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“Pare já, senão…

Com este titulo, que não deixa de ser significativo, escrevem as Novidades, publicou a Pall Mall

Gazette, o seguinte artigo, que vamos fielmente traduzir. Podiamos refutar algumas das suas asserções menos

exactas, mas preferimos desacompanhar a traducção de largos commentarios. Bastará notar como até na narrativa ingleza, os factos vêem contados de modo a explicar o direito e a maneira correcta como Portugal e os seus agentes procederam.

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Esperamos que lord Salisbury saiba o que faz n’esta desagradavel questiuncula com Portugal. Se não reparar bem no que fizer terá dentro em pouco de mandar fundear a esquadra do Canal á vista de Lisboa á espera da resposta dos portugueses ao seu ultimatum.

Porque são realmente graves as noticias que esta manhã nos chegam de Zanzibar.

Pertence agora aos missionarios escossezes e a lord Balfour of Burleigh decidir quaes as medidas que querem que lord Salisbury adopte. Mr. H. H. Johnston, que é actualmente o consul inglez n’essas paragens, foi a Lisboa para concluir um accordo pacifico com os portuguezes.

Conseguiu formular um accordo provisorio a que accederam os portuguezes e que lord Salisbury teria ratificado se não fosse a pressão exercida pelas sociedades de missionarios escossezes. Julgaram que eram demasiado grandes as concessões feitas por Johnston a Portugal e que o accordo proposto faria perigar e ameaçaria até a propria existencia das suas missões no lago. Tão energicas foram as suas representações que o primeiro ministro cedeu, não sanccionou o accordo de mr. Johnston e acabou assim prematuramente o esforço feito para se chegar a uma solução.

Depois mandou mr. Johnston á Africa oriental portugueza como representante da Inglaterra com os mais amplos poderes. Mr. Johnston levou instrucções para fazer tratados de amisade com as tribus indigenas e de fazer tudo o que julgasse praticamente justo e prudente para consolidar a influencia ingleza na região que conduz ao lago Nyassa e que tem por capital a missão escosseza. É mr. Johnston um ardente partidario do imperio colonial inglez, tendo no sangue uma boa dose de ferro, e é o homem de maior energia que conhecemos. Existe n’aquelle pequeno corpo uma alma indomavel com maneiras simples e attrahentes como os (sic) d’uma criança.

O nosso consul tem uma vontade de ferro e uma ambição de expansão para o nosso imperio quasi tão absorvente como o (sic) de mr. Rhodes.

Deixou ha alguns mezes este paiz com grandes esperanças de poder cooperar no estabelecimento da supremacia da Inglaterra até ao proprio Tanganika, e logo que chegou ao Zambeze tratou de dar principio ao cumprimento da sua missão. Indo pelo Chire acima alcançou no caminho o explorador portuguez major Serpa Pinto, que levava ao Nyassa uma expedição composta de 900 zulus armados de carabinas Winchester.

Mr. Johnston passou-lhe adiante e concluiu tratados de alliança com todas as tribus de Makololo de ambos os lados do rio.

Assignaram tratados com elle pelos quaes entraram em relações amigaveis com este paiz, e de espaço em espaço foram hasteando bandeiras inglezas em todo o curso do Chire até ao Nyassa. O major Serpa Pinto

chegando depois de mr. Johnston, viu que se lhe tinham antecipado. Voltou a Moçambique a buscar reforços e depois cahiu sobre os pobres indigenas com quem mr. Johnston tinha feito tratados. A versão dos factos dada hoje pelo Times nenhuma duvida deixa a respeito do modo por que se passaram as coisas.

Quando os Makololos hastearam a bandeira britannica e declararam que eram amigos da Inglaterra foram atacados por Serpa Pinto e centenares d’elles foram chassinados por metralhadoras Gatling e duas bandeiras britannicas foram ignomintosamente (sic) tomadas. Os makololos, tendo sido reduzidos a submetterem-se completamente por estes meios, acceitaram a dominação portugueza julgando-se abandonados pela Inglaterra. O major Serpa Pinto animado com o successo determinou conquistar do mesmo modo o paiz até ao Nyassa.

E agora temos uma coisa apenas a dizer a lord Salisbury, e é que não deve hesitar um momento em adoptar uma acção decisiva para fazer parar a marcha do major Serpa Pinto.

Mr. Johnston é o representante da Inglaterra. Tem auctorização escripta de lord Salisbury para concluir estes tratados com as tribus indigenas. Se excedeu as suas instrucções e o governo não se resolve a não tomar a responsabilidade do que este fez, deve fazel-o quanto antes e sem hesitação. Por mau que isto seja sempre será melhor que qualquer tergiversação.

Mas se mr. Johnston não excedeu as instrucções ou se o governo não se julga com direito de desapprovar o seu proceder, então inquestionavelmente deve-se fazer comprehender ao governo portuguez que, se este não faz parar o major Serpa Pinto, e parar quanto antes, a Inglaterra se verá obrigada, por mais absurdo que isto pareça, a acceitar o procedimento de Portugal como equivalente a uma declaração de hostilidade. Não podemos permittir que as tribus indigenas com as quais o nosso consul concluiu tratados sejam absorvidas por este major portuguez secundado por um exercito de zulus recrutado nas nossas possessões. Ainda menos podemos admittir que elle ameace as missões escossezas por cuja causa lord Salisbury rejeitou o accordo que se tinha quasi chegado a concluir com Portugal. É de aborrecer visivelmente a perspectiva de outra guerra africana.

Mas se lord Salisbury não estava preparado para fazer face a esta contingencia, então nunca devia ter dado ouvidos á inspiração dos escossezes, de repudiar o tratado proposto por M. Johnston, e muito menos devia ter mandado M. Johnston pelo Chire acima, o que equivalia positivamente a uma carta branca para negociar tratados com todas as tribus indigenas. Porque o pequeno Johnston é um Darwiniano Isabelino, com o coração d’um Trobister (sic) ou d’um Kavókins (sic), e o espirito scientifico d’um moderno evolucionista. Na lucta pela vida não hesitará em adoptar qualquer procedimento que, na sua opinião, possa contribuir para assegurar a realisação do grande fim da natureza – a sobrevivencia dos mais dignos – que na sua opinião não são de certo os portuguezes.”1

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