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5 METODOLOGIA

5.2 METODOLOGIA DO ARTIGO ORIGINAL

5.2.4 Coleta de Dados

A coleta de dados ocorreu individualmente com cada um dos participantes do estudo na enfermaria em que estavam internados entre Março e Agosto de 2013. O estudo foi realizado por meio de entrevista, devido à baixa escolaridade dos indivíduos pesquisados, o que dificultaria a autoaplicação de questionários.

Desse modo, as informações que constituíram as variáveis deste estudo, relativas à caracterização sócio-demográfica e clínica, à qualidade de vida relacionada à saúde e à capacidade de autocuidado, foram obtidas através de entrevista individual, visando reduzir a chance de má interpretação dos questionários, minimizar a perda de informações por dados não confirmados e otimizar o entendimento dos indivíduos com dificuldade de leitura.

Todos os indivíduos que compuseram a amostra deste estudo foram convidados a participar voluntariamente, estando entre o segundo e o sétimo dia após a admissão hospitalar e na fase pré-operatória da revascularização miocárdica.

No primeiro dia de internamento hospitalar, existem alguns fatores que podem ser estressantes, como exames clínicos e laboratoriais. Caso a coleta ocorresse após o período determinado, poderia haver viés no estudo, pela interferência da permanência hospitalar nos instrumentos de coleta de dados, principalmente no instrumento sobre a qualidade de vida relacionada à saúde. A coleta de dados também estaria prejudicada, caso fosse implementada no dia do procedimento cirúrgico, além das questões éticas implicadas.

5.2.4.1 Instrumentos de Coleta de Dados

5.2.4.1.1 Questionário Sócio-Demográfico e Clínico

Elaborou-se um instrumento para coleta de informações sócio-demográficas e clínicas (Apêndice A), constando de variáveis para caracterização dos participantes do estudo. Esse instrumento baseou-se nos fatores condicionantes básicos da Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado, utilizando-se os seguintes fatores: idade, sexo, condições socioculturais, classificação econômica, escolaridade e estado de saúde(13-14).

A pesquisa pelos fatores condicionantes básicos deveu-se ao fato de que eles podem afetar tanto a capacidade de autocuidado, quanto a qualidade de vida relacionada à saúde dos indivíduos, sendo necessária a caracterização dos participantes do estudo a partir dessas

informações, e também para que ações de educação em saúde sejam contextualizadas à realidade sócio-histórica e cultural do grupo pesquisado(13-14,59).

Questões para classificar economicamente os participantes do estudo também foram empregadas, através do Critério de Classificação Econômica Brasil, proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, que tem por finalidade estimar o poder de compra das pessoas e famílias(93).

A estimativa do poder de compra é dada por meio de informações sobre a quantidade de itens possuídos, como televisão em cores, rádio, automóvel, máquina de lavar, videocassete ou DVD, geladeira e freezer. Ainda fazem parte dessa estimativa, a quantidade de banheiros na casa do indivíduo pesquisado, além da existência de empregada mensalista no domicilio(93).

Outro item do referido critério é o grau de instrução do chefe da família em que o pesquisado se insere, podendo ser classificado em analfabeto/fundamental 1 incompleto, fundamental 1 completo/fundamental 2 incompleto, fundamental 2 completo/médio incompleto, médio completo/superior incompleto, superior completo(93).

A cada um dos itens supracitados é atribuída uma pontuação, e a partir da soma das pontuações obtidas define-se o corte do Critério de Classificação Econômica Brasil em que o pesquisado se insere (Quadro 1). Existem oito grupos de corte possíveis: A1, melhor status, A2, B1, B2, C1, C2, D e E, pior status(93).

Quadro 1 - Grupos do Critério de Classificação Econômica Brasil. Grupos do Critério de

Classificação Econômica Brasil

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D E

Pontuação respectiva 42-46 35-41 29-34 23-28 18-22 14-17 8-13 0-7

5.2.4.1.2 Questionário sobre Qualidade de Vida Relacionada à Saúde

Os dados sobre qualidade de vida relacionada à saúde foram coletados por meio de instrumento genérico (Anexo C), o Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey (SF-36), cuja finalidade é analisar a compreensão do indivíduo sobre a sua saúde, através da identificação de limitações desencadeadas pelos aspectos físicos, emocionais e sociais(94).

O SF-36 foi traduzido e validado para o cenário brasileiro(95), tendo sido aplicado nos mais diversos contextos das práticas de saúde em todo o país, possuindo boa confiabilidade, corroborada pelos coeficientes alfa de Cronbach entre 0,59 e 0,85 encontrados nos estudos que utilizaram o referido instrumento(17-19).

O coeficiente alfa de Cronbach é uma medida de consistência interna, referindo quão bem os itens de uma escala estão inter-relacionados, e dessa forma provendo mensurações consistentes(96).

O questionário utilizado para mensurar a qualidade de vida é constituído por 36 itens, que abordam oito domínios ou subescalas:

1. Capacidade funcional: mensura como a saúde limita a execução de atividades vigorosas, moderadas e fáceis.

2. Aspecto físico: mensura o quanto a saúde interfere com a habilidade para desempenhar as tarefas diárias e o trabalho habitual.

3. Dor: mensura o quanto a dor interfere com o trabalho habitual. 4. Estado geral de saúde: mensura a percepção geral da saúde. 5. Vitalidade: mensura o nível de energia percebido pelo indivíduo.

6. Aspecto social: mensura o quanto a saúde interfere com as atividades sociais.

7. Aspecto emocional: mensura o quanto o estado emocional interfere com a habilidade para realizar tarefas diárias e o trabalho habitual.

8. Saúde mental: mensura o estado emocional percebido pelo indivíduo.

Os domínios ou subescalas sobre capacidade funcional, dor, estado geral de saúde e aspecto físico são agrupados para formar o componente físico, enquanto os demais domínios ou subescalas constituem o componente mental. Além disso, há mais uma questão comparativa entre a saúde atual e a do ano anterior. Cada um dos domínios ou subescalas que compõem o SF-36 recebe pontuações que variam entre 0 (pior situação) e 100 (melhor situação para o domínio)(94-95).

Desse modo, existem escores próprios para cada um dos oitos domínios ou subescalas, que podem ser analisados separadamente ou agrupados em dois grupos contendo quatro domínios ou subescalas para serem analisados por meio do componente físico ou mental, ou ainda em um escore único, englobando todos os domínios ou subescalas(94-95).

Independentemente da abordagem escolhida, valores menores refletem uma percepção de saúde precária e dor, enquanto valores maiores refletem uma percepção boa da saúde, ausência de déficits funcionais e de dor(94-95).

5.2.4.1.3 Escala para Avaliar a Capacidade de Autocuidado

A Capacidade de Autocuidado (CAC) foi avaliada por meio de uma escala desenvolvida para mensurá-la, denominada Appraisal of Self-Care Agency Scale - ASA (Anexo D), baseada no modelo teórico de Dorothea Orem.

A escala ASA foi criada em 1987, sendo desenvolvida através da colaboração entre membros das faculdades de Enfermagem da Universidade do Estado de Wayne (Estados Unidos da América) e da Universidade de Limburger (Holanda), com a finalidade de mensurar um conceito central do modelo teórico desenvolvido por Orem, a capacidade de autocuidado(83).

A validação da escala ASA ocorreu na Europa em estudo que envolveu diferentes grupos populacionais(81). Tal escala foi traduzida e validada no Brasil em uma tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade de São Paulo, demonstrando um coeficiente alfa de Cronbach de 0,85, sendo denominado de Escala para Avaliar a Capacidade de Autocuidado - EACAC(97).

A tradução da EACAC ocorreu através de rigoroso processo, no qual foram considerados os aspectos linguísticos e culturais, contextualizando-os à realidade vivenciada no Brasil. Esse processo teve a participação de Marjorie A. Isenberg, uma das idealizadoras da escala. O instrumento traduzido foi validado em um grupo focal com dez idosos, sendo posteriormente realizado um pré-teste com 17 idosos, obtendo-se a versão final e definitiva da EACAC(97).

A EACAC é uma escala que contém 24 itens, admitindo cinco respostas do tipo Likert: discordo totalmente, discordo, nem concordo nem discordo, concordo e concordo totalmente, com uma pontuação que varia entre 1 (discordo totalmente) e 5 (concordo totalmente)(97).

A pontuação da escala possui escores compreendidos entre 24 e 120 pontos, com altas pontuações indicando uma maior capacidade de autocuidado. Através das somas dos escores de cada item, obtém-se o escore total sobre a capacidade de autocuidado, que é categorizada da seguinte forma: 24 a 40 = péssima; 41 a 56 = ruim; 57 a 72 = regular; 73 a 88 = boa; 89 a 104 = muito boa; e 105 a 120 = ótima(97).

Os itens compreendidos na EACAC dizem respeito à disponibilidade, vontade e condições dos indivíduos em modificar as suas vidas. Também avaliam os cuidados com a alimentação, higiene e peso. Os itens também aferem se os indivíduos procuram realizar

adaptações para melhorar a própria saúde e se buscam rede de apoio em caso de dificuldades com as ações para o autocuidado(97).

Essa escala tem sido largamente empregada em pesquisas de Enfermagem e de cuidados em saúde para mensurar a capacidade de autocuidado entre indivíduos da população em geral e nos portadores de doenças crônicas. O emprego dessa escala visa à fundamentação de ações de promoção e educação em saúde, assim como de ações para o desenvolvimento de habilidades gerais e específicas para o engajamento no autocuidado(98-102).

A validade da escala tem sido estabelecida por especialistas no modelo teórico de Dorothea Orem, assim como sua consistência interna, que foi reportada por inúmeros estudos(98-102), nos quais o alfa de Cronbach variou entre 0,77 e 0,85.

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