais frequente entre os participantes.

Tabela 1 - Fatores condicionantes básicos do autocuidado entre os participantes do estudo. Recife, Brasil, 2013. Variável n % p-valor* Idade 50 a 60 anos 30 48,4 0,799 61 a 70 anos 32 51,6 Sexo Masculino 42 67,7 0,005 Feminino 20 32,3 Cor autorrelatada Branca 29 46,8 0,001 Preta 7 11,3 Parda 26 41,9 Estado civil Casado 47 75,8 <0,001 Separado/divorciado 8 12,9 Viúvo 7 11,3 Situação profissional Aposentado 37 59,7 <0,001 Conta própria 8 12,9 Empregado 12 19,4 Não remunerado 5 8,1 Escolaridade

Sem educação formal 9 14,5

<0,001 Primário 41 66,1 Secundário 12 19,4 Classe socioeconômica B 5 8,1 <0,001 C 42 67,7 D 15 24,2

Renda mensal da família

< R$ 678,00 13 21,0 <0,001 R$ 678,00 a R$ 1.356,00 23 37,1 > R$ 1.356,00 26 41,9 * Teste qui-quadrado.

Na amostra pesquisada também se observou um idade média de 60,69 (±6,71) anos, além de uma renda média mensal dos participantes e de suas famílias de R$ 896,80 e R$ 1.380, respectivamente.

O infarto agudo do miocárdio foi a principal manifestação clínica que desencadeou o procedimento cirúrgico (59,8%; p<0,001). O índice de massa corporal médio dos participantes foi de 26,52 (±3,57) kg/m2, com destaque para o grupo com sobrepeso (50%; p=0,001). As principais comorbidades apresentadas foram hipertensão (78,18%) e diabetes (32,72%). O hábito de tabagismo foi referenciado por 28 participantes (50,90%).

Com relação à qualidade de vida, o SF-36 teve o menor escore no aspecto físico (19,4 ± 30,2), enquanto a saúde mental teve o maior escore (70,5 ± 26,1) entre os participantes (Tabela 2). O coeficiente alfa de Cronbach do SF-36 foi de 0,87 e a consistência interna dos domínios variou de 0,70 a 0,96. A ASA-scale teve pontuação média de 72 (± 8,8) entre os participantes, variando de 44 a 95 pontos, com um coeficiente alfa de Cronbach de 0,82.

Na análise da correlação entre os domínios do SF-36 e a capacidade de autocuidado, demonstrou-se que os participantes possuíam uma correlação fraca entre a qualidade de vida relacionada à saúde e a capacidade de autocuidado.

Tabela 2 - Análise descritiva e correlação dos domínios do SF-36 com a capacidade de autocuidado. Recife, Brasil, 2013. Variável Média ± DP (Intervalo) IC (95%) r p-valor * Capacidade de autocuidado (ASA-scale) 72 ± 8,8 (44-95) 70 - 75 Domínios do SF-36 Capacidade Funcional 38,7 ± 27,2 (0-100) 31,8 - 45,6 0,166 0,197 Aspecto físico 19,4 ± 30,2 (0-100) 11,7 - 27,0 -0,049 0,708 Dor 48,3 ± 30,7 (0-100) 40,5 - 56,1 -0,055 0,669

Estado geral de saúde 66,4 ± 20,6 (17-92) 61,1 - 71,6 0,061 0,638 Vitalidade 58,1 ± 29,0 (0-100) 50,7 - 65,4 0,081 0,532 Aspectos sociais 43,5 ± 31,6 (0-100) 35,5 - 51,6 0,150 0,246 Aspecto emocional 51,6 ± 48,5 (0-100) 39,3 - 63,9 -0,062 0,630 Saúde mental 70,5 ± 26,1 (8-100) 63,9 - 77,1 0,073 0,573 *

Teste de Correlação de Pearson.

Observando-se a distribuição dos escores médios da capacidade de autocuidado e dos componentes físico e mental do SF-36, segundo a idade, sexo, estado civil, escolaridade e classe socioeconômica, não foi encontrada significância estatística (Tabela 3).

Entretanto, na análise por domínios do SF-36, verificou-se que os participantes casados tiveram maior escore no aspecto emocional (62,6 ± 46,7; p=0,045). Indivíduos que

concluíram o nível secundário obtiveram o maior escore no aspecto social (58,3 ± 32,6; p=0,038), assim como aqueles que possuíam renda mensal da família superior a R$ 1.356,00 (54,3 ± 31,8; p=0,033) e os da classe socioeconômica B (70,0 ± 25,9; p=0,008).

A classe econômica C obteve o maior escore na capacidade funcional (45,7 ± 26,8; p=0,006). Não houve significância estatística entre as demais variáveis com os domínios do SF-36 nem com a capacidade de autocuidado.

A capacidade de autocuidado foi maior na faixa etária entre 61 e 70 anos, entre os homens, entre os participantes casados, com o nível secundário concluído e naqueles pertencentes à classe socioeconômica D.

Tabela 3 - Relação dos fatores condicionantes básicos com os componentes do SF-36 e com a capacidade de autocuidado. Recife, Brasil, 2013.

Variável Componente Físico do SF-36 Componente Mental do SF-36 Capacidade de Autocuidado Idade 50 a 60 anos 45,0 ± 28,3 57,4 ± 34,0 71,4 ± 10,6 61 a 70 anos 41,5 ± 26,2 54,5 ± 33,5 74,3 ± 6,5 p-valor 0,3371 0,3771 0,2003 Sexo Masculino 45,6 ± 28,25 57,1 ± 34,65 73,5 ± 9,4 Feminino 38,1 ± 24,22 53,52 ± 32,47 71,8 ± 7,6 p-valor 0,3371 0,6431 0,5033 Estado Civil Casado 43,8 ± 27,4 61,1 ± 33,6 74,1 ± 7,8 Separado/divorciado 45,7 ± 32,2 43,4 ± 31,9 67,6 ± 12,2 Viúvo 41,0 ± 18,9 58,2 ± 33,7 68,2 ± 10,5 p-valor 0,3692 0,2672 0,0634 Escolaridade

Sem educação formal 34,0 ± 18,5 37,3 ± 30,6 75,6 ± 4,8

Primário 45,7 ± 27,7 57,2 ± 33,4 71,3 ± 8,2 Secundário 41,5 ± 28,0 65,3 ± 33,0 76,5 ± 11,7 p-valor 0,4352 0,1712 0,1164 Classe socioeconômica B 44,0 ± 28,6 71,2 ± 30,7 75,6 ± 4,8 C 46,3 ± 27,8 59,5 ± 34,4 71,3 ± 8,2 D 43,0 ± 21,8 40,7 ± 28,0 76,5 ± 11,7 p-valor 0,3812 0,1352 0,1164 1

Teste de Mann-Whitney. 2Teste de Kruskal-Wallis. 3Teste t de Student. 4ANOVA.

No ajuste do modelo de regressão de Poisson para a capacidade de autocuidado, constatou-se que os fatores idade (p=0,046), estado civil (p<0,001), escolaridade (p=0,002) e

renda mensal da família (p-valor<0,001) foram estatisticamente significativos. Nenhuma das outras variáveis pesquisadas foi significativa para a capacidade de autocuidado.

Na Tabela 4, tem-se o ajuste do modelo de regressão para a capacidade de autocuidado segundo a idade e a renda mensal da família, após exclusão da escolaridade (p=0,390) e do estado civil (p=0,065). Observou-se que tanto a faixa etária de maior idade, quanto a menor renda mensal da família, associou-se a uma melhor capacidade de autocuidado.

Tabela 4 - Regressão de Poisson para a capacidade de autocuidado, segundo a idade e a renda mensal da família. Recife, Brasil, 2013.

Variáveis Razão ajustada

RP IC (95%) p-valor*

Idade

50 a 60 anos 1,00 - -

61 a 70 anos 1,46 1,00 - 2,12 0,048

Renda mensal da família

< R$ 678,00 1,80 1,26 - 2,58 0,001 R$ 678,00 a R$ 1.356,00 1,08 0,76 - 1,54 0,655

> R$ 1.356,00 1,00 - -

*

p-valor do teste de Wald

Discussão

No grupo pesquisado, verificou-se que o componente físico da QVRS obteve os piores escores, enquanto os escores mais elevados ocorreram no componente mental, fatos que coadunam com outros estudos, refletindo o impacto da doença cardiovascular na qualidade de vida, notadamente no aspecto físico dos participantes(4,20).

Os domínios do SF-36 que foram estatisticamente significativos, pertenciam predominantemente ao componente mental, tendo associação com o estado civil, a escolaridade, a renda da família e a classe econômica, demonstrando o impacto positivo destes fatores na qualidade de vida relacionada à saúde(20-21).

Esta pesquisa não demonstrou a existência de uma associação entre a qualidade de vida relacionada à saúde e a capacidade de autocuidado, diferentemente de outros estudos, nos quais uma melhor qualidade de vida associou-se a uma maior capacidade de autocuidado(1,11). Acredita-se que a inexistência de correlação entre a qualidade de vida relacionada à saúde e a capacidade de autocuidado, pode ocorrer devido a um envelhecimento ativo, porém não saudável no grupo pesquisado(22-24).

Dessa maneira, existiria no grupo pesquisado o convívio com doenças e agravos não transmissíveis, com prejuízo à qualidade de vida, fato que não impossibilitaria a busca por melhores maneiras de cuidar de si. Isto poderia denotar a preservação da capacidade de autocuidado, que é aprendida ao longo da vida, sendo necessária ao engajamento individual na promoção à saúde e na autoadministração do processo saúde-doença(1-2,19,22).

Nesse contexto, a Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado norteia as ações de enfermeiros para o desenvolvimento e manutenção das práticas de autocuidado, favorecendo uma melhor qualidade de vida. Esta fato fica especialmente evidente com o aumento da população idosa e das condições crônicas, coadunando com o objetivo da ciência do autocuidado, que é procurar entender as realidades concretas que concernem aos enfermeiros em situações práticas(6,11,22).

Também se relata que a população idosa é mais vulnerável, podendo apresentar dificuldades para administrar regimes complexos de saúde, como aqueles vivenciados pelos indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica, tornando-se importante a realização de ações educativas para fortalecer a capacidade de autocuidado(20,22,25).

Desse modo, observou-se que a capacidade de autocuidado no grupo pesquisado variou de acordo com os fatores condicionantes básicos, notadamente pela idade, estado civil, escolaridade e renda dos indivíduos pesquisados, assim como em outros estudos(1,11,19,22). Porém, após ajuste do modelo de regressão empregado, apenas a idade e a renda permaneceram como fatores relacionados à capacidade de autocuidado. Nesse sentido, estudos demonstraram que tanto a idade, quanto a renda afetam indivíduos e famílias na aquisição e no desenvolvimento de habilidades para o autocuidado, dificultando impactos positivos nas práticas de autocuidado(1-2,11,22).

Neste estudo, verificou-se que os participantes com maior idade e aqueles com menor renda apresentaram uma melhor capacidade de autocuidado. Por outro lado, estudos revelaram que a capacidade de autocuidado esteve relacionada a indivíduos jovens e a rendas mais elevadas(1-2,11).

Estudo desenvolvido na Turquia, com indivíduos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, demonstrou associação de idade avançada e de baixo poder aquisitivo com uma pior capacidade de autocuidado(1). Pesquisa realizada na Holanda com idosos hospitalizados, também relatou associação entre o avançar da idade e uma menor renda com um pior autocuidado(2).

E estudo com adultos, que utilizam tecnologia médica avançada em domicílio como ventilação mecânica e hemodiálise, referiu não haver associação entre a capacidade de autocuidado e a idade dos participantes na análise de regressão. Entretanto, ocorreu uma relação linear negativa entre a capacidade de autocuidado e a idade no grupo do estudo citado, na qual um melhor autocuidado associou-se a indivíduos mais jovens, não havendo referência a renda dos participantes e a sua capacidade de autocuidado(11).

Portanto, a associação da capacidade de autocuidado com a idade e a renda no grupo deste estudo pode refletir estratégias desenvolvidas para o enfrentamento da vulnerabilidade social(23-24), presente em parcela considerável da população que está envelhecendo no Brasil(25). Tal vulnerabilidade é agravada justamente por outros fatores relacionados à capacidade de autocuidado, principalmente a escolaridade, que dificulta a aquisição e o desenvolvimento de práticas para o autocuidado(1).

Apesar da escolaridade não ter significância estatística neste estudo, ela tem sido associada à capacidade de autocuidado(1-2,6,11), tendo sido demonstrado que indivíduos no pré- operatório de revascularização miocárdica com pouca escolaridade, possuíam déficit de conhecimento sobre sua condição de saúde e seu tratamento(7).

Em contraste a esse cenário socioeconômico e cultural desfavorável, observou-se no grupo pesquisado uma habilidade para lidar com as adversidades impostas por esse cenário. Essas adversidades podem ter ocasionado adaptações, e um consequente crescimento pessoal e social advindo com as mesmas, refletidos na manutenção da capacidade de autocuidado,

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